domingo, 22 de agosto de 2010

[Livro] Amor Celestial

Capitulo 2 – Conflitos

“Corra Ellen! Corra!” eu não reconhecia de quem era a voz, mas ao mesmo tempo ela me era familiar e calorosa. Eu não estava com um bom pressentimento, medo e pânico iam aos poucos tomando conta de mim. Tudo o que eu sabia era que eu precisava correr, não sei do que, e muito menos o porquê, eu apenas sabia que deveria correr. Era o que a voz me disse e o que eu estava fazendo.
Não fazia a mínima ideia de onde eu estava, com certeza eu não conhecia esse lugar e nem sabia como vim parar aqui, mas não importava. Era o que menos importava. Eu precisava fugir, precisava correr o mais rápido possível, o mais longe de... Quem? Não sei. Estava perto, se aproximando, eu podia sentir o perigo vindo. Não teria mais como eu escapar, tarde demais. Continuei correndo o máximo que eu podia, o mais rápido possível, mas logo fiquei cansada e parei. Apoiei minhas mãos em meus joelhos respirando pesado e arfando. Onde eu estava? Que lugar estranho era esse?
Quando levantei minha cabeça tudo o que vi foram ruazinhas estreitas, casas coloridas e... um cara, um cara de olhos vermelhos. Não vi sua cara, nem seu corpo, toda a sua imagem era como se fosse um borrão, tudo o que eu podia ver eram aqueles olhos vermelhos. Um vermelho vivo, tão vivo de dar medo, então os olhos vermelhos sumiram e a voz apareceu de novo.
“Corra Ellen! Fuja! Fuja! Agora! Sai daí! Se mexa, agora!” a voz disse e antes que eu pudesse me mexer o cara dos olhos vermelhos estava em frente a mim me olhando.
Então eu acordei. Eu estava caída no chão e todos os meus colegas em volta de mim, me olhando com curiosidade. Mais uma vez eu era a atração do circo, bela forma de começar o ano.
“Ellen! Ai meu deus. Graças a deus que você acordou, você nos deu um imenso susto” acordei com a Paulinha falando no meu ouvido, bom não exatamente, mas ela estava muito perto porque eu estava no colo dela e a voz dela estava muito alta.
“Tentando dar uma de bela adormecida pra vê se arranja alguém? Péssima ideia” esse menino é mesmo o maior idiota que eu conheço.
“Acha que preciso de truques que nem você pra arranjar alguém? Certamente que não Caduh. Consigo sem artimanhas ao contrario de você não?” rebati na mesma hora. Eu estava começando a me irritar com ele, de novo. Pra variar. Não dava pra eu arranjar mais uma briga hoje. Era o primeiro dia de aula! Nem parecia de tão agitado que foi. E ele ainda nem terminou.
“É garota, pelo visto está bem, tanto que já consegue se defender. Bom, voltem para seus lugares, por favor,” o professor nos disse enquanto me ajudava a levantar o que foi muito gentil da parte dele.
“Acha que pode assistir a aula?” ele perguntou claramente preocupado.
“Sim, posso. Estou bem, mesmo. Obrigada” dei meu melhor sorriso e fui para o meu lugar. Procurei pela aluna nova e não foi difícil achá-la. Ela havia sentado longe de todos e estava me encarando. Quando a encarei de volta ela desviou a cabeça olhando para o lado oposto, não sei se foi impressão minha, mas pude ver um sorriso em seu rosto.
“Quanto tempo fiquei desmaiada?” perguntei pra Gabi.
“Não sei ao certo, foi tudo tão rápido. Você caindo e tudo o mais, nos deu o maior susto sabia?” essa é boa, ela falando como se fosse culpa minha.
“Quanto tempo?” eu insisti. Eu sabia que ela deveria saber.
“Bom, uns 5 minutos se não estou errada. Por quê?” ela me perguntou preocupada, pela cara dela acha que eu fiquei louca.
“Nada. Eu só... Parecia estar dormindo e não desmaiada. Tive um sonho”
“Sonho? Que sonho?” a Paulinha perguntou arrastando a cadeira dela sutilmente para perto de nós.
“Bem, eu não sei ao certo. Foi muito confuso na verdade. Eu me lembro de estar correndo, eu estava com medo, assustada, confusa e não sei mais o que. Só sabia que tinha que correr” quando me dei conta a Leninha e a Talita também estavam perto de nós ouvindo o que eu falava enquanto fingiam prestar atenção no professor.
“Correr do que?” a Leninha perguntou preocupada.
“Eu... Não sei, não sabia. Só sabia que tinha que correr, o mais rápido possível, eu tentei, mas... Cansei logo”.
“Tá vendo? Quando eu digo pra vocês que preparo físico é importante e que não adianta estar no peso certo, temos que estar em forma, senão acontece isso aí, nem uma corridinha básica se agüenta, mas não. Eu sou a chata, alguém escuta a Leninha? Não, ninguém me escuta”.
“Acabou seu discurso Leninha?” a Talita disse pra ela e depois se virou pra mim. “Depois aconteceu o que?”
“Bom, aí eu parei de correr, parei pra descansar um pouco, sabem? Depois quando eu levantei a cabeça vi umas ruas bem estreitas, umas casas coloridas, mas não dava pra ver muito bem porque estava de noite e estava escuro e deserto. Então eu vi um cara longe de mim, bem longe...”
“Era bonito?”
“Talita! Larga de ser superficial”
“Ah Paulinha, você sabe, são detalhes importantes” ela deu de ombros.
“Não sei se era bonito, não vi seu rosto exatamente” respondi.
“Como não? Ele estava tão longe assim?” a Gabi perguntou.
“Não, é que... o rosto dele estava embaçado, tudo nele estava assim, todo seu corpo, menos...” eu parei. Dizer isso em volta alta soava muito esquisito.
“Menos...?” todas as quatro disseram juntas em coro.
“Menos os olhos. Os olhos dele eu me lembro muito bem, a única coisa nele que deu pra ver foram os olhos, só que... Os olhos dele não eram normais, eram vermelhos” eu terminei e fiquei esperando pela reação delas.
“Nossa. Vermelhos tipo alguns são azuis e outros verdes? Ou vermelhos de quando estamos com sono, chorando ou irritados?” a Leninha perguntou. Pergunta engraçada, ao menos eu achei. Eu sorri pra ela.
“Vermelhos como alguns são azuis e outros verdes” acenei com a cabeça.
“Sonho esquisitinho esse seu hein? Ainda mais desmaiada” a Talita disse rindo.
“Não tem graça Talita, dá pra parar de rir, por favor?” a Gabi estava bastante estressada. Acho que eu sabia o por quê, resumindo: Caduh!
“Ain calma aí, estressadinha” a Tali rebateu.
“Eu sempre disse que a Ellen é louca, ninguém me escuta tá vendo? Ellen, não me leve a mal, mas você é doida! Olhos vermelhos? Aiaiaiai. Esqueça isso, foi só um sonho esquisito. Ninguém tem olhos vermelhos, a não ser que sejam lente” a Gabi falou olhando pra mim.
“Gente, qual é, não disse que era real ou algo assim, foi só um sonho, coisas estranhas ocorrem em sonho o TEMPO TODO, vocês sabem. E o cara não usava lente, era mesmo os olhos dele, vermelhos” eu disse com certeza. Como eu sabia disso, nem me pergunte.
“Como sabe?” elas perguntaram. O que eu poderia responder? Dizer que eu simplesmente sabia? Não, eu não poderia, elas me achariam mais louca ainda. Ao invés de inventar algo para mentir, disse apenas a verdade. “Por que depois ele chegou bem perto de mim”
“Quão perto?” a Tali perguntou deslumbrada e empolgada. Depois eu que sou a maluca.
“Tão perto como alguém que iremos beijar” falando nisso, eu acho que foi o que me fez acordar, a proximidade daqueles olhos horripilantes, mas que por alguma razão não me davam medo.
“Ele beijou você?”
“Não! Claro que não, Gabi. Ele só chegou muito perto. Que foi quando eu acordei” eu disse.
“Isso tudo é realmente estranho meninas. Não sei se notaram, mas a Ellen desmaiou quando a aluna nova chegou e ela acordou assim que a garota se afastou. Só eu percebi isso?” a Leninha perguntou olhando pras meninas.
“Não, não vi nada disso Leninha, não viaja. Ok? Foi simplesmente coincidência a menina chegar e depois a Ellen desmaiar e a Ellen acordar na mesma hora que ela se afastou. Coincidência apenas. Não viagem!”
“Pode até ser Paulinha, mas Ellen... Tenha cuidado com essa menina nova, eu não confio nela e não vou com a cara dela”
“Nem eu” nós quatro, eu, a Paulinha, a Gabi e Tali fizemos coro.
“Pois é. Só tome cuidado Ellen, tem algo muito errado com aquela menina, não sei o que é, mas irei descobrir, prometo” a Leninha disse.
“É isso aí Leninha. Ninguém mexe com uma de nós e fica ilesa, aquela menina irá se ver conosco” a Tali apoiou.
“Gente! Muito obrigada mesmo, vocês sabem que eu amo vocês, mas não precisam fazer nada. Só... Fiquem de olhos abertos” eu disse tentando encerrar a questão quando então eu me lembrei de algo importante que eu não sabia. “Qual o nome dela?”
“Gabriela Monteiro, minha xará” a Gabi fez uma careta engraçada, como se pronunciar o nome da novata fosse um palavrão.
“Hum, Ok” eu disse sem saber ao certo o que dizer.
“Por quê?” a Tali perguntou estudando minha expressão.
“Nada demais, só achei que a conhecia de algum lugar, mas não conheço. Só... impressão”. Não era impressão minha, eu conhecia aquela menina. Só não me lembrava de onde.
“As meninas aí do fundo podem fazer o favor de repetir o que eu estava falando?” o professor interrompeu nossa conversa. Agora todos estavam olhando pra gente, sabendo certamente que não estávamos prestando atenção.
“Certamente que sim professor” então surpreendendo todo mundo a Leninha se levantou e foi até o quadro resolver uma questão que estava lá. Eu não entendi o porquê ela se levantou e nem as meninas, já que o professor só tinha dito para repetirmos o que ele falou e não pra alguém ir resolver o exercício.
“Prontinho professor, resolvido” ela disse sorrindo pra ele e vindo se juntar a nós.
“Bom turma, como a loirinha ali explicou...” ele continuou a aula dele como se nada tivesse acontecido e apenas decidiu ignorar o resto de nós quatro. Demos a Leninha um discreto obrigada e não falamos mais nada prestando atenção na aula.
Ao menos as meninas estavam, eu não. Algo naquela garota me perturbava. Eu sabia que a conhecia, mas de onde? Será que a Leninha estava certa sobre eu ter desmaiado por causa da garota nova? Não, claro que não, era imaginar um pouquinho demais.
“Bem turma, foi um prazer estar com vocês pela primeira vez no ano, nos vemos na próxima aula” assim que o Patrick disse isso a galera se levantou e foi embora. Todo mundo já havia arrumado a mochila menos a novata.
“Hei Ellen, vamos? O que está esperando?”. Uma das meninas me perguntou não sei qual delas, nem me dei ao trabalho de olhar quem foi. Eu simplesmente subi novamente as escadas da minha sala e quando eu entrei a aluna nova estava lá arrumando suas coisas.
“Oi” eu disse. Não fazia a mínima ideia de como começar conversas assim.
“Oi” ela respondeu sem nem olhar pra mim e continuou arrumando suas coisas. O oi dela não foi nenhum pouco caloroso ou indicador de que ela continuaria a conversa, pelo ao contrario, foi um oi que encerra conversas.
“Meu nome é Ellen” eu tentei começar pelas apresentações, mas fui interrompida por ela.
“Sei quem você é, você também sabe que eu sou. Eu não tenho tempo, tenho que ir, tchau, até mais” ela disse e saiu. Só que quando ela estava saindo se esbarrou em mim sem querer e de novo aquele arrepio passou por mim, mas ainda bem que dessa vez eu não desmaiei.
Mais uma vez com nosso esbarrão caiu algo dela, só que não fez barulho então ela nem voltou pra pegar e foi embora.
Eu fiquei a vendo sair da sala, para só então pegar o que havia caído. Era uma folha de papel reciclado, achei que não tivesse nada escrito, mas por fim eu vi o que estava escrito lá no finzinho da página, estava escrito meu nome.
Não faço a mínima ideia do porque ela escreveria meu nome assim numa pagina em branco e com uma letra tão pequena. Eu guardei o papel no bolso e desci as escadas pra encontrar com as meninas.
“Ah finalmente! Achávamos que nem viria mais. Tava fazendo o que?” alguém devia estar falando comigo, mas eu não consegui responder.
“Ellen! Acorda!” a Paulinha disse batendo palmas em frente aos meus olhos.
“Oi” eu disse por reflexo. “Eu estava... falando com a aluna nova”
“Com a Gabriela?”
“Ela mesma”
“Mas Ellen... Não vimos ninguém descer essas escadas além de você, estávamos aqui o tempo todo”
“Como assim ela não desceu?” perguntei confusa. Ela tinha descido, eu a vi descendo. Não exatamente né, mas não havia outro jeito dela ir embora. A não ser que ela tenha pulado a janela, o que eu acho bem difícil considerando que a janela deve ter uns cinco metros de altura até o chão.
“Não descendo Ellen! Pelo amor de deus! Você está perdendo o juízo, ficou impressionada demais, não escute as coisas que a Leninha diz, a Leninha acredita em qualquer coisa que disserem pra ela!”.
“Epa, epa Talita. Eu não acredito em qualquer coisa. Você que é cética, não me culpe por seu ceticismo, ok? Ellen... tem certeza que ela estava lá com você?”
“Gente claro que eu tenho. Eu até falei com ela”. Não sei como a tal da Gabriela havia escapado ou saído daqui, mas eu tenho certeza absoluta que falei com ela.
“O que ela disse?”. Estava bem claro no rosto de minhas amigas, tirando a Leninha, que elas achavam que eu era louca, ou então que eu estava imaginando coisas.
“Bem Paulinha... Eu disse “oi”, ela disse “oi”, aí eu fiquei olhando ela arrumar as coisas dela, depois eu disse “meu nome é Ellen” e ela disse que ela já sabia quem eu era e que eu também sabia quem era ela, então ela disse tchau e saiu” eu preferi omitir a parte do arrepio. Acho que elas não entenderiam, só a Leninha.
“Bom, ela não está errada né? Te falei mais cedo o nome dela, você perguntou, ela deve ter ouvido eu falando”
“É Gabi, talvez” respondi.
“Não acredito que estamos aqui até agora discutindo isso. Ellen serio me escuta, vá pra casa, relaxa, tome um belo banho, vá ler, ou escutar música nesse seu iPod como você sempre faz e esqueça essa menina, certo?” a Talita me disse, mas ela falou mais como se fosse minha mãe me dando bronca. Não gostei nenhum pouco do tom de voz dela.
“Tudo bem, tudo bem. Irei esquecer a novata, alias que novata?” eu disse sorrindo e elas riram aliviadas, todas elas, menos é claro, a Leninha.
“Nossas aulas já começaram... Mas ainda é a primeira semana, vamos aproveitar enquanto não estamos cheias de coisas pra fazer. Topam uma praia esse sábado? Depois da escola?”. Amei a sugestão da Paulinha, o que melhor pra esquecer os problemas que um banho de mar? Com certeza eu vou, até porque eu amo o sol, amo a areia, amo o mar.
“Eu to dentro” eu disse.
“Eu tambem, com certeza, estou precisando pegar um bronze, não posso ficar pálida” a Tali é sempre preocupada com sua cor, sempre atrás do tal bronze dela.
“Gabi? Você vai?” eu perguntei pra ela que ficou a calada a maior parte do tempo.
“Não sei meninas. Vocês sabem como minha mãe é, ainda mais agora que começou as aulas. Eu não sei se vai dar, se der eu vou, mas acho que ela nem vai deixar não” ela disse triste. Sabemos muito bem como a mãe da Gabi é, mal deixa a menina respirar sem ficar super em cima. A Gabi quase nunca sai com a gente porque a mãe não deixa.
“Ai gente, nem sei se vou não viu? Talvez essa semana eu conheça aquele primo da minha vizinha, lembram que falei pra vocês? Pois é, ele chega nessa sexta, aí sábado ela vai lá pra casa, já combinei tudo nos esquemas, só não marcamos a hora ainda. Então acho que nem dará pra mim, vocês sabem como a vida da Leninha aqui é ocupada né? Vocês tem que marcar na minha agenda com mais antecedência”.
“Ah cala a boca cabeçuda!” a Tali deu um tapa na cabeça da Leninha que saiu atrás dela pra pegá-la.
“Enquanto as duas crianças ali estão brincando, vamos andando. Meu primo vem me buscar hoje, meus pais vão sair juntos e eu vou ficar na casa dele”
“Seu primo Paulinha? Aquele seu primo? O Gato e maravilhoso?” perguntei.
“É, ele mesmo. Ele vem me buscar, acabou de comprar um carro”
“Opa! Hahahaha, adooron” eu disse rindo. Não sou Maria gasolina, nem nada, mas um cara com um carro simplifica algumas coisas.
“Qual o nome dele mesmo?” a Gabi perguntou.
“Felipe. O nome da peste é Felipe” a Paulinha olhando pra minha cara e a Gabi também.
“Ah obrigada” a Gabi respondeu agora as duas me olhando como se estivessem me lembrando de algo. Elas nem precisavam se dar ao trabalho de me lembrar algo que eu nunca esquecia, ou melhor, alguém que eu nunca esquecia.
“Por que estão me olhando assim? Eu lembro muito bem do Felipe certo? Mas posso fazer o que se ele nem quer saber de mim? Ele está afim da Bia! Vocês sabem... Não tenho o que fazer” o que era a verdade.
Eu amava o Lipe, amava mesmo. O Lipe é meu vizinho, meu colega de inglês, e o conheço praticamente desde que nasci. Quando eu era mais nova eu era apaixonada por ele e ele por mim. Quando a gente era criança costumávamos dizer que nós iríamos nos casar. Nossos pais até fizeram um vídeo disso.
O Lipe era aquele garoto gordinho da infância, que todo mundo gostava de zoar, e que quando cresceu, ou melhor, entrou na adolescência virou um gato. Como sempre teve problemas com seu peso, o Lipe começou a fazer dieta, entrou na academia e entrou pro time de futebol da escola. Ele é um ano mais velho que eu, ele está no segundo ano. Não é dos mais inteligentes, mas é super legal e eu gosto muito dele. Enfim, eu amo o Felipe, mas ele gosta de uma das minhas melhores amigas, não me sobra muito o que fazer.
“Ellen! Serio, pare de encarar as coisas assim. Poxa, você gosta desse cara há tanto tempo, não é justo isso”. Parando pra pensar realmente não é justo, mas quem disse que a vida é justa?
“Eu sei Paulinha, valeu pelo apoio meninas, mas bem, ele gosta da Bia, ele até me pediu ajuda com ela”. Nunca ouvir algo doeu tanto na minha vida, ouvir do cara que eu gostava que ele gostava da minha amiga e ainda me pedir ajuda com isso.
“Mas a Bia não tá afim do tal Miguel lá?”.
“É, eu acho. Bem, mais ou menos, ela não gosta dele, só está meio afim” eu não sabia realmente se ela gostava dele, pode ser que sim ou que não, até porque ela sempre comenta comigo sobre o quão gato o Felipe ficou.
“Cara eu não quero nunca passar por isso, tá vendo? Gostar de alguém pra que? Pra sofrer? Não valeu meninas, eu prefiro ficar só amando os meninos como amigos mesmo. To muito bem assim” não é que a Gabi talvez tenha razão?
“Me ensina como fazer isso então, porque eu realmente não consigo” como se esquece um primeiro amor? É possível?
“Paula! Hei anda logo, não tenho todo tempo do mundo e não sou seu motorista” o Felipe, primo da Paulinha, havia chegado.
“Já vou!” ela berrou de volta. “Bem meninas, tchau. Conferencia no MSN mais tarde, né? Avisem pra Leninha e a Tali que até agora não voltaram, beijos” ela disse e foi embora.
Um minuto de silêncio se estabeleceu entre eu e a Gabi, fiquei tão imersa em meus pensamentos sobre os acontecimentos de hoje e sobre a novata que nem percebi o silêncio, só fui notar quando a Gabi decidiu quebrá-lo.
“Olha El, eu sei que você ama mesmo esse cara e é desde sempre. Mas já parou pra pensar que pode está confundindo as coisas? Você pode o amarele como irmão...” antes que Gabi pudesse terminar eu a interrompi.
“Você sente vontade de beijar seu irmão?” perguntei.
“Bom, eu mesmo não. Mas você não tem laços sanguíneos com o Felipe. Escute, faça o que achar certo sobre essa historia dele e da Beatriz. Eu sei que você fará o melhor pra vocês três” ela sorriu.
“Não tenho tanta certeza. Ele...”
“Deve ser difícil abrir mão de um gato como ele. O estereotipo que quase toda menina quer não? Alto, cabelo lisinho, moreninho, malhado... Mas El, eu sei que se você ficasse mesmo com ele, você iria ver que não é o que você quer” como não? Esperei por isso minha vida toda!
“Eu... Vou pensar nisso, prometo. Olha as malucas vindo aí” então a Tali e a Leninha chegaram e quando elas iam começar a contar o porque demoraram tanto meu pai chegou vindo me buscar. Dei tchau pras meninas, o recado da Paulinha e fui embora.
Quando entrei no carro pra minha surpresa minha mãe e minha irmã mais nova, a Lara, também estavam e todos eles estavam super bem vestidos.
“Alguma festinha?” eles estavam bem arrumados até demais.
“Sim maninha! Mas você não vai, você vai ficar em casa, hahahaha!” antes que eu pudesse dizer algo minha mãe mandou a Lara ficar quieta.
“Ellen, você não vai. Mandei você arrumar seu quarto ontem e você não arrumou, portanto até que aquele quarto e principalmente seu guarda-roupa estejam arrumados, não irá sair a não ser pra escola e pro inglês. Levaremos você em casa, tem comida pra você lá” minha mãe me disse como se fosse ótimo pra mim. Todos eles vão pra uma festa e pelo visto de bacana menos eu, super maneiro.
“Festa de quem?” perguntei olhando pela janela fingindo pouco caso.
“Aniversario de uma amiga minha”
“E por que a pirralha vai?” perguntei chateada. Não era justo!
“Não fale assim da sua irmã Ellen” foi meu pai quem respondeu. “Ela vai porque ela fez o que mandamos e você não, assunto encerrado” ele disse pondo um fim na conversa, com meu pai não tinha discussão mesmo. “Chegamos. Tem comida, não esqueça de comer. Vá dormir cedo, amanhã você tem inglês não esqueça” ele disse eu abri a porta do carro e saltei e bati a porta do carro dele o mais forte que eu pude. Só deu pra ouvir meu pai reclamando comigo, mas eu nem liguei. Entrei em casa o mais rápido que eu pude, sabendo que mais tarde eu certamente iria ouvir poucas e boas dos dois. Pra piorar teria que agüentar a pirralha me enchendo o saco zoando com a minha cara.
Quando entrei a minha casa tava toda escura, eles saíram e desligaram todas as luzes, eu canso de pedir pra sempre deixar uma luz acesa, custa? Claro que custa! Esqueci que eles não são donos da Coelba. Odeio quando pergunto isso e eles respondem assim. Antes de eu ligar a luz senti um vulto atrás de mim e me virei rápido assustada, quando olhei graças a deus não era nada.
Só que quando eu virei pra frente novamente eu vi bem longe de mim o corpo de alguém parado me olhando. Não era ladrão, já teria feio alguma coisa, ladrões não iriam ficar parados do jeito que aquela pessoa estava.
Eu fiquei olhando só por uns instantes quando eu fui até o interruptor ligar a luz e a pessoa se virou pra ir embora, só deu tempo de eu ver que era uma mulher, pois os cabelos esvoaçaram com o movimento de retirada. Quando acendi a luz já não havia ninguém mais lá, havia ido embora.
Mas a pergunta que não quer calar, como havia entrado? Se tinha entrado podia muito bem voltar. Eu deveria ligar pros meus pais e avisar, mas eu sabia o que eles iriam pensar, que eu estava querendo chamar atenção, tirar ele da festa deles, não mesmo que eu iria ligar pra eles.
Resolvi ignorar isso também, eu não havia sentido medo isso que importa. A pessoa tinha ido embora, eu estava só em casa. Subi para o meu quarto e vi a bagunça que minha mãe falou. Realmente tava precisando de arrumação. Quando eu abri meu guarda-roupa pra tirar um roupa de lá varias caíram no chão.
“É Ellen, realmente você precisa arrumar seu quarto” falei comigo mesma. Então comecei a arrumar as coisas enquanto eu estava com disposição. Felizmente não demorei muito, mais ou menos uma hora até está tudo bonitinho no lugar, não duraria muito tempo assim, uma semana no máximo, mas eu ao menos conseguiria permissão pra ir a praia no sábado.
Assim que acabei toda a arrumação, fui tomar meu banho, comi e fui pro computador pra tal conferência no MSN que as meninas haviam combinado. Pra minha infelicidade a internet não estava pegando, eu cansei de ficar tentando, liguei meu iPod coloquei no aleatório e deitei, nem me lembro quando eu dormi.

