sexta-feira, 26 de novembro de 2010

TROCADA

Ai. Meu. Deus. Eu acho que morri. Não... Eu morri. Ai. Meu. Deus. Ai. Meu. Deus. Eu simplesmente não consigo parar de pensar isso porque é a única coisa na qual estou conseguindo pensar. Sabe quando você ouve ou então vê alguma coisa totalmente inesperada? Pois é, foi o que ACABOU de acontecer comigo. Velho, não, não pode ser verdade. Isso simplesmente não pode estar acontecendo. Quer dizer, como isso pode ter acontecido tão embaixo do meu olho? Não! Eu não pude ser tão cega assim, eu não sou, não é possível e DUAS vezes! Não, não e não.
“Respira Bia, respira” ouço a voz da minha melhor amiga, Luciana ao meu lado. Ela estava comigo quando eu descobri. E... Se não fosse por ela talvez eu não tivesse saído de lá e evitado ser flagrada flagrando a cena. A cena. Ai. Meu. Deus. O pior é que eu não consigo nem organizar meus pensamentos pra pensar com clareza, porque eu praticamente não estou pensando.
“Eu... Tenho certeza que não é o que parece. Não pode ser” ela diz com uma risadinha nervosa. Ela também viu e logicamente que ela sabe que É o que parece ser, ela só não quer que eu fique mal por isso.
“Bia? Ai caramba, o que teve? Que cara é essa menina? Parece que viu um fantas...” a Heide disse, mas foi interrompida por uma outra garota que chegou na mesma hora. Só que não era qualquer garota, e sim a namorada do David.
“Oi Marina” a Luciana falou torcendo a cara, ela totalmente não gosta da Marina. E pra dizer a verdade, nem eu. Nunca gostei dela. Oh menininha esnobe e enjoada, além de ser falsa! Eu sinceramente não sei o que ela faz com um cara como o David.
“Oi” a Marina respondeu de cara fechada também percebendo que a Heide não estava sozinha. “Depois eu falo com você, Heide. Assim que puder, é meio urgente” ela disse virando pra me olhar mais uma vez com certo desprezo e foi embora.
“Nossa... Essa garota realmente não gosta de você hein?” a Heide falou rindo. Ela era meio amiguinha da Marina. O que eu também não entendo.
“Por que será?” a Luh falou nos fazendo rir e isso foi bom porque eu relaxei mais.
“É... Nunca fiz nada a ela!” falei rindo ainda. O que não deixa de ser uma meia verdade.
“É mesmo, com ela não, fez com o namorado dela” a Luh respondeu de novo nos fazendo rir ainda mais enquanto a Heide balançava a cabeça dizendo “vocês não prestam”.
“Sim vei, qual é o B.O?” a Heide falou olhando pra Luh esperando uma resposta dela. O que eu achei melhor que ela explicasse.
“Se eu te contar... Menina, você não acredita!” a Luh adora um suspense. Não a culpo, como não fazer? Mas rapaz, é um enorme babado esse! Fico imaginando o que aconteceria se essa informação caísse nas mãos erradas...
“Conta LOGO PORRA!” a Heide disse com toda sua sutilidade. “VAI, não me mata de curiosidade. O que aconteceu hein, cacete?” é, totalmente a Luh conseguiu atiçar a curiosidade da Heide, imagine quando ela não descobrir o que foi. Vai cair pra trás. Ai. Meu. Deus. Eu totalmente não queria ter visto aquilo.
“Sabe o Victor?” a Luh deu uma risadinha ao falar o nome dele e eu confesso que também dei, mas uma risada diferente da dela. A minha era de nervoso e a dela de deboche.
“Ex da Bia? O que que tem ele?” ela perguntou olhando pra a gente totalmente apreensiva. “Ai caramba, ele traiu a tal da Malena namoradinha dele?” ela cobriu a boca com as mãos.
“Sim... Mas não do jeito que você pensa” a Luh deu mais uma vez a risadinha de deboche.
“Você ficou com ele, Bia? Porque se ficou, céus, eu acho que te mato vei! Nâo, eu sei que você ainda sente algo por ele, ama ele, ou gosta, ou só quer pegar, eu sei lá, mas vei, ele tá namorando! Quer dizer, tá, você pegou o David, mas é diferente! Você não gostava do David, do Víctor você gosta, eu acho” e em partes ela está certa. Tirando a parte sobre eu estar apaixonada pelo David, eu estou, ela que não sabe.
