sábado, 25 de setembro de 2010

Seduzida

O mundo no qual eu vivo é bem diferente daquele que você provavelmente conhece. Eles se parecem em muitos aspectos, porém com a pequena diferença que com os meus olhos eu posso ver muito além da superfície. Essa habilidade de ver mais além foi adquirida através de alguma mutação genética ocorrida anos atrás com algum ancestral meu e desde então foi passada de geração em geração. Eu pertenço à família principal daqueles que caçam os seres das trevas mais terríveis que alguém pode enfrentar: os caçadores de alma.
Eles são seres que andam por aí disfarçados de humanos, quanto mais belos forem fisicamente mais poderosos eles são. Quanto mais atraentes fisicamente mais almas eles terão consumido para si, os tornando extremamente perigosos. Como eu, Alexa Gundemaro, sou a mais velha de uma família com quatro irmãos e pertenço ao ramo principal cabia a mim a missão mais difícil de todas: encontrar o líder dos caçadores de alma.
Feliz ou infelizmente ele também estava a minha procura tornando assim mais “fácil” para nós dois. A minha vida toda eu havia sido preparada para aquele dia, o dia em que eu enfrentaria o líder deles e o derrotaria. A minha vida toda eu fui preparada para qualquer adversidade que pudesse surgir em uma luta com ele, pois eu sabia que seria a coisa mais difícil que eu poderia fazer em minha vida, só não podia imaginar o quão difícil seria.
Eu fui preparada para qualquer coisa, menos para me apaixonar por ele. Preciso dizer que ele era exatamente o conceito de perfeição seja lá qual ele for? Suas feições eram tão leves mais ao mesmo tempo fortes e másculas que me paralisaram ao primeiro olhar. Eu falhei na primeira lição que aprendi: não hesitar. Fui pega de surpresa pela extensão de sua beleza. Seus cabelos dourados reluziam no sol juntamente com seus olhos cor de esmeralda que o tornavam ainda mais divino, ou diabólico.
Um segundo de hesitação foi o suficiente para ele pular em cima de mim e me forçar a olhar em seus olhos para assim sugar minha alma. Eu fechei meus olhos o mais rápido que eu pude e ele sussurrou em meu ouvido com sua voz melodiosa “abra seus olhos, olhe para mim”. Palavras tão bem conhecidas por nós, palavras clichês usadas por todos eles para seduzirem suas vítimas. Mas apesar de já ter as ouvido inúmeras vezes, nunca elas me pareceram mais tentadoras. “Olhe-me, Alexa. Não lhe farei mal eu juro. Abra seus olhos” ouvi as palavras com a mesma voz melodiosa do Mordred. Palavras essas que não era costume deles utilizarem e que me pegaram de guarda baixa fazendo-me abrir meus olhos e me deparar com aquela beleza estonteante do Mordred que me olhava não com ódio, mas com desejo. Não aquele desejo sempre visto nos olhos de um deles, mas um novo desejo. Um desejo por mim e não pela minha alma. Antes que eu fosse capaz de pensar seus lábios já estavam nos meus.

Mesmo tardiamente desejos ainda podem ser realizados...

O Júnior, que é quem eu tenho amado desde que me entendo por gente tirando os dois últimos anos, e a Bia, uma das minhas melhores amigas, terminaram o namoro o namoro de dois anos e isso me balançou. Não era pra eu ter balançado, mas balançou. Vê-lo chorar em meus braços, em meu ombro mexeu muito comigo. Mais do que eu jamais imaginaria. É estranho pensar que ainda posso sentir algo por ele sendo que já amo outros 3! Acho que 4 é um pouquinho demais não é mesmo? Estar enrolada com um garoto já não é fácil, imagine com 4! Felizmente acho que o Júnior não percebeu nada e muito menos percebeu meu desejo por ele.
Minha situação amorosa não está nada fácil. Primeiro o Mauro, meu ex-namorado, me odeia por eu ter namorado outro enquanto ele estava no intercambio. Segundo o Dan, (meu melhor amigo, quer dizer, eu acho que ele ainda é, nem sei mais) que voltou diferente comigo e eu pirei por ele ter quebrado sua promessa. E por ultimo e até mais tenso, o Erick! O Erick e eu terminamos sinceramente não sei por quê! Mas... Se ele quis assim né, o que eu posso fazer? Nada! Acrescente um “infelizmente” muito grande nessa frase aí.
Eu estava aqui deitada na minha cama e pensando na minha vida, o que fazer com ela na verdade, quando o Júnior me ligou e creio eu que ele estivesse chorando. Ele só me disse “posso passar ai na sua casa agora?” e apesar de serem oito horas da noite e meus pais já estarem dormindo, eu disse que seria melhor se eu saísse com ele e ele só disse um “ok, passo aí daqui a 20 minutos” e ele realmente passou! Esse lance dele ser mais velho e ter uma moto facilitou e muito se quer saber!
Eu sei que foi loucura sair com ele tão tarde de casa e meus pais ainda dormindo, sem avisar e podendo ser pega em flagrante e caso isso acontecesse seria castigo pelo resto da minha vida, mas deu pra ver que era uma situação de emergência e que ele precisava mesmo de mim! Então eu me arrumei rápido e aos exatos 20 minutos ele realmente estava aqui na porta de casa e eu felizmente consegui sair de fininho sem acordar ninguém! Antes de eu subir na moto ele tirou o capacete e segurou minhas mãos, o que foi muito estranho porque ele ficou me encarando com os olhos meio lacrimosos!
“Obrigado tá? Obrigado mesmo” ele disse depois de ter ficado um tempo me encarando.
“Pelo o que? Não fiz nada” e sinceramente apesar de ter feito eu não considerava ter feito, tirando a parte dos riscos de ficar de castigo.
“Sim, você fez. Sei que seus pais dormem cedo” ele soltou minhas mãos e deu um suspiro antes de continuar. “Sei que saiu fugida e que não será bom se eles te pegarem aqui”
“Exatamente por isso que você me levará pra algum lugar bem longe daqui e me trará antes das dez, certo?” falei sorrindo.
“Sim senhora” ele bateu continência e me passou o capacete. Então nós dois subimos na moto e ele me levou pra aquela pracinha da sapetinga. Felizmente não tinha muita gente na rua, só uns garotos jogando vôlei num quadra de areia que tinha ali perto e outras passando rapidamente. Ele escolheu um banquinho em baixo de uma arvore e sentamos. Eu não disse nada, achei melhor esperar até ele ficar pronto pra falar. O que não demorou muito.
“Eu e a Bia terminamos” ele disse com uma voz muito, muito fria e impessoal.
“Eu sei, ela me disse hoje de tarde” olhei pra baixo sem saber ao certo pra onde olhar e o que falar.
“Imaginei que sim. Ela te falou o motivo?” ele desviou o olhar do lago e olhou pra mim.
“Mais ou menos...” O que não foi mentira! Ela não me contou exatamente tudo, só que ele tinha traído ela e que ela não confiava mais nele e que ela acabou traindo ele também e nem daria pra continuar a namorar assim.
“Deixa eu ver: ela te disse que eu não sou confiável e que eu a traí, certo?” ele riu sem humor.
“Em partes. Ela adicionou que te traiu também” falei ainda constrangida pela situação. Nunca em toda minha vida eu poderia me imaginar em situação mais embaraçosa! Poxa vida, eu sempre fui apaixonada por ele e agora sou conselheira amorosa? Que coisa!
“Uau!” ele forçou uma voz de espanto e surpresa. “Então ela te contou mais do que imaginei” ele balançou a cabeça negativamente. “O que mais ela falou?” ele fechou os olhos como se estivesse esperando alguém golpeá-lo, o que foi bem estranho.
“Só isso, por quê? Tem mais?” normalmente isso é o que acontece quando não ouvimos os dois lados de uma história. Ficamos apenas com a metade dela e não temos como julgar justamente.
“Tem muito mais, muito mais mesmo” uma lágrima desceu de seus olhos e ele nem se importou em esconder ou limpá-la logo.
“O que mais aconteceu?”
“Pelo visto ela não te contou que ela ficou com meu irmão né?” ele riu sem humor algum, muito pelo ao contrario, sua voz era extremamente fria. “Ficou é pouco”
“O QUE?” não consegui não gritar de espanto. Como assim a Bia tinha ficado com o Leo? Isso não me parecia coisa que ela faria, pelo visto eu estava bem errada.
“Pois é, ela ficou com meu irmão... Na verdade bem mais do que ficar!” ele cerrou os dentes e fechou as mãos em punho. Dava pra ver que ele estava realmente com raiva!
