sexta-feira, 26 de novembro de 2010

TROCADA

Ai. Meu. Deus. Eu acho que morri. Não... Eu morri. Ai. Meu. Deus. Ai. Meu. Deus. Eu simplesmente não consigo parar de pensar isso porque é a única coisa na qual estou conseguindo pensar. Sabe quando você ouve ou então vê alguma coisa totalmente inesperada? Pois é, foi o que ACABOU de acontecer comigo. Velho, não, não pode ser verdade. Isso simplesmente não pode estar acontecendo. Quer dizer, como isso pode ter acontecido tão embaixo do meu olho? Não! Eu não pude ser tão cega assim, eu não sou, não é possível e DUAS vezes! Não, não e não.
“Respira Bia, respira” ouço a voz da minha melhor amiga, Luciana ao meu lado. Ela estava comigo quando eu descobri. E... Se não fosse por ela talvez eu não tivesse saído de lá e evitado ser flagrada flagrando a cena. A cena. Ai. Meu. Deus. O pior é que eu não consigo nem organizar meus pensamentos pra pensar com clareza, porque eu praticamente não estou pensando.
“Eu... Tenho certeza que não é o que parece. Não pode ser” ela diz com uma risadinha nervosa. Ela também viu e logicamente que ela sabe que É o que parece ser, ela só não quer que eu fique mal por isso.
“Bia? Ai caramba, o que teve? Que cara é essa menina? Parece que viu um fantas...” a Heide disse, mas foi interrompida por uma outra garota que chegou na mesma hora. Só que não era qualquer garota, e sim a namorada do David.
“Oi Marina” a Luciana falou torcendo a cara, ela totalmente não gosta da Marina. E pra dizer a verdade, nem eu. Nunca gostei dela. Oh menininha esnobe e enjoada, além de ser falsa! Eu sinceramente não sei o que ela faz com um cara como o David.
“Oi” a Marina respondeu de cara fechada também percebendo que a Heide não estava sozinha. “Depois eu falo com você, Heide. Assim que puder, é meio urgente” ela disse virando pra me olhar mais uma vez com certo desprezo e foi embora.
“Nossa... Essa garota realmente não gosta de você hein?” a Heide falou rindo. Ela era meio amiguinha da Marina. O que eu também não entendo.
“Por que será?” a Luh falou nos fazendo rir e isso foi bom porque eu relaxei mais.
“É... Nunca fiz nada a ela!” falei rindo ainda. O que não deixa de ser uma meia verdade.
“É mesmo, com ela não, fez com o namorado dela” a Luh respondeu de novo nos fazendo rir ainda mais enquanto a Heide balançava a cabeça dizendo “vocês não prestam”.
“Sim vei, qual é o B.O?” a Heide falou olhando pra Luh esperando uma resposta dela. O que eu achei melhor que ela explicasse.
“Se eu te contar... Menina, você não acredita!” a Luh adora um suspense. Não a culpo, como não fazer? Mas rapaz, é um enorme babado esse! Fico imaginando o que aconteceria se essa informação caísse nas mãos erradas...
“Conta LOGO PORRA!” a Heide disse com toda sua sutilidade. “VAI, não me mata de curiosidade. O que aconteceu hein, cacete?” é, totalmente a Luh conseguiu atiçar a curiosidade da Heide, imagine quando ela não descobrir o que foi. Vai cair pra trás. Ai. Meu. Deus. Eu totalmente não queria ter visto aquilo.
“Sabe o Victor?” a Luh deu uma risadinha ao falar o nome dele e eu confesso que também dei, mas uma risada diferente da dela. A minha era de nervoso e a dela de deboche.
“Ex da Bia? O que que tem ele?” ela perguntou olhando pra a gente totalmente apreensiva. “Ai caramba, ele traiu a tal da Malena namoradinha dele?” ela cobriu a boca com as mãos.
“Sim... Mas não do jeito que você pensa” a Luh deu mais uma vez a risadinha de deboche.
“Você ficou com ele, Bia? Porque se ficou, céus, eu acho que te mato vei! Nâo, eu sei que você ainda sente algo por ele, ama ele, ou gosta, ou só quer pegar, eu sei lá, mas vei, ele tá namorando! Quer dizer, tá, você pegou o David, mas é diferente! Você não gostava do David, do Víctor você gosta, eu acho” e em partes ela está certa. Tirando a parte sobre eu estar apaixonada pelo David, eu estou, ela que não sabe.
“Não fiquei com o Víctor” falei emburrada e fingindo estar ofendida. Eu sou o que? Sei me controlar, menos com o David, mas aí o caso é diferente! Porque ele me seduz demais, não que o Víctor não seduza... Mas ah, acho que vocês entenderam!
“Ah que otimo! Bom pra você, mesmo!” e ela voltou a olhar pra Luh que tinha amarrado a cara porque tinha sido interrompida e ela odeia isso.
“O Víctor... bem, não sei como falar isso vei. O David... Ai meu deus que coisa dificil” eu falei tentando contar e não consegui. Falar isso em voz alta tornaria isso tudo ainda mais real.
“O que que tem eles? Gente, pára, vocês estão me assustando pow” e parecia que estavamos mesmo. Ela nos olhava com total receio.
“Tá, cansei da enrolação. Nós, eu e a Bia, vimos o Víctor e o David se beijando!” a Luh falou abaixando a voz quando chegou nos nomes deles.
“O QUÊ?!?!” a Heide perguntou engasgando o que me fez sorrir de nervoso. Ai meu santinho e eu fiquei com eles dois! Com OS DOIS! E um foi meu namorado, ai meu deus, eu peguei dois viados! Tipo, eu não deveria ter ficado com o David, porque ele tem namorada e tudo o mais, é amigo do meu ex-namorado e tudo o mais, mas acontece que eu não poderia deixar ele passar, porque eu sempre quis ficar com ele e ele exerce um incrível poder de atração em mim! É INCRÍVEL! E não me arrependo de ter ficado com ele, mas... Vei! Como assim eles ficaram?!
“COMO ASSIM ELES FICARAM?!” a Heide repete os meus pensamentos. Como eu disse antes, ai. Meu. Deus. Tipo, pense em algo totalmente NÃO ESPERADO? Quer dizer, os dois são totalmente o que você chamaria de “macho”. O David é alto, um e oitenta, por aí, tem o cabelo todo cacheadinho, os olhos verdes e apesar de ser magro, tem o corpo todo definido. Já o Víctor, ele é alto também, só que mais baixo que o David, é moreno, bem moreno mesmo, bronzeado, tem o cabelo curtinho e é malhado de academia. Enfim, pense em uma coisa ESQUISITA, foi ver eles dois... errr... Não consigo nem terminar a frase, meu deus!
“Ficaram, se beijaram uai! Na boca! E foi de lingua! De onde estávamos dava pra ver que tipo, ver não, ouvir o barulho deles se beijando. Foi lá no ginásio da escola. A aula de ed.fisica acabou e você sabe que a Bia e o David tem usado lá pra ficarem né? Então... Aí a Bia me pediu pra acompanhar pra eu poder vigiar caso alguém aparecesse e avisá-los para eles não serem flagrados e aí, quando ela entra no vestiário deles, está os dois se beijando e o Víctor apertando o David contra ele. Céus, que nojo! Que nojo! E QUE DESPERDÍCIO!” a Luh balançou a cabeça ainda incredula. A minha incredulidade era tanto que nem falar direito eu conseguia. A Heide olhou pra mim e deu um sorriso amigável.
“Uau, quer dizer, uau. O David tem uma namorada, uma amante e ainda por cima fica com um dos amigos dele? Vei, isso é tão... Sei lá, esse menino não se satisfaz fácil né vei? Credo velho, credo” a Heide balançou a cabeça ainda me estudando pra variar. Ela na verdade me olhava como se eu fosse explodir a qualquer momento.
“E como você está se sentindo, Bia? Aff, deixa pra lá, que pergunta idiota, claro que você não está bem e sua cara está... assustadora” e eu não duvido que estivesse mesmo. Eu estava me sentindo totalmente abalada. Eu não conseguia falar, mas também quando comecei não parei mais e falei tudo de vez.
“VEI, ELES DOIS TEM NAMORADAS! OS DOIS! E EU TAVA FICANDO COM O DAVID PORRA, COMO É QUE ELE TEM A CARA DE PAU DE FICAR COM O VÍCTOR? COMO? PRIMEIRO COMIGO E DEPOIS COM O VÍCTOR? ELES NAMORANDO? NÃO VEI, NÃO DÁ, GAYS? ELES SÃO GAYS? VOCÊS SABEM QUE EU NÃO TENHO PRECONCEITO ALGUM, MAS PORRA, NÃO QUERO MACHO MEU GOSTANDO DE UMA PICA, QUE PORRA VELHO, QUE PORRA... POR QUE ESSAS COISAS SÓ ACONTECEM COMIGO? POR QUE VEI? POR QUE, QUE DROGA! NUNCA NA VIDA IMAGINEI PASSAR POR UMA PORRA DE SITUAÇÃO FUDIDA DESSA!” completei e senti lágrimas vindo aos meus olhos. Oh droga!
“Calma Bia...” a Heide falou segurando a minha mão e eu apenas suspirei mais fundo. Sorte nossa que não tinha ninguém por perto.
“É Bia, eu sei, tá, eu não sei, mas imagino que seja dificil isso, muito dificil, mas vei, pense assim... Talvez eles não sejam gays, ou bis, só... sei lá, pode ter sido um acidente!” é realmente admirável o que as amigas dizem na hora de consolar você, realmente.
“Luh, ninguém encoxa alguém por acidente e muito menos enfia a lingua na garganta de alguém por acidente, tipo... NÃO MESMO!” falei começando a realmente chorar agora. Poxa velho, eu não merecia isso. Não!
“O pior... É que eu gosto dos dois! Tá, eu amo o Víctor, mas eu gosto do David também vei, e não, to nem aí pras namoradas deles, não tenho ciumes delas, não tenho problemas com elas, mas eles dois juntos? É demais pra mim, aí é demais! DEMAIS MESMO!” eu balancei a cabeça em negação me negando a acreditar naquilo. Não quero nem narrar a cena porque eu estou tentando esquecer aquela cena deplorável.
Como se a situação não pudesse ficar pior do que já estava, o David e o Víctor aparecem juntos andando de mãos dadas e rindo conversando alegremente, mas ao menos não tinha nenhuma expressão de “eu te quero” ou “eu gosto de você”, ou seja, nenhuma expressão gay no rosto. E ao me ver chorando eles param e eu tento limpar rápido as minhas lágrimas e fingir que não tinha visto eles, mas tudo foi em vão porque o David puxa o Víctor pra onde eu, a Heide e a Luh estavamos e o Víctor não queria vir, dava pra ver. Depois que terminamos eu e ele não nos falamos muito bem.
“Bia...? O que teve?” o Víctor perguntou me olhando e quando ele fez isso sua testa ficou enrrugada de preocupação o que eu achei super fofo e não esperava dele.
“Nada” falei rápido e mentindo e desviando o rosto deles. Quando eu olhei pro David eu vi que ele me olhava meio sem saber o que fazer. Eu não consegui evitar de olhar para a mão deles dois entrelaçadas e só o David percebeu meu olhar e soltou a mão do Víctor como se de repente ela tivesse pegando fogo e corou levemente. O Víctor como sempre não percebeu o que estava acontecendo e ficou com a usual cara de interrogação dele.
O pior de tudo, foi o um minuto de silêncio constrangedor que ficou entre nós cinco até a Luh piorar a situação arrastando a Heidi dizendo que me veria mais tarde, que estava me esperando lá no corredor.
“Oi David” falei olhando pra ele, bem nos olhos dele e pude ver que ele ainda sentia desejo de ficar comigo, porque só por um acaso ele estava olhando pra a minha boca.
“Oi” monossilábico como sempre. É, eu não esperava que ele dissesse mais que isso. E como também o Víctor não é lá de falar muito, sobrou pra eu arranjar algo pra falar, mas surpreendentemente antes que eu pudesse abrir a minha boca, o Víctor falou.
“O que aconteceu com você? Nem diga que não é nada, eu conheço você” e bem nessa hora o David olhou pra ele e meio que fechou a cara e cruzou os braços. Ciumes? Haha, só o que me faltava.
“Nada, só... Eu vi” eu me consertei bem rápido antes que ele pudesse notar e associar a eles dois. “Ouvi na verdade, que o cara que eu gostava ficou com... alguém” eu disse olhando discretamente para o David que estava totalmente desconfortável com a situação. Ele olhou pra baixo e depois coçou o cabelo. Devia tá se chingando mentalmente por ter trazido o Víctor até aqui.
“Sério? Nossa, que mal pra você” o Víctor respondeu com um sorrisinho idiota na cara. Foi por pouco que eu não pulei no pescoço dele pra arrancar aquele sorriso. Lógico que ele ficaria feliz por me ver mal, sofrendo, otário.
“Pois é, mas tô bem. Afinal, é o cara que está perdendo e não eu. Você bem sabe” olhei bem no fundo dos olhos para o Víctor e ele fechou a cara pra mim e depois olhei para o David que estava com uma expressão de medo e de confusão ao mesmo tempo.
“Mas ele não tinha namorada, o tal cara?” o Víctor perguntou confuso. “Ele ficou com outra então? Traiu ela?” o mais engraçado é que o Víctor não consegue enxergar um palmo a frente dele. O que estava praticamente estampado na cara dele ele não via. Já o David me olhava surpreso e alarmado como quem dizia “você contou isso para ele? Você é doida? É perigoso!” e eu dei de ombros sutilmente.
Eu na verdade estava mais interessada na conversa silenciosa que estava tendo com o David do que na que eu estava tendo com o Víctor. “Sim, ele traiu ela. É, eu acho que ele deve ser insaciável” falei fechando a cara mostrando bem o quanto eu estava chateada. O que foi engraçado foi o sorrisinho de lado sacana e pevertido que o David me lançou, e aí ele ficou levantando a sobrancelha, o que é claro, o Víctor que tava do lado dele e virado pra mim de frente, não viu.
“Insaciável? É, talvez você combine mesmo com ele então, né David?” ele virou pra o David que olhou pra ele espantado dizendo por reflexo “O quê? Ah sim, é, eles devem combinar então...” e sorriu felizinho concordando o que me deixou ainda mais confusa. Porra, qual é a dele?
“Mas eu fico me perguntando Víctor, por que ele ficaria com outra pessoa velho? Qual necessidade? Não estava satisfeito com a namorada então? Nem com outra...?” aí eu parei me interrompendo antes que eu me entregasse pro Víctor que eu tinha ficado com David e ele é claro, não sabia. Que eu tinha ficado com o David, ou com o cara (que eu não contei pro Víctor quem era).
“Não sei, ele não parece que presta pra mim, se traiu a namorada assim. Melhor né Bia? Não seria legal você se envolver com um cara desse, ele totalmente não presta, dá pra ver” e então eu comecei a rir descontroladamente quando vi a expressão complexada no rosto do David. “O que acha, David?” o Víctor perguntou pra ele e o David fez uma rápida expressão de pânico, mas passou bem rápido.
“Eu não acho nada. A Bia que deve saber o que ela quer e se ela realmente quer deixar pra lá um cara que ela gosta só porque ele não consegue se controlar as vezes e é um pouquinho insaciável, mas como você disse, talvez seja por isso que eles combinem” ele falou e depois piscou pra mim e eu apenas fiquei olhando pra ele sem acreditar na cara de pau.
É claro que, o Víctor, inocente no mundo, não percebeu a minha conversa silenciosa com o David e nem era pra perceber mesmo. E bem, de forma camuflada o David respondeu a minha pergunta, me disse o porque ele tinha feito isso e mesmo estando chateada eu vi que não era nada demais. Ele não olhava pro Víctor como me olhava, ainda bem. Ele olhava pro Víctor de forma normal e agia de forma normal o que me fez perguntar se o que eu vi foi realmente eles ficando...
“E provavelmente, essa outra pessoa que ele ficou, não significou nada” ele falou depois de um tempo e me fez sorri. Ele também sorriu pra mim com AQUELE sorriso pelo qual eu me apaixonei. Quando eu olhei para o Víctor ele estava com aquele olhar dele de “eu te amo” pelo qual eu me apaixono toda vez que vejo. E quando eu olhei ele desviou rápido... É, talvez eu tenha visto errado, só sei que, céus, eu realmente sou gamadinha nesses dois! Resta agora saber o que fazer com esse triângulo amoroso completamente... Imprevisível!

segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O sonho

O dia hoje foi extremamente cansativo. Eu não via a hora de chegar em casa, deitar na minha cama e dormir. Foi exatamente o que eu fiz. Porém, eu não consegui pegar no sono tão rapidamente.
“Ellen!” uma voz conhecida me chamou. Era o Dan.
“Oi Dan! O que faz aqui?”. Quando ele havia chegado que eu não vi? O Dan estava do meu lado. Ele estava usando a roupa do dia em que nos conhecemos. Ele estendeu a mão para mim. Não sei o porquê mais o meu sexto sentido estava me avisando que eu deveria fugir, correr o mais longe que eu pudesse dele, que não era seguro.
Sensação bastante estranha já que quando estou com o Dan é quando estou mais segura. Como demorei de pegar na sua mão, ele mesmo veio até mim e a pegou colocando em cima do seu coração e olhou para mim.
Quando olhei em seus olhos fui tomada por um choque de surpresa! Os olhos dele não estavam gentis como sempre e muito menos azuis. Seus olhos eram agora de um vermelho intenso cor-de-sangue.
Afastei-me dele para poder olhá-lo melhor. Quando olhei ao meu redor eu não estava mais no meu quarto, estava num lugar desconhecido. Tudo parecia estar em chamas. O fogo tão vermelho, tão quente quanto o olhar dele. Olhei-o de novo e vi que não era mais o Dan. Era um estranho. As chamas estavam tão intensas que eu não conseguia mais enxergar direito. O estranho estava entre as chamas e me olhava, tudo o que eu podia reparar era naqueles olhos vermelhos.
As chamas estavam chegando ao local onde eu estava e a dor de ser queimada me atingiu. O estranho que estava parado e imóvel até então, sorriu em deleite pela minha agonia. Desespero me atingiu. Não! Eu não poderia morrer. A dor foi se intensificando e comecei a chorar de desespero. Não posso morrer, não posso morrer. Não!
Levantei assustada e percebi que só tinha sido um sonho. Eu estava bem e segura em minha casa. Mas para o meu desespero eu vi que lágrimas estavam encharcando meus olhos embaçando minha visão. Senti uma pontada em minha mão e vi que tinha uma queimadura nela! Tudo tinha sido real então? Não podia ser. Mas as marcas em minha mão apontavam que o sonho teria sido real. Fiquei muito assustada. Fiz a primeira coisa que veio na minha cabeça. Ligar para o Dan! Eu sei que era bastante tarde, mas ele não necessita dormir e me disse que eu poderia ligar para ele a qualquer hora.
“Alô?” ele falou do outro lado da linha. Não parecia que eu o havia acordado.
“Oi Dan! É a Ellen!” respondi ainda chorando e fungando um pouco.
“Oi minha menina. Algum problema? Você está chorando?” ele tinha um claro tom de preocupação em sua voz. Quando ele perguntou eu comecei a chorar ainda mais no telefone, eu não sei exatamente o porquê. Um sentimento estranho me invadiu, como se algo estivesse errado. A queimadura em minha pele ardeu ainda mais me fazendo gemer.
“Ai!” eu disse no impulso.
“Elle? O que foi Elle? Por favor me responda” ele pediu preocupado. Eu queria responder. Eu queria falar. Mas não consegui achar forças para falar. Minha voz não saia. Comecei a ficar desesperada. Muda? Muda? Não, eu não estava muda.
“Estou indo pra aí” ele disse e desligou. Ótimo porque era isso que eu realmente queria, que ele viesse para cá. Ele podia entrar pela janela, meus pais nem veriam.
Eu continuei chorando bastante mesmo sem saber o motivo. Eu sabia que não estava chorando pelo sonho. Não, não era por ele. Era por algo que eu não sabia o que era. Algo que me machucava. Só em lembrar daqueles olhos vermelhos eu sentia um aperto esquisito no coração. “Algo está errado” minha mente me dizia. Mais perdida do que eu me sentia impossível estar. Olhei para a queimadura em minha mão, não tinha nem como ter sido feita por algo aqui em meu quarto. Só podia ter sido pelo sonho.
O Dan bateu na janela me fazendo pular de susto. Mas quando eu vi fui tomada por uma sensação de alivio. Tudo ficaria bem, eu sei que sim. Ele estava aqui e nada me aconteceria. Fui até a janela e abri deixando-o entrar.
Logo que ele entrou ele me abraçou e eu senti aquela felicidade que eu sempre sinto quando eu o abraço.
“Ei, ei. Está tudo bem agora. Eu estou aqui. Estou aqui” ele disse tentando me acalmar. Então finalmente eu consegui me acalmar e parar de chorar. Ele esperou pacientemente eu terminar todo o meu choro segurou meu rosto entre suas mãos exibindo um sorriso contagiante.
“O que aconteceu?” ele me perguntou enquanto limpava minhas lágrimas.
“Pesadelo” consegui finalmente responder. Fiquei contente em ouvir minha voz de novo, mesmo que ela soando fraca. Ele nos levou até a cama onde sentamos.
“O que aconteceu no pesadelo?” ele perguntou novamente. Então eu contei tudo exatamente como eu lembrava. “Bem” ele começou e então pausou parecendo escolher as palavras certas. “Não foi nenhum sonho premonitório estou certo disso. Tenha certeza que meus olhos não ficam vermelhos” ele disse tentando soar divertido. Ah que ótimo! Ele deve estar me achando a maior idiota agora.
“Não, não estou. Você não é idiota e sabe disso. Sei que deve ser difícil acreditar que tenha sido somente um pesadelo, mas foi só isso mesmo” ele parecia ter certeza do que ele dizia. Mas por que algo dentro de mim dizia que não?
“Veja” eu disse mostrando o meu braço que tinha a queimadura.
“C-como?” ele não terminou deixando as palavras no ar. Um brilho de entendimento passou pelos olhos dele. Agora ele parecia preocupado. Bastante preocupado. Ao invés de dizer algo como eu esperava que ele fizesse, ele simplesmente começou a chorar. Um choro silencioso daqueles em que somente lágrimas descem e nada mais. Ele inclinou sua cabeça em direção a minha queimadura e deixou suas lagrimas caírem em cima dela. Para minha surpresa a queimadura parou de arder na hora em que as lágrimas dele tocaram meu braço.
Quando ele levantou a cabeça de novo não tinha nada no lugar. Nem uma cicatriz sequer!
“Dan... Como?”
“Melhor assim?” ele disse sorrindo.
“Sim. Muito melhor. Você tem poder de cura por suas lágrimas?” perguntei curiosa e extasiada.
“Parece que sim” ele disse dando de ombros. Modesto como sempre.
“Uau Dan! Isso é demais!” falei empolgada.
“Talvez...”
“Como talvez? Não funciona para qualquer coisa?”
“Sim. Posso curar qualquer coisa”
“Uau. Quer dizer que pode ressuscitar pessoas?”
“Não Elle. Eu disse que posso curar. A morte não é como uma doença ou uma ferida. É apenas o inicio de um novo começo” ele disse sorrindo.
“Huh. Mas mesmo assim Dan! Você poderia salvar milhares de pessoas! Isso é demais!”
“Não Elle. Certas coisas mesmo podendo ser mudadas não devem ser mudadas”
“Está dizendo que me deixaria morrer se assim eu tivesse mesmo podendo me salvar?” perguntei rebatendo. Eu estava completamente chateada com ele. Como ele poderia ter um poder tão grande e tão bom e não querer compartilhar com todos? Isso não parecia muito certo de se fazer, ainda mais levando em conta o que ele é.
“Não tem que se preocupar com isso. Isso não irá acontecer. Com você é justamente o contrario, eu tenho que te manter viva o máximo que eu puder e isso não é pouco” ele disse sorrindo.
“Hum...” mesmo assim eu ainda não gostava da idéia dele não compartilhar algo tão precioso.
“Não? Então encare desta forma. Você iria chorar todo dia se assim pudesse salvar a todos? Gostaria de chorar todos os dias?”
“Não” eu respondi. Era algo a se pensar.
“Sim, é algo a se pensar. Mas não é por isso que eu não faço o que me sugeriu. Meus motivos são outros. Acho que não irá entender, mas essa minha colocação é algo que você entenderia, então encare assim”.
“Hum...” respondi meio contrariada.
“Está tarde. Acho melhor você ir dormir. Tem que acordar cedo amanhã. Amanhã a gente se ver minha menina” ele disse se levantando.
“Espera!” eu disse rápido. Ele se virou para mim esperando eu falar. “Não vai assim” eu fui até ele e lhe dei um abraço. Ele parecia surpreso, mas retribuiu logo. Não queria que ficássemos mal. Isso nunca.
Ele me pegou no colo e me levou até minha cama. Me colocou tão delicadamente que parecia que eu era de vidro. Isso era o que eu mais amava no Dan. A forma como ele me tratava. Incrivelmente carinhoso e sempre preocupado com meu bem-estar. Ele puxou o lençol, me enrolou e me deu um beijo na testa.
“Boa noite Dan. Desculpe pelo susto e obrigada por tudo” eu disse feliz.
“Não há de quê. Boa noite minha menina. Tenha bons sonhos” ele roçou sua mão em minha bochecha e foi embora.
Depois eu sonhei que era um lindo pássaro e voava pelos céus.

segunda-feira, 11 de outubro de 2010

A vida muda SIM em 24 horas...