“Não fiquei com o Víctor” falei emburrada e fingindo estar ofendida. Eu sou o que? Sei me controlar, menos com o David, mas aí o caso é diferente! Porque ele me seduz demais, não que o Víctor não seduza... Mas ah, acho que vocês entenderam!
“Ah que otimo! Bom pra você, mesmo!” e ela voltou a olhar pra Luh que tinha amarrado a cara porque tinha sido interrompida e ela odeia isso.
“O Víctor... bem, não sei como falar isso vei. O David... Ai meu deus que coisa dificil” eu falei tentando contar e não consegui. Falar isso em voz alta tornaria isso tudo ainda mais real.
“O que que tem eles? Gente, pára, vocês estão me assustando pow” e parecia que estavamos mesmo. Ela nos olhava com total receio.
“Tá, cansei da enrolação. Nós, eu e a Bia, vimos o Víctor e o David se beijando!” a Luh falou abaixando a voz quando chegou nos nomes deles.
“O QUÊ?!?!” a Heide perguntou engasgando o que me fez sorrir de nervoso. Ai meu santinho e eu fiquei com eles dois! Com OS DOIS! E um foi meu namorado, ai meu deus, eu peguei dois viados! Tipo, eu não deveria ter ficado com o David, porque ele tem namorada e tudo o mais, é amigo do meu ex-namorado e tudo o mais, mas acontece que eu não poderia deixar ele passar, porque eu sempre quis ficar com ele e ele exerce um incrível poder de atração em mim! É INCRÍVEL! E não me arrependo de ter ficado com ele, mas... Vei! Como assim eles ficaram?!
“COMO ASSIM ELES FICARAM?!” a Heide repete os meus pensamentos. Como eu disse antes, ai. Meu. Deus. Tipo, pense em algo totalmente NÃO ESPERADO? Quer dizer, os dois são totalmente o que você chamaria de “macho”. O David é alto, um e oitenta, por aí, tem o cabelo todo cacheadinho, os olhos verdes e apesar de ser magro, tem o corpo todo definido. Já o Víctor, ele é alto também, só que mais baixo que o David, é moreno, bem moreno mesmo, bronzeado, tem o cabelo curtinho e é malhado de academia. Enfim, pense em uma coisa ESQUISITA, foi ver eles dois... errr... Não consigo nem terminar a frase, meu deus!
“Ficaram, se beijaram uai! Na boca! E foi de lingua! De onde estávamos dava pra ver que tipo, ver não, ouvir o barulho deles se beijando. Foi lá no ginásio da escola. A aula de ed.fisica acabou e você sabe que a Bia e o David tem usado lá pra ficarem né? Então... Aí a Bia me pediu pra acompanhar pra eu poder vigiar caso alguém aparecesse e avisá-los para eles não serem flagrados e aí, quando ela entra no vestiário deles, está os dois se beijando e o Víctor apertando o David contra ele. Céus, que nojo! Que nojo! E QUE DESPERDÍCIO!” a Luh balançou a cabeça ainda incredula. A minha incredulidade era tanto que nem falar direito eu conseguia. A Heide olhou pra mim e deu um sorriso amigável.
“Uau, quer dizer, uau. O David tem uma namorada, uma amante e ainda por cima fica com um dos amigos dele? Vei, isso é tão... Sei lá, esse menino não se satisfaz fácil né vei? Credo velho, credo” a Heide balançou a cabeça ainda me estudando pra variar. Ela na verdade me olhava como se eu fosse explodir a qualquer momento.
“E como você está se sentindo, Bia? Aff, deixa pra lá, que pergunta idiota, claro que você não está bem e sua cara está... assustadora” e eu não duvido que estivesse mesmo. Eu estava me sentindo totalmente abalada. Eu não conseguia falar, mas também quando comecei não parei mais e falei tudo de vez.
“VEI, ELES DOIS TEM NAMORADAS! OS DOIS! E EU TAVA FICANDO COM O DAVID PORRA, COMO É QUE ELE TEM A CARA DE PAU DE FICAR COM O VÍCTOR? COMO? PRIMEIRO COMIGO E DEPOIS COM O VÍCTOR? ELES NAMORANDO? NÃO VEI, NÃO DÁ, GAYS? ELES SÃO GAYS? VOCÊS SABEM QUE EU NÃO TENHO PRECONCEITO ALGUM, MAS PORRA, NÃO QUERO MACHO MEU GOSTANDO DE UMA PICA, QUE PORRA VELHO, QUE PORRA... POR QUE ESSAS COISAS SÓ ACONTECEM COMIGO? POR QUE VEI? POR QUE, QUE DROGA! NUNCA NA VIDA IMAGINEI PASSAR POR UMA PORRA DE SITUAÇÃO FUDIDA DESSA!” completei e senti lágrimas vindo aos meus olhos. Oh droga!