[Livro] Amor Celestial

Esse é o primeiro capítulo de um possível livro meu. Espero que gostem ;)


Capitulo 1 – Apresentação


Autobiografia por Ellen M.
Meu nome é Ellen, tenho 15 anos e estou cursando o primeiro ano do Ensino Médio no colégio Instituto Nossa Senhora da Piedade.
Não sou alguém muito interessante por isso não tenho o que escrever.
O que eu mais gosto de fazer é ficar deitada na minha cama escutando musica no meu Ipod. O que eu odeio fazer é tarefa domestica, qualquer uma.
Minhas matérias prediletas são Química, Física e Biologia. Detesto Matemática, Português e Geografia. O resto eu suporto.
Meu livro predileto é...

Eu mal comecei a escrever e já estava cansada. A professora de redação nos mandou escrever uma curta autobiografia pra que ela pudesse nos conhecer melhor. Fala serio eu não sei o que se passa na cabeça de uma pessoa que pede isso. Ao menos é melhor do que pedir que a gente vá lá à frente se apresentar.
Essa é a primeira aula de redação do ano. A professora chegou aqui atrasada com uns papeis na mão distribuiu por toda a sala e no papel dizia o que teríamos que fazer. Ela mandou incluir o que mais gostamos de fazer, o que não gostamos, a nossa maior qualidade, nosso maior defeito, nosso tipo de livro, o tipo de livro que não gostamos e etc. Eu não faço a mínima idéia do meu maior defeito ou de minha maior qualidade. Nunca parei pra pensar nisso.
“Ei Gabi!” preciso de ajuda nisso aqui. A Gabi gosta bastante de escrever, então ela pode me dar uma mãozinha.
“Oi, diga”.
“Cara eu realmente não sei fazer isso. Autobiografia?” olhei pra ela pedindo socorro. Isso é extremamente chato e se continuar assim vou acabar perdendo em redação.
“Ai meu deus. Não faça essa cara, redação é importante e...” eu a interrompi. Não estava com saco de mais um daqueles discursos do quão importante é ser boa em redação.
“Eu sei, eu sei. Dá pra me ajudar?”
“Você ao menos começou?”
“Sim, olha aqui” passei meu caderno pra ela. Ela lê extremamente rápido e eu fiquei impressionada ela mal olhou o caderno e já me devolveu.
“Seu texto está completamente solto. Você precisa aprender a ligar seu texto. É como numa conversa sabe? O que você está fazendo aí é só respondendo aleatoriamente as perguntas da professora. Faz assim... Imagina que está se apresentando pra algum gato, ele não te conhece e quer te conhecer, mas a única maneira de você falar com ele é escrevendo” ela piscou pra mim e voltou a fazer o dela.
Devo dizer que essa dica dela é realmente boa. Agora fica bem mais fácil fazer esse negocio.
“Obrigada” agradeci. Ela salvou minha pele porque a louca da professora disse que isso vale dois pontos! Que absurdo.
“Mas ei Gabi, mais uma coisa. Qual meu maior defeito?”
“Hum, que você não cala a boca?” ok, ok já saquei.
“Huh, ok. E minha maior qualidade?” insisti.
“Fidelidade eu acho. Não sei, porque não pergunta a uma das meninas? Agora deixa eu fazer isso aqui antes que eu perca meus dois pontos”.
“Ok desculpa. E valeu pela ajuda”
“De nada, de nada”. Ela respondeu impacientemente.
Eu olhei ao redor e as meninas estavam todas concentradas fazendo suas autobiografias. Impressão minha ou sou a única pessoa com dificuldade nisso? Está todo mundo com a cabeça abaixada escrevendo, resta saber se é a autobiografia mesmo né. Deve ser porque isso vale dois pontos. DOIS PONTOS! Absurdo.
Quando eu finalmente decidi voltar a escrever a Gabi levantou e entregou a autobiografia dela. Foi a primeira da sala. A professora olhou surpresa e começou a ler a autobiografia da Gabi enquanto ela voltava a sentar.
“Caramba. Você é rápida mesmo hein?”. Enquanto eu preciso urgentemente de ajuda.
“Conseguiu fazer?”
“Er, na verdade não. Ajuda?”
“Vem cá. Junta sua cadeira com a minha”
“Eba! Valeu! Você é um anjo” ela sorriu.
Então a Gabi começou a me ajudar com a minha autobiografia e me deu outros macetes de como interligar as frases de um texto. Ela realmente manja disso.
Quando acabei finalmente a minha autobiografia, revisada pela Gabi, a aula faltava uns 5 minutos pra acabar. Faltava umas sete pessoas acabarem. O restante estava conversando, ouvindo musica em seus Ipods, tirando foto... Os novatos, alguns deles na verdade, estavam apenas observando a galera e com aquele olhar de “eu quero fazer parte disto”.
Sempre morei minha vida toda aqui em Ilhéus. Sempre estudei aqui no Piedade então nem sei como é ser novato, mas imagino que não deve ser muito legal.
As meninas estavam num canto conversando e eu sorri ao vê-las. Essa é a melhor coisa do colégio cara, meus amigos. Eu fico tão feliz quando estamos juntas, não sei explicar, é legal demais. Junto com elas estavam o Alex, o Ricardo e o Antonio. Essa era minha galera.
Eu, a Gabi, a Leninha, a Paulinha e a Talita formamos um grupo. Incrivelmente também somos a seleção do colégio de vôlei, nós e mais uma menina do terceiro ano. Eu e minhas amigas somos tão iguais ao mesmo tempo somos tão diferentes.
Todas nós jogamos vôlei e jogamos bem. Todas nós gostamos de dançar e ir pra uma boa festa. Algumas pessoas até dizem que falamos e andamos parecido. Talvez seja, a convivência faz um pouco disso. Acho que a semelhança pára por aí. Pensamos, agimos e nos vestimos diferente.
A Paulinha, por exemplo, é aquela que se veste de acordo com a moda. O estilo dela é o que está na moda. Incrivelmente as roupas sempre caem muito bem nela.
A Leninha é aquela que tem aquele jeitinho romântico. Jeans com sapato boneca e uma blusinha fofa por cima ou então vestidinhos.
A Talita gosta de se vestir pra chamar a atenção. Ela realmente tem estilo e combina as roupas muito bem. Ela gosta mesmo é dos brilhos. Qualquer coisa que seja diferente ou que tenha brilho ela adora. O lance é chamar a atenção.
A Gabi se veste de acordo com o ambiente. Ela é despojada e tem um estilo básico. Na maioria das vezes ta com jeans e uma camiseta maneira. Ela realmente ama jeans.
Quanto a mim... Sou totalmente eclética com esse lance de roupa. Na verdade depende do meu humor no dia. Às vezes quero vestir um vestido super fofo, às vezes quero me vestir como alguém antigo, enfim vario bastante. Meu estilo vai desde o gótico até o vintage. Eu amo todos.
Quando eu visto vintage a Paulinha pira comigo. Ela diz que eu devia me vestir de acordo com a minha época e não como se eu vivesse no passado, eu tentei explicar pra ela que é um estilo, mas ela simplesmente não entende então eu desisti de tentar explicar. Às vezes algumas peças vintage entram na moda e a Paulinha passa a usar, eu fico zoando ela dizendo que ela está vestindo roupa antiga também, mas ela vem com o papinho de que está na moda. Ela não muda, não tem jeito.
“Bem meninos pra terminar eu gostaria de propor uma coisa a vocês” a professora falou tão do nada que me pegou de surpresa. “Eu comecei a ler algumas autobiografias e vi que muitos de vocês tiveram dificuldades” ha, eu não fui a única! “Uma em especial me impressionou bastante. Não apenas pela forma sucinta, mas pela forma do texto. Esse texto foi da...” ela olhou para a folha em suas mãos “Gabriella Nascimento”.
Ha novidade! A Gabi é realmente muito boa. “Junto com a Gabriella e com alguns outros, eu gostaria de fazer um trabalho monitorado com vocês. As pessoas com facilidades irão ajudá-los. Vocês formarão grupos de oito pessoas e um deles será o líder, o monitor. Vocês escolhem ou eu escolho?” o que é claro a turma respondeu uniformemente “A gente escolhe!”. Qual o tipo de aluno prefere que o professor escolha?
“Muito bem, muito bem. Formem os grupos e passem os nomes pra Gabriella, tudo bem Gabi?” ela acenou confirmando e a professora se foi.
“Nós cinco e quem mais?” não sei o porquê da pergunta da Leninha, mas pra mim era bem obvio qual o grupo.
“Os meninos. Vou falar com eles” a Talita disse e foi falar com os meninos.
Sempre quando algum professor sai da sala para a troca de aulas a galera sai em peso da sala, hoje por um milagre todo mundo ficou na sala, provavelmente pra terminar de escolher os grupos.
Todos estavam tão entretidos em suas conversas que acham que nem perceberam que na verdade não era o sino de final de aula e sim o do intervalo. As meninas também estavam rindo com alguma coisa que os meninos estavam falando e eu não estava tão no clima assim, então eu simplesmente desci as escada e fui pra cantina.
Foi tão bom aquela sensação de “estou de volta”, ver a cantina, aquela confusão de todo mundo gritando e falando ao mesmo tempo tentando conseguir pegar seu lanche. Aquela fila imensa que faz qualquer ser desistir só de olhar. Coisas que com o passar do ano não agüentamos mais, mas que me fez sentir falta nas férias.
Liguei meu Ipod e fiquei escutando músicas da Beyonce enquanto esperava. Finalmente quando chegou minha vez peguei as fichas e fui pra luta de conseguir um lanche, felizmente pra minha sorte cheguei lá e consegui ser atendida rapidamente. Pedi um cachorro-quente com tudo e uma coca-cola.
“Obrigada” disse sorrindo para a tia da cantina.
“De nada querida. Você é sempre tão educada...” ela disse sonhadoramente pra mim. Cada louco com sua maluquice né? Eu agradeci, peguei meu lanche e antes que eu pudesse me virar sentir um par de braças me envolvendo.
Não fazia a mínima idéia de quem era o engraçadinho que estava se aproveitando da situação. Me virei rápido tentando me sair do abraço do engraçadinho já preparada para falar umas poucas e boas para ele, quando que pra minha surpresa o cara que tinha me abraçado era ninguém menos que Tiago Lima.
O que esse cara estava fazendo poucos minutos atrás é uma excelente pergunta. Pra inicio de conversa ele tem namorada e é extremamente lindo. Eu não costumo ficar sem reação ou ficar sem saber o que dizer mesmo que com quem eu esteja falando seja um gato total. No entanto fui tomada pela surpresa e fiquei meio sem reação enquanto ele sorria pra mim e dizia alguma coisa que obviamente eu não estava escutando por causa do barulho do Ipod.
“Acho melhor ficar sem isto” ele disse retirando um dos fones da minha orelha. “Desculpe pelo abraço, achei que fosse a Rafa, mas tudo bem por você né? Não vai ficar pirada não, vai?” ele piscou pra mim.
“Hum, não. Tudo ok” eu disse mal sabendo o que eu estava falando.
“Valeu. Desculpa de novo. Opa! Lá vem a Rafa e ela não está com uma boa cara, acho que ela me viu te abraçando. Caramba...” ele disse mais parecendo falar com ele do que comigo.
“Bem, boa sorte. Eu vou... Comer meu lanche antes que fique frio” eu disse e me virei pra sair dali, mas no exato momento que virei e andei tropecei em alguém que eu não havia visto fazendo meu cachorro-quente escapar de minhas mãos e sair voando exatamente em direção que ninguém menos que a namorada do Tiago. Ops!
“Aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa” ela gritou fazendo todos se virarem pra ela. “Você!” ela apontou pra mim. Eu não sabia onde enfiar minha cara. Como se não bastasse pagar um mico em frente ao cara mais gato do colégio eu ainda fiz a namorada dele pagar um, ótimo! Só digo isso, que ótimo!
Fiquei tão concentrada no cachorro-quente voador que nem notei que tinha derramado um pouco do meu refrigerante em minha roupa e que uma poça se formava exatamente na parte frontal dela e aparentava que eu havia feito xixi nas calças. Huh, que sorte!
“Você!” ela disse de novo olhando pra mim com verdadeira fúria. “Olha o que fez comigo! Essa blusa é de marca e é nova!” ela disse ainda gritando e todos ao redor olhando.
“Bom, foi mal, totalmente sem intenção, eu tropecei sem querer e o cachorro-quente voou” disse sem dar atenção ao drama dela e sim a poça formada em minhas calças.
“Ahh fofinha, você dá em cima do meu namorado, derruba cachorro-quente na minha blusa de marca novinha e diz “ah foi mal”? Só pode ser piada, sua destrambelhada”.
“Antes eu até diria que sentia muito pelo o ocorrido, mas agora vejo que foi bom, dar uma corzinha” disse sarcasticamente.