Minha mãe sempre me dizia que as melhores coisas acontecem quando menos esperamos e depois de ontem eu vejo que ela está totalmente certa. Quer dizer, eu desperdicei um ano inteirinho da minha vida esperando por um cara e que no final das contas não valeu a pena. Se bem que, se for pensar pelo lado em que ele é o responsável por eu conhecer os caras que transformaram minha noite ontem, então totalmente valeu à pena esperar um ano por ele.
Ontem foi o festival de aniversário da cidade, todo ano é a mesma coisa. A cidade inteirinha se enche de festas, músicas e fogos de artifício, em cada praça uma música diferente como todos os anos. Mas ontem foi diferente, diferente porque desde o telefonema de fevereiro, eu idealizei aquele dia. Escolhi a dedo os lugares que iria, a roupa que eu usaria e um modo de despistar as minhas amigas.
E lá estava eu, cheia de sonhos, na praça do farol, empoleirada em cima de um murinho. Mal sabia eu que tudo seria diferente do que imaginei.
Acontece que, por mais que imaginemos uma coisa, por mais que planejemos essa coisa nunca acontecerá exatamente como esperamos. Sempre vem algo e "bagunça" com tudo.
Só que, pra a minha sorte, imensa sorte eu devo acrescentar, dessa vez foi um "inesperado" muito bom. Sabe aquele tipo de cara que você olha e pensa "é demais pro meu caminhãozinho, mas se eu pudesse faria duas viagens?". Pois é, então é exatamente assim que o Max é. E sabe aquele cara que você olha e pensa "oh lá em casa, eu faria misérias". Pois é, é assim que o Patrick é.
O Max e o Patrick são melhores amigos e parceiros do Yuri, o cara que me fez perder tempo, no time de futebol da cidade.
Quanto ao Yuri, bem, ele não apareceu, ao nosso encontro quero dizer. Na verdade ele apareceu sim, para uma ruiva do outro lado da rua e ver aquilo para mim foi quase como se eu tivesse caído do muro onde estava sentada e ido direto para o mar. Um verdadeiro banho de água fria. Eu comecei a me sentir mal, como se algo estivesse muito fora do lugar, senti uma louca vontade de sair correndo dali, e foi assim que eu encontrei o Max.
Ele estava parado encostado num carro bem longe, mas exatamente na minha direção com uma garrafa de vidro na mão e a estava bebendo de vez mesmo. Na outra mão dele eu pude notar que estava uma chave e só podia ser do carro. Eu não sei o que ele estava pensando, sério. Quer dizer, como é que ele bebe sabendo que terá que dirigir depois? Louco! Então eu fiz a única coisa que qualquer outra pessoa faria, fui em direção a ele pra saber se eu poderia ajudar, ou melhor, levá-lo até em casa, porque ele certamente não poderia ir sozinho. E pra minha surpresa, quando eu cheguei lá, o Patrick estava mandando ver dentro do carro com uma loira gostosona.
Eu confesso que fiquei sem graça, e teria saído dali o mais rápido possível se Max não tivesse puxado o meu braço.
"Ei, você não é a garota do Yuri?" ele perguntou com a voz rouca pela bebida
"Que Yuri? Não conheço" respondi com raiva e a cena da ruiva beijando ele na minha frente ainda estava entalada na minha garganta.
"Gostei de você" ele respondeu ainda meio grogue e me ofereceu a garrafa "Quer?"
“Não obrigada” falei olhando pra ele enquanto ele bebia ainda mais da garrafa. Eu olhei e a garrafa estava pela metade. “Quem irá dirigir?”
“Eu” ele respondeu dando um passo na minha direção e ele quase cai tropeçando nas próprias pernas. Ele estava tão perto que eu podia sentir todo o cheiro de bebida na minha cara. Não foi uma sensação boa.
“O Rick... Está traçando a minha ex” ele disse rindo histericamente e eu apenas fiquei olhando-o boquiaberta.
“Por que ele faria isso?”
“Pra me provar que...” ele parou rindo ainda mais. “Ela é uma puta” ele continuou rindo e bebendo ainda mais.
“Ok, chega. Me dê a garrafa” falei tomando a garrafa dele e então ele ficou espremendo o corpo dele contra o meu no carro. Quem olhasse de fora provavelmente pensaria que estávamos nos pegando o que eu só posso pensar “quem dera”, mas eu apenas queria pegar a garrafa.
"Me devolve" ele disse enrolando a língua para falar. Ele estava tão bêbado que chegava a ser um pouco patético, mas eu podia compreendê-lo.Talvez EU quisesse estar bêbada naquele momento.
"Não Max" eu respondi antes que ele se jogasse com tudo sobre mim e para não cair eu me agarrei a sua blusa.
"Então eu vou pegar" ele respondeu rindo.
Estava claro que ele não deveria beber mais nada no estado em que ele se encontrava, por isso fiz o que achava ser o melhor: derramei todo o liquido que restava da garrafa no asfalto.
"Droga, olha o que você fez?" ele gritou comigo.
“Olha o que eu fiz” repeti em deboche e eu sabia que ele não iria entender. Se ele nunca entendia quando estava sóbrio, imagine bêbado. “Você vai apenas ficar aqui vendo o Patrick, errr... Com sua ex?” perguntei já que ele estava com a cabeça encostada no vidro vendo tudo. Mas nem era preciso forçar a visão, os ruídos que ela fazia eram bem... Nítidos.
“Eles estão no meu carro, não tenho como ir pra casa” ele disse embolando a língua e rindo.
“Seu melhor amigo está com a sua ex e você ri?” perguntei cética.
“Na verdade ela é minha ex agora, porque quando ele começou a pegar ela ainda era minha namorada” ele falou rindo. Tudo bem que ele estava bêbado, mas mesmo assim!
Eu não sabia o que fazer naquela situação. Talvez ele estivesse rindo de nervoso eu realmente não sei. O Yuri e a ruiva ainda não saíam da minha mente e agora eu encontrei alguém em uma situação pior do que a minha! Decidi que faria alguma coisa para ajudar, qualquer coisa.
"Vem, o que você acha de um pouco de água?" perguntei tentando controlar a minha voz.
"Só se for a que passarinho não bebe" ele ria da própria piada sem graça.
Sorri e puxei ele pela mão, ele se apoiou em mim e me seguiu quase como um garotinho obediente.
"Você é cheirosa" ele sussurrou no meu ouvido com a voz rouca e depois gargalhou. Bêbados. Parei em uma barraquinha e comprei água e um pedaço de torta. Nada melhor do que açúcar, água e café forte para bêbados desengonçados. Quem visse a cena não acreditaria, eu e um Max caindo de bêbado, sentados numa barraquinha e comendo torta como se fossemos velhos amigos.
Amigos... É engraçado pensar nessa palavra vendo a situação em que me encontro. Eu nunca sequer imaginei que algum dia eu teria o corpo do Maxxie tão perto do meu. E voa lá, aqui estamos. Eu não sei se é porque eu estava muito puta com o Yuri e queria dá o troco, ou se era porque eu estava muito carente, a única coisa que eu sei é que eu só tinha um pensamento “qual será a sensação de beijar esses lábios carnudos e vermelhos dele?”.
De certa forma é errado, e eu afinal das contas, nunca teria “naipe” pra pegar um cara como o Maxxie. Ele é lindo demais, gostoso demais, tudo demais que alguém pode imaginar e querer.
“Hei” falei rindo. “Sua boca ta suja aqui” eu estendi minha mão pra alcançar a boca dele no local onde tinha uma sujeirinha. Pra minha surpresa ele segurou a minha mão e levou ela até seus lábios e a beijou.
Eu fiquei sem reação. E devo ter feito alguma expressão engraçada porque ele sorriu.
"Obrigada"ele disse com a voz não tão enrolada."Sabe,você é uma garota legal". E naquele momento eu realmente agradeci ao álcool, se não fosse essa maravilhosa invenção aquela cena não teria acontecido.
"Você está muito bêbado Max" eu respondi rindo.
Ele ficou sério por alguns instantes antes de falar.
"Estou bêbado, mas não idiota. Sabe... Um cara como o Yuri não merece uma garota como você" a voz dele saiu incrivelmente rouca.
"Por quê?" eu perguntei. Mas não houve resposta, ele apenas me beijou. Ou talvez eu tenha beijado ele.
“Isso, hum, foi, hum, inesperado” ele disse rindo. “Eu gosto do inesperado”.
“Se forem todas as vezes como essa, então eu também gosto do inesperado”
“Olha, eu não vou mentir. Provavelmente não lembrarei de nada disso amanhã, mas se você quiser ir comigo pra minha casa mesmo assim, eu ficaria realmente feliz” e eu apenas o fiquei encarando. Oie?! Isso estava mesmo acontecendo COMIGO? Era esse o segredo pra ele ficar comigo? Estar bêbado?
“Eu... Não sei se isso é uma boa ideia, Max. Eu não tenho carro, como irei voltar pra casa depois? Moro longe de você, e já está bastante tarde” falei me esforçando ao máximo pra não dizer logo de cara “sim, lógico que eu quero!” porque eu queria mais do que qualquer outra coisa eu queria me enviar debaixo dos lençóis dele.
“Ué, dorme comigo. Você dorme lá em casa, o Patrick não vai incomodar” ele tentou sorrir em flerte, só que ele estava bêbado demais pra conseguir flertar decentemente.
“Eu não...” ele me interrompeu.
"Vamos, eu prometo que vai se bom, vou cuidar de você" a voz dele estava ainda rouca e seu rosto a milímetros do meu.
"Acho que será o contrario" tentei amenizar a tensão. Era loucura, eu sei. Mas o que eu perderia? Aquilo era um evento solto no espaço, um acontecimento em mil. Minhas amigas vivem dizendo que eu não aproveito as minhas oportunidades, dessa vez eu aproveitaria.
Então eu apenas o deixei me guiar de volta para o carro e que pra a minha surpresa, só tinha o Patrick dentro dele. Ele estava deitado no banco de trás segurando uma latinha de Skol na mão e sorria meio apatetado.
“Hei, acorda” a Max o chamou com sua voz grogue.
“Tô acordado man, to acordado” e então ele abriu os olhos e quando viu que eu estava ao lado do Max seus olhos arregalaram. Eu sorri sem graça e acenei. Eu conhecia bem aquela expressão. Se eu tivesse no lugar dele é o que eu pensaria também “o que ELA faz com ELE?”, eu sei que simplesmente não faz sentido. “Por que a namorada do Yuri ta segurando a chave do seu carro, man?”
“Porque ela irá dirigir. Ela disse que eu to bêbado cara, então é mais seguro deixar isso com ela” o Max respondeu ainda rindo feito um idiota e tudo bem ele rir assim, só o fazia parecer ainda mais bonito.
"Tudo bem então namorada do Yuri, nos leve para onde quiser" Patrick disse com um ar sonhador. Olhei para as chaves em minhas mãos e respirei fundo. É só girar, pisar do acelerador, passar as marchas, soltar o freio devagar... Tudo bem, eu iria conseguir. Dirigir não é o meu forte, e para falar a verdade eu ainda nem tinha a carteira de motorista, estava só esperando o resultado dos testes.
Mas o que eu ia fazer? Deixar aqueles dois bêbados com um carro na mão realmente não me parecia à melhor coisa.
"Você é até que é bem bonita" o Patrick falou sem nem olhar para mim, concentrado na latinha de cerveja que ele estava girando. É aquele era um dia fora do comum, sem dúvida. Sentir minhas bochechas corarem com o comentário.
"Você deixou ela vermelha Rick" o Max falou rindo. Afundei um pouco no banco.
"Qual é mesmo o seu nome?" Patrick me perguntou.
Eu não sei por que eu esperava que eles soubessem meu nome. Lógico que ele não iria saber me surpreendia até que lembrassem da minha cara.
“Larissa” respondi enquanto tentava não me distrair da direção.
“Larissa... O mesmo nome da minha irmã” o Max disse rindo. “Só que você é mais gostosa sabe” ele riu ainda mais.
“Hum, obrigada” falei sem jeito. Isso estava mesmo acontecendo? O Patrick dizendo que EU sou BONITA e o MAXXIE me chamando de GOSTOSA? Eu tenho quase certeza de que isso é um sonho. Só sei que não é, porque se fosse, eu já estaria com a língua na garganta de um deles dois.
“Você tem namorado, namorada do Yuri?” o Max perguntou claramente sem pensar no que estava perguntando. Eu ri. Ainda mais porque ele estava com uma cara fofa de confuso.
"Não Max" resolvi responder por fim e ele sorriu.
Dei partida no carro e cruzei a avenida principal tentando driblar o aglomerado de pessoas atravessando fora das faixas.
"E o Yuri?" Patrick perguntou com uma cara de confuso ainda olhando para a cerveja.
"Não faço a menor idéia" respondi enquanto virava a esquerda.
"Melhor para nós não é Patrick?" Max perguntou com uma cara um tanto maliciosa.
"Com certeza. Man, a cerveja acabou"ouvi a voz de Patrick no fundo. E naquele momento me perguntei se eu tinha usado algum tipo de alucinógeno, porque com certeza eu deveria estar em algum tipo de dimensão paralela. Eu num carro com o Patrick e o Max, recebendo flertes de ambos? Santa festa de aniversário da cidade.
"Onde eu devo deixar vocês?" perguntei depois de conseguir me afastar do centro da festa.
“Não sei se você sabe, mas nós dividimos um apê perto do centro da cidade. Sabe aquela hiper loja de brinquedos? Então, moramos ali em frente” o Patrick respondeu e ia me guiando até chegarmos no apartamento deles onde por fim eu pude desligar o carro.
“Chegamos” falei e não houve resposta. Quando eu olhei para o Max ele estava brincando com sua corrente feito uma criancinha feliz. Eu sorri. Céus, até bêbado ele consegue parecer um deus. Seus cabelos estavam completamente bagunçados o que deu um ar legal no visual dele. Ele estava vestindo uma daquelas camisas brancas de botão e ela estava meio aberta e eu podia ver seu peitoral malhado e sem nenhum pêlo. Havia tanta pele exposta nele que eu não consegui evitar ficar olhando e sonhando um pouquinho com jogar meu corpo em cima dele e começar a beijá-lo, depois beijar seu pescoço e...
“Como você vai pra casa?” o Patrick falou levantando e olhando bem pra mim. Eu apenas desviei o olhar do dele pra responder.
“O Maxxie disse que eu posso dormir aqui” falei sem graça. Eu não sabia que eles moravam juntos. Será que o Patrick veria algum problema nisso? Porque ao contrario do Max, o Patrick estava sóbrio.
“Até mesmo bêbado ele tem idéias brilhantes! Não é a toa que ele é o capitão do time...” o Patrick falou olhando para o Max e sorriu. “Vamos entrar então” ele disse saindo do carro pra abrir a porta pro Max e então carregá-lo escadas acima.