“Júnior... tem certeza disso? Quer dizer, sei que você tá furioso, dá pra ver, mas caramba! Isso não me parece coisa que a Bia faria, serio mesmo... Ela não trairia você logo com seu irmão!” mesmo ele me afirmando eu não conseguia acreditar.
“Mas ela fez Sofi, ela fez isso! E não foi só uma vez, eles ficaram várias vezes! E poxa vida, ela sabe como meu irmão é! Ele é pior que eu!”
“É, eu conheço a bela fama do seu irmão” acho que nem o Mauro tinha uma fama pior do que a do irmão do Júnior. Ele ao contrario do Mauro nunca namorou com ninguém e sequer, jamais ficou com uma menina mais de uma vez! Essa história estava ficando realmente soando muito falsa e irreal.
“Mas Júnior, seu irmão não é conhecido justamente por não ficar com ninguém de uma vez? Então, como assim eles ficaram várias vezes?”
“Sofi...” ele riu e me olhou como se eu fosse uma criancinha que estivesse perguntando algo que a resposta é bem obvia. “Meu irmão nunca ficou com nenhuma menina namorando antes e sequer jamais olhou pra uma comprometida! As mulheres que ele pegava eram sempre solteiras e acabavam loucas e apaixonadas por ele. Vai ver... Não sei, vai ver a Beatriz se mostrou diferente. Algo novo pra ele e ele tenha gostado! Eles deram tão certo juntos que até dar pra ele, ela deu né? Levei o pior chifre da história” ele abaixou a cabeça e entrelaçou as mãos dele puxando o cabelo.
“Júnior...” não resisti e dei um beijo no ombro dele e fiquei passando minha mão no braço dele meio que tentando consolá-lo, mas acabou que isso me fez lembrar quando não existia o Dan, nem o Mauro e muito menos o Erick. Nenhum deles três importavam pra mim, só o Júnior. Tudo era sobre o Júnior, absolutamente tudo. E agora eles três viraram as costas pra mim e o Júnior “volta”. A vida é mesmo algo estranho e confuso.
“Sabe a pior coisa?” ele me perguntou e agora estava rindo, fiquei aliviada por um breve instante porque depois ele começou a chorar. Quer dizer, lágrimas estavam rolando...
“O que?” eu estava meio tonta e tensa por descobrir que apesar de tudo o que passou, eu ainda balançava por ele. Tive que ficar me lembrando o exato motivo dele estar aqui.
“É que quando eu fiquei na primeira vez com ela... Eu não gostava dela! Eu gostava de outra garota...”
“Que outra garota?” meu coração disparou e não pude controlar meu enorme desejo de ouvir meu nome agora. Errado, eu sei!
“Você” certo, meu desejo se tornando realidade! O que eu poderia fazer agora? O que eu poderia dizer? Bem que dizem que devemos tomar cuidado com os nossos desejos e bem, eu deveria ter tido realmente cuidado. Não é como se eu estivesse completamente livre pra me envolver com ele.
“Eu...?” perguntei porque eu não estava muito certa que eu tinha ouvido direito.
“Você... Eu sempre fui apaixonado por você e você nunca pareceu corresponder ou me dar bola, então... Não sei, nunca pensei em me declarar e sempre me controlei bastante pra não fazer nada que, sabe? Que me entregasse. Mas aí teve toda aquela história sobre o seu acidente e eu achei que você tivesse morrido, fiquei desesperado e por desespero acabei ficando com a Beatriz, mas aí você voltou... E a Bia começou a gostar de mim e eu apenas, não sei, decidi que seria melhor ficar com a Bia mesmo já que você nem gostava de mim mesmo. Depois você começou a namorar com o Mauro e aí pronto, aí que eu decidi deixar você pra lá mesmo e passei a gostar realmente da Bia, até ela aprontar isso” eu não conseguia acreditar nos meus próprios ouvidos. O Júnior também sempre gostou de mim? Ele achava que eu não gostava dele? Pra mim sempre pareceu explicito até demais!
“Eu... Não sei o que dizer” e eu sinceramente não sabia. Eu estava surpresa demais!
“Imagino. Mas não se incomode eu sei que não gostava de mim, mas sei lá... Crescemos juntos não é?” ele deu de ombros sorrindo agora mais tristemente.
“Não Júnior. Eu gostava... Eu gostava de você também. Sempre gostei de você, mas nunca pareceu que você sentia algo... E você ainda falava da Bia, depois ficou com ela, eu acabei deixando pra lá e fui viver minha vida até chegar o Mauro” eu ri. Como é possível duas pessoas se gostarem e se conhecerem a vida inteira e não perceberem?
“Gostava?” sua voz saiu infantil e me atrevo a dizer, manhosa também.
“Gostava, mas nunca achei que correspondesse” nós dois rimos.
“É, então eu fui mais idiota do que eu pensei que fosse. Trocar você por ela. É, eu mereço mesmo viu?” ele baixou a cabeça de novo e eu sabia que ele estava chorando novamente por ele começou a fungar. O que eu poderia fazer? Não tinha como consolá-lo. Então me levantei do banco e me ajoelhei em sua frente e fiz com que ele levantasse a cabeça e lhe dei um abraço.
Fazia um bom tempo que eu não abraçava o Júnior e pra dizer a verdade eu sempre sonhei com o momento em que eu poderia abraçá-lo assim, só nós dois, sozinhos sem ninguém por perto e pelo tempo que eu quisesse. Ele se surpreendeu com o meu abraço, mas me abraçou de volta também e me abraçou forte, se aconchegando mesmo em meus braços. Eu senti lágrimas em meus ombros e ele continuava fungando muito. Eu nunca na minha vida o tinha visto desse jeito, nem quando o cachorro dele morreu.
“Como eles puderam fazer isso comigo, Sofi? Como? Ele é meu irmão! Meu irmão! E ela... Putz, eu confiei nela, sempre confiei muito nela e eles fazem isso comigo? Agora pra completar também descubro que você gostava de mim e que deixei você passar... VDM” ele passou mais uma vez a mão pelo seu cabelo e me olhou profundamente com os olhos vermelhos de tanto chorar.
“Você não me deixou passar Júnior, se você teve culpa eu também tive porque também nunca desconfiei de nada. Então não se culpe por... Nós” meu coração disparou com a sonoridade dessa palavra. Sempre quis falar isso no sentido amoroso e a sensação de falar era muito boa. “Já parou pra pensar que as coisas deveriam ter sido do jeito que foram mesmo? E outra, sei que términos são ruins e terminar assim deve ser ainda pior, mas você e a Bia viveram bons momentos juntos, isso que importa, não é mesmo? Seu irmão não deixará de ser seu irmão mesmo te traindo de alguma forma e outra, você já parou pra conversar com ele? Sei que não tem justificativa o que eles fizeram né? Mas... Não sei Júnior, acho melhor você conversar com ele, ele é seu irmão e não acho que valha a pena brigar com ele por mulher, serio mesmo” por algum motivo ele começou a rir. Acho que não preciso adicionar que me senti uma palhaça né? Fiquei totalmente envergonhada. O que eu tinha dito de tão engraçado assim?
“Aiaiai, eu precisava mesmo rir. Você me faz muito bem sabia? Você sempre me fez muito bem...” ele agora acariciava minha bochecha com os dedos bem de leve e não pude evitar estremecer com o toque quente e macio da mão dele. Ai meu deus. O que eu estava fazendo? “E acho que você me entende melhor que ninguém, creio que até mais do que eu mesmo. Só não digo que você é minha melhor amiga porque eu não quero você assim...” e surpreendentemente, me pegando totalmente despreparada pra aquilo, ele veio em minha direção pra me beijar e infelizmente eu tive que contê-lo.
“Júnior... Não” tinha sido muito bom ouvir aquilo tudo dele e eu sei que eu esperei por esse momento há muito tempo, mas caso fosse acontecer eu não queria que fosse assim. Ele ainda estava muito ligado emocionalmente a Bia e eu ao Mauro, Dan e o Erick. Por que eu não podia ser normal e me ligar em apenas um cara?
“Desculpe, eu... Você tem razão. Não sei o que deu em mim, acho que... Não sei, é melhor irmos embora então?” ele estava bastante desnorteado e isso era claramente perceptível.
“Não. Ficaremos mais um pouco, ainda temos tempo não é? Então... Vamos ficar aqui apenas olhando a vista” dei o meu melhor sorriso pra ele.
“Certo” ele sorriu de volta e ficamos olhando a vista que por sinal era muito linda e tranqüilizadora.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Gareth Night