“Como se atreve?” ela disse quase chorando e com muita raiva ainda. Eu não pude deixar de rir, aquela menina era uma das pessoas mais detestáveis que eu conheço. Ela não se encaixa no time dos populares legais, ela é daquelas meninas nojentinhas metidas.
“Bem, fofinha” eu disse imitando o tom de voz que ela havia usado comigo. “Me atrevo ao quê?” eu disse pegando da mão dela o cachorro-quente que ela havia tirado de cima de blusa dela poucos minutos atrás. “A isso?” perguntei melando ainda mais a blusa dela com o cachorro-quente.
Ao invés de me parar, me empurrar ou tentar me impedir ela apenas ficou me observando melar ainda mais a linda blusa fashion dela. Todos ao redor começaram a rir, risadas ecoaram por toda a cantina. O circo estava armado, a confusão feita. Já que eu tinha pagado um mico mesmo e ela também, porque não me vingar um pouco dela por algumas pessoas que ela já humilhou?
“Sua vaca! Olha o que você fez! Vai dizer que foi sem querer agora também?” ela disse chorando e gritando.
“Não, agora foi bem feito, muito bem feito modéstia a parte” eu disse sorrindo e piscando pra ela de pirraça. A garota simplesmente ficou ainda mais histérica do que ela já estava e veio pra cima de mim tentando me alcançar. Então eu comecei a correr atravessando a cantina e ela atrás de mim. Felizmente sempre fui boa em dribles e a driblei. Eu estava correndo tão rápido que nem vi o cachorro-quente no chão pisei nele e escorreguei caindo de bunda na frente de todo mundo. Ok, agora EU paguei mais um mico. Todos estavam rindo é claro. A escola toda!
“Ei, quer ajuda?” ouvi alguém acima dizendo. Quando eu olho está a pessoa que mais odeio nesse mundo, o Caduh.
“Não, obrigada por sua gentileza” fala serio, o que ele quer?
“Gentileza? Eu com você? Rá, espera bem sentada mesmo, nem precisa levantar. Falando nisso, você ainda não passou da idade de fazer xixi nas calças não? Caramba Ellen, devia usar fraldas!” ele disse me humilhando ainda mais.
“Ei cara, deixa ela” o Tiago veio não sei de onde em minha defesa.
“Tiago! Não tente defender essa...” a loira de farmácia o advertiu.
“Não termine Rafa, vamos embora. Tem outra blusa na mochila, não? Eu vou pegar lá na sala pra você trocar, me espere em frente ao banheiro. Já volto” ele disse falando com a namoradinha irritante dele. O que um cara tão legal como ele está fazendo com essa loira de farmácia? “E ei galera! O showzinho já acabou, voltem o que estavam fazendo!” ele disse para toda a galera que ainda estava nos olhando e rindo de mim.
“Não Tiaguinho, colé cara! Olha pra essa cdfzinha! Vamos lá, ria também eu sei que quer rir. Olha o que ela fez com a Rafa! Ela humilhou sua namorada. Rafa, você tá horrível, sem ofensa” ele disse agora rindo de nós duas.
“Cala a boca Caduh. Eu NUNCA estou horrível, ok? Se olhe no espelho antes de falar de mim”. Eu fiquei escutando a conversa deles, enquanto aos poucos as risadas iam sumindo e a galera voltava a seus afazeres e ignorava a gente.
Quando eu tentei levantar de forma digna, meus amigos chegaram e ficaram me enchendo de perguntas sobre o que tinha rolado e me pedindo desculpas por não estarem lá.
“Galera, tudo ok. Estou bem, quem não deve estar é a Rafaela” eu disse.
“Caramba Ellen, mandou muito bem. Aquela garota é uma metida esnobe. Se acha tanto só porque namora o Tiago “Perfeito” Lima” a Talita disse rindo.
“Tali, não fala assim né, serio gente sei que não vão acreditar em mim, mas a Rafa é legal” a Leninha tentou defender a Rafaela.
“Não defenda ela Leninha. Sabe muito bem o que ela fez com a Ana né? Pois é, não é algo que alguém legal faria, você sabe disso, eu acho” a Gabi veio em meu apoio.
“Vamos cambada, todo mundo pra dentro. Já me atrasei e a aula são 50 minutos apenas, vamos, vamos. Ei vocês aí? Não me ouvirão? Todos pra dentro! Agora!” disse um cara alto, meio gordinho e negro. Pela descrição dele só poderia ser o novo professor de matemática.
“Pelo visto esse cara deve ser um mala” o Alex disse cochichando pra gente.
“O que acabou dizer?” o professor perguntou pra ele.
“Nada não senhor” o Alex respondeu meio sem jeito.
“Senhor um ova! Meu nome é Patrick e eu irei dá aulas pra vocês sobre matemática durante esse ano, assim espero. Não irei pedir que se apresentem, não vou perguntar quem são os alunos novos, ninguém merece pagar esse mico não é mesmo? Até porque irei esquecer o nome de vocês assim que os pronunciarem, com o passar do ano também não irei saber o nome de quase nenhum de vocês, só faço questão de gravar o nome dos alunos que se destacam. Aqueles que conseguirem isso, não precisarão fazer minha prova da última unidade, obtendo nota máxima” assim que ele terminou o Caduh entrou na sala. Atrasado pra variar, esse garoto não tem jeito!
“Isso são horas rapaz? Já se passaram 10 minutos de aula, não sabe que o intervalo acaba 4:20?” o professor disse de forma meio inquisidora pro Caduh.
“Sei sim professor. É que... Bom, o senhor sabe que certas chances não dá pra deixar passar né?”.
“Tá falando do que exatamente?”
“Bem, simplesmente tinha uma gata me dando mole, então fui ficar com ela” ele disse sorrindo.
“Uow, nosso Caduh começa a atacar!” o Pedro, um dos idiotas e palhaços da turma se levantou e fez zoada de metralhadora.
“Hahahaha, é isso ai cara!” o Gustavo deu coro.
“Raaa muleque esperto!” o João também fez coro.
Fala serio, o quarteto deles é ridículo. Todos machistas, relaxados com a escola e só pensam em festas, mulher e sexo. Acredite em mim, eu já ouvi uma conversa deles.
Enquanto eles ovacionavam o Caduh, eu me verei pra olhar a Gabi e não tenho certeza se foi impressão, mas vi uma lágrima brotar de seus olhos. Eu não tinha certeza, mas eu achava que a Gabi gostava do Caduh. Surpreendente uma menina como ela gostar de um babaca como ele, mas quem manda no coração né? Ela sempre agia de forma estranha quando falamos do quão idiota ele é, ela nem defendia e nem criticava, só... Ficava na dela pensativamente. Não era incomum ele cabular aula, ao menos ano passado ele cabulava direto, e todas as aulas em que ele não estava ela ficava mais... solta. Não tinha vergonha de falar ou de perguntar toda hora se assim fosse necessário. Ela mudava muito quando ele estava, ou não estava. Por isso comecei a suspeitar que ela gosta dele, não contei pras meninas, porque elas certamente não se agüentariam e iriam falar com a Gabi. Já que ela não nos contou, provavelmente quer que ninguém saiba e não serei eu a contar.
“Ei Gabi, você tá chorando?” a Talita perguntou. Ops! Momento bem inapropriado pra Talita ter olhado pra Gabi, como ela irá disfarçar?
“Talita! Caramba, agora que vi sua sandália, que linda! Onde você comprou?” perguntei distraindo totalmente a Talita do possível choro da Gabi. A Gabi me lançou um olhar agradecendo, apenas dei de ombros. Não custa ajudar quando dá.
“Você é nojento Caduh” a Leninha disse pra ele. O que nos surpreendeu a Leninha ter falado tão diretamente.
“Poxa gracinha, não foi isso que disse quando ficou comigo né?”. A Leninha ficou com o Caduh? Bem, essa é nova! Quando foi isso que ela não me contou? Olhei pras meninas pra perguntar quando isso tinha acontecido, mas elas estavam com a mesma cara que eu devia estar. Quando isso aconteceu? Pelo visto a Leninha não contou a ninguém se for verdade, mas pela cara dela era bem verdade, a Leninha estava vermelha feito um tomate. Ela nem olhou mais pra ninguém só abaixou a cabeça e ficou olhando pro seu caderno fingindo estar escrevendo algo.
Os amigos do Caduh o ovacionaram mais uma vez é claro. Batendo nas cadeiras e gritando. Os outros garotos riram e as meninas ficaram dando risinhos, isso as que não haviam ficado com ele. Ou seja, tirando eu e minhas amigas, umas 5 garotas no máximo.
“Silêncio turma! Bem garoto, tudo bem, pode entrar, só sente-se e não diga mais um piu, senão irá sair de novo e pra não entrar mais”
“Pode deixar professor” ele disse e foi se sentar no seu lugar. Que por azar ficava ao meu lado.
“Bom, continuando... Todos que se destacarem positivamente irão ter um bônus na unidade final. Boa sorte a todos vocês, estudem, aproveitem as duas primeiras unidades porque é mais fácil e...” antes que ele pudesse concluir sua fala eu levantei a mão.
“Sim?”
“Posso ir no banheiro?” perguntei. Não sei por que eu pedi ao banheiro se nem com vontade estava simplesmente me veio uma urgência de sair da sala.
“Pode sim. Ande logo e não atrapalhe mais a aula” ele disse gentilmente.
“Desculpe” eu disse e fui saindo.
“É melhor ir logo hein Ellen, antes que se molhe de novo” o Caduh disse fazendo todos rirem. Esse cara só faz encher o saco.
Então o ignorei e continuei andando quando senti algo se esbarrando em mim e só ouvi um baque de coisas caindo no chão. Quando olhei era uma menina que eu nunca havia visto na minha vida, mas eu tinha um forte sentimento de que a conhecia de algum lugar.
Ignorando minhas impressões e sentimentos, eu abaixei para ajudá-la a catar as coisas que haviam caído. Ela se abaixou exatamente na mesma hora que eu e fomos levantando lentamente, como sempre acontece nos filmes, só que nos filmes era romanticamente, mas não este não era o caso. Quando fui entregar as coisas dela pra ela, sem querer minhas mãos tocaram na dela e eu apenas senti um arrepio percorrendo meu corpo. Então eu desmaiei.
Um certo garoto...
Ele me envolve. Não sei bem o porquê e nem como. Mas algo nele me fascina completamente. Reparei que ele não tem esse efeito só em mim, mas em outras garotas também. Ele é daquele tipo de cara que todo mundo nota, sabe? Ele não tem como passar despercebido... O que ele tem? Por que todas ficamos apaixonadas por ele afinal? Algumas mal o conhecem, outras nunca sequer falaram com ele... Mas mesmo assim se viram apaixonadas... Era uma espécie de epidemia... Alguma doença?
Não que ele fosse feio, de jeito nenhum, ele é bonitinho até, mas não bonito o suficiente para ser o motivo de tantas garotas loucas por ele. Apesar de inicialmente eu não ter sido afetada, eu gostava dele, ele parecia ser um cara maneiro. Fomos nos aproximando, demais até e ele virou meu melhor amigo... E agora? Continuar imune a um cara por quem várias morriam de amores? Meio difícil não? Principalmente se o cara é tão legal e fofo com você...
Não me apaixonei por ele pelo motivo de todas...Ou será que sim? A presença dele me embriagava... Seu cheiro, seu sorriso, sua voz... Um olhar tímido, transparente, ele não conseguia esconder as coisas de mim e se irritava com isso... “Eu digo que vocês vão ficar juntos, porque você é a única garota com quem ele vai ter tanta intimidade, só por isso...”. Estaria certa essa pessoa? Será mesmo que entre todas as garotas que foram apaixonadas por ele, seria eu a única a conseguir? Isso não acontece em minha vida, é coisa de livro, daqueles que eu costumo ler... Ou será que seria possível?
Quem melhor pra ele do que eu? Não é me achando, mas eu o conheço muito bem. Sei o que ele está sentindo só de olhar pra ele, ele não precisa me falar, porque eu já sei... Sou a garota que ele confia... Que ele gosta de conversar, passar o tempo...
A garota que ele ama... Mas de que jeito afinal? Como amiga somente? Namorada? Alguém com quem queira dividir tudo? Como saber então a diferença da amizade e o amor? Será que ele tem como saber? Será que dá pra definir realmente o que sentimos um pelo outro? Eu já cansei de tentar. Sei que não é só amizade, é mais que isso... Amor? Com certeza... mas de que forma? E porque temos que definir afinal? Por que apenas não ficamos juntos? Sem compromisso ou hesitação... Mas pelo visto não dá pra ser assim... Eu o amo, sim, o amo muito, ele me ama também, mais do que ele gostaria, e sofremos com isso, nós 2... Não sabemos por que ao certo, queremos ficar juntos e ao mesmo tempo não... Está achando confuso?!?! Imagine pra gente... Acha que é fácil? Não é... Difícil então? Não sei...Será?
Já se sentiu desse jeito em relação a algum cara?
Já? Então pode ser que me entenda... O que você fez? Gostaria de saber...
Não? Bom, azar o seu, porque apesar de ser confuso e sofrido é bom demais, de certa forma...