“Calma Bia...” a Heide falou segurando a minha mão e eu apenas suspirei mais fundo. Sorte nossa que não tinha ninguém por perto.
“É Bia, eu sei, tá, eu não sei, mas imagino que seja dificil isso, muito dificil, mas vei, pense assim... Talvez eles não sejam gays, ou bis, só... sei lá, pode ter sido um acidente!” é realmente admirável o que as amigas dizem na hora de consolar você, realmente.
“Luh, ninguém encoxa alguém por acidente e muito menos enfia a lingua na garganta de alguém por acidente, tipo... NÃO MESMO!” falei começando a realmente chorar agora. Poxa velho, eu não merecia isso. Não!
“O pior... É que eu gosto dos dois! Tá, eu amo o Víctor, mas eu gosto do David também vei, e não, to nem aí pras namoradas deles, não tenho ciumes delas, não tenho problemas com elas, mas eles dois juntos? É demais pra mim, aí é demais! DEMAIS MESMO!” eu balancei a cabeça em negação me negando a acreditar naquilo. Não quero nem narrar a cena porque eu estou tentando esquecer aquela cena deplorável.
Como se a situação não pudesse ficar pior do que já estava, o David e o Víctor aparecem juntos andando de mãos dadas e rindo conversando alegremente, mas ao menos não tinha nenhuma expressão de “eu te quero” ou “eu gosto de você”, ou seja, nenhuma expressão gay no rosto. E ao me ver chorando eles param e eu tento limpar rápido as minhas lágrimas e fingir que não tinha visto eles, mas tudo foi em vão porque o David puxa o Víctor pra onde eu, a Heide e a Luh estavamos e o Víctor não queria vir, dava pra ver. Depois que terminamos eu e ele não nos falamos muito bem.
“Bia...? O que teve?” o Víctor perguntou me olhando e quando ele fez isso sua testa ficou enrrugada de preocupação o que eu achei super fofo e não esperava dele.
“Nada” falei rápido e mentindo e desviando o rosto deles. Quando eu olhei pro David eu vi que ele me olhava meio sem saber o que fazer. Eu não consegui evitar de olhar para a mão deles dois entrelaçadas e só o David percebeu meu olhar e soltou a mão do Víctor como se de repente ela tivesse pegando fogo e corou levemente. O Víctor como sempre não percebeu o que estava acontecendo e ficou com a usual cara de interrogação dele.
O pior de tudo, foi o um minuto de silêncio constrangedor que ficou entre nós cinco até a Luh piorar a situação arrastando a Heidi dizendo que me veria mais tarde, que estava me esperando lá no corredor.
“Oi David” falei olhando pra ele, bem nos olhos dele e pude ver que ele ainda sentia desejo de ficar comigo, porque só por um acaso ele estava olhando pra a minha boca.
“Oi” monossilábico como sempre. É, eu não esperava que ele dissesse mais que isso. E como também o Víctor não é lá de falar muito, sobrou pra eu arranjar algo pra falar, mas surpreendentemente antes que eu pudesse abrir a minha boca, o Víctor falou.
“O que aconteceu com você? Nem diga que não é nada, eu conheço você” e bem nessa hora o David olhou pra ele e meio que fechou a cara e cruzou os braços. Ciumes? Haha, só o que me faltava.
“Nada, só... Eu vi” eu me consertei bem rápido antes que ele pudesse notar e associar a eles dois. “Ouvi na verdade, que o cara que eu gostava ficou com... alguém” eu disse olhando discretamente para o David que estava totalmente desconfortável com a situação. Ele olhou pra baixo e depois coçou o cabelo. Devia tá se chingando mentalmente por ter trazido o Víctor até aqui.
“Sério? Nossa, que mal pra você” o Víctor respondeu com um sorrisinho idiota na cara. Foi por pouco que eu não pulei no pescoço dele pra arrancar aquele sorriso. Lógico que ele ficaria feliz por me ver mal, sofrendo, otário.