Durante toda a minha vida eu esperei pelo dia em que eu poderia viajar por aí e conhecer novos lugares. Infelizmente sei que esse dia provavelmente nunca irá chegar, pois minhas tias não permitirão. Desde bebezinho eu moro com elas e foram elas que me criaram já que minha mãe morreu logo após meu parto pela inquisição. Toda minha família conseguiu fugir, menos ela que não estava em condições para uma fuga. Meu pai... Bem, eu não faço à mínima ideia de quem ele seja. Minha mãe, segundo minhas tias que são suas irmãs, sempre teve uma vida sexual muito agitada, sempre teve muitos homens e por isso a lista do meu provável pai tem mais ou menos 200 candidatos.
A ausência de um pai sempre foi algo que me incomodou e incomoda, através dos anos. Felizmente eu tenho minhas tias que sempre me ensinaram coisas, até hoje eu aprendo com elas. Elas não são exatamente tias normais, todas as três são bruxas. Minha querida mãezinha que morreu, também era uma bruxa, uma grande bruxa. Eu descendo de uma família muito antiga que tem essa tradição e que foi uma das primeiras a ser caçada pelos inquisidores. Hoje nós possuímos nosso próprio feudo, já que, uma de minhas tias se casou com um senhor feudal muito poderoso, incrivelmente ela não usou magia para conquistá-lo, e logo após o matou herdando assim todo o feudo. Toda a família do ex-marido dela foi morta por elas, para que não restasse dúvida de que o feudo seria nosso. Atualmente não é de costume uma mulher governar, mas em nossa família mantemos a tradição matriarcal das coisas e todas as mulheres sempre foram ensinadas a governar.
Foi uma tristeza para toda a família que minha mãe tivesse dado à luz a um menino e não a uma menina que pudesse continuar a linhagem original da família. Cresci e aprendi, a seguir a velha religião o que atualmente, nos tempos em que a igreja governa é algo terrível. Durante toda a minha vida não aprendi somente sobre a minha religião, mas aprendi sobre a deles também, afinal para se discutir algo e defender esse algo é necessário conhecer o lado inimigo.
Obviamente em minha família não tem apenas mulheres, tem homens também, um deles, o meu avô é um grande sábio. Ele não mora conosco em nosso castelo, ele prefere viver na floresta. Eu realmente gostaria de saber como ele sempre cheira tão bem se vive com os animais e quase como eles. Durante uma parte do meu treinamento eu tive que morar com ele e aprender a ver a natureza com os olhos dele, na verdade naqueles tempos eu aprendi a ser uma parte dela e ela de mim. É algo que todos nós aprendemos não só pela nossa religião que reverencia a natureza, mais também pelas fugas que provavelmente teremos que fazer. Meu avô é um velho bem excêntrico. Aqui todos o respeitam muito e o temem, na verdade mundo afora também o que é impressionante para alguém da velha religião. Minhas tias disseram que uma vez ele salvou alguém importante da igreja e essa pessoa ficou lhe devendo favores, em troca meu avô pediu paz para o nosso feudo, o que deu certo por anos.
Além de todo o meu treinamento mágico, eu também tive instrução para guerrear é claro, como todo bom homem. Em nosso feudo todos os homens são livres para amarem o deus que quiserem, porém com minhas tias no comando, obviamente a maioria segue a antiga religião. Todos nossos guerreiros e suas mulheres sabem ler e escrever, minhas tias fizeram bastante questão de que fossem instruídos nisso. Todas as mulheres tem o conhecimento das ervas, o que livrou muita gente de nosso povo da morte. O que antes os assustava e eles condenavam, hoje eles defendem com suas próprias vidas. Apesar disso tudo minhas tias não são pessoas boas.
Não é por ser ingrato que falo mal delas, mas apenas porque é a pura verdade. Elas são pessoas terríveis. Claro que não com o nosso povo que elas defendem com toda a magia que puderem e que foi com essa magia que nos mantiveram seguros por tantos anos, mas com outrem são até piores que os inquisidores. Talvez elas já tenham matado mais que muitos deles. Sempre me disseram que isso não era assunto meu e que quando eu crescesse eu iria entender. Com meus 17 anos de vida não faço a mínima ideia de muitos segredos que ainda cercam elas e que sei que nunca irão me contar.
“Oh Gareth... Aí está você meu menino” minha tia Mirian, a mais velha delas falou comigo em um tom nada agradável. Sempre quando ela me chama por algum nome bonzinho é porque certamente coisa boa não virá.
“Oi tia, entra” respondi no mesmo tom. Minhas tias nunca gostaram muito de mim, isso nunca foi segredo. Felizmente a recíproca é bem verdadeira.
“O jantar está pronto. Seu avô chegou há poucos instantes, ele passará uns tempos conosco, você sabe, o inverno está chegando” ela sorriu e me deu um beijo na bochecha. Certo, agora eu sabia que algo muito errado e ruim estava por vir.
“Certo, tia. Já irei” respondi. Antes que ela pudesse fechar a porta, minha prima e amante, entrou em meu quarto.
“Oi prima” falei sorrindo e dessa vez era sincero.
“Céus! Eu não consigo me acostumar com sua beleza, meu caro primo” ela sorria e eu a envolvi em meus braços. A Lilian era a filha de Mirian, que foi quem se casou com o ex-proprietário desse feudo. Claro que minha prima sabia de tudo, sempre soube! Mas na verdade ela nunca ligou pelo fato de não ter conhecido o pai. Sei que pode parecer cruel, mas a Lilian é a melhor pessoa desta família. Ela é incrível. Fomos criados juntos, quase como irmãos, mas nunca nos olhamos como irmãos, desde pequenos somos apaixonados um pelo outro. Felizmente aparentemente a Lilian em nada se parece com sua mãe. Lilian é tão bela quanto minha tia é feia. A Lilian é o oposto, em termos de beleza, de todas as bruxas que conheço. A Lily tem seus cabelos ruivos e lisos e olhos azuis incríveis, somente isso ela puxou de sua mãe, os olhos. Creio que ela deve ter herdado as melhores coisas dos seus pais.
“Nem eu. Como consegue ser tão tentadora menina?” sussurrei em seus ouvidos enquanto ela passava a mão em meu peito.
“Menina? Ora Gareth! Não sou mais nenhuma menina! Tenho catorze anos! Não me trate como uma criança” ela me olhou magoada. De fato Lilian não era mais aquela menininha por quem me apaixonei anos atrás. Agora ela era uma mulher feita. Eu não podia deixar de me deliciar com suas curvas sinuosas nos lugares certos.
“Eu sei, eu sei. Não fique assim, meu amor...” lhe beijei suavemente em seus lábios.
“Já estou na idade de me casar” ela suspirou. Não um suspiro de quem esperava muito por isso e sim um suspiro de um fardo que ela não gostaria de ter.
“Eu também sei disso e não gosto” falei ressentido. O casamento de Lilian estava sendo adiado até demais, com certeza alguma coisa minha tia deveria ter em mente. Talvez eles estejam tramando para a Lilian governar algum feudo como sua mãe. O que seria ótimo para mim se ela fizesse o mesmo com seu marido e depois se casasse comigo. Infelizmente sei que isso não passará de um sonho meu, já que meu destino está bem traçado.
“Minha mãe disse-me que hoje, no jantar, ela irá falar sobre isso. Parece que o vovô trouxe alguma bela oferta de casamento para mim. Oh céus! Não quero me casar com nenhum cara que tenha idade pra ser meu avô! Oh Gareth...” ela começou a chorar em meus ombros. Isso era algo que eu não tinha sido treinado para lidar: lágrimas de uma mulher. “Eu queria me casar com você!” ela disse entre soluços e chorou ainda mais.
“Eu iria, se pudéssemos, mas você sempre soube que não poderíamos” isso era algo que sempre nos afligia. O dia em que ela teria que se casar com algum senhor cristão para que nossa família tivesse mais poder.
“Sim, mas... Não sei. Eu esperava que daríamos um jeito!” ela me puxou para perto dela fazendo que nossos corpos ficassem mais juntos. Não pude deixar de aproveitar e tocar meus lábios em sua pele macia. Afinal, aquela poderia ser a última vez.
“Sinto muito, Lilian” sussurrei novamente. A única coisa que eu poderia fazer era consolá-la e me consolar. Foi exatamente o que eu fiz.
Logo após nos recompormos nós descemos para o jantar. Toda a nossa família estava presente. Isso quer dizer: minhas três tias, meu avô, Lilian, eu, Vivian a irmã mais nova da Lilian, Marco que é nosso outro primo e tem minha idade, talvez um pouco mais novo e alguns outros primos. O Marco para dizer a verdade é muito mais que meu primo, ele é quase um irmão pra mim e é meu melhor amigo. Ele na verdade sempre esteve em quase tudo comigo.
“Lilian... Gareth... Vejo que ainda estão juntos” minha tia Mirian sorriu, mas com certeza não foi um sorriso sincero.
“Oh meus jovens, espero que não seja nada serio huh? Vocês sabem... De qualquer forma Lilian, eu consegui um belo casamento para você minha querida” dessa vez foi o meu velho avô que falou. Senti uma leve agitação e murmúrios na mesa. Olhei para a Mirian e seu sorriso era claramente de triunfo, enquanto o de Lilian era de profunda tristeza. Doeu meu coração só de olhar para seu rostinho triste e nada poder fazer.
“Que boas noticias vovô. Com quem irei me casar?” ela tentou disfarçar a voz, fingindo alegria, mais eu a conhecia bem demais.
“Oh minha querida! Você irá se casar com o grande rei!” dessa vez foi a Mirian que falou. Eu não pude deixar de ficar chocado e de sentir o desespero da Lilian. Com o Grande Rei? Poderia ser pior? Eu não imaginava. Se é com o grande rei que ela irá se casar então de certo que ela não matará seu marido como sua mãe fez.
“Vocês vão mesmo me casar com aquele velho?” ela explodiu. Ninguém poderia condená-la a se casar com um cara com idade para ser o avô dela. Talvez a ideia fosse justamente essa: esperar ele morrer naturalmente e colocarem algum outro no lugar. Porém, ela seria apenas a viúva do rei, porque pelo que sei ele tem um herdeiro para o trono ainda que muito jovem.
“Tenha modos criança!” minha outra tia a repreendeu e logo após lhe deu tapinhas amigáveis em sua mão. “Lógico que não faríamos isso com você. Aquele velho morreu minha querida, morreu há uma semana. Seu avô estava lá quando isso aconteceu. O filho dele irá assumir o trono e ele é um jovem excelente! É muito bonito, todas as jovens suspiram por ele quando ele passa e é um excelente guerreiro, tenho certeza de que ele irá governar muito bem” todas as três estavam muito felizes. Eu sempre ficava com receio quando isso acontecia. E eu é claro, não pude deixar de ficar com ciúmes pelo casamento da Lilian com alguém considerado bonito. Não o invejo por beleza, sei que mais belo do que eu é difícil existir, mais sucesso do que faço com as mulheres é algo difícil de acontecer mesmo eu sendo um mero bastardo. No entanto esse jovem é bonito e ainda é da realeza? Coisas como essa só me provam que o mundo não é mesmo justo.
“Quantos anos ele tem, minha senhora?” perguntei com nojo. Ele pode ser rei o quanto quiser, porém a minha mulher não quero nos braços dele.
“Oh Gareth! Ciúmes agora? Você sempre soube que jamais teria Lilian somente para você! Contente-se com o pouco tempo que teve com ela. Sabe que ela tem coisas importantes a fazer e você também terá. O jovem rapaz tem apenas 20 anos. Ele pode parecer bastante novo, mas sabemos que se dará bem. Ainda mais com uma grande rainha como sua prima” Mirian me lançou aquele seu sorriso afetado novamente. Esforcei-me muito para disfarçar o nojo e minha repulsa por toda aquela palhaçada.
“Bem, ao menos ele não é velho não é mesmo? O senhor disse que ele é muito bonito vovô. Conte-me mais!” a Lilian agora já não chorava e parecia bastante empolgada para saber do seu futuro marido. Otimo! Que jovem não ficaria feliz ao saber que seria a Grande rainha?
“Que bom que está animada criança. Ele é um rapaz alto, forte, com belos olhos verdes e cabelos escuros que enlouquece todas as moças da corte” vovô disse sorrindo.
“Mas papai... Vejo que não usou nenhuma magia para conseguir o casamento, então como fez?” Maria, a irmã mais velha depois de Mirian perguntou.
“Ora minha filha. Este velho tem seus truques” ele sorriu. “O jovem rei não tinha preferência por nenhuma moça, na verdade ele apenas queria que fosse uma moça bem instruída, de boa família e que cuidasse muito bem dele e dos afazeres da casa. E é claro, seus bispos queriam que fosse uma bela moça cristã, de uma família cristã e seus cavaleiros queriam que tivesse um bom dote de guerra. Que jovem poderia ser mais instruída que Lilian, tirando você Vivian? Claro que não pertencemos a uma família cristã, mas seu pai Lilian, tem uma família que sempre foi conhecida por serem muito devotos, então eles acreditam que você é cristã, o que não será difícil enganá-los já que conhece muito bem os costumes deles, minha querida. Quanto ao dote... Bem, já acertei com eles. Um dote digno de um rei” o velho sorriu satisfeito. Pelo visto eu era o único na família a não gostar desse casamento.
“Se vocês me dão licença” eu disse me levantando rapidamente da mesa antes que alguém pudesse falar algo. Fui até meu quarto e bati a porta com raiva. Logo após ouvi três batidas na porta e como eu não respondi a pessoa entrou, essa pessoa era o Marco.
“Ora primo, não fique tão bravo” ele começou e parou no mesmo instante em que olhei em seus olhos.
“Marco, você sabe que eu a amo” eu estava com uma tremenda vontade de chorar, mas eu não iria estragar minha reputação.
“Eu sei. Creio que a Lilian também sabe e é por ela primo, é por ela que deve fingir que está feliz. Sabe muito bem como a Lilian é, é capaz dela fugir desse casamento, o que traria desgraça para nossa família. Finja que está feliz, é pelo bem dela. Melhor casamento ela não poderia querer”. Nisso ele estava certo eu não podia negar.