Subimos até o quinto andar, que era onde os dois moravam. Esperei pacientemente enquanto Max tentava encontrar as chaves de casa em algum dos bolsos de sua bermuda. Por fim, o Patrick o ajudou e entramos. O apartamento era realmente como eu esperava, bagunçado. Havia peças de roupa espalhadas pelo sofá, em cima da mesa, algumas pelo chão e havia alguns papeis jogados em um canto também. Cds espalhados, revistas, um violão encostado em uma poltrona, uma prancha de surfe em outro canto e até um play station. Notei que eles tinham um bar também, perto da mesa de jantar.
O apartamento era pequeno, duas suítes, uma sala com cozinha americana e só. Mas tirando a bagunça evidente, era até agradável, com fotos deles e de um monte de gente que eu não conhecia espalhadas numa estante.
Me senti um tanto deslocada e agora que eu já estava ali não sabia bem o que fazer ou como me comportar.
"Que tal um café forte para você Max?" o Patrick perguntou aliviando a tensão no ar e carregou o amigo com a minha ajuda até a cozinha.
"Eu posso fazer o café se você preferir Patrick" me ofereci.
"Ok, linda. Até porque o meu café é uma merda, mas pode me chamar de Rick, é como todos me chamam" eu sorri.
“Certo, Rick” sorri em flerte pra ele. Já que eles dois estão dando em cima de mim, eu irei dar também. Não vou ficar mais me segurando não. Eu quero muito isso então que se foda o Yuri. Aquele imbecil com aquela ruiva sebosa! Os amiguinhos dele na verdade são bem melhores que ele e eu vou pegar pelo ao menos um deles! O Max ta mais fácil porque ele está bêbado. Até me beijar ele já beijou, é só questão de tempo até conseguirmos ir além, só que... Como eu posso me livrar do Rick?
“Então você faz o café, enquanto eu tomo um banho. Certo? O Max vai ficar aqui no sofá mesmo, ele está inofensivo hoje” ele sorriu me olhando com malicia.
“E você?” sorri maliciosa também. “Inofensivo?” e ele apenas me olhou surpreso e saiu rindo balançando a cabeça. Será que ele não tinha levado meus flertes a sério?
Vasculhei os armários da cozinha procurando o pó de café enquanto pensava o quão sortuda eu era. Vez ou outra Max falava algo sem sentido do sofá me distraindo. Eu estava tão avoada que nem percebi quando coloquei a mão na gaveta errada e acabei me cortando com uma faca de serra "Droga" eu gritei de impulso. O corte foi superficial na palma da minha mão, mas estava ardendo muito.
Max se levantou assustado e ao olhar para o sangue na minha mão, ele gritou "Rick, vem cá. Ela se cortou"
"Não é nada, Max... Eu vou dar um jeito nisso..." eu tentei acalmar ele, mas fui interrompida por uma visão do paraíso.
Patrick veio correndo para sala com uma cara assustada. Perdi o fôlego ao examinar a cena. Patrick com os cabelos ainda molhados do banho pingando água pelo seu peitoral e ombros trajando apenas uma toalha preta.
“Não foi nada gente, é sério. Eu estou bem. Fui apenas descuidada, estou Ok. Não há motivos pra se preocupar. Rick... Você ainda tem sabão na sua orelha” eu disse rindo. Ele apenas ignorou o que eu disse e pegou minha mão a examinando.
“É, você deu sorte. Não foi profundo. Max, faça um curativo nela. Acha que consegue, man?” ele perguntou para o Max que apenas acenou com a cabeça e veio segurando uma caixa aparentemente cheia desse tipo de coisa e começou a fazer um curativo na minha mão. “Vou terminar meu banho” o Patrick nos deu as costas infelizmentemente acabando com minha visão perfeita. Só que, a visão traseira dele era tão agradável quanto a frontal. As costas dele são realmente bem definidas e seus ombros são largos e fortes.
“Prontinho, senhorita. Cuidado da próxima vez” ele falou me encarando sério.
“Irei. Obrigada Maxxie” sorri pra ele e então fui me levantando pra terminar de fazer o café.
“Não...” ele disse me puxando e sem querer eu acabei caindo sentada no colo dele.
"Max... O café... Fazer..." eu tentei juntar as palavras em alguma frase com nexo, mas não obtive êxito.
"Fica aqui" a voz rouca de Max fez um arrepio percorrer meu corpo. Eu queria aquilo, queria ficar ali, mas não achava seguro estar no colo do Max ali na sala de estar deles.
"Max... Eu..." tentei novamente procurar alguma coisa para falar, mas ele aproximou o rosto do meu e ficamos algum tempo ali.
Os braços dele envolviam minha cintura não me deixando escapar, enquanto ainda olhava direto nos meus olhos. Os sinais da bebedeira estavam tão bem disfarçados que eu nem lembrei o quão bêbado ele estava. Eu estava tão perto que podia jurar que ele ouvia meu coração frenético num verdadeiro surto de adrenalina.
Com a mão direita ele afastou meu cabelo e me deu um beijo casto no pescoço. Eu poderia dizer que tentei resistir, mas seria uma mentira deslavada. Eu realmente estava adorando aquilo, toda a sensação.
Ele deu mais um, e mais um, e mais alguns vários beijos no meu pescoço, indo até o lóbulo da minha orelha e voltando para o maxilar. Minhas mãos já estavam agarradas em seu cabelo quando finalmente ele me beijou.
"Opa" ouvi uma voz distante e aos poucos Max me soltou. Droga, era o Patrick.
“Interrompo?” ele perguntou com uma expressão séria, mas sua voz era de quem SABIA que estava sim interrompendo. Ele deve saber que eu estava tirando uma lasquinha do estado do Maxxie o que vendo assim é até errado, mas poxa, eu não poderia deixar passar. Eu sei que ele não ficaria comigo quando estivesse sóbrio.
“Não” eu disse me levantando do colo do Max.
“Sim” o Max disse me puxando de volta para o colo dele. Algo que, me surpreendeu totalmente. Quando eu olhei para o Patrick ele ainda estava de toalha. Gostoso, gostoso demais. “êpa, Larissa, vai com calma, você não pode ficar com o Max querendo o Patrick também” eu pensei com meus botões.
“Max, você deve estar fedendo. Por que não vai tomar um banho hein? Depois você volta e fica fazendo companhia pra Larissa” o Patrick falou numa voz tão mandona, calma e confiante que nem eu ousaria desobedecer. Eu saí devagar do colo do Maxxie e fiquei olhando ele deixar a sala.
“Então... Finalmente sós” o Patrick falou me olhando com malicia.
Eu afundei no banquinho da cozinha. De verdade, as minhas pernas fraquejaram e eu literalmente caí para traz. Aquilo estava mesmo caindo acontecendo? Ri de nervoso.
"Então Larissa..." o Patrick foi se aproximando cada vez mais enquanto eu inconscientemente me encolhia no banquinho. "Gostou do apartamento?"
Respirei aliviada, era apenas uma conversa simpática, nada com segundas intenções, sorri.
"Claro, o apartamento é bem..." não pude evitar mais um olhar rápido para ele " gostoso... Hum... Quero dizer... Bastante agradável, embora vocês tenham feito uma bagunça e tanto aqui não é?" sorri sem graça. Ele riu.
"Apartamento de homem neh? Sempre dizem que nós somos bagunceiros, talvez seja verdade" ele deu de ombros.
"Acho que sim" Eu ri.
Ele se aproximou um pouco mais e sentou ao meu lado em outro banquinho.
"Mas você ainda não conheceu o apartamento todo, faltam os quartos " ele sorriu sacana. Ops. Enguli em seco.
"Acho que eu vou terminar de fazer o café" falei me levantando do banco.
Oh meu deus! Por que ele está fazendo isso comigo? Por que ele não me deixa em paz? O Maxxie já deixou claro que quer ficar comigo né? Será que não basta pra ele pegar a namorada do Maxxie ele ainda quer também a “paquera” dele? Céus, esse cara não presta.
“O Maxxie deve estar totalmente baquiado. A essa altura já desmaiou na cama” ele disse rindo.
“Você não o mandou tomar banho? Ele pode ter se machucado então?” perguntei preocupada.
“Eu sempre mando. Ele sempre vai pra cama e desmaia lá. Não é nada demais. Amanhã ele estará novinho em folha” ele deu de ombros novamente.
“Errr... Certo e onde eu irei dormir? Porque bem, ele disse que eu poderia dormir aqui. Só me arranjar uns lençóis que eu me ajeito no sofá” falei rápido demais e nervosa. Eu podia sentir minhas pernas bambas e eu tremer de leve.
“Dormir no sofá? Eu... Tenho uma sugestão melhor” ele sorriu malicioso e veio caminhando na minha direção e eu então decidi “que se foda” eu não iria me prender mais por causa de ninguém.
O Patrick chegou por trás e jogou todo o meu cabelo para um lado tirando-o da frente do meu pescoço e começou a dar vários beijos de leve enquanto suas mãos estavam na minha cintura me segurando fazendo-me sentir seu estado alterado. Eu sorri e então girei ficando de frente pra ele.
“Tem certeza disso?” perguntei meio insegura.
“Tenho. Nunca entendi na verdade o porque você ficava com o Yuri, você é demais pra ele. Só se você sofre de baixa auto-estima” e então ele me beijou. E ao contrario do Maxxie que malmente conseguia se sustentar em pé o Patrick conseguia e muito bem. Ele pegou com as duas mãos na minha bunda e me levantou de modo que eu cruzasse minhas pernas na sua cintura e assim acabou me levando para o seu quarto.
O quarto de Rick era mais organizado do que a sala, pude notar. E também quase não tinha mobília, apenas um armário, uma cama gigantesca e uma mesinha com computador. Ele me colocou com um certo cuidado sobre a cama, mas não parou de beijar um só segundo.
"Você é tão linda" ele murmurou entre um beijo e outro. Eu já nem entendia mais o que estava fazendo, apenas que era bom, muito bom.
Ele se ajeitou na cabeceira da cama e me puxou para o seu colo. O beijo dele era quente, urgente, avassalador. E logo ele intensificou seu abraço na minha cintura me puxando com cada vez mais força para perto dele. Minhas mãos passeavam pelo peitoral dele enquanto as deles já puxavam minha camiseta.
"Sabe... Eu aqui só de toalha e você toda vestida, estou em desvantagem" ele sorriu sacana. Eu ri com vontade, mas ambos paramos quando ouvimos um estalido da porta.
"Ah... Olha vocês aqui" Max disse com naturalidade "Começaram a festa sem mim". Empalideci.
“Mas o que diabos...? Max, meu deus! Você não deveria estar apagado na sua cama?” o Patrick falou chateado. Ele claramente não gostou da interrupção.
“E você não deveria ser capaz de se conter mantendo suas mãos e todo o resto LONGE da mulher que eu to pegando?” o Maxxie também estava claramente chateado apesar de meio grogue e bêbado.
“Hei, calminha os dois... Tem pra todo mundo” eu falei e me arrependi assim que as pronunciei. O Patrick me olhou surpreso e o Max começou a rir novamente. “Não... Não é isso que vocês estão pensando... Eu...” e eu não consegui terminar meu raciocínio porque o Patrick que estava sentado na cama virou meu rosto pra ele e me beijou. Antes que eu me desse conta do que estava rolando eu senti alguém, no caso o Max, beijando minhas batatas da perna, depois meu joelho, depois minhas coxas, até chegar na minha virilha. A essa altura eu claramente já estava “animada”.
Os beijos do Rick continuavam mais urgentes e então ele finalmente tirou minha camiseta e beijava meu pescoço enquanto suas mãos estavam nos meus seios e enquanto o Maxxie... Oh meu deus, o Maxxie! Enquanto o Maxxie estava com a cabeça entre minhas pernas, com a boca nas minhas partes intimas me levando a loucura. Céus, ele era bom nisso... Muito, muito bom!
Se tivessem me contado que eu estaria no tão esperado dia do aniversário da cidade na cama com o Rick e o Maxxie eu com certeza teria tido que a pessoa era uma maluca completa. E veja como a vida é engraçada, aquilo estava mesmo acontecendo. Parei um pouco para pensar, idealizei durante quase um ano passar aquela noite vendo os fogos de artifício na praça do farol com um completo idiota, o Yuri.
A realidade às vezes pode ser tão melhor que o sonho. O meu corpo estava realmente em chamas. E quando eu percebi estava apertada entre Max, ainda em minhas pernas e o Rick beijando minhas costas descendo até a base do meu short e abrindo o fecho do meu sutiã. Parei de pensar, não conseguiria mais. Meu coração disparou, era loucura tudo aquilo, mais uma loucura imensamente deliciosa.
Eu deslizei meus dedos entre os cabelos loiros e sedosos do Max e o puxei pra cima. Ele me deu seu belo sorriso e veio me beijando e subindo aos poucos por todo o meu corpo enquanto o Rick olhava de forma estranha. O Max então se afastou do meu corpo e ficou em pé exatamente na minha frente e eu olhei para cima, olhei pra ele e sorri maliciosa e comecei a beijar sua barriga e fui descendo aos poucos até chegar onde ele certamente queria que minha boca estivesse. Enquanto eu fazia isso o Rick levantou e foi até o banheiro e voltou de lá com algumas camisinhas na mão.
“Hei man, usa isso ao menos” ele jogou uma delas para o Max que apenas fez uma carranca.
“Não gosto de fazer isso com isso” ele olhou pra mim e depois para a camisinha.
“Problema seu, põe logo essa porra” o Rick falou mal-humorado e me puxou pra ele enquanto o Maxxie abria o pacote da camisinha.
Os lábios do Rick não eram tão carnudos quanto os do Max, mas eram sem dúvidas tão gostosos quanto e talvez até mais habilidosos. A essa altura eu já estava completamente despida e o Rick continuava com a sua toalha envolta na cintura. Antes dele jogar seu corpo contra o meu eu retirei a toalha e ele me beijou ainda mais empolgado do que antes.
Com ele em cima de mim ele totalmente excluía o Maxxie de participar de alguma coisa. Pelo visto ele não estava curtindo nenhum pouco ter que “dividir”. Isso era meio engraçado se você parar pra pensar.
Maxxie também parecia ter percebido isso, assim começou a beijar as minhas costas e acariciar as minhas coxas tentando me virar para ele. Tive que parar um pouco para pegar fôlego e lembrar-me de respirar. Max me puxou para ele e me virou de lado na cama. Então estava eu, deitada entre o Rick e o Maxxie enquanto ambos me beijavam, a nuca e os lábios. Uma loucura!