“Pois é, mas tô bem. Afinal, é o cara que está perdendo e não eu. Você bem sabe” olhei bem no fundo dos olhos para o Víctor e ele fechou a cara pra mim e depois olhei para o David que estava com uma expressão de medo e de confusão ao mesmo tempo.
“Mas ele não tinha namorada, o tal cara?” o Víctor perguntou confuso. “Ele ficou com outra então? Traiu ela?” o mais engraçado é que o Víctor não consegue enxergar um palmo a frente dele. O que estava praticamente estampado na cara dele ele não via. Já o David me olhava surpreso e alarmado como quem dizia “você contou isso para ele? Você é doida? É perigoso!” e eu dei de ombros sutilmente.
Eu na verdade estava mais interessada na conversa silenciosa que estava tendo com o David do que na que eu estava tendo com o Víctor. “Sim, ele traiu ela. É, eu acho que ele deve ser insaciável” falei fechando a cara mostrando bem o quanto eu estava chateada. O que foi engraçado foi o sorrisinho de lado sacana e pevertido que o David me lançou, e aí ele ficou levantando a sobrancelha, o que é claro, o Víctor que tava do lado dele e virado pra mim de frente, não viu.
“Insaciável? É, talvez você combine mesmo com ele então, né David?” ele virou pra o David que olhou pra ele espantado dizendo por reflexo “O quê? Ah sim, é, eles devem combinar então...” e sorriu felizinho concordando o que me deixou ainda mais confusa. Porra, qual é a dele?
“Mas eu fico me perguntando Víctor, por que ele ficaria com outra pessoa velho? Qual necessidade? Não estava satisfeito com a namorada então? Nem com outra...?” aí eu parei me interrompendo antes que eu me entregasse pro Víctor que eu tinha ficado com David e ele é claro, não sabia. Que eu tinha ficado com o David, ou com o cara (que eu não contei pro Víctor quem era).
“Não sei, ele não parece que presta pra mim, se traiu a namorada assim. Melhor né Bia? Não seria legal você se envolver com um cara desse, ele totalmente não presta, dá pra ver” e então eu comecei a rir descontroladamente quando vi a expressão complexada no rosto do David. “O que acha, David?” o Víctor perguntou pra ele e o David fez uma rápida expressão de pânico, mas passou bem rápido.
“Eu não acho nada. A Bia que deve saber o que ela quer e se ela realmente quer deixar pra lá um cara que ela gosta só porque ele não consegue se controlar as vezes e é um pouquinho insaciável, mas como você disse, talvez seja por isso que eles combinem” ele falou e depois piscou pra mim e eu apenas fiquei olhando pra ele sem acreditar na cara de pau.
É claro que, o Víctor, inocente no mundo, não percebeu a minha conversa silenciosa com o David e nem era pra perceber mesmo. E bem, de forma camuflada o David respondeu a minha pergunta, me disse o porque ele tinha feito isso e mesmo estando chateada eu vi que não era nada demais. Ele não olhava pro Víctor como me olhava, ainda bem. Ele olhava pro Víctor de forma normal e agia de forma normal o que me fez perguntar se o que eu vi foi realmente eles ficando...
“E provavelmente, essa outra pessoa que ele ficou, não significou nada” ele falou depois de um tempo e me fez sorri. Ele também sorriu pra mim com AQUELE sorriso pelo qual eu me apaixonei. Quando eu olhei para o Víctor ele estava com aquele olhar dele de “eu te amo” pelo qual eu me apaixono toda vez que vejo. E quando eu olhei ele desviou rápido... É, talvez eu tenha visto errado, só sei que, céus, eu realmente sou gamadinha nesses dois! Resta agora saber o que fazer com esse triângulo amoroso completamente... Imprevisível!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O sonho

O dia hoje foi extremamente cansativo. Eu não via a hora de chegar em casa, deitar na minha cama e dormir. Foi exatamente o que eu fiz. Porém, eu não consegui pegar no sono tão rapidamente.
“Ellen!” uma voz conhecida me chamou. Era o Dan.
“Oi Dan! O que faz aqui?”. Quando ele havia chegado que eu não vi? O Dan estava do meu lado. Ele estava usando a roupa do dia em que nos conhecemos. Ele estendeu a mão para mim. Não sei o porquê mais o meu sexto sentido estava me avisando que eu deveria fugir, correr o mais longe que eu pudesse dele, que não era seguro.