“Eu sei” disse entre dentes. Não pude evitar de dar uns chutes no armário o que certamente fez estragos.
“Vamos lá Gareth! Hoje é um dia importante. Você sabe que também terá que se casar, é só uma questão de tempo” o Marco como sempre, mais calmo e mais sábio que eu.
“É primo. Você também!” tentei sorrir, mas não consegui.
“Um mensageiro disse-nos que viram tropas dos saxões não muito longe daqui. Está em tempo de nos prepararmos para a guerra primo e você sabe muito bem quem lidera o nosso exercito” o Marco sorriu e seus olhos brilharam só em falar em batalhas.
“Não fique tão animado primo. Eu não vejo motivos”
“Só porque sua amada irá se casar com outro? Ora Gareth! Você é o nosso melhor guerreiro disparadamente!” nem meu pessimismo conseguia afetar o otimismo do Marco. Acho que por isso nos tornamos tão amigos, ele sempre trazia alegria a minhas infelicidades.
“Por enquanto primo, mas não creio que por muito tempo” falei sem animo algum. Antes do Marco se defender a Lilian entrou pela porta, me olhando fixamente sem sequer notar a presença do Marco.
“Quero que vá comigo!” ela falou em seu tom mais exigente impossível. Pela primeira vez na vida ela lembrava sua mãe. Devo acrescentar que isso não é uma coisa boa.
“Não irei. Boa sorte em sua nova vida” eu desejei sinceramente. Claro que não seria o suficiente para ela, nunca era.
“Disseram-me que as estradas estão muito perigosas Gareth. Quem melhor que você pra me proteger, meu amor? Quem melhor do que um bravo guerreiro para proteger a rainha?” dessa vez ela falou mais docilmente chegando perto me embriagando com seu perfume doce. Sinceramente eu tive que recuar um pouco antes que ela conseguisse, pra variar, o que ela queria de mim. Na verdade nós sabíamos que era só uma questão de tempo até ela conseguir. Por mais que meus sentimentos tenham sido feridos e meu ego mais ainda, eu não deixaria minha amada e querida prima em perigo se assim pudesse evitar.
“Não serei seu guarda-costas, minha senhora” afastei-me fazendo uma reverencia digna de vossa majestade o que a irritou profundamente.
“Não fale comigo desse jeito Gareth!” seu tom de sutileza e gentileza sumiram. Eu sabia que a tinha irritado. Isso era bom, de alguma forma. Não é como se eu quisesse mesmo ir com ela levá-la para o seu noivo.
“Prima...” o Marco decidiu intervir e ela o olhou como se só tivesse notado a presença dele agora e fez um cara de desprezo que deu pra ver que magoou o Marco. “Em breve teremos uma grande guerra, precisamos do nosso líder e melhor guerreiro aqui. Não posso liderar as tropas” ele falou com certa cautela. Realmente as mulheres de nossa família eram de dar medo. Ela decidiu ignorar o comentário do Marco como se ele nem sequer tivesse falado.
“Faça o que quiser Gareth! Mas se eu morrer a culpa será toda sua! Toda sua!” ela saiu gritando e bateu a porta.
“Nossa, elas sabem intimidar!” o Marco riu nervoso.
“Com certeza elas sabem” assenti. Essa situação era uma das poucas nas quais eu me sentia perdido, sem saber o que fazer, mas felizmente, ou não, havia pouca coisa que eu pudesse fazer. Eu amava a Lilian que era minha prima e mesmo que não fosse, eu não poderia me casar com ela pelo meu status. Eu sempre soube disso e ela também. Então por que eu me sentia tão surpreso e sem rumo? A única coisa que eu poderia fazer agora era protegê-la o máximo possível e eu sabia que ela tinha razão, ninguém melhor que eu para protegê-la. Dentro de alguns dias minha querida prima se tornaria a grande rainha e teria uma vida muito melhor do que ela levava aqui. Eu ao menos esperava e desejava que ela fosse realmente feliz.
“Gareth... Não fique aí sonhando primo. Logo, logo tudo se ajeitará e poderá voltar a viver sua vida em paz”. Eu esperava que ele estivesse certo, mas algo dentro de mim gritava que nada iria se acalmar. Na verdade eu sentia justamente o contrario, eu podia sentir a mudança dos ventos. Podia sentir o que esse casamento de Lilian com o rei faria em minha vida. Não sabia exatamente o que, mas seria algo grande.
“Diz isso primo, porque não sabe o que é amar alguém” falei mais pra mim do que pra ele.
“Quem disse que não primo?” ele riu maroto. Será que meu primo amava alguém em segredo? Amava alguém e nunca tinha me contado? Isso era algo que me surpreendeu. O Marco nunca foi muito bom em guardar segredos comigo.
“Mas oras! E nunca me falou nada primo? Quem é a garota de sorte? Alguma camponesa?” perguntei sentido-me mais animado. Seja ela quem fosse, seria uma sortuda. O Marco não é apenas de boa família, mas também é um ótimo guerreiro e considerado muito bonito pelas damas.
“Não. É a Vivian primo, nossa prima, irmã de Lilian” ele disse mais cabisbaixo do que eu me sentia.
“Oh” agora eu entendi o porquê do seu segredo. Antes mesmo do nascimento de Vivian todos sabíamos qual seria seu destino. Ser uma grande sacerdotisa, ou seja, ser de homem nenhum, ser de todos, uma grande guia espiritual para o nosso povo e sempre cuidar deles como uma mãe.
“Pois é. Está vendo? Sou menos afortunado que você primo! Ao menos teve seu deleite por alguns anos, eu nunca terei o meu” isso era algo realmente triste. Seria engraçado se algum padre chegasse aqui e se deparasse com isso, eu e Lilian, Marco e Vivian! Acho que eles desmaiariam de vergonha! Porém a agonia que eu sentia por meu primo não era nada comparada a minha. Eu sofrer eu nem ligava muito, mas meu primo, praticamente irmão era algo que me incomodava. O pior de tudo era saber que eu nada poderia fazer. Vivian nasceu pra ser grã-sacerdotisa e todos sabemos disso. A grã-sacerdotisa não se casa com ninguém porque é uma mulher que vive viajando e não tem tempo para tarefas banais como as que as outras mulheres fazem. Uma grã-sacerdotisa é uma guerreira também. Normalmente sabe tão bem sobre a arte da guerra quanto nós, guerreiros.
“Meu querido primo” falei colocando uma mão em seu ombro. “Sei como se sente. Vivian não é uma das mais bonitas, me surpreende se apaixonar por ela, ela não tem nem de longe a beleza de Lilian, mas porém é mais sábia que todos nós aqui... Ela sabe?” perguntei com curiosidade. Durante toda a vida Marco havia cortejado todas as moças bonitas que se aproximavam dele, não importando se eram casadas ou não. Certamente que todas ficavam muito contentes por um jovem belo como ele cortejarem-nas. Nunca faltava mulher na cama de meu primo, assim como não faltaria na minha se assim eu quisesse, mas eu optei por uma vida somente com Lilian enquanto eu pudesse. Algo de que não me arrependo agora.
“Obviamente que não Gareth! Ficou louco? Vivian nunca olharia pra mim assim” ele parecia ainda mais triste. Vivian não olharia pra ele? Não pude deixar de rir.
“Ora primo, que mulher nesse mundo não olharia para você?” eu duvidava da existência de tal mulher. Mesmo Lilian que era minha amante e prima do Marco, sempre o olhava e constantemente o provocava. Nunca liguei porque para mim não passava de brincadeiras de menina.
“Justamente uma mulher como Vivian” pelo visto eu não tinha o mesmo efeito animador que ele tinha sobre mim. “Ela não é como as outras Gareth. Vivian pode não ser tão bela assim, pode ter herdado a beleza de sua mãe, mas ela é incrível por dentro. Todas mulheres que já estiveram comigo nunca conseguiram conversar sobre nada além de casamentos e essas bobagens da corte. Acredite, não é algo interessante. Até mesmo Lilian se importa com essas bobagens. Vivian sente até uma certa repulsa e prefere sempre conversar com homens ou com mulheres como nossas tias do que essas conversas. Uma vez ela até me ganhou na espada!” ele sorriu abertamente. Seus olhos brilhavam só pela mera lembrança de nossa prima.
“Mas Vivian...” antes que eu pudesse terminar meu consolo ao Marco alguém bateu na porta e depois entrou em meu quarto. Hoje isso aqui estava especialmente agitado. Para nossa surpresa era exatamente a Vivian perfeitamente arrumada. Agora que o Marco tinha me contado sua paixão por ela, ela me parecia um pouco mais bela de certa forma. Seu corpo ainda era de uma menina é claro, já que ela era mais nova que Lilian, mas ela tinha quase o nosso tamanho. Era uma mulher alta com seu um metro e oitenta.
“Primos!” ela sorriu abertamente para nós. O Marco levantou a cabeça e sorriu feliz ao vê-la, mas logo ficou triste novamente. Não sei se foi impressão minha, mas pude ver um sinal de compreensão por parte de Vivian. Não seria surpresa se ela já soubesse é claro. “Interrompo? Ouvi meu nome e decidi entrar, me desculpem”.
“Tudo bem. Eu vou... Ver se acho a Lilian. Ela está chateada com minha atitude eu acho. Não será bom para nós que vossa majestade esteja tão irritada” falei me levantando da cama para me retirar do quarto.
“Não!” o Marco falou apressadamente. Olhei pra ele sugerindo com o olhar se ele tinha ficado louco, mas ele parecia bem são. Vivian olhou-o com um olhar tão doce, tão meigo... Então ela apenas sorriu e assentiu concordando com ele aparentemente. “Fique Gareth. Por favor” me olhou em suplica e não pude dizer não. Vivian não parecia ter se abalado nenhum pouco seja lá o que ela estivesse pensando sobre tudo isso.
“Preciso conversar com você Marco” ela falou agora seria. O sorriso e o tom bricalhão haviam sumido de sua voz. Ao invés de me enxotar logo, ele apenas segurou meu braço pra que eu continuasse onde eu estava.
“Pode falar” ele disse pra ela, mas sem olhá-la. Para mim ele falou. “Não Gareth! Fique onde está. Não irá a lugar algum. Seja o que for que Vivian tem para falar, não haverá problemas em falar em sua frente, certo Vivian?” ele perguntou levantando a cabeça para olhá-la, mas ela apenas desviou seu olhar.
“Como quiser primo” ela assentiu. “Bem, depois de hoje não pude deixar de me preocupar com certas coisas. Como todos nessa casa bem sabem o casamento de Lilian afetará a vida de todos nós. Principalmente... a sua Gareth. Muita coisa lhe reserva para o futuro” ela me olhou profundamente com aquele seus olhos azuis. Nem perguntei o que, não porque ela não soubesse, ela deveria saber, mas somente porque sei que ela não diria nem que eu pedisse. “Não, não irei dizer, você está certo” ela disse ainda me olhando. As vezes parecia que seus poderes iam além de qualquer expectativa, como essa coisa de ler pensamentos. “A minha também mudará, mas muito pouco por enquanto. E quanto a sua Marco... Ela me parece incerta e é quase como um borrão o que me preocupa muito” seu rosto era de dor. Ele ainda não a olhava, não sei como, mas eles tinham exatamente a mesma expressão e não estavam sequer olhando um para o outro.
“O que quer dizer?” a voz do Marco não expressou emoção alguma. Se ele não me falasse eu duvido que eu tivesse notado sua paixão pela Vivian.
“Não sei e é isso que me aflige. Não saber... Por isso eu vim aqui, Marco. Pra...” ela parou. O silencio estava quase insuportável ao menos para mim. Já eles dois não pareciam se importar. Eu me levantei e fiquei de costas para os dois. Fui até o armário pegar minha espada e minha capa. Quando me virei para olhá-los, a Vivian estava sentada onde eu estava a poucos instantes. Sentada na cama ao lado do Marco e estava segurando sua mão. Na verdade os dois estavam com seus dedos entrelaçados, um olhando para o outro sem nada dizer. Senti-me como um intruso e desviei o olhar. Voltei a me virar e a estudar minha capa. Tinha um furo nela, eu precisava lembrar-me de pedir a alguém que a consertasse. Na verdade seria melhor uma nova.
Depois de sei lá quanto tempo em silêncio e de olhadas significativas, eu finalmente escutei a voz do Marco. Os dois pelo visto ignoravam totalmente minha presença o que era bom. Eu não queria ficar aqui e ver os dois nesse amor todo, apesar de ser sofrido. Eu já tive minha cota por hoje, mas não podia negar ajuda a meu irmão.
“Não diga nada do que possa se arrepender depois Vivian” a voz do Marco dessa vez não soou nenhum pouco calma e normal. Foi até meio esganiçada.
“Não chore meu amor” a Vivian lhe disse secando as lágrimas que caiam sob as bochechas do Marco. Eu apenas fiquei lá olhando-os sem reação. Ele estava mesmo chorando por ela? Ela tinha chamado ele de meu amor? E os dois sequer tinham dormido juntos, ou trocado um beijo! Eu sabia disso é claro, porque ele me falou. Nunca foi dita palavras que indicassem o amor deles um pelo outro e nada físico. No entanto ele estava chorando por ela e ela chamando-o de amor. Naquele momento me senti muito confuso. Eu nunca sequer cheguei perto de chorar por mulher alguma, nem mesmo pela Lilian ou por minha mãe. Nunca. Nunca. A única vez que me lembro de chorar, foi quando meu cavalo morreu. Mesmo assim eu tinha uns dez anos. Desde então, nunca mais. Não porque eu segurasse, mas porque eu não senti vontade mesmo.
Os dois se abraçaram e ficaram assim durante um tempo até o Marco se afastar, mas seu rosto não estava mais lacrimoso. Ele segurou o rosto pequenino dela entre suas mãos que eram quase tão grandes quanto as minhas e a beijou nos lábios. Nenhum beijo animal ou algo assim. Ele apenas encostou os lábios dele nos dela. Muito, muito calmamente. Ao olhá-los eu percebi que eu não amava a Lilian do jeito que eu achei que amasse. Com ela nunca senti vontade de nada calmo e sutil assim, sempre era avassalador. Não chorei por saber que ela iria embora e se casaria com outro e que jamais voltaria a tê-la, apenas fiquei irritado e com ego ferido, mas apesar disso tudo eu ainda a amava bastante. Não da forma como Vivian e Marco, que era verdadeiro e puro eu pude perceber. Isso me animou mais do que qualquer coisa na vida.
Foi como a luz no fim de um túnel, então ainda havia esperanças de um novo amor para mim.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