Enquanto Maxxie era mais delicado e cuidadoso como se quisesse saborear o momento, Rick atrás de mim era um tanto, digamos que assim, urgente e selvagem. Me esforcei para tirar o resto das roupas de Maxxie e logo estávamos os três nus.
E a partir daí você certamente pode concluir o resto. Eu prefiro não terminar de narrar tudo o que rolou com exatos detalhes, porque esse arquivo pode cair em mãos erradas, como por exemplo, o Yuri. E yeah, agora que eu parei pra pensar nele... Bem, foi a melhor noite de toda a minha vida essa com 2 dos melhores amigos dele. Depois que “acabamos” tudo o que eu conseguia pensar era “e se o Yuri ficasse sabendo? Eu queria que ele soubesse” e nem foi preciso muito esforço pra esse desejo se realizar, porque acabamos adormecendo os três, eu, o Max e o Rick na mesma cama e juntos. Adivinha só quem foi que nos acordou? Exatamente!
Nós três acordamos com os berros do Yuri há exatamente seis horas da manhã dizendo “O que porra está acontecendo aqui?”.
Acordei zonza e extremamente cansada naquela manhã. E tal foi minha surpresa quando notei que quem estava gritando era o Yuri. As minhas pernas estavam enroscadas com as do Maxxie e minhas mãos entrelaçadas com as do Rick. Uma parte de mim estava realmente gostando de tudo aquilo, inclusive do escândalo do Yuri. Não era realmente o correto, mas depois de um ano de promessas e traições do Yuri, aquela cena caíra como uma luva. Outra parte de mim estava realmente desconcertada ao ser pega com dois garotos numa cama, então eu puxei o lençol para perto do meu corpo.
O Rick logo acordou também e tentou acalmar o Yuri ao mesmo tempo que tentava me proteger, me cobrindo com o próprio corpo
"Ei man, pára com isso. Não grita na minha casa"o Rick disse.
No meio da confusão tentei acordar o Maxxie, o que só piorou a situação, já que ele acordara com uma puta ressaca e soltou logo a frase "Me deixa dormir linda, você me cansou muito essa noite".
Afundei um pouco mais nos lençóis e a essa altura já estava corada, mas percebi que eu não era a única vermelha. O Yuri também estava, mas a coloração dele era visivelmente por raiva. Esse pensamento fez brotar em meus lábios um sorriso.
“Ela te cansou?! Que porra é que você quer dizer com isso Maximilian?” o Yuri falou aos berros e então o Maxxie olhou pra ele e arregalou os olhos assim que viu quem era e apenas soltou um “ê porra” o que me fez rir. Todos os três apenas decidiram me ignorar o que eu agradeci.
“Yuri cara, você nos disse que ela não era sua namorada, então por que o drama? Você até nos disse que achava que ela pensava que estava namorando com você e que você não queria isso, que você queria ser livre e noite passada eu até te deixei ficar com a Lili, minha prima velho. Você pega uma ruiva gostosa por minha causa e ainda vem me acordar as seis da manhã aos berros?” o Rick falou calmamente. Eu apenas o fiquei encarando sem saber o que pensar ou dizer. A ruiva tinha sido culpa dele? Não, claro que não, ele apenas ajudou o Yuri a fazer o que ele queria, a culpa é do Yuri.
“Cara, não me culpe se você é idiota, Ok? Agora vai se fuder e me deixa dormir” o Max falou fazendo uma careta ainda grogue. Engraçado foi que ele tinha sentado pra falar e quando ele voltou a deitar ele deitou a cabeça entre meus seios e sorriu entrelaçando a mão dele com a minha.
“Vai se fuder? Vai se fuder você! Seu filho da puta! Saia AGORA de cima da MINHA garota” o Yuri falou sendo altamente dramático e possessivo e eu altamente gostei. Gostei e muito. Melhor ainda do que isso foi a resposta do Maxxie “perdeu playboy, ela ta comigo agora”.
Eu apenas olhei para o Rick pedindo uma ajuda e ele olhou enfezado para o Maxxie.
“Ela ta com você? Ela ta com a gente, ela estava comigo ontem e você interrompeu, eu fiz a bondade de te deixar tirar uma casquinha!” o Rick disse mal-humorado.
“Não Rick, ela ta comigo. Agora vocês dois me deixem dormir, eu to com sono, to tão cansado... Você é realmente quente baby, gostei” ele piscou pra mim e afundou a cabeça entre meu corpo e os travesseiros.
Eu pisquei algumas vezes antes de captar tudo aquilo. Os três estavam praticamente brigando por mim? Aquilo era demais para a minha pobre cabeça.
"Meninos me dêem licença" eu disse antes de caminhar até o banheiro e parei no meio do caminho para recolher a minha camiseta e entrei no banheiro.
"Pode usar essa toalha vermelha, Lari" Rick gritou.
Eu ainda podia ouvir os três discutindo no quarto, mas resolvi me desligar um pouco em um banho relaxante.
"Vocês não podiam ter feito isso com ela e comigo" ouvi Yuri gritar.
"Não fizemos nada com você e o que fizemos com ela posso garantir que ela gostou" ouvi o Maxxie responder de volta.
Ri sozinha no banho enquanto deixava a água cair no meu corpo e me lembrava dos momentos na noite anterior.
Quando finalmente saiu o quarto estava vazio. Fui até a sala e percebi que só estavam Maxxie e Rick. Aparentemente o Yuri tinha ido embora.
"Acho que precisamos conversar" o Rick disse um pouco sério, mas ainda com um sorriso enviesado no canto dos lábios.
“Na verdade não” respondi pegando minhas roupas e me vestindo. Eu não sei o que eles viam que nós tínhamos que conversar, não sei se eles achavam que me deviam algo ou algo assim, mas eu sinceramente.
“Como?” o Maxxie agora não estava mais com uma cara de sono. Na verdade ele parecia muito bem acordado.
“É isso aí, Maxxie. Olha, a noite passado foi muito boa, muito mesmo. Agradeço de verdade, me diverti bastante, vocês foram incríveis. Mas...” antes que eu pudesse terminar o Rick me olhou com uma cara de confusão.
“Você ta dando um fora na gente?” ele indicou ele e o Max que agora estava com a mesma expressão do Rick.
“Hei! Ninguém nunca me deu um fora antes!” o Max falou em protesto e com uma careta. Ele parecia extremamente confuso e chateado. Imagino que ninguém tenha dado um fora nele. Quem seria LOUCA de desperdiçar um pedaço de mau caminho desses?
“Nem em mim, man. Nem em mim” o Rick disse olhando pra o Maxxie. Eu não respondi nada apenas continuei me arrumando. Fui até o espelho que ficava na porta do guarda-roupas dele pra passar a minha maquiagem e pude ver através do espelhos que os dois estavam tendo algum tipo de conversa silenciosa de modo que eu não pudesse ouvir. Quando eu terminei apenas olhei pra eles. O Maxxie estava sentado na cama me olhando enquanto o Rick estava encostado na parede com os braços cruzados também me olhando.
“Hum, certo. Isso ta estranho. Eu não sei o que vai acontecer daqui pra frente porque eu não sou vidente, mas será que poderíamos fingir que isso nunca aconteceu?” perguntei com uma segurança que nunca imaginei que eu fosse capaz de ter. Era esse o efeito de dormir com caras lindos e gostosos desse jeito? Eu me sentia poderosa. Sem dúvidas! Me sentia como se... Eu pudesse fazer qualquer coisa que eu quisesse e pudesse ter qualquer cara também.
Os dois apenas continuaram a me olhar como se eu estivesse louca por dispensá-los e talvez eu estivesse mesmo. Apesar de que eu não estava exatamente os dispensando.
“Eu só não entendi uma coisa... Por que motivos você dispensaria caras como eu e o Maxxie? Tudo bem escolher entre um, mas por que dispensar os dois?” o Rick falou engrossando a voz de certa forma e eu ri. O sol estava entrando pela janela e batendo no cabelo negro dele dando uma luz até legal e fazendo com que seus olhos ficassem ainda mais azuis.
“Aiai Rick” eu disse sorrindo pra ele. Eu fui até ele e lhe dei um selinho demorado.
“Nem tudo tem a vê com vocês, sabe? Beleza é importante, mas não é tudo. Existe algo chamado... Sentimentos” eu falei suspirando. Eu não fazia ideia de onde essas palavras estavam vindo, elas apenas vinham. E talvez, muito provavelmente, eu iria me amaldiçoar mais tarde por estar sendo tão estúpida, porem por hora, eu sentia que era o melhor a fazer.
“Eu posso conquistar você” o Maxxie falou com a voz mais firme que eu já o vi usar. Acho que não preciso acrescentar que isso o deixou ainda mais sexy. Eu olhei pra ele e ri. Não dele é lógico e sim da situação.
“Você pode tentar, Maxxie. Você pode tentar” falei de uma forma nenhum pouco encorajadora.
“Eu não sou de correr atrás de mulher nenhuma, nunca precisei e nem irei” o Rick falou em deboche me olhando com certo rancor.
“Bom pra você, Patrick. Não irá perder seu tempo. Eu não me apaixono fácil” dei de ombros. Olhei mais uma vez para o Maxxie e meu deus, ele é o cara mais lindo que eu já vi na minha vida. Seu corpo parece que foi esculpido por anjos, perfeito. E melhor ainda, se encaixa perfeitamente no meu. É, talvez melhores coisas virão.
“Bom pra mim, não quero competição” o Maxxie o olhou sério e depois virou pra mim. “Eu sei que estava bêbado, estou com uma puta ressaca e dor de cabeça, ainda estou meio grogue e idiota, mas... O Yuri não merece você. Sabe, você é mais do que ele pode lidar” ele disse dando um beijo na minha mão.
“Talvez” dei de ombros e fui embora sem olhar pra trás.