Afinal... Atração física, curiosidade ou sei lá mais o quê? Ouu amor verdadeiro? Como saber? Será que algum dia vou descobrir? Eu espero que sim... E você vai achar alguém assim? Boa sorte no fim...

sábado, 21 de agosto de 2010

Os 5

Numa época de caça aos bruxos em geral, mas especialmente as bruxas, pessoas inocentes eram condenadas por bruxaria, pessoas eram torturadas, eram queimadas em fogueiras por estarem sendo acusadas de serem hereges segundo a Igreja. Mas entre essas pessoas acusadas de bruxaria muitas delas não eram bruxas, mas apenas utilizavam o conhecimento das ervas. E algumas delas eram realmente bruxas. Os bruxos foram obrigados a camuflarem seus objetos para continuarem com seu culto em segredo, como por exemplo, a colher de pau, hoje em dia muito utilizada para fazer bolos e etc., era na verdade uma varinha, uma varinha camuflada. A bruxaria sempre usou a oralidade para passar seus conhecimentos aos mais jovens, mas na época de caça as bruxas eles já não podiam fazer mais isso, então eles criaram o “Livro das Sombras”, que seria nada mais que um diário das bruxas, para passarem seus conhecimentos para as próximas gerações.
Existiam várias famílias de bruxos, umas muito antigas, outras recentes se formavam e entre essas famílias muito antigas existiam 4 que foram unidas pelos seus mais jovens membros: Max O’ Higgins, Egan O’ Shea, Brid Cotter e Aine Fogartys. 4 jovens bruxos unidos por um laço muito forte: a amizade. Max, Egan, Brid e Aine eram amigos desde crianças e juntos aprenderam a respeitar acima de tudo a natureza. Juntos ficaram fascinados com as belezas da natureza e também juntos aprenderam a dominá-la. Até hoje ninguém sabe como eles conseguiram obter poderes dos 4 elementos, certamente eles eram fortes se não fossem não teriam conseguido tal façanha. Mas assim como os outros bruxos eles foram perseguidos, eles sabiam que logo os inquisidores os achariam e os matariam. Eles não poderiam morrer antes de passar o segredo do poder deles. Constantemente eles mudavam de um lugar para o outro para não serem achados tão facilmente, eles não faziam a menor idéia como iriam passar seus poderes, até que Brid teve uma idéia:
- Poderemos passar nossos poderes para um objeto tornando-o mágico.
- É uma boa idéia, mas será que um simples objeto irá agüentar os nossos poderes? Todos juntos? – perguntou Egan.
- Provavelmente um simples objeto não suportaria nossos poderes, mas quem disse que eu estou falando de um simples objeto?
- Então de qual objeto você está falando? Que objeto é esse que irá suportar nossos poderes? – indagou Aine.
- Um objeto que represente os nossos poderes.
- Você não está sugerindo um...- falou Max.
- Exatamente.
- Uma excelente idéia, mas mesmo ele, eu não acho que irá suportar nossos poderes. - concluiu o Max.
- Talvez não ele inteiro... Mas se o dividirmos...
- Dividi-lo em 4?
- Lógico que não, até mesmo não é possível dividi-lo em 4 partes... Só é possível dividi-lo em 5 partes!
- 5 partes? Mas nós somos 4, os elementos são 4, nossos poderes são 4.
- O pentagrama tem cinco pontas, creio que vocês saibam os significados de cada uma delas, não?
- Lógico que sim, cada ponta representa um dos 4 elementos...
- E a 1ª ponta representa: o espírito.
- Você está louca Brid? Como daremos poder a 5ª parte?
- Todos juntos, passaremos nossas almas para essa parte do pentagrama, essa parte é a que irá juntar as outras e fazer com que sempre fiquem unidas, nós somos muito unidos, acho que posso dizer que formamos um só.
- Entendo, resumindo cada um de nós irá passar seu poder para uma ponta do pentagrama e todos nós iremos passar nossas almas para a 5ª parte, não é isso?
- Exatamente, só que para passarmos nossas almas para o medalhão nós....
- Precisamos morrer!
- Sim... Se não quiserem vou entender, mas foi a única idéia que eu tive.
- Nada disso, acho que você não poderia ter tido uma idéia melhor, eu aceito. – falou o Max.
- Eu também aceito. – falou Egan.
- Eu também. - falou Aine.
- Mas acho que temos um probleminha... Não temos nenhum pentagrama aqui. – constatou Egan.
- Temos sim, temos o medalhão que é passado de geração em geração na minha família, é um pentagrama de prata muito antigo e ele é passado logicamente somente ao filho mais velho.
- Então não falta mais nada, vamos começar.
- Espere um momento, não podemos completar o ritual agora, para passar nossas almas para a 5ª parte teremos que morrer todos juntos e não temos herdeiros para passar as outras partes.
- Você está certa! Precisaremos de herdeiros para que eles continuem com a nossa linhagem...
- E o que faremos agora?
- Iremos passar nossos poderes para as 4 partes faltando somente a 5ª parte. Depois que tivermos filhos, poderemos finalmente terminar. – disse o Max.
- Tem uma coisa que eu não disse para vocês... Esse medalhão só funciona nas mãos do filho mais velho, por isso se algum de vocês tiver mais de um filho e gostar mais do segundo filho e resolver passar a parte do medalhão para ele, eu aviso logo que o medalhão não o aceitará, nas mãos das pessoas erradas ele não passará de um simples enfeite. Minha família jogou um feitiço nele para aceitar somente ao primogênito e para aceitar somente a nossa família e eu terei que desfazer esse feitiço para lançar um que aceite somente a nós 4, ou nossos herdeiros. E foi por isso que até hoje minha família sempre só teve um filho para não haver brigas e para que sangue mágico não seja derramado, aconselho que façam o mesmo.
- Só um filho? Sempre quis ter uns 3 filhos. – disse Aine.
- Você poderá ter quantos filhos quiser, mas não poderá passar sua parte do medalhão a qualquer filho que não seja o mais velho. – falou impacientemente o Max.
- Isso mesmo Max, e podem crer que o medalhão saberá quem é o mais velho. Ah antes que vocês me perguntem já vou avisando que caso algum de vocês tenha um filho bastardo e esse for o seu primogênito e que depois você se case e tenha um outro filho, você deverá passar o medalhão para o bastardo, então tenham cuidado. E também peço para que sempre mantenham seu sobrenome para que caso nossas gerações futuras se percam um dos outros eles possam se achar através de nossos sobrenomes.
- Não entendi. – falou Aine.
- Como se isso fosse novidade. É o seguinte, eu sou uma mulher e na nossa cultura normalmente a mulher e os filhos recebem o sobrenome do marido, mas meu filho ao em vez de receber o sobrenome do pai irá receber meu sobrenome para que se algum dia ele se perder dos outros, os filhos de vocês, possa achá-los através dos nossos sobrenomes. Então não importa se for homem ou mulher mantenham sempre o sobrenome e digam isso para seus filhos e o mandem dizer para seus netos e assim sucessivamente.
- Essa idéia de manter os sobrenomes é excelente. Eu concordo com sua família Brid, é melhor que tenhamos apenas um filho assim evitamos brigas entre irmãos. – disse o Egan.
- Então podemos “fabricar” nossos filhos agora mesmo. – disse o Max.
- É mesmo, afinal nós 4 somos amigos mas também somos dois casais.
- Vocês prestaram alguma atenção no que eu falei?
- Claro que sim! Isso não é brincadeira, é o nosso futuro, o futuro das nossas famílias, e é a nossa vida.
- Pois não parece, não podemos “fabricar” nossos filhos agora.
- Por que não Brid? – perguntou Aine.
- Porque se eu e o Egan tivermos um filho, essa criança será o meu primogênito e será o primogênito do Egan. Ele herdará duas partes do medalhão e irá ganhar o sobrenome do Egan e não o meu já que o Egan é homem.
- E daí? Ao menos assim manteremos unido nosso sangue.
- Isso não pode acontecer. Se um objeto não consegue suportar os nossos poderes juntos imagine uma pessoa.
- Quer dizer que não podemos misturar nosso sangue, por assim misturaremos nossos poderes? Mas então não precisamos fazer o medalhão, já que no nosso sangue contem nossos poderes.
- Não é isso. A magia que contêm no nosso sangue é uma espécie de chave pra ativar o medalhão, entenderam?
- Sim. – todos responderam concordando e assim, mudando a vida de muitas gerações futuras.