E talvez contos de fadas existam...

Parte 01

Oh a merda... Cara, eu não faço a mínima ideia do porque eu estou fazendo isso. Quer dizer, eu sei que prometi a Vanessa que eu a ajudaria, mas eu não deveria ter feito isso. Eu totalmente não deveria.
A Vanessa é a minha melhor amiga desde que eu tinha sete anos de idade. Nós moramos no mesmo prédio, estudamos na mesma escola, na mesma série, na mesma sala e já namoramos dois garotos melhores amigos.
Acontece que, agora nós duas temos 23 anos de idade, mas mesmo assim ela ainda carrega alguns traços de adolescente. E um desses traços consiste em ainda manter a paixão dela por um cara da família real de algum país europeu. Ela nunca viu o cara pessoalmente, ou em qualquer lugar na verdade, ela só... Ouviu o nome dele e por causa disso saiu dizendo por aí que ele é o amor da vida dela. Sim, ela é louca.
E eu mais ainda por não ter conseguido dizer “não” quando ela me pediu ajuda com o plano maluco dela de vir até a Europa, que é onde estamos agora, na Inglaterra mais precisamente, porque ela ouviu que ele estaria aqui.
E o motivo de nunca termos visto a tal cara do cara, é porque ele simplesmente, segundo as histórias, foi criado num vilarejo pequeno aprendendo coisas básicas pra poder governar e o poder não subir a cabeça, algo assim, algo totalmente rei Arthur. Então assim, agora que pai dele morreu, ele terá que assumir o trono ou algo assim, e finalmente a Vanessa poderá encontrá-lo.
Nesse exato momento ela está olhando sua aparência que está impecável no espelho e tagarelando sobre o quão incrível será. Que ela irá olhar nos olhos dele e ele simplesmente perceberá que ela é a mulher certa pra ele, que ela é quem deve ser a futura rainha, mesmo que ela trabalhe e seja uma mulher independente do século XXI.
“Oh meu deus. É ele! É ele! Ele finalmente está chegando” ela disse me entregando o espelho e indo em direção aos jornalistas e paparazzi que estavam indo em direção a um cara vestindo jeans e uma camisa, que claramente eram de marca. Do lado dele tinha mais um cara vestido parecido e ambos estavam de óculos escuro.
Eu não consegui evitar de pensar em como tipo, seria estar no lugar dele. Acordar em uma bela manhã e descobrir que o pai morreu e que ele terá que governar o país, que muita gente interesseira se aproximará dele, que ele TERÁ que escolher uma mulher pra casar e sabe-se deus mais o que príncipes tem que fazer.
“Ótimo” eu falei resmungando, mas ela nem percebeu. Estava ocupada demais tentando ter um vislumbre da paixão dela. Ela é louca, fala sério. Nunca nem viu o cara.
Ao mesmo instante que o tal príncipe estava chegando, tinha um grupo de caras chegando também ao lado dele. Um deles usava uma roupa que meio que parecia uma espécie de uniforme, um uniforme de motorista e ele carregava duas malas também. Olhei ao redor e todos estavam concentrados no tal príncipe e ninguém reparou no bonitinho aparentemente o motorista de alguém. Seria o motorista do príncipe? Poderia ser possível e nossa, o motorista é gato.
E bem, ele parecia estar tendo realmente problemas com as malas que ele estava carregando que depois de um tempo eu fui perceber que eram três. Uow coitado. Eu, logicamente, fui me oferecer pra ajudá-lo, quem sabe assim eu não conseguia algo pra ajudar a Nessa?
“Oi, com licença, posso ajudá-lo?” perguntei indicando minha cabeça pras malas. Ele me olhou surpreso e sorriu. Belo sorriso senhor motorista.
“Não precisa, muito obrigado” ele falou num inglês com um sotaque bem diferente. Sexy.
“Lógico que precisa. Deixe-me ajudá-lo” falei pegando a mala que estava nas costas dele e eu pude sentir ele respirando aliviado.
“Muito obrigado” ele sorriu de novo e eu retribui.
“Então... Qual é a dessa roupa?” perguntei enquanto caminhávamos pra longe de onde o príncipe estava.
“De motorista” ele pareceu bastante incomodado antes de responder.
“Fica bem em você” eu sorri em flerte. Então ele era mesmo motorista e pelo visto deveria ser do tal príncipe. Minha chance real de ajudar a maluca da Vanessa.
“Dele?” perguntei olhando para o príncipe que estava tirando uma foto com uma garotinha em seu colo.
“Eu...” ele começou e ficou vermelho. Eu ri.
“Sigiloso, já entendi” minha oportunidade mesmo! A Vanessa iria me agradecer muito por essa minha sacada genial.
Nós chegamos até uma limusine preta e então ele pegou as malas e as ajeitou nos lugares corretos. Disse que o príncipe estaria chegando a qualquer momento e que ele deveria estar dentro do carro a postos.
“Claro, mas antes... Por que você não me dá o seu número e a gente marca de se encontrar algum dia? Eu... Sei lá, eu gostei de você” eu sorri pra ele e estendi um bloquinho de anotações e uma caneta.
“Ótima ideia. Eu... Também gostei de você” ele sorriu e piscou um daqueles incríveis olhos azuis dele. Quando ele foi escrever o número no bloquinho seu chapéu caiu e então deu pra ver o quão macio e sedoso o cabelo preto dele aparentava. Foi difícil resistir de estender a mão e tocá-lo.
Eu gentilmente abaixei pra pegar rápido o chapéu dele e ele também se abaixou e nossas mãos se tocaram e fomos subindo bem lentamente exatamente como acontece nesses filmes que a Vanessa assiste.
Agora eu entendo porque ela fica toda afoita. É uma sensação legal e poder ver o brilho dos olhos deles e me sentir quente só de imaginar ele tocando mais que apenas a minha mão é muito legal. Só que, eu não sou esse tipo de garota. Não acredito em contos de fadas que nem a Vanessa, não mesmo.
“Ah... Já ia me esquecendo” ele se virou logo depois que tinha ido.
“O que?” será que ele ia me beijar agora? Haha, brincadeira.
“Seu nome. Qual é?”
“Sofia. O seu?”
“Edward” ele arqueou uma das sobrancelhas e foi algo totalmente sexy.
“Que nem o cara do crepúsculo?” perguntei e comecei a ri histericamente. Merda de influencia da Vanessa. Passei meses escutando ela suspirando por esse cara, o tal do Edward Cullen, fala sério.
“Quase. Não sou um vampiro e se fosse, eu não seria vegetariano” ele sorriu de volta. Uau, ele tem senso de humor e não me julgou pela minha total infantilidade. Ele devia ser mesmo um cara legal. E a voz que ele tem é simplesmente muito, muito sexy.
“Creio que não mesmo e se fosse, eu faria você mudar de ideia” eu pisquei e virei as costas. Não iria estragar esse momento dizendo “tchaus” e coisas do tipo. Era bom deixar o mistério e o tom de flerte no ar.
Quando eu vi o príncipe estava entrando na limusine e o Edward provavelmente estava na frente dirigindo, não que eu tenha visto agora ele estava com óculos escuro e chapéu, nem dava pra vê-lo direito.
“Ai meu deus, finalmente achei você! Onde você estava?” a Vanessa disse praticamente gritando no meu ouvido.
“Tentando descolar um encontro” suspirei rolando os olhos. As vezes ela realmente enchia o saco.
“SÉRIO? Eu querendo conhecer o amor da minha vida, lutando por isso e você quer mais um macho pra sua coleção? Não basta os que você deixou no Brasil, você ainda quer um inglês? Uau! Eu esperava um pouco mais de consideração” sua voz agora era de uma menininha indefesa.
“Pare com o drama, nem comece. O encontro vai beneficiar você. Eu vou sair com o motorista do príncipe” assim que eu falei essa palavra ela começou a gritar e a pular e a me sacudir em pleno aeroporto dizendo o quanto eu era incrível. “Eu sei, eu sei. Eu sou a melhor amiga do mundo e sou mesmo, é bom que você esteja ciente disso. Agora nós iremos fazer compras porque eu acho que sairei com ele amanhã” eu sorri misteriosamente.
“Já? Nossa, você é mesmo rápida! E sim, deixa eu contar. Ele olhou pra mim! Ele olhou pra mim! Ele olhou bem no fundo dos meus olhos com aqueles olhos verdes dele e sorriu pra mim! Eu não disse? Eu sei que ele não vai parar de pensar em mim a noite toda e depois irá me procurar!” ela suspirou bem fundo. Eu ri. Engraçado é saber que ela REALMENTE acredita nisso.
“Ele é bonito ao menos?”
“O cara mais lindo que eu já vi” ela suspirou de novo.
“Certo, certo. Vamos indo” eu balancei a cabeça sorrindo enquanto ela me abraçava bem forte e saíamos de mãos dadas.

domingo, 19 de setembro de 2010

Desejos Secretos

Toda garota má, com certeza, já foi uma boa garota algum dia. Eu não sou diferente de nenhuma delas. Todas nós mudamos por algum bom motivo. Ninguém deixa de ser inocente e se transforma do nada. No meu caso, bem, eu mudei por causa de coisas que certa pessoa me fez passar.
Quando nos apaixonamos pela primeira vez achamos que o cara será o nosso príncipe, escrevemos o nome dele em nossos cadernos, escrevemos o nosso nome com o sobrenome dele, escrevemos o nosso nome com o nome dele dentro de um coração, nós sonhamos com o primeiro beijo, sonhamos com ele fazendo alguma coisa hiper fofa e todo tipo de coisa romântica.
É, o primeiro amor é realmente uma coisa bonita e boa de se viver. Mas, ha, nem todas as garotas possuem a sorte de encontrarem um primeiro amor fofo o bastante pra satisfazerem seus sonhos mais românticos.
A maioria das garotas continua a sonhar mesmo depois da primeira decepção. É uma coisa boa, sabe? Não desistir de sonhar, não desisti de se obter aquilo que realmente irá te fazer feliz.
Infelizmente, como a maioria irá perceber, senão já percebeu, as coisas não funcionam normalmente desse jeito. Antes de você conhecer O CARA, pode crer que você irá passar por muito sofrimento nas mãos de caras que não te valorizam e coisas desse tipo. É normal, anormal é se você encontrar caras que logo de cara te tratem bem e que vocês se apaixonem. Aí você é realmente uma sortuda.
Eu não tive essa sorte. Eu totalmente não tive essa sorte. E como toda garota que não teve essa sorte eu me revoltei depois. Eu decidi chutar o balde e mandar tudo pra... Err, vocês entenderam e viver minha vida. Decidi que eu não seria mais de homem nenhum, que eu seria de todos, todos seriam meus.
A partir daquele momento eu não iria me apaixonar por ninguém. Eu não iria me comprometer com ninguém. Eu iria fazê-los se apaixonarem por mim e provarem do próprio veneno que destilaram em outras garotas. Eu decidi ser uma garota apaixonante, uma amante que nenhum deles colocaria defeitos.
Se deu certo? É, deu super certo.