By: Me & Bruna Lapa =D

sábado, 25 de setembro de 2010

Seduzida

O mundo no qual eu vivo é bem diferente daquele que você provavelmente conhece. Eles se parecem em muitos aspectos, porém com a pequena diferença que com os meus olhos eu posso ver muito além da superfície. Essa habilidade de ver mais além foi adquirida através de alguma mutação genética ocorrida anos atrás com algum ancestral meu e desde então foi passada de geração em geração. Eu pertenço à família principal daqueles que caçam os seres das trevas mais terríveis que alguém pode enfrentar: os caçadores de alma.
Eles são seres que andam por aí disfarçados de humanos, quanto mais belos forem fisicamente mais poderosos eles são. Quanto mais atraentes fisicamente mais almas eles terão consumido para si, os tornando extremamente perigosos. Como eu, Alexa Gundemaro, sou a mais velha de uma família com quatro irmãos e pertenço ao ramo principal cabia a mim a missão mais difícil de todas: encontrar o líder dos caçadores de alma.
Feliz ou infelizmente ele também estava a minha procura tornando assim mais “fácil” para nós dois. A minha vida toda eu havia sido preparada para aquele dia, o dia em que eu enfrentaria o líder deles e o derrotaria. A minha vida toda eu fui preparada para qualquer adversidade que pudesse surgir em uma luta com ele, pois eu sabia que seria a coisa mais difícil que eu poderia fazer em minha vida, só não podia imaginar o quão difícil seria.
Eu fui preparada para qualquer coisa, menos para me apaixonar por ele. Preciso dizer que ele era exatamente o conceito de perfeição seja lá qual ele for? Suas feições eram tão leves mais ao mesmo tempo fortes e másculas que me paralisaram ao primeiro olhar. Eu falhei na primeira lição que aprendi: não hesitar. Fui pega de surpresa pela extensão de sua beleza. Seus cabelos dourados reluziam no sol juntamente com seus olhos cor de esmeralda que o tornavam ainda mais divino, ou diabólico.
Um segundo de hesitação foi o suficiente para ele pular em cima de mim e me forçar a olhar em seus olhos para assim sugar minha alma. Eu fechei meus olhos o mais rápido que eu pude e ele sussurrou em meu ouvido com sua voz melodiosa “abra seus olhos, olhe para mim”. Palavras tão bem conhecidas por nós, palavras clichês usadas por todos eles para seduzirem suas vítimas. Mas apesar de já ter as ouvido inúmeras vezes, nunca elas me pareceram mais tentadoras. “Olhe-me, Alexa. Não lhe farei mal eu juro. Abra seus olhos” ouvi as palavras com a mesma voz melodiosa do Mordred. Palavras essas que não era costume deles utilizarem e que me pegaram de guarda baixa fazendo-me abrir meus olhos e me deparar com aquela beleza estonteante do Mordred que me olhava não com ódio, mas com desejo. Não aquele desejo sempre visto nos olhos de um deles, mas um novo desejo. Um desejo por mim e não pela minha alma. Antes que eu fosse capaz de pensar seus lábios já estavam nos meus.

Mesmo tardiamente desejos ainda podem ser realizados...