A Guardiã

Parte 01

Normalmente as histórias romance-vampiro são sobre garotas humanas normais que se envolvem com o vampiro misterioso e novato na área. Eu irei lhe contar a minha historia e ela é um pouquinho diferente das outras.
Eu não sou nem de longe como a Elena e muito menos como a Bella. Ao menos nesse sentido da história “ser humana normal apaixonada por um vampiro”.
Eu sou uma vampira, pronto falei. Eu nunca sequer tive chance ou escolha de optar sobre essa minha “condição” e sinceramente? Eu teria feito como a Bella e escolhido virar vampira também. Antes de você poder me entender, é melhor conhecer o meio em que vivo.
A cidade em que moro, a minha cidade, não é uma cidade qualquer e muito menos “propriedade” dos humanos. Ela não pertence aos humanos e nunca pertenceu porque ela foi fundada justamente por vampiros. Cinco famílias tradicionais da Europa migraram pra cá e assim tudo começou.
Meu avô estava entre um desses de famílias tradicionais que migraram pra cá e “construíram” uma nova cidade. Todos eles tinham algo em comum, além do dinheiro e do sobrenome renomado, todos eles eram vampiros. Assim... Aos poucos nossa cidade foi crescendo e se desenvolvendo, uma cidade cheia de regras a serem seguidas, um lugar onde a lei é cumprida.
Geralmente vampiros não podem se reproduzir, isso na verdade foi um grande problema no início, mas há 400 anos atrás meu pai, um grande cientista, descobriu uma forma de dá um jeito nisso. Como? Bom, isso é um segredo só dele. Nenhum outro ser vivo, ou morto, conhece o Segredo. Devo acrescentar que muita gente já morreu por causa dele, inclusive o meu irmão mais velho, mas eu nem cheguei a conhecê-lo, já que isso aconteceu a 200 anos atrás.
Falando em anos, em idade e tudo o mais... Eu, por enquanto, tenho a idade que pareço ter, ou seja, 16 anos. Ser uma adolescente vampira não é nada demais, o problema mesmo é ser uma princesa vampira. Eu não sei o que princesas normais e humanas fazem, mas eu tenho um imenso legado de família e com ele vem muitas responsabilidades.
Não só pertenço a uma das famílias fundadoras, como também sou filha do grande Mark. Além disso, sou comandante do exército da escola. Como assim exercito? Como explicar?
Não é fácil manter uma cidade grande como a nossa sobre paz o tempo todo e não sei se isso acontecerá um dia. Temos aqui uma espécie de “guerra civil” dentro da própria cidade. A cidade é dividida em duas “norte e sul” e a escola fica bem no meio dessa divisa.
A escola na verdade é um castelo que pertenceu a um conde muito, muito rico que depois se cansou da monotonia da cidade e doou o castelo para a fundação da primeira escola. Como toda boa princesa, eu durmo no quarto mais alto, da torre mais alta e não estou brincando. Eu durmo mesmo lá.
“Selina...” alguém me chamou batendo na porta estridentemente.
“Pois não?” berrei de volta. Seria pedir demais um pouco de paz?
“Abra essa porta! Os convidados já estão todos lá embaixo e você sequer começou a se arrumar!” ela, seja lá quem fosse, gritou de volta.
“Onde está meu pai?” perguntei suspirando e abrindo as trancas da porta. Como eram muitas demorei um pouco.
“Está lá embaixo esperando ansiosamente por você, princesa” agora com a porta 100% aberta eu pude ver quem era. Eu não conhecia esta mulher direito, mas ela falava comigo como se fosse intima a mim e resolvi apenas ignorar coisas como essa. Ela usava um bonito vestido preto de renda com mangas compridas e tinha o cabelo tão reluzente quanto ouro.
“Chame-me de Selina” eu não precisava de alguém me lembrando constantemente do meu status.
“Como quiser Selina” ela sorriu assentindo e começou a tirar meu vestido para pôr o da grande festa.
***
“Senhores e senhores” meu tio Patrick começou o grande discurso da noite. Eu achava que essa responsabilidade deveria ser de meu pai. Não pude deixar de ficar profundamente magoada. Por que tio Patrick estava discursando? “Esta é uma noite pela qual muitos de nós esperamos por séculos, literalmente” ele riu com a própria piada sem graça e alguns o acompanhou. “A noite em que a Selina, filha legítima de nossa cidade, completou seus belos 16 anos. Noite em que fará O ritual e noite também que...” ele parou criando suspense. O que mais teria nessa noite? Ele disse tudo o que essa noite era. O meu aniversario e a noite do ritual de passagem.
“Que eu a pedirei em casamento” o Clauss completou por ele. Clauss é o cara pelo qual sempre fui apaixonada. Assim como eu, ele é descendente dos fundadores, e é um excelente partido. O Clauss sempre foi tudo pra mim. Ele nunca foi meu melhor amigo, ao menos eu nunca o enxerguei dessa forma, mas eu sempre o amei muito e ele a mim.
“Casamento?” perguntei num sussurro que eu sabia que a maioria tinha ouvido graças a nossos ouvidos apurados.
“Sim meu amor. Casamento. Você... Minha por toda a eternidade” ele sorriu brilhantemente pra mim. Não pude evitar de sentir uma enorme onda de felicidade de excitação passando por todo o meu corpo. Tudo o que sempre sonhei. Casada com ele!
“Senhores e senhores...” meu pai falou surgindo do nada. Todos se viraram para ele e fizeram um comprimento das antigas. “Obrigado por comparecerem ao aniversário de minha filha” ele olhava pra mim cheio de orgulho. Sinceramente um olhar como esse era o meu único motivo pra fazer tudo o que eu faço e não desistir.
Depois do agradecimento de meu pai todos aplaudiram e sorririam admirados com algo. Comigo? Boas chances de ser. Eu também estava maravilhada e tudo isso eu devia ao Clauss, meu vampiro. Ele conversava com meu pai empolgadamente e fazendo amplos gestos. Eles nunca se deram muito bem, meu pai nunca gostou muito dele, mas com o passar do tempo aprendeu a aceitar tendo em vista que o Clauss era de boa família e eu gostava mesmo dele.
“Como está se sentindo?” a melhor amiga da minha mãe, Sra. Annabele me perguntou de supetão.
“Bem” respondi sem muito entusiasmo. Eu ainda observava a conversa do meu pai com o Clauss. Eles não estavam falando de mim, mas eu queria ouvir mesmo assim.
“Não está nervosa com a sua primeira morte?” ela foi a primeira pessoa a tocar nesse assunto. Não posso negar que fiquei bastante surpresa pela escolha do tópico da conversa. Primeira morte? Eu ri ao pensar nisso. Essa não era a minha primeira morte como a sociedade pensava. Nem a segunda, nem a terceira, nem a quarta e muito menos a décima. Eu já tinha matado muito mais do que eles poderiam imaginar, mas nunca ninguém saberia disso. Era um segredo meu, exclusivamente meu. Não só o fato como também os motivos que levaram ao fato.
“Um pouco” tentei fingi nervosismo. Ela pareceu acreditar, pois me olhou de uma forma bondosa. Como minha mãe olharia se ela estivesse aqui...
“Não fique querida. Se sairá bem, tenho certeza” ela segurou minha mão firmemente e não gostei disso, nenhum pouco. Eu não gosto que pessoas me toquem. Somente três pessoas são permitidas à isso: meu pai, minha mãe e o Clauss. Ninguém mais.
“Você está bem?” diabos! Por que ela estava sendo tão gentil e pegajosa?
“Estou, obrigada. Vou buscar algo para eu beber...” menti e saí de perto dela antes que eu pulasse em sua garganta e a degolasse. Não seria bonito, não hoje e eu tinha que aparentar que nunca tinha matado ninguém antes.
“Ora, ora, ora...” normalmente eu amo ser o centro de atenções, mas hoje estava passando dos meus limites.
“Michael” sorri afetadamente.
“Ora Selina, não me olhe desse jeito... Cadê o pateta?” não vale a pena eu perder meu precioso tempo explicando pra você quem é o Michael, um idiota, apenas isso que precisa saber dele e o “pateta” que ele estava se referindo é ao Clauss. Ele e o Clauss se odeiam.
“Na minha frente” disse rapidamente e saí. Ou tentei.
“Aonde pensa que vai? Você vai ficar aqui e dançar comigo” ele me segurou pelo braço e estava apertando um pouco, doeu, mas não falei nada.
“Quem vai me obrigar, você?” arquei uma das sobrancelhas em desafio. Ele não ligou, ele nunca ligava.
“Vamos...” ele me conduziu até a pista onde todos pararam pra nos olhar dançando.
Eu não posso negar que ter o Michael tão perto assim tinha me deixado extremamente tensa. O pior é saber que o Clauss podia chegar a qualquer momento e me ver dançando com outro e não gostaria nenhum pouco que esse outro fosse o Michael, mas eu não tive como fugir. De dançar com o Michael, eu quero dizer.
“Pronta?” ele me perguntou encarando com aqueles olhos azuis piscina e agarrando a minha cintura.
“Pronta” eu confirmei soltando um suspiro de desabafo. Então começamos a dançar conforme a música. O que estávamos dançando? Valsa, certamente. O Michael era um exímio dançarino e me conduziu divinamente bem, não dá pra mentir. Todos no salão estavam nos olhando dançar e pelos breves momentos em que eu não estava rodopiando, eu pude ver os olhos de admiração de todos. Eu procurei pelo Clauss, mas não achei. Graças a deus.
Assim que acabamos de dançar, fizemos um cumprimento formal e todos no salão aplaudiram maravilhados.
“Doeu?” ele, o Michael, me perguntou arqueando uma das sobrancelhas.
“Na verdade doeu. Você pisou no meu pé” eu disse fingindo indignação e sugerindo que ele fosse um mau dançarino. Ele apenas sorriu balançando a cabeça e me deixou sozinha.
Voltei a olhar ao redor do salão à procura do Clauss, ou meu pai, mas nem sinal de nenhum dos dois. Nem o meu tio estava ao redor. Isso era meio estranho. Os três sumidos ao mesmo tempo? Muito, muito estranho. Enquanto eu os procurava, várias pessoas me paravam e cumprimentavam e conversavam comigo. Eu era a atração da noite, ou quase isso.
“Selina...” alguém me chamou tocando em meu ombro e eu quase pulei de susto. Estava muito distraída pra perceber que alguém tinha invadido meus limites pessoais.
“Oi?” eu virei ficando surpresa. Será possível que meus olhos estivessem me pregando uma peça? Não, esse não podia ser quem eu achava que fosse.
“Selina...” agora foi meu pai quem falava. Sua expressão era divertida por ver meu choque. Como ELE poderia estar aqui?
“Não pode ser...” falei totalmente espantada. O que diabos eles todos estavam pensando? Todos ficaram loucos? Ele NÃO deveria estar aqui!
“Eu sei, eu sei” meu pai disse colocando as duas mãos sobre meus ombros. “Mas olhe filha, talvez a hora tenha chegado” meu pai disse serio me encarando. A hora tinha chegado? Ele só podia estar brincando! Ainda era muito cedo! A hora não tinha chegado! Por que diabos ele estava aqui?
“Selina... Por favor, seja razoável e me escute. O conselho se reuniu a pouco e decidimos isso. Se recomponha, por favor, Selina” meu pai não estava mais tão paciente e compreensivo. Tentei me recuperar do choque e do meu ultraje o mais rápido possível.
“Certo. Quando?” melhor ficar logo sabendo dos detalhes, mesmo sabendo que não iria descobrir tudo.
“Não sabemos. Amanhã teremos um conselho um pouco mais aberto e você irá” ele disse serio.
“Irei?” perguntei em duvida alternando do meu pai para o... Não sei se é seguro mencionar isso aqui.
“Irá. Você e alguns outros convidados, mas você irá. Bem, não podemos mantê-lo escondido para sempre não é mesmo?” meu pai tinha razão nesse aspecto. Fico me perguntando quando foi a ultima vez que ELE teve uma vida normal.
“Então...” o cara começou falando. Até ele se referir a mim diretamente eu tinha evitado olhá-lo, porque como diz a lenda ele não gosta que olhem para ele diretamente. Digamos apenas que coisas ruins acontecem com quem faz isso sem a permissão dele. EU que não queria testá-la.
Fitei-o com expectativa. “Selina... Lembro-me de quando nasceu” ele falou isso de forma fria e extremamente impessoal. Não pude evitar de gelar. Tentei não demonstrar.
“Eu...” comecei sem saber ao certo se eu poderia perguntar o que eu queria. Bom, não custava tentar. “Qual o seu nome? Nunca... me falaram” completei me sentindo constrangida. Por que eu estava constrangida? Eu não tinha motivos!
“Hugo” ele disse quase num sussurro. Hugo? Bem, nome bonito. Pra dizer a verdade ele também era bonito. Eu nunca sequer imaginava que ele fosse tão bonito. Seu cabelo era ruivo escuro bem curtinho sabe? Quase dava pra espetar. Ele devia ser uns 20 centímetros mais alto que eu e tinha um incrível porte de elegância e poder.
“Selina” meu pai interrompeu o nosso contato visual. É estranho conhecer alguém sobre quem todos falam e ninguém, ao menos ninguém vivo, viu.
“Sim?” perguntei tentando centrar em meu pai e não em dar em mais uma espiada no tal do Hugo.
“Eu agora apresentarei o Hugo a algumas pessoas... Você sabe quem” fazia tempo que eu não via essa expressão de seriedade no rosto do meu pai.
“Contará a eles quem ele é?” perguntei a meu pai, claramente, mas foi o Hugo quem respondeu.
“Estou bem aqui, Selina” ele disse usando aquele tom frio e distante novamente.
“Oh, me desculpe” o pedido de desculpas não tinha sido nenhum pouco sincero. Que diferença fazia se ele estava ali ou não? Pra mim? Nenhuma.
“Seu pai não contará a ninguém quem eu realmente sou ou minha importância. Seu pai apenas fará com que eu entre na sociedade de vocês chegando por cima” ele cruzou os braços encostando na parede. Eu não sou do tipo que agüenta alguém como ele. “E nem você dirá, irá manter a boca bem fechada, entendido?” ele falou olhando duramente pra mim. Graças a meus anos de treinamento de controle de emoções consegui apenas responder com um aceno de cabeça e manter meu olhar no dele.
Meu pai sorriu pra mim aliviado e disse sussurrando bem baixinho “muito bem, estou orgulhoso de você” o que me deixou extremamente feliz.
Se tinha alguém que eu realmente amava, esse alguém era meu pai. Que minha mãe não me ouça, mas a pessoa que eu mais amo na vida é o meu pai. Desde que nasci foi meu pai quem sempre cuidou de mim. Minha mãe também é claro, mas ela eu não sei... Eu e ela nos amamos muito, mas não temos nenhuma ligação especial. Com meu pai é diferente. Nós, eu e ele, nos entendemos perfeitamente bem.
“Te vejo depois” ele disse me dando um beijo na testa e foi andando com o Hugo ao lado dele.
Por alguma razão eu não tinha gostado muito desse tal de Hugo. Sim, eu sei que, eu teria que aturá-lo durante um bom tempo agora que ele finalmente saiu da “toca”. As palavras de meu pai ainda estavam ecoando em minha mente “talvez a hora tenha chegado”. Será mesmo? Quais significados isso teria em minha vida e na de todos? De uma coisa eu sabia, boa coisa que não seria.
“Meu amor” o Clauss disse em meu ouvido e me abraçando. Eu me senti reconfortada de novo e por um breve instante esqueci-me da chegada do Hugo e de tudo o que isso implicaria. “O que houve?” ele perguntou enrugando a testa e se afastando. Essa era uma das coisas que eu mais amava nele e que eu também mais odiava, sua enorme percepção aos sentimentos.
“Nada demais, acho que só nervosismo por causa do ritual” eu disse uma enorme mentira. Eu não ligava para o ritual, sim eu ligava, mas não estava preocupada porque esperei por ele desde que me entendendo por gente.
“Você vai se sair bem, você vai ver” ele sorriu otimista. Essa era outra coisa que eu amava nele, seu eterno otimismo.
“Assim espero” falei fingindo estar preocupada. Achei minha atuação convincente até e ele não perguntou mais nada, apenas deixou pra lá.
“Vamos dançar!” ele falou me arrastando praticamente para o meio do salão e começarmos a dançar. Lógico que não fizemos nenhum show como eu e o Michael, mas eu me sentia melhor assim, nos braços do Class.
Eu não estava preocupada em dançar no ritmo da música e muito menos fazer belos passos de dançar, tudo o que eu desejava naquele momento é esquecer que estávamos no meio de uma guerra fria que provavelmente muito em breve não seria mais assim. O que isso mudaria? Muita coisa, das piores maneiras possíveis. Eu não queria pensar que a chegada do Hugo iria afetar a mim e a meu pai. Não, eu não queria nada disso. Tudo o que eu queria era descansar minha cabeça no peito do Clauss, no belo peitoral dele eu devo acrescentar, sentir seu cheiro que é como um calmante pra mim e esquecer de tudo. Eu consegui. Eu realmente quase consegui.
Até uma gritaria histérica da multidão começar. Todos correndo apressados e desesperados ao longo do salão. Bruxos! Eles estavam aqui e agora... Nos atacando...
“Corra Selina! Corra!” o Clauss disse tirando sua espada da bainha. Eu apenas o encarei.
“Não está falando sério está? Esqueceu quem sou?” perguntei agora tirando minhas adagas da meia calça que eu estava vestindo por debaixo do vestido de princesa.
“Exatamente por isso.Você é uma princesa. Vá procurar seu pai e levá-lo para bem longe daqui. Pegue seu pai e o Hugo e os proteja, Seline! Vá” ele disse pra mim e eu obedeci.
Não por ser submissa a ele ou por ele ter uma posição melhor em combate do que a minha, certamente que não. Eu obedeci porque eu sabia que meu pai não sabe se defender tão bem assim e se alguém tivesse que defendê-lo que fosse eu e eu também sabia que ele estava com o Hugo que deveria ser protegido também.
Não foi fácil achá-los. Todo mundo estava correndo de um lado pra outro, procurando fugir dos bruxos e de seu poder. Havia fogo em muitos lugares e pequenos terremotos estavam acontecendo. Lembra que eu disse antes que humanos normais não tinham chances de matar um vampiro? Pois bem, os bruxos são os únicos que conseguem. Eles possuem um poder extraordinário de controlar os cinco elementos, o que faz que, de certa forma, eles se igualem a nós.