Eu perdi meu bv com o cara que eu passei 3 anos inteirinhos gostando. Ele sabia muito bem que eu gostava dele e tudo o que ele fazia era me esnobar, me desprezar. Então eu decidi mudar e virar amiguinha dele e isso eu consegui. Virando amiguinha dele eu consegui o que eu passei tanto tempo desejando: que ele gostasse de mim! Na época foi um verdadeiro sonho realizado. Lembro como se fosse hoje.
Eu e ele sentados na escadaria do portão do colégio esperando a mãe dele vir buscá-lo e aí ele disse que queria me contar uma coisa. Disse que gostava de mim e que não agüentava mais me ter só como amiga. Eu lembro que meu coração batia tão rápido que parecia que eu iria vomitá-lo. Minhas mãos estavam geladas e eu suava muito frio. É, bons tempos...
Então eu logicamente disse que eu também gostava dele e ele me beijou. Foi um dia realmente perfeito e acho que demorou umas duas semanas até ele me pedir em namoro. Ele não foi um bom namorado, mas eu gostava realmente dele, ele me fazia feliz. Na época era o que me importava. Enfim, depois uma garota super bonita chegou na escola e virou minha melhor amiga, ele começou a dar em cima dessa garota que me contou e inclusive me mostrou as mensagens de texto que ele mandava pra ela. E ela me disse que também gostava dele.
Agora vocês entendem por que eu sou assim certo? É, eu tenho meus motivos. Não me julguem. Muita gente me julga antes de me conhecer e eu estou cansada disso. Vivem falando da minha vida. Porra! Um bando de gente sem tem o que fazer que não faz a mínima ideia de quem sou e o que eu passo ou passei.
Mas né, eu lido com tudo isso o melhor que eu posso. Acontece que, agora eu não sou mais aquela garota que sonha com o cara perfeito, eu nem sequer acredito que esse cara exista mais. Se eu achar um homem que seja cavalheiro e respeite uma mulher eu acho uma raridade. Por que? Ué, você não vê mais caras assim. Simplesmente não vê. Nossa geração é uma total vergonha, mas Ok...
Então eu decidi isso. Depois dele me trocar pela minha melhor amiga que nem chegaram a ficar uma segunda vez depois de um beijo, bem feito pra ele, eu passei a SEMPRE olhar pros lados. E eu percebi que existem muitos garotos interessantes por aí. Cada um a sua maneira.
Uns gostam exatamente das mesmas coisas que você, outros te entendem, outros te protegem e te fazem sentir bem, outros gostam de você pelo o que é, outros te desejam, enfim, são muitas as opções. Conforme a minha necessidade eu procurava certo tipo de garoto pra satisfazer minha necessidade momentânea.
Minhas amigas reclamam comigo por eu não saber escolher somente um deles pra eu ficar, mas eu simplesmente não consigo mais. Não tem nenhum que consiga me satisfazer completamente. Eu preciso deles de maneiras diferentes. Todos eles pra mim são únicos a sua maneira, são especiais a sua maneira.
Depois do Henrique, o meu ex-namorado fdp, nunca mais consegui olhá-los daquela maneira que você realmente acredita e CONFIA no cara. Eu acho que fiquei um pouquinho traumatizada, mas e daí? O importante é que agora eu não sofro mais por um imbecil que nem sequer me dá o valor e a atenção que eu realmente mereço. Que eu SEI que mereço.
Eu obviamente já achei caras que me davam uma atenção admirável e tudo o que eu queria naquela época com o Henrique, mas... Não sei, não é mais a mesma coisa.
Eu já fiz uns aí se apaixonarem por mim, declararam seu amor, me mandaram rosas, me encheram o saco, mas eu nem... E nem me sinto culpada. Por que eu deveria sentir? Todos eles merecem! E eu não estou sendo insensível. Todo cara com o qual eu me envolvo é canalha e não presta. E eu sei que eles só se apaixonaram por mim, ou assim eles disseram, porque era interessante conquistar uma garota que estava disposta a não se apaixonar por ninguém, uma garota que não iria esperar nada deles, que não iria exigir nada e eles estavam bem certos.
Assim sendo, a garota boazinha, inocente e sonhadora virou uma garota má. E bem, a garota má passou a ser a namorada perfeita de todos os canalhas da face de Terra.
A garota má sempre está nas festas vestindo uma roupa deslumbrante e sexy, flertando com o cara mais gato da festa que fica até com medo ou receio de chegar nela. Garotinhos se assustam e ficam intimidados quando vêem uma MULHER diante deles. E garotas más, elas não são garotas e sim MULHERES. Talvez garotas em termos de experiência, idade e corpo. Mas mulheres em atitude, em desejos, em pensamentos.
E atualmente é assim que eu sou. Ou é assim que eu me sinto. As vezes eu paro pra pensar na minha vida e gostaria de voltar naquele tempo em que eu acreditava no amor, no verdadeiro amor e no príncipe encantado que apareceria. Um garoto que seria tudo o que eu sempre quis.
Felizmente esses meus desejos só aparecem de vez em quando e quando eu estou nesses dias, eu me afasto de TODOS os garotos com os quais mantenho um relacionamento amoroso. Justamente pra eu não querer e não esperar nada deles ou ficar viajando transformando tudo o que eles falam em algo “ohh que fofo”!
“Olha quem tá vindo...” a Rebeca, uma garota com a qual eu ando, falou sorrindo. Eu nem precisava me virar pra eu saber quem é.
“Hum, então vamos sair daqui. Eu realmente não quero encontrá-lo hoje” falei puxando ela pelo braço, mas ela simplesmente parecia que tinha chumbo nos pés.
“Não senhora. Nós iremos ficar!” ela disse me puxando de volta. Droga! Eu não teria como fugir dali sem ela sem parecer que eu estava fugindo DELE.
“Oi Rebeca” ele disse pra ela enquanto eu ainda estava de costas pra ele amaldiçoando a Rebeca até não poder mais. Ela iria me pagar, mais tarde.
“Oi Rê” ele falou comigo e eu não tive como evitar mais.
“Oi Henrique” falei a contragosto. Eu não gostava muito de ficar de conversinha com ele, mesmo que ele gostasse de ficar de conversinha comigo, porque afinal de contas, nós ainda éramos amigos. Só que assim, pra mim, eu não me importava de só ficar de conversinha com ele pelo MSN, mas SÓ por lá onde eu não tinha que ficar olhando pra cara dele.
“Atrapalho alguma coisa?” ele perguntou sorrindo. Por que ele tinha que ter vindo até aqui conversar com a gente? Droga! E por que logo HOJE? Como é que ele consegue escolher o pior dia, ou seja, um dia onde estou vulnerável, pra falar comigo?
“Sempre” respondi emburrada e a Rebeca me deu um beliscão.
“Ela tá só brincando” e riu como quem diz “cala a boca”. “Não estávamos conversando nada demais” o que não era exatamente mentira. Na verdade nós estávamos falando justamente dele e o quão gostoso ele ficou do ano passado pra cá, mas isso não era algo que eu gostava de ficar reparando. Sabe como é, quando é ex e a pessoa fica melhor, isso dá... Não sei, é difícil e complicado.
“Vocês vão pro cinema mais tarde? Me disseram que o último Harry Potter vai estrear hoje. Tão a fim?”
“Não vou poder, estarei estudando. Tenho prova amanhã” falei sorrindo como quem sente muito. Na verdade eu não me esforcei nem um pouco na minha atuação então devo ter soado BEM falsa.
“A prova de amanhã foi transferida, Rê” a Rebeca me olhou como quem diz “te peguei” e eu a olhei da mesma forma.
“Não é da escola não, eu tenho prova do inglês” eu sorri afetadamente pra ela.
“Ah, é uma pena” ele disse me olhando como quem quer dizer mais. Certo, agora vocês percebem o porquê eu não curto ficar perto de garotos nesses dias né?
“Pois é” eu nem me esforcei pra fingir que eu nem estava ligando. “Tenho que ir procurar... alguém. Fui” eu falei saindo dali deixando a Rebeca com ele. Se ela queria tanto conversar com ele né, quem sou eu pra impedir não é mesmo? Eu sei que EU não poderia ficar perto dele. Não quero ter recaídas.
Assim que me afastei deles o meu celular tocou e eu vi que quem estava me ligando era o Caíque, um pretendente meu. Eu resolvi atender. Ele me disse que queria me ver e que estava com saudades de mim e eu também estava com saudades dele, mas... Hoje totalmente não era um bom dia pra eu ficar com ele. Eu dei a mesma desculpa que eu dei pro Henrique e desliguei.
Eu pra dizer a verdade não estava a fim de ficar com ninguém. Eu só queria ficar a sós com os meus pensamentos. Sem amigas ou caras me enchendo o saco, sabe? Eu precisava realmente pensar.
Quer dizer, ser solteira e ser comprometida ambas tem lados bons e ruins. Eu gosto de ser livre e ter minha liberdade de ir pra rua, sair sem ter que dar satisfação a ninguém além dos meus pais, de poder olhar pros lados mesmo sem sentir culpa, de poder flertar e dar mole para caras bonitos, mas eu também sinto falta de ter alguém pra me dizer no meu ouvido um “eu te amo” e dizer que tudo vai ficar bem quando não estiver tudo Ok. É bom gostar de alguém e alguém gostar de você. Eu sinto falta disso, eu realmente sinto. Algumas vezes eu canso dessa vida, de curtição e pegação. Sei lá, é bom durante um tempo, depois você cansa. Claro que, é só aparecer um cara realmente gato que eu mudo de ideia, mas enquanto eu estou sem, eu canso. Hahahahahaha!
Eu também como sou traumatizada, acho que levaria muito tempo até eu conseguir ceder, a conseguir me envolver realmente com algum garoto. Ele teria que ter muita paciência comigo, porque se for apressar as coisas ou tentar impor, nem rola, eu fujo na MESMA hora. Fala sério! Teve um mesmo, que na segunda vez que a gente ficou ele já queria me apresentar pra FAMÍLIA dele! Deus livre! Não mesmo que eu iria querer algo com ele... Psicopata!
Pra eu me envolver desse jeito de novo teria que ser algum cara que fosse meu amigo, que conversasse comigo sobre qualquer coisa, que gostasse de ao menos algumas coisas parecidas comigo e tudo o mais. Mas não... Eu não encontrei até hoje com esse cara a não ser o fdp do meu ex. É, VDM!
Nós tínhamos no ultimo horário, horário vago porque era teste e prova e tipo, não teríamos prova, então eu fui embora mais cedo.
Como eu totalmente não estava a fim de ir pra casa cedo, eu decidi passar num barzinho que tem no centro da cidade e onde tem um ponto de ônibus perto, porque aí depois eu não teria que andar muito sozinha e no escuro.
Quando eu cheguei lá tinha apenas dois casais numa mesa como se estivessem em um encontro duplo e eles estavam rindo felizes. Eu não consegui evitar de desejar ter aquilo algum dia. Mas do jeito que as coisas estavam indo eu não teria aquilo tão cedo...
Então eu caminhei até uma mesinha para duas pessoas que ficava ao lado de uma janela e afastada de todo o resto do bar e me sentei. Puxei meu caderno de anotações, uma caneta e quando eu vi tinha feito um coração partido ao meio nele.
“O que vai querer?” um cara barrigudo com um cabelo grisalho aparentando ter uns 40 e poucos anos me perguntou. Obviamente ele era o garçom.
“Eu... Quero uma roska de morango, por favor” pedi olhando distraidamente o coração partido em meu caderno.
E aí uma coisa que eu não esperava aconteceu. Lágrimas começaram a vir aos meus olhos. Por que é que o Henrique tinha que ter sido tão idiota e ter estragado com o nosso namoro que era tão legal? Merda! Nós realmente nos entendíamos de alguma forma!
E por que eu não consigo me desligar dele? Por que diabos eu não consigo esquecê-lo? Por que eu tenho que ficar imaginando o que ele está fazendo, está pensando e coisas desse tipo? Por que meu deus? Por que tem que ser assim? Eu não quero mais nada disso. Eu odeio esses dias nos quais eu fico assim. Eu realmente odeio.