O Júnior, que é quem eu tenho amado desde que me entendo por gente tirando os dois últimos anos, e a Bia, uma das minhas melhores amigas, terminaram o namoro o namoro de dois anos e isso me balançou. Não era pra eu ter balançado, mas balançou. Vê-lo chorar em meus braços, em meu ombro mexeu muito comigo. Mais do que eu jamais imaginaria. É estranho pensar que ainda posso sentir algo por ele sendo que já amo outros 3! Acho que 4 é um pouquinho demais não é mesmo? Estar enrolada com um garoto já não é fácil, imagine com 4! Felizmente acho que o Júnior não percebeu nada e muito menos percebeu meu desejo por ele.
Minha situação amorosa não está nada fácil. Primeiro o Mauro, meu ex-namorado, me odeia por eu ter namorado outro enquanto ele estava no intercambio. Segundo o Dan, (meu melhor amigo, quer dizer, eu acho que ele ainda é, nem sei mais) que voltou diferente comigo e eu pirei por ele ter quebrado sua promessa. E por ultimo e até mais tenso, o Erick! O Erick e eu terminamos sinceramente não sei por quê! Mas... Se ele quis assim né, o que eu posso fazer? Nada! Acrescente um “infelizmente” muito grande nessa frase aí.
Eu estava aqui deitada na minha cama e pensando na minha vida, o que fazer com ela na verdade, quando o Júnior me ligou e creio eu que ele estivesse chorando. Ele só me disse “posso passar ai na sua casa agora?” e apesar de serem oito horas da noite e meus pais já estarem dormindo, eu disse que seria melhor se eu saísse com ele e ele só disse um “ok, passo aí daqui a 20 minutos” e ele realmente passou! Esse lance dele ser mais velho e ter uma moto facilitou e muito se quer saber!
Eu sei que foi loucura sair com ele tão tarde de casa e meus pais ainda dormindo, sem avisar e podendo ser pega em flagrante e caso isso acontecesse seria castigo pelo resto da minha vida, mas deu pra ver que era uma situação de emergência e que ele precisava mesmo de mim! Então eu me arrumei rápido e aos exatos 20 minutos ele realmente estava aqui na porta de casa e eu felizmente consegui sair de fininho sem acordar ninguém! Antes de eu subir na moto ele tirou o capacete e segurou minhas mãos, o que foi muito estranho porque ele ficou me encarando com os olhos meio lacrimosos!
“Obrigado tá? Obrigado mesmo” ele disse depois de ter ficado um tempo me encarando.
“Pelo o que? Não fiz nada” e sinceramente apesar de ter feito eu não considerava ter feito, tirando a parte dos riscos de ficar de castigo.
“Sim, você fez. Sei que seus pais dormem cedo” ele soltou minhas mãos e deu um suspiro antes de continuar. “Sei que saiu fugida e que não será bom se eles te pegarem aqui”
“Exatamente por isso que você me levará pra algum lugar bem longe daqui e me trará antes das dez, certo?” falei sorrindo.
“Sim senhora” ele bateu continência e me passou o capacete. Então nós dois subimos na moto e ele me levou pra aquela pracinha da sapetinga. Felizmente não tinha muita gente na rua, só uns garotos jogando vôlei num quadra de areia que tinha ali perto e outras passando rapidamente. Ele escolheu um banquinho em baixo de uma arvore e sentamos. Eu não disse nada, achei melhor esperar até ele ficar pronto pra falar. O que não demorou muito.
“Eu e a Bia terminamos” ele disse com uma voz muito, muito fria e impessoal.
“Eu sei, ela me disse hoje de tarde” olhei pra baixo sem saber ao certo pra onde olhar e o que falar.
“Imaginei que sim. Ela te falou o motivo?” ele desviou o olhar do lago e olhou pra mim.
“Mais ou menos...” O que não foi mentira! Ela não me contou exatamente tudo, só que ele tinha traído ela e que ela não confiava mais nele e que ela acabou traindo ele também e nem daria pra continuar a namorar assim.
“Deixa eu ver: ela te disse que eu não sou confiável e que eu a traí, certo?” ele riu sem humor.
“Em partes. Ela adicionou que te traiu também” falei ainda constrangida pela situação. Nunca em toda minha vida eu poderia me imaginar em situação mais embaraçosa! Poxa vida, eu sempre fui apaixonada por ele e agora sou conselheira amorosa? Que coisa!
“Uau!” ele forçou uma voz de espanto e surpresa. “Então ela te contou mais do que imaginei” ele balançou a cabeça negativamente. “O que mais ela falou?” ele fechou os olhos como se estivesse esperando alguém golpeá-lo, o que foi bem estranho.
“Só isso, por quê? Tem mais?” normalmente isso é o que acontece quando não ouvimos os dois lados de uma história. Ficamos apenas com a metade dela e não temos como julgar justamente.
“Tem muito mais, muito mais mesmo” uma lágrima desceu de seus olhos e ele nem se importou em esconder ou limpá-la logo.
“O que mais aconteceu?”
“Pelo visto ela não te contou que ela ficou com meu irmão né?” ele riu sem humor algum, muito pelo ao contrario, sua voz era extremamente fria. “Ficou é pouco”
“O QUE?” não consegui não gritar de espanto. Como assim a Bia tinha ficado com o Leo? Isso não me parecia coisa que ela faria, pelo visto eu estava bem errada.
“Pois é, ela ficou com meu irmão... Na verdade bem mais do que ficar!” ele cerrou os dentes e fechou as mãos em punho. Dava pra ver que ele estava realmente com raiva!
“Júnior... tem certeza disso? Quer dizer, sei que você tá furioso, dá pra ver, mas caramba! Isso não me parece coisa que a Bia faria, serio mesmo... Ela não trairia você logo com seu irmão!” mesmo ele me afirmando eu não conseguia acreditar.
“Mas ela fez Sofi, ela fez isso! E não foi só uma vez, eles ficaram várias vezes! E poxa vida, ela sabe como meu irmão é! Ele é pior que eu!”
“É, eu conheço a bela fama do seu irmão” acho que nem o Mauro tinha uma fama pior do que a do irmão do Júnior. Ele ao contrario do Mauro nunca namorou com ninguém e sequer, jamais ficou com uma menina mais de uma vez! Essa história estava ficando realmente soando muito falsa e irreal.
“Mas Júnior, seu irmão não é conhecido justamente por não ficar com ninguém de uma vez? Então, como assim eles ficaram várias vezes?”
“Sofi...” ele riu e me olhou como se eu fosse uma criancinha que estivesse perguntando algo que a resposta é bem obvia. “Meu irmão nunca ficou com nenhuma menina namorando antes e sequer jamais olhou pra uma comprometida! As mulheres que ele pegava eram sempre solteiras e acabavam loucas e apaixonadas por ele. Vai ver... Não sei, vai ver a Beatriz se mostrou diferente. Algo novo pra ele e ele tenha gostado! Eles deram tão certo juntos que até dar pra ele, ela deu né? Levei o pior chifre da história” ele abaixou a cabeça e entrelaçou as mãos dele puxando o cabelo.
“Júnior...” não resisti e dei um beijo no ombro dele e fiquei passando minha mão no braço dele meio que tentando consolá-lo, mas acabou que isso me fez lembrar quando não existia o Dan, nem o Mauro e muito menos o Erick. Nenhum deles três importavam pra mim, só o Júnior. Tudo era sobre o Júnior, absolutamente tudo. E agora eles três viraram as costas pra mim e o Júnior “volta”. A vida é mesmo algo estranho e confuso.
“Sabe a pior coisa?” ele me perguntou e agora estava rindo, fiquei aliviada por um breve instante porque depois ele começou a chorar. Quer dizer, lágrimas estavam rolando...
“O que?” eu estava meio tonta e tensa por descobrir que apesar de tudo o que passou, eu ainda balançava por ele. Tive que ficar me lembrando o exato motivo dele estar aqui.
“É que quando eu fiquei na primeira vez com ela... Eu não gostava dela! Eu gostava de outra garota...”
“Que outra garota?” meu coração disparou e não pude controlar meu enorme desejo de ouvir meu nome agora. Errado, eu sei!
“Você” certo, meu desejo se tornando realidade! O que eu poderia fazer agora? O que eu poderia dizer? Bem que dizem que devemos tomar cuidado com os nossos desejos e bem, eu deveria ter tido realmente cuidado. Não é como se eu estivesse completamente livre pra me envolver com ele.
“Eu...?” perguntei porque eu não estava muito certa que eu tinha ouvido direito.
“Você... Eu sempre fui apaixonado por você e você nunca pareceu corresponder ou me dar bola, então... Não sei, nunca pensei em me declarar e sempre me controlei bastante pra não fazer nada que, sabe? Que me entregasse. Mas aí teve toda aquela história sobre o seu acidente e eu achei que você tivesse morrido, fiquei desesperado e por desespero acabei ficando com a Beatriz, mas aí você voltou... E a Bia começou a gostar de mim e eu apenas, não sei, decidi que seria melhor ficar com a Bia mesmo já que você nem gostava de mim mesmo. Depois você começou a namorar com o Mauro e aí pronto, aí que eu decidi deixar você pra lá mesmo e passei a gostar realmente da Bia, até ela aprontar isso” eu não conseguia acreditar nos meus próprios ouvidos. O Júnior também sempre gostou de mim? Ele achava que eu não gostava dele? Pra mim sempre pareceu explicito até demais!
“Eu... Não sei o que dizer” e eu sinceramente não sabia. Eu estava surpresa demais!
“Imagino. Mas não se incomode eu sei que não gostava de mim, mas sei lá... Crescemos juntos não é?” ele deu de ombros sorrindo agora mais tristemente.
“Não Júnior. Eu gostava... Eu gostava de você também. Sempre gostei de você, mas nunca pareceu que você sentia algo... E você ainda falava da Bia, depois ficou com ela, eu acabei deixando pra lá e fui viver minha vida até chegar o Mauro” eu ri. Como é possível duas pessoas se gostarem e se conhecerem a vida inteira e não perceberem?
“Gostava?” sua voz saiu infantil e me atrevo a dizer, manhosa também.
“Gostava, mas nunca achei que correspondesse” nós dois rimos.
“É, então eu fui mais idiota do que eu pensei que fosse. Trocar você por ela. É, eu mereço mesmo viu?” ele baixou a cabeça de novo e eu sabia que ele estava chorando novamente por ele começou a fungar. O que eu poderia fazer? Não tinha como consolá-lo. Então me levantei do banco e me ajoelhei em sua frente e fiz com que ele levantasse a cabeça e lhe dei um abraço.
Fazia um bom tempo que eu não abraçava o Júnior e pra dizer a verdade eu sempre sonhei com o momento em que eu poderia abraçá-lo assim, só nós dois, sozinhos sem ninguém por perto e pelo tempo que eu quisesse. Ele se surpreendeu com o meu abraço, mas me abraçou de volta também e me abraçou forte, se aconchegando mesmo em meus braços. Eu senti lágrimas em meus ombros e ele continuava fungando muito. Eu nunca na minha vida o tinha visto desse jeito, nem quando o cachorro dele morreu.
“Como eles puderam fazer isso comigo, Sofi? Como? Ele é meu irmão! Meu irmão! E ela... Putz, eu confiei nela, sempre confiei muito nela e eles fazem isso comigo? Agora pra completar também descubro que você gostava de mim e que deixei você passar... VDM” ele passou mais uma vez a mão pelo seu cabelo e me olhou profundamente com os olhos vermelhos de tanto chorar.
“Você não me deixou passar Júnior, se você teve culpa eu também tive porque também nunca desconfiei de nada. Então não se culpe por... Nós” meu coração disparou com a sonoridade dessa palavra. Sempre quis falar isso no sentido amoroso e a sensação de falar era muito boa. “Já parou pra pensar que as coisas deveriam ter sido do jeito que foram mesmo? E outra, sei que términos são ruins e terminar assim deve ser ainda pior, mas você e a Bia viveram bons momentos juntos, isso que importa, não é mesmo? Seu irmão não deixará de ser seu irmão mesmo te traindo de alguma forma e outra, você já parou pra conversar com ele? Sei que não tem justificativa o que eles fizeram né? Mas... Não sei Júnior, acho melhor você conversar com ele, ele é seu irmão e não acho que valha a pena brigar com ele por mulher, serio mesmo” por algum motivo ele começou a rir. Acho que não preciso adicionar que me senti uma palhaça né? Fiquei totalmente envergonhada. O que eu tinha dito de tão engraçado assim?
“Aiaiai, eu precisava mesmo rir. Você me faz muito bem sabia? Você sempre me fez muito bem...” ele agora acariciava minha bochecha com os dedos bem de leve e não pude evitar estremecer com o toque quente e macio da mão dele. Ai meu deus. O que eu estava fazendo? “E acho que você me entende melhor que ninguém, creio que até mais do que eu mesmo. Só não digo que você é minha melhor amiga porque eu não quero você assim...” e surpreendentemente, me pegando totalmente despreparada pra aquilo, ele veio em minha direção pra me beijar e infelizmente eu tive que contê-lo.
“Júnior... Não” tinha sido muito bom ouvir aquilo tudo dele e eu sei que eu esperei por esse momento há muito tempo, mas caso fosse acontecer eu não queria que fosse assim. Ele ainda estava muito ligado emocionalmente a Bia e eu ao Mauro, Dan e o Erick. Por que eu não podia ser normal e me ligar em apenas um cara?
“Desculpe, eu... Você tem razão. Não sei o que deu em mim, acho que... Não sei, é melhor irmos embora então?” ele estava bastante desnorteado e isso era claramente perceptível.
“Não. Ficaremos mais um pouco, ainda temos tempo não é? Então... Vamos ficar aqui apenas olhando a vista” dei o meu melhor sorriso pra ele.
“Certo” ele sorriu de volta e ficamos olhando a vista que por sinal era muito linda e tranqüilizadora.