Sensação bastante estranha já que quando estou com o Dan é quando estou mais segura. Como demorei de pegar na sua mão, ele mesmo veio até mim e a pegou colocando em cima do seu coração e olhou para mim.
Quando olhei em seus olhos fui tomada por um choque de surpresa! Os olhos dele não estavam gentis como sempre e muito menos azuis. Seus olhos eram agora de um vermelho intenso cor-de-sangue.
Afastei-me dele para poder olhá-lo melhor. Quando olhei ao meu redor eu não estava mais no meu quarto, estava num lugar desconhecido. Tudo parecia estar em chamas. O fogo tão vermelho, tão quente quanto o olhar dele. Olhei-o de novo e vi que não era mais o Dan. Era um estranho. As chamas estavam tão intensas que eu não conseguia mais enxergar direito. O estranho estava entre as chamas e me olhava, tudo o que eu podia reparar era naqueles olhos vermelhos.
As chamas estavam chegando ao local onde eu estava e a dor de ser queimada me atingiu. O estranho que estava parado e imóvel até então, sorriu em deleite pela minha agonia. Desespero me atingiu. Não! Eu não poderia morrer. A dor foi se intensificando e comecei a chorar de desespero. Não posso morrer, não posso morrer. Não!
Levantei assustada e percebi que só tinha sido um sonho. Eu estava bem e segura em minha casa. Mas para o meu desespero eu vi que lágrimas estavam encharcando meus olhos embaçando minha visão. Senti uma pontada em minha mão e vi que tinha uma queimadura nela! Tudo tinha sido real então? Não podia ser. Mas as marcas em minha mão apontavam que o sonho teria sido real. Fiquei muito assustada. Fiz a primeira coisa que veio na minha cabeça. Ligar para o Dan! Eu sei que era bastante tarde, mas ele não necessita dormir e me disse que eu poderia ligar para ele a qualquer hora.
“Alô?” ele falou do outro lado da linha. Não parecia que eu o havia acordado.
“Oi Dan! É a Ellen!” respondi ainda chorando e fungando um pouco.
“Oi minha menina. Algum problema? Você está chorando?” ele tinha um claro tom de preocupação em sua voz. Quando ele perguntou eu comecei a chorar ainda mais no telefone, eu não sei exatamente o porquê. Um sentimento estranho me invadiu, como se algo estivesse errado. A queimadura em minha pele ardeu ainda mais me fazendo gemer.
“Ai!” eu disse no impulso.
“Elle? O que foi Elle? Por favor me responda” ele pediu preocupado. Eu queria responder. Eu queria falar. Mas não consegui achar forças para falar. Minha voz não saia. Comecei a ficar desesperada. Muda? Muda? Não, eu não estava muda.
“Estou indo pra aí” ele disse e desligou. Ótimo porque era isso que eu realmente queria, que ele viesse para cá. Ele podia entrar pela janela, meus pais nem veriam.
Eu continuei chorando bastante mesmo sem saber o motivo. Eu sabia que não estava chorando pelo sonho. Não, não era por ele. Era por algo que eu não sabia o que era. Algo que me machucava. Só em lembrar daqueles olhos vermelhos eu sentia um aperto esquisito no coração. “Algo está errado” minha mente me dizia. Mais perdida do que eu me sentia impossível estar. Olhei para a queimadura em minha mão, não tinha nem como ter sido feita por algo aqui em meu quarto. Só podia ter sido pelo sonho.
O Dan bateu na janela me fazendo pular de susto. Mas quando eu vi fui tomada por uma sensação de alivio. Tudo ficaria bem, eu sei que sim. Ele estava aqui e nada me aconteceria. Fui até a janela e abri deixando-o entrar.
Logo que ele entrou ele me abraçou e eu senti aquela felicidade que eu sempre sinto quando eu o abraço.
“Ei, ei. Está tudo bem agora. Eu estou aqui. Estou aqui” ele disse tentando me acalmar. Então finalmente eu consegui me acalmar e parar de chorar. Ele esperou pacientemente eu terminar todo o meu choro segurou meu rosto entre suas mãos exibindo um sorriso contagiante.
“O que aconteceu?” ele me perguntou enquanto limpava minhas lágrimas.
“Pesadelo” consegui finalmente responder. Fiquei contente em ouvir minha voz de novo, mesmo que ela soando fraca. Ele nos levou até a cama onde sentamos.