“Você está bem?” alguém perguntou sentando na cadeira a minha frente. Era um garoto. Eu estava com a cabeça abaixada chorando e não queria um garoto me assistindo chorar.
“Estou. Obrigada. Você pode ir” falei fungando ainda de cabeça abaixada.
“Você não está bem. Hei, isso não é vergonha nenhuma” ele disse tocando minha mão que ainda segurava a caneta. Com tal gesto intimo eu não consegue evitar olhar pra ele.
E nossa, eu realmente me surpreendi com o que eu vi. Não era um cara como eu esperava que fosse. Na minha frente estava um cara loirinho com o cabelo lisinho caindo sobre a testa dele, com os olhos super azuis e forte. Sim, ele era realmente forte. Ele estava com uma camisa vermelha sem manga e uma corrente de prata no pescoço.
Oh meu deus, por que hoje, só por hoje o senhor não me livra dos garotos?
“Você não me conhece e se me conhecesse e soubesse o motivo pelo qual eu estou chorando iria saber que é sim um motivo pra vergonha” eu falei limpando meu rosto.
“Certo eu não te conheço. Que tal... Por que você não começa me dizendo seu nome? Eu sou o Olavo, prazer” ele sorriu mostrando um sorriso branco, brilhante e perfeito.
“Amanda” assim que eu disse meu nome o garçom chegou com a minha roska. Então olhou para o Olavo e perguntou o que ele queria e ele pediu uma coca apenas.
“Nome bonito. Então Amanda, o que houve contigo?” ele perguntou e parecia realmente interessado.
“Por que isso te interessa?” eu perguntei, mas não na intenção de ser grosseira.
“Também não sei. Pra dizer a verdade essa é uma boa pergunta, mas... Não sei. Acho que, porque talvez não seja todo dia que eu encontre uma garota bonita chorando, sozinha e bebendo num bar. Ainda mais num bar onde venho todos os dias e senta na mesa onde sempre sento” ele disse rindo da minha cara porque eu tinha ficado vermelha de vergonha com a declaração dele. Ah então não foi exatamente por mim e sim porque eu estava invadindo o espaço dele sem saber.
“Oh me desculpe eu não...” eu disse sem jeito recolhendo minhas coisas.
“Pode ficar aí. Eu não ligo. É bom ter companhia de vez em quando” ele deu de ombros.
“Eu não sabia. Mesmo. Me desculpe. Eu vou pra outra mesa” eu falei saindo, mas ele me segurou e disse um “fique” tão forte que eu apenas sentei de volta no meu lugar.
“Não me enrole. Por que você estava chorando?”
“Você quer mesmo saber?” perguntei arqueando uma das sobrancelhas.
“E não estou perguntando?” ele respondeu me olhando com aqueles olhos azuis dele e eu apenas olhei pra baixo sem jeito.
“Eu estava chorando porque as vezes eu paro pra pensar na minha vida e acho tudo uma merda. Eu ainda gosto do meu ex, mas eu não consigo voltar pra ele porque eu sei que não dará certo, as coisas aconteceram de uma forma que estragou tudo de bom que poderíamos ter juntos, mas ao mesmo tempo não consigo me desligar totalmente dele. Então por causa disso eu não consigo me ligar livremente em outros caras, enfim, minha vida é uma merda mesmo” falei me lamentando. Nem coragem de olhá-lo eu tive.
“Imagino que deva ser uma situação difícil esse lance de ex-namorado é complicado mesmo, mas você vai ver que você acostuma, sabe? Isso vai passar e você não vai ficar pensando nele pra sempre” talvez ele estivesse certo, mas talvez não. Não dava pra saber.
“Eu espero que sim” eu suspirei. “Eu simplesmente... Não sei. Não sei de mais nada” suspirei mais uma vez.
“Olha, por que você não canta? Quem canta seus males espanta, não é mesmo? Faça assim. Tipo, eu sempre venho aqui pra me dedicar a minha música sabe? Quase nunca tem alguém aqui dia de semana ainda mais esse horário, então o dono gosta quando eu toco. Eu vou tocar uma música e você me acompanha cantando certo?” ele falou sorrindo e pegou um violão que estava ao lado dele e que eu nem tinha reparado.
“Que música você sabe tocar?” perguntei olhando pra ele enquanto ele tocava as cordas do violão.
“Você que manda. Diga qualquer música aí, eu vou saber tocar” ele disse piscando pra mim. Pra me mandar dizer qualquer música que ele saberia era ter realmente muita confiança e manjar muito.
“Certo. Deixa eu vê... Conhece Hey, Soul Sister?” foi a primeira música que veio na minha cabeça assim e que apesar de me lembrar o meu ex, eu curtia bastante a música.
“Claro” ele respondeu sorrindo e começou a tocar a música e na hora pra eu começar a cantar ele deu um sinal com a cabeça. Então eu comecei a cantar a música ele me acompanhando de vez em quando e um pouco antes de chegar no refrão eu comecei a chorar de novo.
“Who's one of my kind” ele continuou cantando enquanto eu parava pra chorar. Aí ele incrivelmente parou de tocar e tocou minha mão de novo. “É, eu bem que pensei que não fosse uma boa ideia cantarmos essa música” ele apertou minha mão de devagar.
“É, acho que não foi mesmo uma boa ideia” falei concordando. Eu odeio quando eu fico super sensível assim.
“É normal. Relaxe. Todos nós temos um dia que ficamos assim” ele deu de ombros e colocou o violão em cima de mesa.
“Sua coca” o garçom chegou colocando a coca dele em cima da mesa. Ele pegou e bebeu de um gole só a coca que tinha no copo e eu decidi dar uns goles na minha roska que eu tinha esquecido até então.
“Vem cá” ele disse se levantando e pegando na minha mão.
“Ir aonde?” perguntei enquanto ele colocava o violão dele de volta na capa.
“Ali” ele respondeu vagamente e então foi até o balcão e pagou a coca dele e a minha roska.
“Obrigada” falei quando saímos do bar.
“Não tem de quê” e então ele me conduziu até o mirante que ficava ali perto, porque bem, o barzinho era perto da praia. E como era umas seis, sete horas da noite não tinha muita gente por ali e a vista era incrível.
Ele tirou o violão das costas, encostou na parede e parou pra me olhar. Eu sorri sem graça e desviei pra olhar a vista novamente. Ele era um cara legal. Um estranho que me tratava bem logo de cara. Isso era meio raro comigo.
“Quantos anos você tem?”
“17, quase 18. E você?” ele parecia ser mais velho. Parecia ser um daqueles garotos de faculdade.
“Tenho 21. Acabei de fazer na verdade. Foi ontem meu aniversário” ele sorriu de novo. Só que dessa vez seu sorriso parecia querer dizer mais.
“Sério? Legal! Quer dizer, parabéns atrasado” eu disse e então ficamos num silêncio constrangedor. Tudo o que eu conseguia pensar era “o que vamos fazer agora? O que ele quer comigo? O que eu falo? Eu tenho que ir pra casa antes que meus pais me matem”.
“É, obrigado. Até atrasado eu ganho presentes” ele deu uma piscadinha de leve pra mim e então fez uma coisa que eu não esperava.
Ele veio e colocou as mãos dele em minha cintura e ficou me olhando. Eu não me mexi, apenas... Esperei pra ver o que ele iria fazer. Ele colocou sua mão direita em cima da minha bochecha esquerda e eu senti minha respiração parando aos poucos.
“Posso?” ele perguntou inclinando seus lábios sobre os meus e eu pude sentir seu hálito quente perto de mim. Ele tinha um cheiro diferente de alguma forma. Era forte, mas ao mesmo tempo era suave. Eu não sei com o que posso comparar o cheiro dele e descrever pra vocês. Só sei que eu curti muito.
Eu não consegui falar nada pra responder a pergunta dele, somente... Assenti com a cabeça sentindo os lábios dele no meu. Eles eram melhores de sentir do que aparentavam. Eram carnudos, então eles eram bastante macios de sentir.
Ele me puxou mais pra perto dele e eu pude sentir que a temperatura dele era bem elevada. Ele era realmente quente. Literalmente muito quente. Eu o abracei ainda mais e pude sentir a língua dele na minha e a sensação foi boa. O beijo dele era calmo, mas ardente. Era profundo. Era como se ele estivesse explorando e saboreando cada momento daquele beijo. Era como se ele estivesse ME beijando e não beijando somente o meu corpo, a minha boca. É difícil explicar a sensação de um beijo, no mais, tudo o que eu posso dizer é que eu curti bastante.
Eu estava me envolvendo demais com o beijo dele então decidi me afastar. Hoje era o dia onde eu supostamente deveria não ter ficado com ninguém e ficado bem longe de garotos.
“Isso não... Não é uma boa ideia” falei virando de costas pra ele.
“Desculpe. Minha culpa, é que você tava tão perto que não resisti. Eu não irei mais... Desculpe de novo” pela sua voz eu pude perceber que ele estava meio sem graça o que foi fofo da parte dele.
Viu? Nossa, eu totalmente PRECISO ficar longe de garotos. E parar com isso de achar tudo fofo e romântico. Garotos não são assim. Eles não são, ponto final.
“Não é isso. É que... É como eu te falei mais cedo. Eu ainda estou envolvida emocionalmente com o meu ex, mesmo que ele não saiba e espero que nem venha a saber. Sei lá, eu queria mesmo me envolver com outro cara, conseguir me entregar que nem da primeira vez, sabe? Mas não sei, eu não consigo mais. Eu creio que tenha ficado totalmente traumatizada. E bem, nem sei porque estou te contando isso, você não tem nada a vê com meus problemas e acabamos de nos conhecer. Você é lindo, provavelmente está na faculdade e só queria curtir sua noite de quinta em paz sem uma garota problemática. Desculpe por ter estragado sua noite, é que... eu acho que precisava mesmo desabafar, sabe? Eu nunca faço isso e com meus amigos que sabem de toda a história é mais difícil ainda conversar. Eu... Acho que estou cansada dessa minha vida de pegação. Eu queria ser que nem as outras garotas e consegui ficar e gostar de um cara só, mas não acho um que preste e ainda sou traumatizada. Enfim, ai meu deus, eu falo demais” eu terminei por fim pensando que eu realmente falo demais e que minha língua parece não caber na minha boca.
Eu ainda estava de costas pra ele quando falei tudo isso e então eu não fazia a mínima ideia do que ele devia estar pensando de mim e muito menos se ele ainda estava atrás de mim. Talvez ele tivesse ido apenas embora. Eu esperei um dois minutos antes de ouvir a voz dele de novo. Eu realmente achava que ele tinha ido embora.
“Eu sei como é isso. Comigo meio que aconteceu a mesma coisa. Eu nunca encontro uma garota que preste e quando encontrei... Nós namoramos durante um bom tempo, só que ela me tratava como se eu fosse o cachorrinho de estimação dela. Então aí eu cansei” logo depois que ele terminou de falar ele veio e me abraçou pro trás e eu encostei minha cabeça no ombro dele. Ficamos nós dois assim abraçados em silêncio não sei por quanto tempo. Abraçados e olhando a vista.
Mesmo se eu não estivesse num desses “dias” eu teria achado isso romântico, porque realmente foi.
Talvez eu tenha finalmente achado a luz no fim do túnel que eu tanto procurei e tenho esperado. Ou talvez não. Tudo o que eu sei é que esse cara me mostrou e me fez sentir coisas que eu não acreditava mais que fosse possível. Talvez eu tenha finalmente achado minha chance de um novo recomeço. Uma nova vida.
“Eu acho que... Nós dois achamos o que procurávamos não?” ele disse em meu ouvido e eu sorri ao ouvir aquilo.
“Eu sinceramente espero que sim” concordei. Então ele me carregou de modo que eu ficasse sentada em cima do muro e pegou o violão de novo.
“O que vai tocar agora?”
“Undisclosed Desires, do Muse. Conhece?” então ele começou a tocar e ficou tocando para nós dois. Ao menos por hoje eu me permitiria sentir aquela garotinha inocente e cheia de esperanças que todas nós já fomos algum dia.