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Gareth Night

Durante toda a minha vida eu esperei pelo dia em que eu poderia viajar por aí e conhecer novos lugares. Infelizmente sei que esse dia provavelmente nunca irá chegar, pois minhas tias não permitirão. Desde bebezinho eu moro com elas e foram elas que me criaram já que minha mãe morreu logo após meu parto pela inquisição. Toda minha família conseguiu fugir, menos ela que não estava em condições para uma fuga. Meu pai... Bem, eu não faço à mínima ideia de quem ele seja. Minha mãe, segundo minhas tias que são suas irmãs, sempre teve uma vida sexual muito agitada, sempre teve muitos homens e por isso a lista do meu provável pai tem mais ou menos 200 candidatos.
A ausência de um pai sempre foi algo que me incomodou e incomoda, através dos anos. Felizmente eu tenho minhas tias que sempre me ensinaram coisas, até hoje eu aprendo com elas. Elas não são exatamente tias normais, todas as três são bruxas. Minha querida mãezinha que morreu, também era uma bruxa, uma grande bruxa. Eu descendo de uma família muito antiga que tem essa tradição e que foi uma das primeiras a ser caçada pelos inquisidores. Hoje nós possuímos nosso próprio feudo, já que, uma de minhas tias se casou com um senhor feudal muito poderoso, incrivelmente ela não usou magia para conquistá-lo, e logo após o matou herdando assim todo o feudo. Toda a família do ex-marido dela foi morta por elas, para que não restasse dúvida de que o feudo seria nosso. Atualmente não é de costume uma mulher governar, mas em nossa família mantemos a tradição matriarcal das coisas e todas as mulheres sempre foram ensinadas a governar.
Foi uma tristeza para toda a família que minha mãe tivesse dado à luz a um menino e não a uma menina que pudesse continuar a linhagem original da família. Cresci e aprendi, a seguir a velha religião o que atualmente, nos tempos em que a igreja governa é algo terrível. Durante toda a minha vida não aprendi somente sobre a minha religião, mas aprendi sobre a deles também, afinal para se discutir algo e defender esse algo é necessário conhecer o lado inimigo.
Obviamente em minha família não tem apenas mulheres, tem homens também, um deles, o meu avô é um grande sábio. Ele não mora conosco em nosso castelo, ele prefere viver na floresta. Eu realmente gostaria de saber como ele sempre cheira tão bem se vive com os animais e quase como eles. Durante uma parte do meu treinamento eu tive que morar com ele e aprender a ver a natureza com os olhos dele, na verdade naqueles tempos eu aprendi a ser uma parte dela e ela de mim. É algo que todos nós aprendemos não só pela nossa religião que reverencia a natureza, mais também pelas fugas que provavelmente teremos que fazer. Meu avô é um velho bem excêntrico. Aqui todos o respeitam muito e o temem, na verdade mundo afora também o que é impressionante para alguém da velha religião. Minhas tias disseram que uma vez ele salvou alguém importante da igreja e essa pessoa ficou lhe devendo favores, em troca meu avô pediu paz para o nosso feudo, o que deu certo por anos.
Além de todo o meu treinamento mágico, eu também tive instrução para guerrear é claro, como todo bom homem. Em nosso feudo todos os homens são livres para amarem o deus que quiserem, porém com minhas tias no comando, obviamente a maioria segue a antiga religião. Todos nossos guerreiros e suas mulheres sabem ler e escrever, minhas tias fizeram bastante questão de que fossem instruídos nisso. Todas as mulheres tem o conhecimento das ervas, o que livrou muita gente de nosso povo da morte. O que antes os assustava e eles condenavam, hoje eles defendem com suas próprias vidas. Apesar disso tudo minhas tias não são pessoas boas.
Não é por ser ingrato que falo mal delas, mas apenas porque é a pura verdade. Elas são pessoas terríveis. Claro que não com o nosso povo que elas defendem com toda a magia que puderem e que foi com essa magia que nos mantiveram seguros por tantos anos, mas com outrem são até piores que os inquisidores. Talvez elas já tenham matado mais que muitos deles. Sempre me disseram que isso não era assunto meu e que quando eu crescesse eu iria entender. Com meus 17 anos de vida não faço a mínima ideia de muitos segredos que ainda cercam elas e que sei que nunca irão me contar.
“Oh Gareth... Aí está você meu menino” minha tia Mirian, a mais velha delas falou comigo em um tom nada agradável. Sempre quando ela me chama por algum nome bonzinho é porque certamente coisa boa não virá.
“Oi tia, entra” respondi no mesmo tom. Minhas tias nunca gostaram muito de mim, isso nunca foi segredo. Felizmente a recíproca é bem verdadeira.
“O jantar está pronto. Seu avô chegou há poucos instantes, ele passará uns tempos conosco, você sabe, o inverno está chegando” ela sorriu e me deu um beijo na bochecha. Certo, agora eu sabia que algo muito errado e ruim estava por vir.
“Certo, tia. Já irei” respondi. Antes que ela pudesse fechar a porta, minha prima e amante, entrou em meu quarto.
“Oi prima” falei sorrindo e dessa vez era sincero.
“Céus! Eu não consigo me acostumar com sua beleza, meu caro primo” ela sorria e eu a envolvi em meus braços. A Lilian era a filha de Mirian, que foi quem se casou com o ex-proprietário desse feudo. Claro que minha prima sabia de tudo, sempre soube! Mas na verdade ela nunca ligou pelo fato de não ter conhecido o pai. Sei que pode parecer cruel, mas a Lilian é a melhor pessoa desta família. Ela é incrível. Fomos criados juntos, quase como irmãos, mas nunca nos olhamos como irmãos, desde pequenos somos apaixonados um pelo outro. Felizmente aparentemente a Lilian em nada se parece com sua mãe. Lilian é tão bela quanto minha tia é feia. A Lilian é o oposto, em termos de beleza, de todas as bruxas que conheço. A Lily tem seus cabelos ruivos e lisos e olhos azuis incríveis, somente isso ela puxou de sua mãe, os olhos. Creio que ela deve ter herdado as melhores coisas dos seus pais.
“Nem eu. Como consegue ser tão tentadora menina?” sussurrei em seus ouvidos enquanto ela passava a mão em meu peito.
“Menina? Ora Gareth! Não sou mais nenhuma menina! Tenho catorze anos! Não me trate como uma criança” ela me olhou magoada. De fato Lilian não era mais aquela menininha por quem me apaixonei anos atrás. Agora ela era uma mulher feita. Eu não podia deixar de me deliciar com suas curvas sinuosas nos lugares certos.
“Eu sei, eu sei. Não fique assim, meu amor...” lhe beijei suavemente em seus lábios.
“Já estou na idade de me casar” ela suspirou. Não um suspiro de quem esperava muito por isso e sim um suspiro de um fardo que ela não gostaria de ter.
“Eu também sei disso e não gosto” falei ressentido. O casamento de Lilian estava sendo adiado até demais, com certeza alguma coisa minha tia deveria ter em mente. Talvez eles estejam tramando para a Lilian governar algum feudo como sua mãe. O que seria ótimo para mim se ela fizesse o mesmo com seu marido e depois se casasse comigo. Infelizmente sei que isso não passará de um sonho meu, já que meu destino está bem traçado.
“Minha mãe disse-me que hoje, no jantar, ela irá falar sobre isso. Parece que o vovô trouxe alguma bela oferta de casamento para mim. Oh céus! Não quero me casar com nenhum cara que tenha idade pra ser meu avô! Oh Gareth...” ela começou a chorar em meus ombros. Isso era algo que eu não tinha sido treinado para lidar: lágrimas de uma mulher. “Eu queria me casar com você!” ela disse entre soluços e chorou ainda mais.
“Eu iria, se pudéssemos, mas você sempre soube que não poderíamos” isso era algo que sempre nos afligia. O dia em que ela teria que se casar com algum senhor cristão para que nossa família tivesse mais poder.
“Sim, mas... Não sei. Eu esperava que daríamos um jeito!” ela me puxou para perto dela fazendo que nossos corpos ficassem mais juntos. Não pude deixar de aproveitar e tocar meus lábios em sua pele macia. Afinal, aquela poderia ser a última vez.
“Sinto muito, Lilian” sussurrei novamente. A única coisa que eu poderia fazer era consolá-la e me consolar. Foi exatamente o que eu fiz.
Logo após nos recompormos nós descemos para o jantar. Toda a nossa família estava presente. Isso quer dizer: minhas três tias, meu avô, Lilian, eu, Vivian a irmã mais nova da Lilian, Marco que é nosso outro primo e tem minha idade, talvez um pouco mais novo e alguns outros primos. O Marco para dizer a verdade é muito mais que meu primo, ele é quase um irmão pra mim e é meu melhor amigo. Ele na verdade sempre esteve em quase tudo comigo.
“Lilian... Gareth... Vejo que ainda estão juntos” minha tia Mirian sorriu, mas com certeza não foi um sorriso sincero.
“Oh meus jovens, espero que não seja nada serio huh? Vocês sabem... De qualquer forma Lilian, eu consegui um belo casamento para você minha querida” dessa vez foi o meu velho avô que falou. Senti uma leve agitação e murmúrios na mesa. Olhei para a Mirian e seu sorriso era claramente de triunfo, enquanto o de Lilian era de profunda tristeza. Doeu meu coração só de olhar para seu rostinho triste e nada poder fazer.
“Que boas noticias vovô. Com quem irei me casar?” ela tentou disfarçar a voz, fingindo alegria, mais eu a conhecia bem demais.
“Oh minha querida! Você irá se casar com o grande rei!” dessa vez foi a Mirian que falou. Eu não pude deixar de ficar chocado e de sentir o desespero da Lilian. Com o Grande Rei? Poderia ser pior? Eu não imaginava. Se é com o grande rei que ela irá se casar então de certo que ela não matará seu marido como sua mãe fez.
“Vocês vão mesmo me casar com aquele velho?” ela explodiu. Ninguém poderia condená-la a se casar com um cara com idade para ser o avô dela. Talvez a ideia fosse justamente essa: esperar ele morrer naturalmente e colocarem algum outro no lugar. Porém, ela seria apenas a viúva do rei, porque pelo que sei ele tem um herdeiro para o trono ainda que muito jovem.
“Tenha modos criança!” minha outra tia a repreendeu e logo após lhe deu tapinhas amigáveis em sua mão. “Lógico que não faríamos isso com você. Aquele velho morreu minha querida, morreu há uma semana. Seu avô estava lá quando isso aconteceu. O filho dele irá assumir o trono e ele é um jovem excelente! É muito bonito, todas as jovens suspiram por ele quando ele passa e é um excelente guerreiro, tenho certeza de que ele irá governar muito bem” todas as três estavam muito felizes. Eu sempre ficava com receio quando isso acontecia. E eu é claro, não pude deixar de ficar com ciúmes pelo casamento da Lilian com alguém considerado bonito. Não o invejo por beleza, sei que mais belo do que eu é difícil existir, mais sucesso do que faço com as mulheres é algo difícil de acontecer mesmo eu sendo um mero bastardo. No entanto esse jovem é bonito e ainda é da realeza? Coisas como essa só me provam que o mundo não é mesmo justo.
“Quantos anos ele tem, minha senhora?” perguntei com nojo. Ele pode ser rei o quanto quiser, porém a minha mulher não quero nos braços dele.
“Oh Gareth! Ciúmes agora? Você sempre soube que jamais teria Lilian somente para você! Contente-se com o pouco tempo que teve com ela. Sabe que ela tem coisas importantes a fazer e você também terá. O jovem rapaz tem apenas 20 anos. Ele pode parecer bastante novo, mas sabemos que se dará bem. Ainda mais com uma grande rainha como sua prima” Mirian me lançou aquele seu sorriso afetado novamente. Esforcei-me muito para disfarçar o nojo e minha repulsa por toda aquela palhaçada.
“Bem, ao menos ele não é velho não é mesmo? O senhor disse que ele é muito bonito vovô. Conte-me mais!” a Lilian agora já não chorava e parecia bastante empolgada para saber do seu futuro marido. Otimo! Que jovem não ficaria feliz ao saber que seria a Grande rainha?
“Que bom que está animada criança. Ele é um rapaz alto, forte, com belos olhos verdes e cabelos escuros que enlouquece todas as moças da corte” vovô disse sorrindo.
“Mas papai... Vejo que não usou nenhuma magia para conseguir o casamento, então como fez?” Maria, a irmã mais velha depois de Mirian perguntou.
“Ora minha filha. Este velho tem seus truques” ele sorriu. “O jovem rei não tinha preferência por nenhuma moça, na verdade ele apenas queria que fosse uma moça bem instruída, de boa família e que cuidasse muito bem dele e dos afazeres da casa. E é claro, seus bispos queriam que fosse uma bela moça cristã, de uma família cristã e seus cavaleiros queriam que tivesse um bom dote de guerra. Que jovem poderia ser mais instruída que Lilian, tirando você Vivian? Claro que não pertencemos a uma família cristã, mas seu pai Lilian, tem uma família que sempre foi conhecida por serem muito devotos, então eles acreditam que você é cristã, o que não será difícil enganá-los já que conhece muito bem os costumes deles, minha querida. Quanto ao dote... Bem, já acertei com eles. Um dote digno de um rei” o velho sorriu satisfeito. Pelo visto eu era o único na família a não gostar desse casamento.
“Se vocês me dão licença” eu disse me levantando rapidamente da mesa antes que alguém pudesse falar algo. Fui até meu quarto e bati a porta com raiva. Logo após ouvi três batidas na porta e como eu não respondi a pessoa entrou, essa pessoa era o Marco.
“Ora primo, não fique tão bravo” ele começou e parou no mesmo instante em que olhei em seus olhos.
“Marco, você sabe que eu a amo” eu estava com uma tremenda vontade de chorar, mas eu não iria estragar minha reputação.
“Eu sei. Creio que a Lilian também sabe e é por ela primo, é por ela que deve fingir que está feliz. Sabe muito bem como a Lilian é, é capaz dela fugir desse casamento, o que traria desgraça para nossa família. Finja que está feliz, é pelo bem dela. Melhor casamento ela não poderia querer”. Nisso ele estava certo eu não podia negar.
“Eu sei” disse entre dentes. Não pude evitar de dar uns chutes no armário o que certamente fez estragos.
“Vamos lá Gareth! Hoje é um dia importante. Você sabe que também terá que se casar, é só uma questão de tempo” o Marco como sempre, mais calmo e mais sábio que eu.
“É primo. Você também!” tentei sorrir, mas não consegui.
“Um mensageiro disse-nos que viram tropas dos saxões não muito longe daqui. Está em tempo de nos prepararmos para a guerra primo e você sabe muito bem quem lidera o nosso exercito” o Marco sorriu e seus olhos brilharam só em falar em batalhas.
“Não fique tão animado primo. Eu não vejo motivos”
“Só porque sua amada irá se casar com outro? Ora Gareth! Você é o nosso melhor guerreiro disparadamente!” nem meu pessimismo conseguia afetar o otimismo do Marco. Acho que por isso nos tornamos tão amigos, ele sempre trazia alegria a minhas infelicidades.
“Por enquanto primo, mas não creio que por muito tempo” falei sem animo algum. Antes do Marco se defender a Lilian entrou pela porta, me olhando fixamente sem sequer notar a presença do Marco.
“Quero que vá comigo!” ela falou em seu tom mais exigente impossível. Pela primeira vez na vida ela lembrava sua mãe. Devo acrescentar que isso não é uma coisa boa.
“Não irei. Boa sorte em sua nova vida” eu desejei sinceramente. Claro que não seria o suficiente para ela, nunca era.
“Disseram-me que as estradas estão muito perigosas Gareth. Quem melhor que você pra me proteger, meu amor? Quem melhor do que um bravo guerreiro para proteger a rainha?” dessa vez ela falou mais docilmente chegando perto me embriagando com seu perfume doce. Sinceramente eu tive que recuar um pouco antes que ela conseguisse, pra variar, o que ela queria de mim. Na verdade nós sabíamos que era só uma questão de tempo até ela conseguir. Por mais que meus sentimentos tenham sido feridos e meu ego mais ainda, eu não deixaria minha amada e querida prima em perigo se assim pudesse evitar.
“Não serei seu guarda-costas, minha senhora” afastei-me fazendo uma reverencia digna de vossa majestade o que a irritou profundamente.
“Não fale comigo desse jeito Gareth!” seu tom de sutileza e gentileza sumiram. Eu sabia que a tinha irritado. Isso era bom, de alguma forma. Não é como se eu quisesse mesmo ir com ela levá-la para o seu noivo.
“Prima...” o Marco decidiu intervir e ela o olhou como se só tivesse notado a presença dele agora e fez um cara de desprezo que deu pra ver que magoou o Marco. “Em breve teremos uma grande guerra, precisamos do nosso líder e melhor guerreiro aqui. Não posso liderar as tropas” ele falou com certa cautela. Realmente as mulheres de nossa família eram de dar medo. Ela decidiu ignorar o comentário do Marco como se ele nem sequer tivesse falado.
“Faça o que quiser Gareth! Mas se eu morrer a culpa será toda sua! Toda sua!” ela saiu gritando e bateu a porta.
“Nossa, elas sabem intimidar!” o Marco riu nervoso.
“Com certeza elas sabem” assenti. Essa situação era uma das poucas nas quais eu me sentia perdido, sem saber o que fazer, mas felizmente, ou não, havia pouca coisa que eu pudesse fazer. Eu amava a Lilian que era minha prima e mesmo que não fosse, eu não poderia me casar com ela pelo meu status. Eu sempre soube disso e ela também. Então por que eu me sentia tão surpreso e sem rumo? A única coisa que eu poderia fazer agora era protegê-la o máximo possível e eu sabia que ela tinha razão, ninguém melhor que eu para protegê-la. Dentro de alguns dias minha querida prima se tornaria a grande rainha e teria uma vida muito melhor do que ela levava aqui. Eu ao menos esperava e desejava que ela fosse realmente feliz.
“Gareth... Não fique aí sonhando primo. Logo, logo tudo se ajeitará e poderá voltar a viver sua vida em paz”. Eu esperava que ele estivesse certo, mas algo dentro de mim gritava que nada iria se acalmar. Na verdade eu sentia justamente o contrario, eu podia sentir a mudança dos ventos. Podia sentir o que esse casamento de Lilian com o rei faria em minha vida. Não sabia exatamente o que, mas seria algo grande.
“Diz isso primo, porque não sabe o que é amar alguém” falei mais pra mim do que pra ele.
“Quem disse que não primo?” ele riu maroto. Será que meu primo amava alguém em segredo? Amava alguém e nunca tinha me contado? Isso era algo que me surpreendeu. O Marco nunca foi muito bom em guardar segredos comigo.
“Mas oras! E nunca me falou nada primo? Quem é a garota de sorte? Alguma camponesa?” perguntei sentido-me mais animado. Seja ela quem fosse, seria uma sortuda. O Marco não é apenas de boa família, mas também é um ótimo guerreiro e considerado muito bonito pelas damas.
“Não. É a Vivian primo, nossa prima, irmã de Lilian” ele disse mais cabisbaixo do que eu me sentia.
“Oh” agora eu entendi o porquê do seu segredo. Antes mesmo do nascimento de Vivian todos sabíamos qual seria seu destino. Ser uma grande sacerdotisa, ou seja, ser de homem nenhum, ser de todos, uma grande guia espiritual para o nosso povo e sempre cuidar deles como uma mãe.
“Pois é. Está vendo? Sou menos afortunado que você primo! Ao menos teve seu deleite por alguns anos, eu nunca terei o meu” isso era algo realmente triste. Seria engraçado se algum padre chegasse aqui e se deparasse com isso, eu e Lilian, Marco e Vivian! Acho que eles desmaiariam de vergonha! Porém a agonia que eu sentia por meu primo não era nada comparada a minha. Eu sofrer eu nem ligava muito, mas meu primo, praticamente irmão era algo que me incomodava. O pior de tudo era saber que eu nada poderia fazer. Vivian nasceu pra ser grã-sacerdotisa e todos sabemos disso. A grã-sacerdotisa não se casa com ninguém porque é uma mulher que vive viajando e não tem tempo para tarefas banais como as que as outras mulheres fazem. Uma grã-sacerdotisa é uma guerreira também. Normalmente sabe tão bem sobre a arte da guerra quanto nós, guerreiros.
“Meu querido primo” falei colocando uma mão em seu ombro. “Sei como se sente. Vivian não é uma das mais bonitas, me surpreende se apaixonar por ela, ela não tem nem de longe a beleza de Lilian, mas porém é mais sábia que todos nós aqui... Ela sabe?” perguntei com curiosidade. Durante toda a vida Marco havia cortejado todas as moças bonitas que se aproximavam dele, não importando se eram casadas ou não. Certamente que todas ficavam muito contentes por um jovem belo como ele cortejarem-nas. Nunca faltava mulher na cama de meu primo, assim como não faltaria na minha se assim eu quisesse, mas eu optei por uma vida somente com Lilian enquanto eu pudesse. Algo de que não me arrependo agora.
“Obviamente que não Gareth! Ficou louco? Vivian nunca olharia pra mim assim” ele parecia ainda mais triste. Vivian não olharia pra ele? Não pude deixar de rir.
“Ora primo, que mulher nesse mundo não olharia para você?” eu duvidava da existência de tal mulher. Mesmo Lilian que era minha amante e prima do Marco, sempre o olhava e constantemente o provocava. Nunca liguei porque para mim não passava de brincadeiras de menina.
“Justamente uma mulher como Vivian” pelo visto eu não tinha o mesmo efeito animador que ele tinha sobre mim. “Ela não é como as outras Gareth. Vivian pode não ser tão bela assim, pode ter herdado a beleza de sua mãe, mas ela é incrível por dentro. Todas mulheres que já estiveram comigo nunca conseguiram conversar sobre nada além de casamentos e essas bobagens da corte. Acredite, não é algo interessante. Até mesmo Lilian se importa com essas bobagens. Vivian sente até uma certa repulsa e prefere sempre conversar com homens ou com mulheres como nossas tias do que essas conversas. Uma vez ela até me ganhou na espada!” ele sorriu abertamente. Seus olhos brilhavam só pela mera lembrança de nossa prima.
“Mas Vivian...” antes que eu pudesse terminar meu consolo ao Marco alguém bateu na porta e depois entrou em meu quarto. Hoje isso aqui estava especialmente agitado. Para nossa surpresa era exatamente a Vivian perfeitamente arrumada. Agora que o Marco tinha me contado sua paixão por ela, ela me parecia um pouco mais bela de certa forma. Seu corpo ainda era de uma menina é claro, já que ela era mais nova que Lilian, mas ela tinha quase o nosso tamanho. Era uma mulher alta com seu um metro e oitenta.
“Primos!” ela sorriu abertamente para nós. O Marco levantou a cabeça e sorriu feliz ao vê-la, mas logo ficou triste novamente. Não sei se foi impressão minha, mas pude ver um sinal de compreensão por parte de Vivian. Não seria surpresa se ela já soubesse é claro. “Interrompo? Ouvi meu nome e decidi entrar, me desculpem”.
“Tudo bem. Eu vou... Ver se acho a Lilian. Ela está chateada com minha atitude eu acho. Não será bom para nós que vossa majestade esteja tão irritada” falei me levantando da cama para me retirar do quarto.
“Não!” o Marco falou apressadamente. Olhei pra ele sugerindo com o olhar se ele tinha ficado louco, mas ele parecia bem são. Vivian olhou-o com um olhar tão doce, tão meigo... Então ela apenas sorriu e assentiu concordando com ele aparentemente. “Fique Gareth. Por favor” me olhou em suplica e não pude dizer não. Vivian não parecia ter se abalado nenhum pouco seja lá o que ela estivesse pensando sobre tudo isso.
“Preciso conversar com você Marco” ela falou agora seria. O sorriso e o tom bricalhão haviam sumido de sua voz. Ao invés de me enxotar logo, ele apenas segurou meu braço pra que eu continuasse onde eu estava.
“Pode falar” ele disse pra ela, mas sem olhá-la. Para mim ele falou. “Não Gareth! Fique onde está. Não irá a lugar algum. Seja o que for que Vivian tem para falar, não haverá problemas em falar em sua frente, certo Vivian?” ele perguntou levantando a cabeça para olhá-la, mas ela apenas desviou seu olhar.
“Como quiser primo” ela assentiu. “Bem, depois de hoje não pude deixar de me preocupar com certas coisas. Como todos nessa casa bem sabem o casamento de Lilian afetará a vida de todos nós. Principalmente... a sua Gareth. Muita coisa lhe reserva para o futuro” ela me olhou profundamente com aquele seus olhos azuis. Nem perguntei o que, não porque ela não soubesse, ela deveria saber, mas somente porque sei que ela não diria nem que eu pedisse. “Não, não irei dizer, você está certo” ela disse ainda me olhando. As vezes parecia que seus poderes iam além de qualquer expectativa, como essa coisa de ler pensamentos. “A minha também mudará, mas muito pouco por enquanto. E quanto a sua Marco... Ela me parece incerta e é quase como um borrão o que me preocupa muito” seu rosto era de dor. Ele ainda não a olhava, não sei como, mas eles tinham exatamente a mesma expressão e não estavam sequer olhando um para o outro.
“O que quer dizer?” a voz do Marco não expressou emoção alguma. Se ele não me falasse eu duvido que eu tivesse notado sua paixão pela Vivian.
“Não sei e é isso que me aflige. Não saber... Por isso eu vim aqui, Marco. Pra...” ela parou. O silencio estava quase insuportável ao menos para mim. Já eles dois não pareciam se importar. Eu me levantei e fiquei de costas para os dois. Fui até o armário pegar minha espada e minha capa. Quando me virei para olhá-los, a Vivian estava sentada onde eu estava a poucos instantes. Sentada na cama ao lado do Marco e estava segurando sua mão. Na verdade os dois estavam com seus dedos entrelaçados, um olhando para o outro sem nada dizer. Senti-me como um intruso e desviei o olhar. Voltei a me virar e a estudar minha capa. Tinha um furo nela, eu precisava lembrar-me de pedir a alguém que a consertasse. Na verdade seria melhor uma nova.
Depois de sei lá quanto tempo em silêncio e de olhadas significativas, eu finalmente escutei a voz do Marco. Os dois pelo visto ignoravam totalmente minha presença o que era bom. Eu não queria ficar aqui e ver os dois nesse amor todo, apesar de ser sofrido. Eu já tive minha cota por hoje, mas não podia negar ajuda a meu irmão.
“Não diga nada do que possa se arrepender depois Vivian” a voz do Marco dessa vez não soou nenhum pouco calma e normal. Foi até meio esganiçada.
“Não chore meu amor” a Vivian lhe disse secando as lágrimas que caiam sob as bochechas do Marco. Eu apenas fiquei lá olhando-os sem reação. Ele estava mesmo chorando por ela? Ela tinha chamado ele de meu amor? E os dois sequer tinham dormido juntos, ou trocado um beijo! Eu sabia disso é claro, porque ele me falou. Nunca foi dita palavras que indicassem o amor deles um pelo outro e nada físico. No entanto ele estava chorando por ela e ela chamando-o de amor. Naquele momento me senti muito confuso. Eu nunca sequer cheguei perto de chorar por mulher alguma, nem mesmo pela Lilian ou por minha mãe. Nunca. Nunca. A única vez que me lembro de chorar, foi quando meu cavalo morreu. Mesmo assim eu tinha uns dez anos. Desde então, nunca mais. Não porque eu segurasse, mas porque eu não senti vontade mesmo.
Os dois se abraçaram e ficaram assim durante um tempo até o Marco se afastar, mas seu rosto não estava mais lacrimoso. Ele segurou o rosto pequenino dela entre suas mãos que eram quase tão grandes quanto as minhas e a beijou nos lábios. Nenhum beijo animal ou algo assim. Ele apenas encostou os lábios dele nos dela. Muito, muito calmamente. Ao olhá-los eu percebi que eu não amava a Lilian do jeito que eu achei que amasse. Com ela nunca senti vontade de nada calmo e sutil assim, sempre era avassalador. Não chorei por saber que ela iria embora e se casaria com outro e que jamais voltaria a tê-la, apenas fiquei irritado e com ego ferido, mas apesar disso tudo eu ainda a amava bastante. Não da forma como Vivian e Marco, que era verdadeiro e puro eu pude perceber. Isso me animou mais do que qualquer coisa na vida.
Foi como a luz no fim de um túnel, então ainda havia esperanças de um novo amor para mim.