Se nós, vampiros, somos rápidos e eficientes em combate corpo a corpo, os bruxos eram bons em combates a distância. Bruxos normalmente conseguiam manipular somente dois elementos, isso era a cota normal deles. Mas é claro que, existem aqueles que conseguem três elementos e esses são bruxos medianos, os que conseguem quatro são muito bons e os que conseguem os cincos são verdadeiros mestres. Nunca enfrentei um bruxo que dominasse os cinco elementos. Isso está se tornando cada vez mais raro entre eles o que os preocupa muito.
Dizem que bruxos de nível cinco, aqueles que controlam os cinco elementos, conseguem derrotar vampiros com uma incrível facilidade e rapidez. A não ser que, o vampiro seja realmente bom em luta. Como não existem muitos bruxos com tal capacidade, nós nem nos preocupamos muito. Esqueci de mencionar que também existem aquelas anomalias incapazes que só conseguem somente um elemento ou nenhum. Esses são quase inexistentes também.
Essa guerra entre bruxos e vampiros, começou nos primórdios da construção de nossa cidade. Ninguém realmente sabe o que aconteceu ou qual o motivo real da luta entre as duas raças, já que, até onde se sabe, elas já conviveram em perfeita harmonia. E o motivo hoje de nada mais vale, porque pessoas já morreram e pessoas ainda morrerão pela disputa de poder e de sobrevivência.
Quando eu já estava praticamente desacreditada que não encontraria meu pai e muito menos o Hugo, eu consegui observar de longe um tufo de cabelos vermelhos que se destacava na multidão de cabelos castanhos. Ao lado dele estava meu pai olhando atentamente toda a situação do caos instalada. O salão era grande o suficiente para que os bruxos lançassem seu fogo até 20 metros de distância e os vampiros conseguirem fugir. Na mesma hora em que localizei meu pai e o Hugo pude observar dois bruxos de nível três indo em direção a eles. Eu estava longe demais e certamente os bruxos chegariam muito antes de mim.
Eles não poderiam chegar em meu pai.
“Hey, idiotas!” os chamei lançando uma das minhas adagas.
“Do que você me chamou sanguessuga?” uma bruxa baixinha dos olhos verdes e cabelo loiro me perguntou. Sua raiva parecia profunda.
“Por que não pega alguém do seu tamanho?” provoquei-a. O outro bruxo continuava andando e jogando “feitiços” em direção ao Hugo. Agora eu conseguia notar com clareza que eles não queriam meu pai. Eles queriam o Hugo.
“Pense rápido!” eu gritei no salão o mais alto que pude fazendo minha voz ecoar pela sala e minha adaga atingir diretamente ao estômago do bruxo.
“Merda, sua sanguessuga de uma figa! O que você fez com ele?!” ela gritava histericamente pra mim.
“Vocês procuraram” eu disse agora, que meu pai e o Hugo estavam a salvos, calmamente. “O que queria com meu pai afinal?”
“Com o Mark? Nada. Ele não é útil sem o Segredo. Nem queremos o Segredo, você sabe” ela deu de ombros e voltou a olhar seu companheiro morto. Eu deveria respeitá-la e deixá-la em seu luto, mas ela era uma bruxa e eu uma vampira, não existe “parceria” entre inimigos.
Simplesmente aproveitei que ela havia baixado a guarda e lancei minha estaca em sua direção e pra minha surpresa a estaca tinha parado no ar e depois pegou fogo. Uma usuária de ar e fogo? Combinação perigosa.
“Acha mesmo que eu seria tão descuidada garota?” ela riu com desdém. Ok, essa cadela realmente conseguiu me irritar. Comecei a correr em sua direção pra atacá-la rápido, assim o seu escudo de ar não teria efeito se eu fosse veloz. Infelizmente eu não esperava por um anel de fogo que ela lançou ao redor dela e do seu parceiro cadáver.
O fogo atingiu o meu belo vestido e começou a subir rapidamente e como era um daqueles vestidos de época eu não conseguia tirar de jeito nenhum. Sabe como é, eles são bem, bem apertados e sufocantes. O fogo começou a corroer todo o vestido e eu comecei a ficar desesperada, enquanto aquela cadela ria descontroladamente de mim.
“Selina!” ouvi a voz do Clauss me chamando, mas eu não conseguia enxergar mais nada. O fogo começou a me consumir por inteira e tudo ficou preto de repente. Ou quase.
“Selina!” senti alguém me carregando no colo.
“Clauss?” tentei falar, mas minha voz saiu muito fraca.
“Sou eu” ele disse claramente preocupado. O fogo tinha passado. Pude sentir meu corpo se recuperando das queimaduras. Cinco minutos depois eu já estava de pé e perfeitamente saudável.
“Como?” perguntei olhando o caos ao meu redor. Ninguém estava ferido é claro, nós vampiros temos alto poder de recuperação. Mas o medo ainda estava ali.
“Filha...” meu pai disse me abraçando aliviado. Eu sorri, também estava preocupada com ele.
“Estou bem, você?”
“Tudo certo. Não quero que lute com alguém nível quatro Selina! Por favor, deixe isso para vampiros de calão mais baixo! Você pode ser uma guerreira, mas continua sendo uma princesa e minha filha” ele disse isso como se fosse uma bronca. Ele estava realmente chateado, não posso culpá-lo, mas também não podia ficar parada assistindo o caos se instalar sabendo que eu poderia ajudar a contê-lo.
“Nível quatro?” era melhor mudar o rumo da conversa. “Achei que fosse nível dois! Ela só usou ar e fogo em mim” falei com convicção.
“Nem sempre eles usam tudo o que podem, mas dá pra perceber pela intensidade dos elementos. Elementos que nos atingem com facilidade é porque o bruxo tem um nível maior, mais cuidado da próxima vez” ele me abraçou de novo.
“Terei. O que eles queriam afinal?”
“A mim” o Hugo respondeu e eu não tinha notado a presença dele.
“Como poderiam saber que você está aqui?” sei que alguém como ele não passaria despercebido ainda mais para os bruxos, mas acontece que ele se manteve longe por muito tempo.
“Eles devem ter seus espiões”
“O conselho já sabe?”
“Só o alto conselho” dessa vez foi meu pai quem respondeu. O alto conselho era composto pelos primogênitos das cinco famílias fundadoras. “E você” ele acrescentou com um olhar de advertência.
“Mas não era para saber” o Hugo disse com a testa enrugada. Não consegui deixar de notar o quão sexy ele ficou fazendo isso.
“Por que não era?” arquei uma das sobrancelhas. Eu não era do alto conselho ainda. Fato. Só um membro de uma família por vez faz parte do alto conselho. Enquanto meu pai estiver vivo serei apenas do conselho. Não tenho pressa e muito menos interesse de chegar ao alto conselho. Segredos deles permanecem apenas entre eles, essa era a primeira vez que um segredo vazava.
“Porque... Há anos eu estou afastado dessa cidade. Há muito mais tempo do que possa imaginar, Selina. No entanto, você só de olhar pra mim soube quem eu era. A pergunta é, como?” sua voz já não estava mais tão fria ou distante. Eu sorri com prepotência. Gostei dessa situação de saber algo que eles dois não sabiam.
“Sua pulseira” eu disse sorrindo. Assim que eu o vi, logo localizei o símbolo que de certo me indicou quem ele era.
“Ah, mas é claro!” o rosto dele e de meu pai atingiram a compreensão.
“Eu tinha me esquecido disso” ambos disseram ao meu tempo. Eu ri.
O Hugo olhou para o seu braço e a pulseira não estava mais lá. Eu ri de novo.
“Nem adianta procurar, porque não irá achar” falei sorrindo afetadamente. Ele era muito facilmente irritável. Eu também sempre adorei irritar as pessoas, menos meu pai é claro.
“Como pode saber? Sei procurar muito bem” ele estava claramente irritado com meus sorrisos e olhares prepotentes. Eu não podia evitar. Ele merecia.
“Irá olhar dentro de minhas vestes, senhor?” falei formalmente rindo. Ele arregalou os olhos e depois olhou maliciosamente para o meu decote. Eu não tinha percebido, ou melhor, lembrado que eu estava altamente descomposta.
“Se for preciso...” ele olhou-me ainda mais atrevido! Fiquei ultrajada! Como ele ousava falar comigo desse jeito em frente a meu pai? Em frente a meu pai! Meu pai ao contrario do que eu esperava, só olhou para o Hugo balançando a cabeça e sorriu.
O Clauss não foi tão compreensivo e não gostou da situação. “Faça isso e você acordará com uma espada enfiada em seu peito, Hugo” o Clauss falou o nome dele com claro nojo.
“Mesmo?” o mal-humor do Hugo tinha totalmente ido embora. Agora ele parecia estar se divertindo juntamente com meu pai e o Clauss estava ficando estressado e eu também.
“Experimente. Não me importo com quem você seja e que lugar ocupe. Nem que você fosse o comandante da nossa cidade!”
“Clauss... Eu sei me defender. Tome sua estúpida pulseira” eu disse tirando a pulseira do Hugo do meu pulso. “Deveria prestar mais atenção. Consegui tirá-la facilmente de você e esconda-a. Se não todos, assim como eu, irão saber quem você é, todos que sabem da história” eu falei pra ele retirando o Clauss de perto do meu pai e dele.
“Que história?” o Clauss perguntou assim que nos afastamos o suficiente deles para não nos escutarem.
“Nada demais” dei de ombros. “Coisas do conselho”
“Você está sempre por dentro dos assuntos do conselho huh?” o Clauss nunca foi do tipo que gostava de política. O que é totalmente ao contrario de mim. Sempre estou envolvida com a política. Seja da escola, seja a da cidade. Acho que é de família.
“Tenho que estar por dentro do que algum dia será minha responsabilidade não acha?” eu ri. Ele não concordava com isso, ele esperava que meu pai ainda tivesse outro filho homem que pudesse assumir o conselho em meu lugar, ele na entendia já que era o filho do meio.
“Bom, você sabe que eu vou te apoiar no que você decidir, irei mesmo, mas não sei Selina. Nunca acaba bem pra quem fica envolvido com isso. Eu preferiria que seus planos fossem como será o nosso casamento, o nome dos nossos filhos e coisas como essa e não... O futuro da nossa cidade e como nos livrar dos bruxos” eu não podia deixar de me sentir meio triste por ele. Lógico que eu queria todas essas coisas e pensava nessas coisas também, mas não eram nem de longe excitantes como uma boa batalha.
“Não se preocupe, meu amor. Irei fazer os dois. E quanto ao nosso casamento...” só em falar essa palavra em voz alta eu me sentia em pleno êxtase. “Tenho ele quase pronto em minha mente. Pode deixar” pisquei pra ele tentando tranqüilizá-lo, mas eu conhecia bem demais pra saber que não funcionaria. Depois de muito caminhar agora estávamos do lado de fora do castelo em meio ao jardim muito bem cuidado. Nunca fui muito ligada em plantas ou em flores, mas em nosso jardim tinha das mais variadas espécies incluindo as raras que eram as prediletas do nosso jardineiro.
Agora olhando pelo lado de fora não parecia que há meia hora estava acontecendo batalhas lá dentro. Eu sempre ficava encantada ao observar o castelo de noite. Ele parecia ainda maior do que era e tinha certa aura de poder emanando dele.
“Você realmente ama esse lugar né?”
“Mais do que posso expressar” essa era a minha casa. Nasci, cresci e vivi aqui toda a minha vida.
“Imagino. O ritual foi adiado, eles farão uma nova festa. Uma em que tenha mais segurança pra todos” ele deu de ombros. Estava claro que ele não acreditava nenhum pouco nessa segurança.
“Melhor assim” suspirei. Tanta coisa tinha acontecido que eu até esqueci-me do meu ritual. O ritual que me permitiria caçar meus próprios humanos. Todos os vampiros têm que passar por esse ritual se quiserem caçar seu próprio alimento, senão... Bem, terão que se contentar com o banco de sangue o que não nos agrada nenhum pouco. O que nós realmente gostamos é de sentir nossa presa com medo e termos que caçá-la. Isso sim é legal.
E o que garante que um vampiro tenha direito a esse ritual é sempre ter freqüentado a escola, ter notas boas, o que desagrada a maioria, mas assim temos bons vampiros em potencial. Sendo a obrigatoriedade de ir a escola a todos os vampiros, todos eles aprendem a se defender dos bruxos na escola. Ao menos defesa pessoal básica todos os vampiros sabem. Depois há aqueles que se especializam em defesa da massa para proteger a todos. Eu fui um desses, ou serei.
“Não gostei desse Hugo” ele disse depois de um momento de silêncio. Ele parecia tenso com o assunto.
“Também não gostei, mas fazer o que?” dei de ombros. O Hugo é de vital importância pra o funcionamento da nossa cidade, mesmo que ela ainda não saiba disso.
“Que tal ficar longe dele?” ele sugeriu parecendo bem contente com a ideia. Pobre Clauss, eu queria mesmo poder fazer suas vontades, mas essa não era possível.
“Não posso Clauss. O Hugo é... Ele é apenas importante certo? Não posso ficar longe dele tão quanto eu queria, talvez eu até tenha que fazer sua guarda” não queria magoá-lo dizendo que já estava quase certo que eu seria a guardiã dele.
“Você não pode! Você é uma princesa. Princesas não fazem guarda de meros cargos do conselho, só o do...” ele não terminou a frase. De repente compreensão passou em seus olhos. Ele agora parecia mais infeliz que antes. “Então é isso? Ele é o...?” eu o interrompi. Ótimo que ele tinha compreendido e ótimo que ele agora sabia o segredo, mas não era seguro que mais gente soubesse.
“É, é ele” eu disse acenando.
“Como pode saber? Eu pensei que quando isso fosse acontecer somente o alto conselho saberia”
“E você está certo. Só o alto conselho sabe de fato, eu... descobri” ele não precisava saber como, porque isso implicaria em muita coisa.
“Uau. Isso não é nenhum espanto. Você sempre consegue fazer o que quer. Mas... Então você será a guardiã dele?” sua voz atingiu um tom tão miserável que me deu calafrios.
“Não sei Clauss, não sei mesmo. Mas pode ficar tranqüilo. Eu não gosto dele” eu podia entender porque ele estava assim. Não é incomum os guardiões se envolverem demais com os seus protegidos, mas isso não aconteceria comigo.
“Será que você não poderia pegar alguém mais perigoso pra proteger?” ele disse balançando a cabeça triste. O que eu poderia fazer? Ele não esperava mesmo que eu fizesse que nem as outras princesas daqui, certo? Acho que ao menos um pouco ele deveria me conhecer.
“Acho que não” falei sem olhar pra ele. Ele ainda estava cabisbaixo e claramente preocupado. Acho que além do ciúme ele estava preocupado com minha segurança. Como ele mesmo disse, quem mais perigoso de se proteger do que o líder de um grupo que está em guerra?
“Imaginei. Seu pai está Ok com isso?” como falar pra ele que esse sempre foi o sonho do meu pai? Minha mãe pelo ao contrario nunca quis que eu me envolvesse com nada disso. Ela sempre quis que eu aproveitasse mais coisas como os bailes, artes e coisas do tipo.
“Ele está... Como qualquer pai ficaria” o que não era mentira. Apesar de estar orgulhoso, meu pai também estava preocupado com a imensa possibilidade de eu ser resignada para o Hugo. Não seria uma tarefa fácil.
“Princesa...” um dos soldados se aproximou com cautela. Os soldados do castelo sempre respeitavam a nossa privacidade o que era muito conveniente.
“Pois não?”
“Seu pai está chamando. Ele quer conversar com você em seu quarto” eu assenti despachando-o.
“Então... Eu tenho que ir” dei um beijo dele na bochecha antes de deixá-lo a sós no jardim.
Fui caminhando sem pressa em direção ao castelo. O saguão da entrada estava lotado ainda com os convidados que se serviam de comida, bebiam, conversavam e dançavam alegremente. Definitivamente não parecia que havia tido batalhas a poucos instantes. Todos pareciam despreocupados e alegres com a festa. Ninguém mais me parou pra me cumprimentar ou falar algo sobre eu, o Clauss, ou o meu pai. Ninguém. Fiquei grata por isso. Não queria mesmo falar com ninguém, pra falar a verdade nem com o meu pai, mas eu teria que falar.
Subi as escadas o mais rápido que pude e hesitei ao entrar no quarto. As luzes estavam ligadas e eu pude ouvir que meu pai estava falando com mais alguém. A conversa não seria particular então? Por essa eu não esperava!
“Entre logo Selina, não temos todo tempo do mundo!” ele disse bravo. Lógico que ele sabia que eu estava lá há bastante tempo graças a nossos ouvidos apurados.
“Sim, papai” respondi murmurando. Quando entrei no quarto para a minha enorme surpresa, e não deveria ter sido, estava sentado em minha cama ninguém menos que o Hugo.
“O que ele faz aqui?” falei fechando a cara e indo em direção a ele arrancar minha espada de sua mão. Se tem uma coisa que eu odeio é quando mexem nas minhas coisas. “Isso é meu”
“Eu sei e isso não me importa. Sente-se criança” ele falou me indicando a cadeira. Eu não podia acreditar nos meus olhos e ouvidos! Ele tinha mesmo me chamado de criança? E outra, eu estava no meu quarto! “Não faça essa cara e sente-se logo, evite o drama de adolescente, por favor” ele disse me dando as costas e pegando a espada para olhá-la de novo.
Quando eu fui arrancá-la das mãos dele meu pai interveio segurando-me pelo braço.
“Sente-se filha, por favor” seu olhar era de cansaço. Eu decidi obedecer e evitar stress para o meu pai. Também não queria dar uma de “adolescente rebelde” e mostrar para o Hugo que eu NÃO sou uma criança.
“Por que vocês estão me olhando assim?” ambos estavam muito sérios.
“Poderia me deixar a sós com ela, Mark? Por favor, sabe que não lhe farei nenhum mal” o Hugo disse a meu pai que olhava para mim extremamente sério depois apenas assentiu com a cabeça saindo do quarto e me deixando a sós com o Hugo.
“Bom, agora somos só nós dois” ele disse sorrindo.