domingo, 12 de setembro de 2010

Consumida

Prólogo

Às vezes as coisas que nos acontecem simplesmente fogem do controle. É exatamente assim que acontece quando somos consumidos por algo. E no meu caso eu fui consumida por um sentimento tão poderoso que ele foi capaz de transformar minha vida de cabeça para baixo...

Parte 01

“Betina, é sério, você realmente deveria parar com isso” minha amiga, melhor amiga na verdade, a Duda, me repreendeu quando eu contei pra ela que tinha colado em toda a prova de física daquele bonitinho CDF.
“Duds” esse é o apelido que eu dei pra ela quando tínhamos seis anos e desde então eu a chamo assim. “Se eu não tivesse feito isso, eu vou acabar perdendo de ano, sério, olhe, pense bem... Nem todo mundo consegue tirar notas tão boas como as suas” falei dando de ombros enquanto eu comia minha coxinha com catupiry.
“É, isso é porque eu estudo! Você devia começar a estudar sabe? Estamos no terceiro ano. No final teremos que prestar vestibular e assim você não irá aprender nada, o Henrique não estará lá pra você pescar dele” essa era a décima conversa sobre esse assunto que tínhamos essa semana. Eu sinceramente não agüentava mais tanto papo furado.
“É, eu sei. Você tem razão” era a melhor forma de fazê-la calar a boca, mudar de assunto. “Prometo que vou mudar” sorri sabendo da enorme mentira que eu havia contado.
“Sei” ela respondeu ceticamente, é, ela me conhece. “E o Gustavo? Ele te ligou ontem?”
“Ligou, mas eu não atendi não. Sei lá, não estou mais tão afim dele” dei de ombros novamente colocando ketchup em cima da coxinha. Estava realmente boa, fazia tempos que eu não comia uma assim.
“Não atendeu? Você é doente? Vei, qual é o seu problema? Como assim você não atendeu?!” ela disse aos berros. Eu já esperava por essa reação dela e é por isso que eu não tinha contado antes. Esperava que ela fosse esquecer de perguntar, doce ilusão.
“Não to afim dele, Duds. Ele é legal e tudo o mais, mas não me...” nem pude terminar porque ela interrompeu gritando de novo.
“Oh meu Deus! Eu SABIA que você está doente. Bê, ele é MUITO LINDO E GOSTOSO. Um deus grego daquele cai no seu colo e você diz não?! Sério?” ela apenas me encarava totalmente incrédula.
“Eu sei disso” eu suspirei. “Mas fazer o que? Não é ele quem eu realmente quero” e então desviei meus olhos dela para olhar quem estava um pouco mais atrás dela na cantina comprando uma coxinha com catupiry também.
Ela obviamente viu que eu não estava mais olhando pra ela e seguiu meu olhar e deu um suspiro ainda mais fundo que o meu.
“O Miguel?! E eu achando que você já tinha superado isso” ela balançou a cabeça em negação.
“Eu... Superei” era mentira e eu e ela sabíamos muito bem disso.
“Claro, é exatamente isso que está escrito na sua cara mesmo. Bê, pra não sentir desejo algum por um cara como o Gustavo, só sendo cega ou estando apaixonada por outro, completamente apaixonada” ela balançou a cabeça mais uma vez e me lançou aquele olhar de “você não tem jeito mesmo”.
“É, mas Duds, o que eu posso fazer? Acho que... Eu realmente, realmente gosto do Miguel” olhei pra ele mais uma vez sentindo uma tristeza crescendo.
“Não, você não gosta dele. É sério. Isso virou obsessão. Você só continua a querer ele, porque ele te deu um fora e você não agüenta levar um fora. Encare os fatos, Bê. Ele não te quer, e outra, ele nem é tudo isso assim, ele é bonitinho, INHO. Já o Gustavo é tão ÃO. Fala sério, não tem nem comparação. Além do Gustavo ser melhor que ele, o Gustavo quer você. Hei, olha pra mim” ela disse estalando os dedos tirando toda a minha concentração do Miguel.
Ele estava ao longe conversando com os amigos. Ele parecia feliz e estava rindo muito de algo. Antes da Duda tirar minha atenção dele, ele tinha olhado pra mim na mesma hora que eu estava olhando pra ele e eu senti uma sensação quente por dentro. Eu SEI que ele me quer. Ele me quer, né?
“O Gustavo é tudo de bom, mas não é o Miguel” falei voltando pra minha coxinha.
“Certo. E isso é ótimo. Se não quiser o Gustavo, por que não fica com o Marcelo? Ele também é bonito e está afim de você” ela realmente iria citar todos os caras que estavam afim de mim querendo que eu não ficasse mais com o Miguel?
“Eu sei que ele é, eu também acho e até estava afim de ficar com ele, Dud. Mas... Não sei, eu acho que, já que esse é o nosso último ano aqui, eu preciso é correr atrás do que eu quero né? Depois eu nunca mais verei o Miguel de novo”.
“Oh a merda... Mas tanto faz, a vida é sua, você que sabe, só depois não venha me dizer que eu não avisei, porque bem, eu avisei” ela então foi tarar um bonitinho amigo do Miguel que ela é super afim.
Eu me aproveitei da situação e decidi mandar um sms pra ele. Fazia uns 2 ou 3 meses que eu não falava com ele, mas eu simplesmente não agüentava mais. Eu precisava disso. Então eu escrevi um sms que dizia “Qnt tempo hein?” e enviei, nada demais, mas para um bom entendedor dizia muito.
Instantes após eu o vi mexendo o celular e sorrindo. Ele digitou algo de volta e um minuto depois eu recebi uma mensagem. “Muito tempo, assim eu fico com saudades” e eu sorri ao lê-la. Opa! Eu não disse que ele me queria?
Então eu digitei de volta “Saudade pode ser facilmente resolvida” e ele leu a mensagem e ficou me olhando de longe com um claro desejo de vir falar comigo, porém ele não veio. E recebi de volta uma mensagem dizendo “Bom saber, pq eu quero msm resolver”.
Pronto, eu tinha conseguido o que eu queria. Uma confissão dele de que ele me quer. Eu não respondi essa mensagem e nem responderia. Eu estava satisfeita por enquanto.
“Bê, esquece esse garoto, é sério. E vamos pra aula, o Toni já passou” o Toni era o nosso professor de biologia que é a aula que teríamos agora depois do intervalo. Duas aulas.
Duas aulas chatas, mas que passaram rápido. Infelizmente eu não poderia ir embora ainda, porque eu teria que ir até a sala da coordenadora porque ela queria conversar comigo sobre um projeto que eu sugeri. Então eu fui andando e de repente eu congelei com a cena que eu estava vendo.
Não tinha mais ninguém por perto, somente duas pessoas se agarrando de forma muito, muito indecente. Eu senti o chão se abrindo aos meus pés quando eu vi quem era o garoto.
“Miguel...” eu falei sussurrando de modo que somente eu poderia ouvir. Ou assim eu achei. Na mesma hora que eu falei o nome dele a garota se afastou dele e olhou pra mim no mais profundo ódio.
Ele olhou pra ela assustado e se virou para olhar na minha direção.
“Betina?” ele falou surpreso.
“Surpreso?” não consegui deixar de lado a raiva profunda e crescente que eu estava sentindo. Se ele estava ficando com outra, se ele queria ficar com outra, por que porra ele veio dar em cima de mim? Aff!
“Eu...” ele começou, mas se calou logo. Ao invés disso a garota que estava ao lado dele continuava a me olhar com raiva.
“Então é você... A garota que ele falou” ela riu em desprezo. Quer dizer então que além de tudo, ele estava de conluio com ela? Oh que bom saber. Eu estava com muita raiva, muita mesmo.
“Nah, não! Deixa a Betina em paz, é sério. Por favor” ele pediu quase em súplica pra ela. O que era isso tudo? Ela me deixar em paz? Ela que tentasse me infernizar!
“Não! É ela mesmo...” ela riu dele. “Não é? Sim, eu posso sentir seu coração. É ela” o que porra estava acontecendo aqui? Sentindo o coração dele? Como assim? Eu não estava gostando nenhum pouco disso.
De repente ela estendeu as mãos pra frente e as fechou bem rápidamente e eu comecei a sentir uma dor imensa em minha cabeça e que aos poucos foi se espalhando pelo meu corpo. A agonia era tão grande que eu queria morrer. Que porra era aquela? Ela que estava fazendo aquilo comigo? Não, não era possível.
“Nah, deixa a Betina ir embora, por favor. Eu prometo... Eu te prometo o que você quiser, mas por favor, a deixe ir” eu não podia vê-lo mais já que eu estava no chão me contorcendo de dor, mas pela voz dele ele parecia completamente desesperado. Mesmo no meio de tanta dor a raiva que eu sentia por ele ainda era crescente e estava cada vez se tornando maior. Quanto mais eu via e sentia mais eu tinha raiva dele. Ele nunca tinha sido bom pra mim afinal de contas. Namoramos durante seis meses e ainda assim ele só era bom comigo quando era conveniente pra ele. É isso, me sentir mais usada que isso seria impossível. Eu o odiava com todas as minhas forças.
Eu estava sentindo tanta dor que eu queria morrer. NÃO! Eu não posso morrer! Eu preciso ficar viva pra poder me vingar dele. Eu não sabia como agüentaria a dor, mas eu teria que agüentar, eu não podia morrer. Eu queria viver, eu queria viver e acabar com ele. Nunca mais deixá-lo fazer isso comigo e nem com ninguém.
“Ela é forte” a garota riu ainda mais e ainda mais maldosa. “Pelo visto você não tem tão mal gosto assim, meu amor” ela disse calorosamente. Meu amor? Eles tinham mesmo um caso então.
“Lógico que não. Eu amo você, não é mesmo? Como poderia ter mal gosto?” certo. Aquilo foi o fim. Eu precisava ir até ele e arrancar a cabeça dele do pescoço. Mesmo sentindo muita dor eu me obriguei a levantar e consegui bem devagar e ainda sentindo a dor me consumindo.
“Seu... Filho... Da... Puta” eu falei com dificuldade. “Você... vai... me pagar” então eu caí de joelhos novamente sentindo mais dor ainda.
“Não resista sua idiota. Está quase acabando. Posso sentir sua vida indo embora” ela riu mais uma vez. Então eu abri meus olhos e ela estava com os lábios dela nos dele enquanto eu estava lá, morrendo na frente dele e ele não fazendo nada.
“Não!” eu gritei e então tudo ficou vermelho.
“Não! Era pra você estar morta. Como pode estar em pé? Não é possível” a garota dizia apavorada. Eu gostei disso.
“Yeah. Você me matou. Estou morta. Eu posso... Sentir muita coisa. Me sinto mais forte, me sinto poderosa. Yeah, eu gosto disso. Meu coração não bate mais” falei rindo lambendo os lábios.
“Betina?” o Miguel perguntou cauteloso.
“Cale a boca. Eu cuido de você mais tarde. Primeiro ela” então eu fui até a garota e ela tentou correr, mas eu a alcancei muito facilmente.
“Céus! Você é um demônio! Miguel, socorro! Socorro! Eu criei um demônio” ela disse em desespero.
“Se vira, não irei me meter. Eu avisei” ele deu de ombros mal ligando pra ela. Ele era mesmo um imbecil covarde que merecia sofrer.
“Morra!” falei pra ela e quebrei seu pescoço. Pude sentir todo um poder me invadindo. Eu estava sugando os poderes dela? Hum, gostei. “Agora você” eu disse olhando pra ele.
“Hei, calma. Você não vai me matar também né? Eu tentei proteger você, mas ela era um demônio, eu não tinha como lutar contra ela. Eu... Gosto de você, você sabe” ele disse nervoso.
“Tenho certeza que sim” então eu segurei o rosto dele entre minhas mãos e o beijei com toda a fome que eu sentia por ele. Depois que eu me afastei dele eu me senti ainda mais estranha. Quando eu vi um arco e flecha estava na minha mão. E a ponta da flecha era um rosa com brilho.
Quando eu olhei pra ele, ele ficou me olhando completamente apatetado. Que porra foi essa?
“Que foi?” eu perguntei com agora um certo nojo dele.
“Eu te amo” ele falou sorrindo com o sorriso que antes me fazia derreter.
“Problema é seu” respondi friamente. Eu o amava também. Eu sentia isso mais do que antigamente, porém alguma coisa mudou e eu não conseguia mais me entregar como antes.
“Não... O problema é nosso. Eu amo você e vou lutar por você. Você é o amor da minha vida, no tempo em que passamos separados pude perceber isso” as palavras dele me fizeram sentir aquela quentura de novo e eu sorri.
“Sei como é. Mas... Por sua causa eu morri e eu ainda tinha muita coisa pra viver. Por sua causa eu estou condenada a isso, seja lá o que isso significa” meu ódio por ele era muito, muito grande. Eu realmente tinha sido consumida por esse sentimento.
“Me desculpa, mas eu... Eu não pude impedir. Eu amo você” ele falou chegando perto e acariciando meu rosto.
“Tenho certeza que sim. Apesar de eu ainda amar você, não sinto mais vontade de fazer isso acontecer. Se eu estou condenada, você também está. Você irá passar o resto da sua vida sem amar mais ninguém além de mim, eu sou a sua alma gêmea e nunca irei retornar pra você porque eu estou amaldiçoada neste corpo” então eu olhei pra flecha em minha mão mais uma vez.
“Eu...” ele começou, porém se calou.
“Eu vou impedir todos os caras como você. Se quiserem fazer alguém sofrer por amor, terão que passar por cima de mim primeiro” ao dizer tais palavras eu senti a flecha pulsando em minhas mãos.
“E como pretende fazer isso? Você não tem o poder sobre isso” ele disse rindo. Eu fiquei com mais raiva ainda. Felizmente eu não precisei pensar muito e as palavras apenas fluíram de minha boca.
“Atirarei uma de minhas flechas e eles serão tomados por uma profunda paixão para a primeira pessoa da preferência de sua sexualidade que olharem” respondi firmemente. “Irei proporcionar a todos que eu puder, sentir o amor que nunca pude sentir” olhei pra ele tristemente.
Ele apenas ficou me olhando da mesma forma de volta. E eu sorri pra ele. Tentei tocar na mão dele, mas eu não consegui. Ele também tentou tocar na minha e não conseguiu. Então eu apenas estendi a ponta da flecha pra ele segurar e eu a segurei na outra. Não sei por quanto tempo ficamos assim nos olhando e desejando...