“O que aconteceu no pesadelo?” ele perguntou novamente. Então eu contei tudo exatamente como eu lembrava. “Bem” ele começou e então pausou parecendo escolher as palavras certas. “Não foi nenhum sonho premonitório estou certo disso. Tenha certeza que meus olhos não ficam vermelhos” ele disse tentando soar divertido. Ah que ótimo! Ele deve estar me achando a maior idiota agora.
“Não, não estou. Você não é idiota e sabe disso. Sei que deve ser difícil acreditar que tenha sido somente um pesadelo, mas foi só isso mesmo” ele parecia ter certeza do que ele dizia. Mas por que algo dentro de mim dizia que não?
“Veja” eu disse mostrando o meu braço que tinha a queimadura.
“C-como?” ele não terminou deixando as palavras no ar. Um brilho de entendimento passou pelos olhos dele. Agora ele parecia preocupado. Bastante preocupado. Ao invés de dizer algo como eu esperava que ele fizesse, ele simplesmente começou a chorar. Um choro silencioso daqueles em que somente lágrimas descem e nada mais. Ele inclinou sua cabeça em direção a minha queimadura e deixou suas lagrimas caírem em cima dela. Para minha surpresa a queimadura parou de arder na hora em que as lágrimas dele tocaram meu braço.
Quando ele levantou a cabeça de novo não tinha nada no lugar. Nem uma cicatriz sequer!
“Dan... Como?”
“Melhor assim?” ele disse sorrindo.
“Sim. Muito melhor. Você tem poder de cura por suas lágrimas?” perguntei curiosa e extasiada.
“Parece que sim” ele disse dando de ombros. Modesto como sempre.
“Uau Dan! Isso é demais!” falei empolgada.
“Talvez...”
“Como talvez? Não funciona para qualquer coisa?”
“Sim. Posso curar qualquer coisa”
“Uau. Quer dizer que pode ressuscitar pessoas?”
“Não Elle. Eu disse que posso curar. A morte não é como uma doença ou uma ferida. É apenas o inicio de um novo começo” ele disse sorrindo.
“Huh. Mas mesmo assim Dan! Você poderia salvar milhares de pessoas! Isso é demais!”
“Não Elle. Certas coisas mesmo podendo ser mudadas não devem ser mudadas”
“Está dizendo que me deixaria morrer se assim eu tivesse mesmo podendo me salvar?” perguntei rebatendo. Eu estava completamente chateada com ele. Como ele poderia ter um poder tão grande e tão bom e não querer compartilhar com todos? Isso não parecia muito certo de se fazer, ainda mais levando em conta o que ele é.
“Não tem que se preocupar com isso. Isso não irá acontecer. Com você é justamente o contrario, eu tenho que te manter viva o máximo que eu puder e isso não é pouco” ele disse sorrindo.
“Hum...” mesmo assim eu ainda não gostava da idéia dele não compartilhar algo tão precioso.
“Não? Então encare desta forma. Você iria chorar todo dia se assim pudesse salvar a todos? Gostaria de chorar todos os dias?”
“Não” eu respondi. Era algo a se pensar.
“Sim, é algo a se pensar. Mas não é por isso que eu não faço o que me sugeriu. Meus motivos são outros. Acho que não irá entender, mas essa minha colocação é algo que você entenderia, então encare assim”.
“Hum...” respondi meio contrariada.
“Está tarde. Acho melhor você ir dormir. Tem que acordar cedo amanhã. Amanhã a gente se ver minha menina” ele disse se levantando.
“Espera!” eu disse rápido. Ele se virou para mim esperando eu falar. “Não vai assim” eu fui até ele e lhe dei um abraço. Ele parecia surpreso, mas retribuiu logo. Não queria que ficássemos mal. Isso nunca.
Ele me pegou no colo e me levou até minha cama. Me colocou tão delicadamente que parecia que eu era de vidro. Isso era o que eu mais amava no Dan. A forma como ele me tratava. Incrivelmente carinhoso e sempre preocupado com meu bem-estar. Ele puxou o lençol, me enrolou e me deu um beijo na testa.
“Boa noite Dan. Desculpe pelo susto e obrigada por tudo” eu disse feliz.
“Não há de quê. Boa noite minha menina. Tenha bons sonhos” ele roçou sua mão em minha bochecha e foi embora.
Depois eu sonhei que era um lindo pássaro e voava pelos céus.