Garota Problema

Certo. Sempre que algo errado acontece à culpa cai sobre mim e por quê? Porque eu tive a infelicidade de ser a mais nova. Para variar a Anu e a Mari sempre se safam de todas as coisas que fazem. Sempre que erram a culpa cai sobre mim.
Durante esses dois últimos meses elas têm tentado criar uma nova poção do amor ainda mais poderosa do que a que nossa mãe criou. Não sei pra que uma poção mais poderosa que a da nossa mãe, já que, deu super certo e ela casou com o papai e está casada com ele até hoje e ele parece que a ama, mesmo que, seja por causa do feitiço. A questão é que elas juntas são bem capazes de conseguir isso e se conseguirem quem tomar a poção sofrerá um estrago praticamente irreversível, não é algo que eu deseje a alguém.
Além disso tudo, papai nos obrigou a mudar de cidade por causa da última que elas aprontaram na nossa antiga e cidade natal. Algo que fez com que nosso segredo quase fosse descoberto por eles. Por ser menor de idade e ainda morar com meus pais e não ter o controle pleno de meus poderes eu fui obrigada a mudar por causa delas. Chorei muito por ter que sair de lá, já que, eu pela primeira vez tinha arranjado um namorado, alguém que gostava mesmo de mim e não um idiota que só me queria pela minha beleza. Elas estragaram tudo isso. A pior parte é que não posso sequer acusá-las ou fazer algo ruim, porque sei que se o fizer só piorará a situação para o meu lado, além do que, elas não estão nem aí pra mim.
“Nimue ainda está aqui? Caramba garota, cai fora! Não mexa no meu quarto, não quero você aqui! Sai!” pulei surpresa pela chegada da Mari, nem a ouvi entrar! Felizmente eu já tinha conseguido o que eu queria no quarto dela. “Por que está com essa cara? O que afinal você veio fazer aqui? Olha, se veio usar meu telefone pra falar com aquele seu namoradinho estúpido eu vou contar pro papai e ele vai deixá-la de castigo!” ela gritou me fuzilando. Sua expressão mudou completamente quando eu apenas a olhei e dei de ombros, eu conhecia aquela expressão. Medo. A Mari estava com medo de mim, ou do que eu pudesse ter achado aqui! Viva!
“Faça o que quiser, afinal vocês sempre fazem não é? A culpa sempre cai sobre mim mesmo. Tanto faz. Não ligo mais. Vocês já me fizeram perder o que, ou melhor, quem eu mais amava... Não fique animadinha Mari, você pode ganhar agora, mas o Fred ainda me ama e eu a ele, vamos dar um jeito de ficar juntos!” falei confiante. Mesmo sabendo que eu não poderia saber disso, algo dentro de mim gritava que eu estava certa.
“Oh que linda! Uma bobinha apaixonada. Ele não vai te esperar. Muito menos até você ter o seu “tempo” idiota. Você devia ter transado com ele quando teve chance. Agora? Tarde demais pra isso. Ele vai arranjar alguém para consolá-lo, você sabe. Vá terminar de passar sua maquiagem, ela está escorrendo com suas lágrimas. Se demorar demais, iremos embora e você vai a pé ou de ônibus!” a Mari bateu a porta na minha cara.
Por que elas são tão más comigo? Eu sou a irmã delas poxa! Elas não deveriam me amar e me proteger? Com as irmãs que eu tenho ninguém precisa de inimigas. Só para variar fiz o que ela me disse, fui ajeitar meu rosto que estava horrendo com a maquiagem toda borrada pelas minhas lágrimas. Como se lembrar de quem se ama, não podendo o ter, e não chorar?
“Mamãe... Cadê elas?” estranhamente consegui surpreender minha mãe que deu um pulo fazendo frasco que ela estava segurando cair e abrir um buraco na mesa.
“Suas irmãs? Já foram. Você vai aonde arrumada desse jeito?” por que será que não fiquei surpresa ao ouvir isso? Grande novidade que elas tinham me deixado. O pior é saber que minha mãe acreditava em cada palavra que elas diziam.
“Aonde acha que vou mãe? Vou para a escola lembra?” rolei os olhos e sentei a mesa pegando meu almoço.
“Para a escola? Mas a Anu me disse que você disse que não iria, que não estava passando bem, que você estava chorando por aquele garoto!” sua voz era de indignação. Mamãe nunca gostou do Fred.
“Sim, eu estava chorando por ele, mas não disse que não iria à escola, lógico que eu irei. Só que agora não sei como irei, não conheço o caminho pra ir a pé” eu estava mastigando a comida mais devagar que o normal. Não estava com pressa de sair e por um minuto tive a esperança de que minha mãe dissesse que eu deveria ficar em casa ao invés de me lançar numa cidade desconhecida. Eu estava enganada.
“Não seja por isso, querida. Eu a levarei. O diretor me chamou para conversar sobre você” certo, conversa com o diretor ao meu respeito antes mesmo do inicio do ano letivo. Quem tem mais sorte que eu?
“Huh, legal” eu disse de boca cheia e ela me repreendeu com o olhar. O diretor da minha antiga escola sempre chamava meus pais para conversarem sobre mim e falarem de coisas que tenho feito, apesar de que nunca foi eu que fiz. Sempre a Anu ou a Mari, ou as duas juntas. Antes que pense, não, elas não faziam as coisas para ferrarem comigo, não sou tão importante pra elas assim. Elas faziam as coisas pra se divertirem ou algo do tipo para beneficio próprio e por acaso a culpa sempre caía em mim, certamente elas não ligavam para esclarecer as coisas.
“Nem tanto. Seu histórico não é dos melhores, apesar de suas notas serem muito melhores do que as das suas irmãs. Como consegue aprontar tanto e se sair tão bem na escola?” que tal por que não sou eu que apronto? Será que ninguém nunca pensou nisso? “Se eu fosse suas irmãs iria ficar com ciúmes de você. Notas maravilhosas, você se diverte, tinha um belo namorado, apesar de eu não gostar dele e você é linda Nimue... Sorte sua que puxou a seu pai e não a mim. Suas irmãs não tiveram a mesma sorte” é, mas elas herdaram seus poderes, ou grande parte deles, não me sobrou muita coisa. Poderes ou beleza? Acho que eu preferiria os poderes, assim elas não mexeriam comigo.
“Mãe... Você pode não ser a rainha da beleza, mas você é bonita a seu modo e papai ama você, isso que importa” nem sei porque eu estava tentando consolá-la, ela nunca se importou muito comigo.
“É fácil desprezar a beleza quando se tem, Nimue. Sabe muito bem que seu pai ama quem ele vê, e ele me vê parecida com você, linda...” seus olhos se encheram de lágrimas.
“Mas não dizem que o amor é cego?” depois que eu falei isso me senti meio culpada. Ela podia ser uma péssima mãe comigo e mal se importar comigo, mas ainda era a minha mãe e eu a estava chamando de feia.
“É... Espero que suas irmãs consigam a poção. Assim eu saberei se ele me ama de verdade” seu rosto se encheu de esperança e melancolia.
“Como uma poção do amor provará isso?”
“Será que você nunca presta atenção em nada do que digo, Nimue? Assim nunca aprenderá nada sobre a magia!” estava demorando pra me repreender de algo, a culpa que eu sentia se dissipou. “A poção que suas irmãs estão criando só intensifica o sentimento, se ele não existir não terá efeito algum. Porém, quase sempre ele está lá adormecido. Se seu pai nunca me amou e não ama, meu feitiço quebrará e o perderei pra sempre, se funcionar, ele me amará mais que nunca” ah fazia sentido de alguma forma.
“Vocês todas deviam ser internadas! Diz que não presto atenção mamãe, mas e o livre-arbítrio? Onde fica? Olha me deixe viu...” ela me olhou feio e deu de ombros.
Terminamos nosso almoço e ela me levou na escola. Quando cheguei lá tive uma enorme surpresa. Iríamos estudar num colégio católico! Será que minha mãe sabia disso? Pela cara dela ela sabia sim e não estava ligando. Minha cara devia estar me entregando porque ela riu.
“Eu sei, eu sei. Esse é o único colégio respeitável que ainda tinha vagas e aceitou seu histórico” ela me fuzilou quando falou sobre o meu histórico, que na verdade não era meu.
“Certo” assenti e me afastei dela. Vir com a mãe para o colégio era algo bem constrangedor. O colégio era enorme e me senti num labirinto, sem saber para que lado ir. Fiquei olhando de um lado para o outro vendo aquela aglomeração de pessoas, muitos se cumprimentando e conversando. Estávamos num pátio enorme que devia caber umas 1.000 pessoas se não mais, não havia nenhum indicio de salas de aula, apenas uma porta para um lugar que parecia ser a igreja. Uma IGREJA dentro da escola? Certo, isso era algo bem esquisito, mas o que esperar de uma escola católica? Será que seriamos obrigados a entrar?
“Oi” alguém falou atrás de mim me cutucando no ombro. A voz era fininha e meio esganiçada. Quando me virei vi uma menina que parecia ter minha idade senão um pouco mais nova que eu. Ela usava uma saia de pregas azul marinho com uma blusa de botão branca e uma gravata vermelha que combinava com sua boina também vermelha. Ela era uns 15 cm mais baixa que eu e estava sorrindo pra mim. Sim, era mim. Eu verifiquei se ela não estava falando com outra pessoa.
“Oi” respondi depois de estudá-la.
“Sou novata também! Percebi que você é novata, porque bem, não falou com ninguém e aposto que está tão perdida quanto eu nesse colégio imenso!” além de um senso de moda diferente dos outros, ela parecia muito comunicativa e sem vergonha, no bom sentido.
“É, você observou certo. Sou novata também. Meu nome é Nimue, o seu é?” minhas irmãs ficariam surpresas com uma cena dessas.
“Larissa. Eu estou no primeiro ano e você?” agora que estava um pouco mais iluminado eu pude perceber que seus olhos eram claros, azul bem clarinho. Quase cinza. Combinava muito com seus cabelos cacheados e loiros vibrante. Ela parecia ter saído exatamente daqueles filmes americanos, aquelas garotas populares e líderes de torcida. Eu não podia estar errada, quase todos os garotos do salão que estavam a vista estavam estudando-a.
“Estou no segundo” respondi e seu rosto murchou um pouquinho.
“Uma pena que não somos da mesma turma, seria legal já conhecer alguém” de repente seu rosto iluminou de novo. Ela parecia estar completamente entretida na nossa conversa, não parecia notar que quase todo mundo estava nos observando e provavelmente a nossa conversa também. Eu gostava de ter atenção, mas de tanta gente ao mesmo tempo era algo constrangedor.
“Imagino que sim. Escuta Larissa... Não reparou que todos estão olhando pra você?” eu admito que tinha sido indelicadeza da minha parte, mas aqueles olhares todos estavam me incomodando mesmo.
“Para mim?” seu rosto ficou surpreso e depois ela começou a rir. Se eu fosse outra teria corado. “Não estão olhando pra mim bobinha. Estou olhando pra você” ela disse e riu ainda mais enquanto todo mundo continuava a nos observar.
“Como assim pra mim? Não tem motivos para estarem me olhando!” falei para ela sussurrando.
“Ah não?” ela arqueou uma das sobrancelhas e riu sacudindo a cabeça. “Se você conseguir achar uma outra pessoa de preto neste salão me avise” ah então era isso? A cor da minha roupa?
“Estou me olhando por que estou de preto?” perguntei chocada. Realmente ao olhar ao redor não vi ninguém de preto. Todos estavam com cores vibrantes, própria do verão, todos menos eu. Se eu parar pra pensar, até minhas irmãs saíram com roupas coloridas hoje.
“É. Então... Quem morreu?” agora o tom de brincadeira tinha sumido de sua voz e ela parecia preocupada.
“Como assim quem morreu?” perguntei sem entender.
“Ueh, pra você está vestindo preto no verão... Alguem deve ter morrido. Só vestimos preto no verão quando alguém morre. Então, quem morreu?” ela me perguntou parecendo ansiosa.
“Oh” falei em compreensão. “Ninguém morreu. Estou de preto porque amo preto e me sinto bem, é minha cor predileta em roupa”.
“Ah é por isso? Nossa... Achei que alguém tivesse morrido, que bom que não. E bem, não era só pelo preto que estavam te olhando. Além do fato de você ser morena, bonita, estar vestindo preto, ainda tem o fato do comprimento do seu vestido e essas botas...” ela olhou com admiração.
“O que que tem?” eu ainda não conseguia entender. Todo mundo aqui se vestia igual?
“Nada. Você tem estilo... Legal!” ela sorriu amigavelmente de novo. “Então, se não sabe sobre o preto... é de outra cidade?”
Antes que eu respondesse uma mulher com um longo vestido florado e salto alto foi até o meio do pátio e começou um discurso de boas vindas. Não prestei a mínima atenção. Uma coisa mais importante chamou a minha atenção: minhas irmãs ao lado de dois caras lindos de morrer. O pior de tudo, eles estavam com a poção delas nas mãos e eles quatro estavam rindo felizes.
A única coisa que eu pensava era que eu precisava chegar até eles e impedir que minhas irmãs os enfeitiçassem. Nunca fui muito boa nessas coisas, mas esses pobres coitados precisavam saber onde estavam se metendo. Elas não poderiam sair impunes mais uma vez. Eu comecei a andar na direção deles, sem sequer me importar com a queixa dos outros alunos quando eu me batia neles sem querer. A única coisa que dava pra ouvir no salão todo era a voz da tal mulher falando possivelmente sobre o colégio. Minha irmãs não me viram, ainda bem. Se tivesse visto teriam feito algo que sobraria para mim.
“Com licença Sra...?” então de repente e para o meu azar todos estavam mais uma vez olhando na minha direção, inclusive a mulher que estava fazendo o discurso. Eu parei no meu lugar e olhei pras minhas irmãs que estavam com o sorriso afetado na cara dizendo “bem feito”.
“Meu nome é Nimue” falei parando e olhando para a tal mulher. Todos começaram a murmurar alguma coisa que eu não conseguia entender. A mulher fechou a cara para mim e mandou todos fazerem silêncio.
“Certo. Sra. Nimue, não sei de onde a senhorita veio, mas lhe garanto que as coisas aqui funcionam diferente. Desculpe-me a intromissão, mas... Quem morreu?” ela estava claramente estudando meu vestido.
“Ninguém” respondi calmamente e ainda olhando-a nos olhos. Mais uma vez as pessoas começaram a murmurar. Ok, já entendi a parte que não se usa preto no verão a não ser que alguém morra. Por que não poderiam apenas parar de cochichar?
“Ninguém? A senhorita está vestida assim por que então?” sua voz era muito incisiva. Desde pequena meu pai me ensinou que devemos tratar as pessoas da mesma maneira que nos tratam e não temer a ninguém. Foi o que eu fiz.
“Ninguém morreu felizmente, senhora. Estou vestida assim porque eu quero e gosto da cor. Algum problema?” perguntei olhando-a firme. Mais murmúrios ainda. Seja lá quem fosse essa mulher ela não parecia estar acostumada com pessoas a desafiando.
“Temos código de vestimenta nesta escola. Os alunos, sejam quem for, são obrigados a segui-la” ela terminou fazendo uma careta engraçada. Eu ri.
“Acha nossas regras engraçadas? Seu sobrenome por favor” ela disse me olhando ainda fazendo a careta. Não pude deixar de rir.
“Meu...So-sobre...Sobreno...me... é... Bingley” eu não conseguia parar de rir da cara dela. Não fiz por mal ou por provocação, eu juro.
“Ah sim. Eu reconheço seu sobrenome senhorita. Agora entendo. A senhorita faz mesmo jus ao seu histórico” assim que ela tocou nessa palavra eu parei de rir. Todo o humor da minha cara que antes deveria ter tinha sumido. Ela tinha jogado baixo. Pegou no meu ponto fraco. O maldito histórico que me persegue e que não é meu.
“Não senhora. A senhora só poderá ver que faço jus ao meu histórico quando as avaliações começarem” respondi calmamente. Mais uma vez as pessoas ficaram agitadas. Seja lá como as coisas funcionam aqui, já deu pra perceber que isso era novidade. Bela forma de começar, chamando a atenção de todos pela vestimenta errada e depois por brigar com a... ela é o que mesmo? “A senhora só me interrogou e nada sei sobre a senhora” falei educadamente. O salão estava tão tenso e quieto que só dava pra ouvir a minha voz e a dela.
“Eu... Senhorita Nimue Bingley, sou a diretora e madre superiora daqui” ela respondeu. A primeira coisa que consegui pensar foi: ê porra fudeu! Para minha infelicidade eu pensei alto demais. “Palavras de baixo calão são estritamente proibidas aqui, estamos entendidas?” mais encrencada do que eu já estava não poderia ficar. Já que eu estava sendo firme e a respondendo quando eu não sabia quem era ela, não iria baixar a defesa agora.
“Certamente a senhora se fez entender. Pelo pouco que conheço de sua religião senhora, sei que esta também possui código de vestimenta, também não deveria estar usando o seu... hum, qual o nome daquilo? Bem, o seu treco?” quando eu terminei senti muita gente querendo dar risada, mas todos se seguraram.
“Como eu me visto ou deixo de me vestir não é da conta da senhorita” ela respondeu com sua voz de trovão.
“Devo dizer o mesmo para a senhora. Não estou cometendo nenhum atentado ao pudor aqui, então... Eu visto a cor que eu quiser! Somos um país livre, caso a senhora não sabe” terminei. Ela ficou me encarando e depois olhou para os outros alunos: “Todos para as suas salas!” e depois ela me mandou ir para a sala dela pra termos uma conversinha.
Quando ela foi embora, a porta fechou e todo mundo no salão aplaudiu e deu vivas. Fiquei meio sem jeito, mas não corei. Eu não coro.
“Nossa Nimue! Você foi demais! Enfrentou aquela bruxa!” a tal da Larissa tinha voltado para o meu lado.
“Não fale assim das bruxas!” rebati magoada. Essas pessoas ignorantes não fazem a mínima idéia do que significa ser uma bruxa e falam como se fosse um julgamento.
“Opa! Calminha... Desculpa. Por que ficou tão ofendida? Não vai me dizer que é uma né?” ela disse sorrindo e brincando.
“Olá” disse um menino alto e desengonçado antes que eu respondesse a Larissa.
“Oi... Marcus” ela torceu o nariz quando falou o nome dele. Uma expressão de claro nojo.
“Não estava falando com você Larissa” a voz dele foi ainda mais repulsiva que a dela. Ela olhou-o chocada, magoada e se retirou. “Desculpe por isso. Dor de cotovelo” ele sorriu exibindo dentes perfeitos. Nunca via um sorriso tão perfeitinho. Parecia até de mentira. Dentes brancos, muito alinhados e nivelados. Parecia não ter nada fora do lugar.
“Vocês foram namorados?” perguntei curiosa.
“É. Namoramos ano passado. Ela terminou comigo pra ficar com alguém melhor, mas depois se arrependeu e quis voltar, mas eu não quis. Ela tentou de tudo. A última cartada dela foi se mudar pra mesma escola que eu” ele sorriu de novo. Pra alguém que parecia ter uma doida no seu pé ele parecia bem calmo e normal.
“Nossa. Que louco” sorri. “Meu nome é Nimue, mas bem, isso você já sabe” sorri e nesse exato momento um cabelo caiu no meu olho e ele esticou sua mão para tirá-lo da minha cara. Ele se demorou um pouco na minha bochecha acariciando-a. Não vou negar que eu gostei. Era errado eu gostar de receber carinho de um cara estranho, mesmo estando apaixonada por outro?
“Você está em que série?” ele perguntou descontraído passando um braço ao redor do meu ombro. Ele era tão frio e estava tão quente que não pude resistir.
“Segundo” falei. Minha voz soou fraca e abalada. O que estava acontecendo comigo?
“Serio? Legal! Eu também!” ele respondeu animado. Aproveitei que ele estava muito perto de mim para observá-lo melhor. Ele estava vestindo aquelas bermudas de surfista e uma camisa da Billabong. Esse cara tem dinheiro…
“Maaarcus!” uma garota doida veio do nada e se jogou contra ele. Logicamente ele tirou o braço ao redor de mim e passou ao redor da garota. Ela era ainda mais bonita do que a Larissa. Ela era loira também e seus olhos eram ainda mais azuis do que os da Larissa. Será que só havia loiras lindas de morrer por aqui? “Meu deus! Quanto teeeempo! Que saudaaades de você!” a loira disse ainda pendurada no pescoço dele.
“É, é mesmo” ele disse tirando os braços dela ao redor do pescoço dele. Então ele cumprimentou uns dois caras que estavam atrás dela. Os dois também era loiros e tinham os olhos azuis. Eu estava realmente surpresa pela quantidade de pessoas loiras dos olhos azuis que tinha aqui. O mais surpreendente de tudo é que todos são bonitos. Isso poderia ser ótimo se não fosse tão intimidador.
“Gente... Essa é a Nimue, mas todo mundo já sabe né” ele riu e todos riram junto. Todos eles eram tão loiros, só o Marcus era moreno. Moreno, mas mesmo assim tinha os olhos azuis. Ele não era tão bonito quanto os outros, mas nem de longe poderia ser chamado de feio. Ele era o mais alto de todos, meio desengonçado e o mais confiante.
“Oi... Sou Patrick, este é o meu primo Daniel e minha namorada Jessica” disse o loiro mais alto e mais forte, que era o mais bonito também, a propósito. Os outros dois me disseram um “oi” não tão receptivo quanto o Patrick.
“A Marcele já chegou?” o Marcus perguntou a eles. Eles, os meninos, se entreolharam e depois olharam pra mim e seus olhares pareciam dizer alguma coisa, mas infelizmente não deu para eu entender, já o Marcus deve ter entendido muito bem. “Bom, nós vamos encontrar o resto da galera Nimue, depois a gente se fala” ele se curvou em minha direção e me deu um beijo na testa. Quando olhei para a loira, ela estava me olhando com desdém.
Fiquei os observando irem embora. Todos eram bonitos e pareciam ser legais. Seriam esses os populares daqui? É provável. No exato momento que estava pensando sobre isso eu vi minhas irmãs praticamente penduradas nos pescoços de outros dois caras. Esses não eram bonitos. Mas eles também estavam segurando a poção delas. Céus! Elas querem conquistar todos da escola?
“Hã... Oi” disse um garoto na minha frente. No instante que fui olhar pra ele minhas irmãs aproveitaram para sumir da minha vista de novo.
“Oi” respondi olhando-o. Finalmente alguém que não era loiro! Quer dizer, alguém que não é loiro e que vem falar comigo. Tinha muitos morenos também, é claro. Porém esse cara não era loiro e nem moreno, ele era ruivo! A primeira pessoa ruiva que eu conheço na vida. Não pude deixar de sorri e ele retribuiu. Ele era mais alto que eu, devia ter 1,80 ou 1,90 algo assim. Seus olhos não eram azuis, nem verdes, nem castanhos, nem mel. Na verdade o garoto tinha um olho de cada cor. Um era azul e o outro era verde. A diferença era bem nítida. Seus lábios eram carnudos e bem vermelhos, sua boca era desenhada e...
“Achei muito incrível aquilo que você fez” ele parecia meio tímido, mas confiante também. Como ele conseguia expressar as duas coisas ao mesmo tempo?
“Não fiz nada. Na verdade a única coisa que eu fiz foi me meter em encrenca” meus pais se souberem e tenho certeza de que irão saber, vão me matar.
“É, se meteu em encrenca também, mas você inspirou uma grande confiança” ele disse serio. Seus olhos bicolores me deixavam... Não sei bem que palavra usar, eu não sabia se olhava para o verde ou para o azul, ou os dois...
“Eu?” perguntei olhando não mais para seus olhos e sim para as roupas que ele usava. Diferente de quase todos os garotos, ele estava usando jeans rasgados e não bermudas de surfista. Ao invés de camisas de marcas, ele estava usando uma camisa de botão meio aberta mostrando seu corpo malhado. Ele seguiu meu olhar e viu para onde eu estava olhando e sorriu. Desviei sem graça.
“Sim. Você mesma. Todos aqui sempre se vestem tão... Igual! Eu não sei como agüentam! É legal ver que alguém tem a atitude de se vestir diferente e ter a coragem de defender” ele não parecia mais tão tímido agora, na verdade parecia aqueles caras que lideram algo e sempre inspiram confiança nas pessoas. “Adorei seu vestido…”
“Ah obrigada! Eu...”
“Eu também gostei!” disse um outro cara vindo do nada. Certo, esse foi o mais diferente de todos que eu já vi. Ele era bonitinho, não lindo que nem os outros, mas era bonito. Seus olhos ao invés de serem azuis eram tão escuros quanto à noite. Sua boca não era desenhadinha, mas era perfeitamente desejável. Ele estava usando jeans que nem o ruivo, mas o ruivo estava com os jeans perfeitamente na altura da cintura, enquanto ele estava com os jeans lá embaixo mostrando sua cueca boxer preta. Sua pele era queimada de sol e sua camisa não era de marca que nem todo mundo usava. Sua camisa sequer era de manga que nem a de todo mundo. Ele estava usando uma camisa sem manga e totalmente lisa. Ele também tinha dois piercings na orelha, usava boné preto para trás e tinha uma tatuagem tribal num dos braços. Ah sim, ele era incrivelmente gostoso. “Mas gostei mais ainda de quem está nele” ele disse pegando minha mão e dando um beijo.
“Obrigada pelos elogios meninos” sorri para os dois. O ruivo estava com a cara fechada olhando feio para o garoto estiloso.
“De nada” o garoto estiloso disse. “Meu nome é Felipe” ele sorriu e piscou.
“O meu é Gabriel” o ruivo disse ainda enfezado.
“Prazer! Vocês são de que série?” por favor digam segundo!
“Segundo ano, baby. E você?” o Felipe perguntou.
“Sou do segundo também. Por sinal onde é a nossa sala?” perguntei reparando que o salão estava bem mais vazio desde que cheguei e minhas irmãs ainda estavam sumidas.
“Isso depende de qual sala você está, aqui temos cinco segundos anos diferentes” só quem estava respondendo era o bonitinho estiloso, o Felipe.
“Vocês... Estão em qual?”
“Eu sou da A” o Felipe disse apontando pra si. “Ele é da E” disse apontando para o ruivo.
“Não mais. Eu mudei para a A também, estou na sua sala” ele disse ainda emburrado. Caramba, esse garoto não sorri não? Ele tinha sorrido pra mim antes do Felipe chegar.
“Ah claro, esqueci que sua namoradinha está lá” o Felipe disse sorrindo irônico. Ok, pelo visto eles não eram amigos.
“Ela não é minha namorada, não mais. Terminamos certo? Esqueça isso” o ruivo disse e saiu com a cara fechada.
“Qual o problema dele?” perguntei.
“Você e eu. Eu e você…” ele sorriu e piscou novamente.
“Hã?”
“Ele deve ter ficado encantando com você assim como cada cara, solteiro e comprometido, desta escola, Nimue. Porém, para o azar dele, e de todos, eu me encantei com você. Você é tão... Diferente dessas patricinhas fúteis que temos por aqui” ele não estava mais sorrindo. Ele me olhava serio agora.
“Bom, não as conheço, posso ser muito diferente, ou não muito delas... Mas creio que sei identificar sozinha quem me atrai e sei escolher muito bem o que e quem é melhor pra mim” acenei com as mãos e fui atrás do Gabriel. Não foi difícil achá-lo, um ruivo no meio de tantos loiros e morenos. Ele estava sentado num banco em frente a porta que dava para a igreja.
“Oi…” eu disse me sentando ao lado dele. Ele olhou para cima e ficou bem surpreso.
“O que...? Por que está aqui?” ele perguntou olhando ao redor.
“Desculpe, posso voltar se quiser” me levantei, mas ele segurou meu braço. Olhei em seus olhos e pude ver uma tristeza neles.
“Não vá, fique por favor” ele disse e soltou sua mão dos meus braços. Poderia ser verdade o que o Felipe falou? Que o Gabriel estava afim de mim? Naquele momento eu esqueci de todo o resto, esqueci do Fred, das minhas irmãs, dos meus pais... De tudo! Só o que eu conseguia pensar é em qual seria a sensação de beijar o Gabriel e ter aqueles músculos envoltos no meu corpo. “Sinto muito por ter saído daquele jeito. Eu...Simplesmente não suporto o Felipe” ele confessou pensativo.
“Seria muita intromissão minha perguntar o por que?” falei receosa, mas ele simplesmente ficou olhando para o chão mudando as expressão de acordo com o que ele falava.
“Não. Ele... Ele simplesmente se acha o maioral da escola e a maioria das pessoas por aqui concordam com ele. Quer dizer, ele é um cara legal, divertido, descontraído, tira boas notas e é muito cativante e generoso com todos, mas...” ele parou. Se o Felipe era tudo isso por que ele não gostava dele então? Huh, isso é estranho.
“Mas até um tempo atrás eu era o seu melhor amigo. Nós éramos uma dupla. E ele... Bem, ele simplesmente se aproveitou disso e roubou minha namorada. O pior é que ela era virgem e não quis transar comigo, mas com ele ela transou! Ela deu pra ele! Amigo nenhum come a namorada do outro...” ele disse claramente com raiva. Eu sorri, mas não dele e sim por lembrar que ainda algumas pessoas dizem que homens não se traem que isso é coisa de mulher.
“O pior... É que depois ela ficou grávida” ele completou e eu vi que lágrimas vieram aos olhos dele.
“Grávida?” gente que babado. Será que todos na escola sabiam disso? Seria melhor eu perguntar depois antes de espalhar sem querer.
“É. Sabe quem foi a primeira pessoa que ela contou? Sabe pra quem ela pediu ajuda? Pra mim! Pra mim! Logo pra mim... Ela veio até a mim, chorou… Ela estava desesperada. Nesse dia nós ficamos e ela...” ele olhou pra mim meio constrangido talvez.
“Ela o que?” perguntei curiosa.
“Pagou um pra mim” ele completou. Pagou um pra ele? Céus! Essa menina dava pra todo mundo? Que... “Não pense mal dela. Ela é uma boa pessoa” creio que sim, pensei com meus botões. Acaba com a amizade entre melhores amigos, fica grávida de um, depois pega o outro... Certamente uma boa pessoa. “Eu que… Talvez não tenha sido bom o suficiente pra ela” enquanto ele falava lágrimas começaram a surgir no canto de seus olhos, mas não caíram.
“Gabe...” uma menina o chamou. Ela parou na frente dele e sequer olhou para mim ou me cumprimentou. Ela estava de calça jeans skinny com uma blusa de alcinha florida e sapatilha. Ela tem um estilo bem meiguinho e uma carinha de inocente… Ele olhou pra cima e seus olhos se expandiram ao ver quem era, seja lá quem ela fosse. Eles ficaram se olhando nos olhos por um tempo indefinido. Por mais que eu me sentisse uma intrusa naquele momento dos dois, algo fez com que eu mantivesse meus olhos neles dois. Quem desviou primeiro foi a garota para olhar pra mim. Ela me olhou de cima abaixo antes de falar alguma coisa.
“É por ela que você está me trocando?” ela perguntou olhando pra ele. A expressão dele era tão parecida com a dela... Os dois pareciam estar em agonia.
“Você me trocou Nanda. Lembra? Você que decidiu fuder com o Felipe! Por que não vai atrás dele?” agora ele não estava nem um pouco calmo. Seu rosto estava vermelho e ele parecia com raiva.
“Não fala assim Gabe. Por favor, não fala assim. Eu te disse...” ela parou e olhou pra mim. “O que ela faz aqui afinal? Você não se toca não garota? Isso é entre namorados. Você está sobrando aqui. Vaza” ela disse me enxotando com a mão. Qualquer pessoa com o mínimo de semancol teria saído dali imediatamente, mas algo me manteve ali de alguma forma.
“Será que sou eu que estou sobrando aqui? Ele não é mais seu namorado! O que esperava depois de...” eu parei constrangida. Eu não falava sobre sexo com estranhos! Mal falava com minhas amigas imagina com estranhos! “Você sabe, com o amigo dele e espera que ele a perdoe? Se toca!” falei com mais raiva do que deveria. A história nada tinha a ver comigo, mas eu já estava mais envolvida do que o esperado, envolvida demais pra voltar atrás.
“Olha aqui sua… Não irei perder meu tempo com você certo? Apenas dê o fora, isso nada tem a ver com você, apenas saia daqui!” dessa vez ela foi mais incisiva. O que eu poderia fazer além de sair dali? Me levantei e surpreendendo-me o Gabriel levantou também. Ele era realmente alto.
“Gabe… O que pensa que está fazendo?” ela perguntou chorando. Incrível como ela chorava e a maquiagem dela não borrava nenhum pouco.
“É melhor você cuidar do seu macho melhor antes que ele procure por outra, de preferência que não seja a minha, porque senão eu prometo Nanda, que se ele fizer isso de novo eu quebro a cara dele. E você… Se quer um conselho, evite-o, nunca mais faça essa besteira de ficar com ele e por favor, me esqueça” ele passou seu braço ao meu redor e eu o abracei. Não porque eu queria algo com ele e sim pra reconfortá-lo. Não durou muito, porque logo depois de eu o abraçar a tal da Nanda me puxou e me empurrou em direção ao chão. Logicamente eu caí, mas não me machuquei.
“Você só quer ela porque ela é nova! E daí que ela ainda deve ser virgem? Tenho mais experiência Gabe, sei das coisas, essa daí não deve nem saber o que é…” antes dela terminar a frase ele a interrompeu beijando-a. Sim, ele a puxou para si e a beijou na boca. Não foi qualquer beijinho não, foi um desentupidor de pia. Eu achei que eles iriam se devorar ali mesmo. O mesmo foi de uma fome imensa, assustador. Todos no salão pararam pra olhá-los. Para sorte deles dois, não tinha nenhum funcionário do colégio por perto. Para azar o deles, o Felipe estava perto.
“E você ainda queria que eu acreditasse que o filho era meu?” ele riu sem humor. Finalmente o Gabriel e a Fernanda pararam de se beijar e estavam olhando pra o Felipe. “O amor é lindo, não acha Nimue? Esses dois foram feitos pra ficarem juntos, mas são burros demais pra verem isso” o Felipe disse e veio até a mim que estava apenas olhando a cena meio sem rumo. Quer dizer então que o Gabriel amava mesmo essa menina? Mesmo depois de tudo o que ela fez com ele? Não pude deixar de me sentir infeliz, o que é uma bobagem devido ao fato que tenho namorado.
“Pois é Felipe… Eu sempre amarei a Nanda, ela é minha melhor amiga e esse beijo foi apenas uma despedida. O filho é seu sim, você deveria assumir. O garoto é a sua cara” o Gabriel falou numa voz totalmente calma. Todos do salão olhavam para eles, inclusive minhas irmãs. Pela primeira vez elas não estavam com alguns garotos.
“Ela teve o filho porque quis. Por mim teria abortado! Se quis ter... Responsabilidade é dela e não minha. Eu não tenho filho algum” ele deu de ombros como se dissesse que estavam com um livro que não era dele. Como alguém poderia falar de um filho dessa maneira?
“Você é um cretino Felipe! Um cretino!” a tal da Nanda gritou.
“Você deu pra mim porque quis, não te obriguei a nadinha. Traiu seu namorado porque quis também” ele a acusou e pelo visto era a pura verdade.
“Olha Nimue, mal te conheço, nem sei direito quem você é, mas vai por mim e fica longe do Felipe. Ele não presta. Ele te usa e joga fora” ela disse olhando para mim, o olhar era quase amigável.
“Não ouça uma palavra do que ela diz Nimue” o Felipe disse para mim. “Você acha que ela é do seu tipinho? Ela é alguém séria e pra se comprometer e não pra se divertir que nem você. Só mesmo o maluco e inocente do Gabe pra cometer essa besteira” ele disse pra ela e logo depois todos ouvimos um estalo dos dentes dele quebrando.
Todos no salão ficaram olhando a cena, alguns rindo, outros chocados, outros preocupados, outros excitados com a ideia de uma briga. Não sei exatamente como me senti. Talvez um pouco de tudo. Por um instante me imaginei no lugar da tal Nanda. Dois caras gatos brigando por mim em frente toda a escola… Tudo bem que tinha a parte ruim de ser ela, como por exemplo, ter um filho de um cara que acha que ela é uma vagabunda e ainda amar o ex-namorado que não quer mais nada com ela. Isso é ruim o suficiente para uma pessoa. Mas bem, ela fez por onde.
“Imbecil!” o Felipe gritou para o Gabriel que tinha lhe dado um belo soco. O Felipe estava com a boca sangrando e não estava nenhum pouco bonita. Já o Gabriel parecia prestes a matar alguém. A Nanda ficou olhando pra ele surpresa e ficou em frente ao Felipe gritando para o Gabriel não continuar.
“O que está acontecendo aqui?” a mulher de vestido florido voltou ao salão e estava espantada com a cena. Ela parou olhando para todos e depois olhou para o Gabriel e mostrou uma clara surpresa. Pelo visto ele não era muito de se meter em confusão. Ela então olhou para o Felipe com desdém e depois para a tal da Nanda e soltou um “ah” em compreensão. É, pelo visto a história do triangulo amoroso deles era conhecida pelo colégio inteiro. Por último ela olhou para mim e fez uma cara de interrogação, mas de deleite também por me ver “meio” envolvida com a história.
“A Sra. também está envolvida nisso?” eu juro que poderia quebrar a cara dela só pra desfazer aquele sorrisinho nojento dela. Sim, estou lembrada que ela é a diretora e que devo respeito.
“Ela não tem nada a ver com isso, irmã” o Gabriel falou em minha defesa. Eu achei que ele estava entretido demais no Felipe para sequer reparar ou lembrar de mim, mas ele lembrou mesmo que ainda estivesse com os olhos no Felipe.
“Ela está fora disso irmã, ela e a Nanda nada tem a ver com isso. O problema é entre nós” o Felipe disse olhando para o Gabriel. A tal da “irmã” olhou para o Gabriel e ele acenou concordando. Então os dois foram escoltados para fora do salão e todos voltaram a fazer o que estavam fazendo antes, isso é claro, antes de nós termos que entrar na igreja para a missa de boas vindas.
O resto do dia foi bem tranqüilo, somente algumas pessoas vinham me cumprimentar e elogiar sobre eu ter enfrentado a diretora que pelo visto era uma verdadeira mala sem alça. No mais, não vi o Felipe e nem o Gabriel. Eles, feliz ou infelizmente, não estavam na mesma sala que eu. Eu estava no segundo B.
É, Nimue... Boa forma de se começar o ano!