segunda-feira, 1 de novembro de 2010

O sonho

O dia hoje foi extremamente cansativo. Eu não via a hora de chegar em casa, deitar na minha cama e dormir. Foi exatamente o que eu fiz. Porém, eu não consegui pegar no sono tão rapidamente.
“Ellen!” uma voz conhecida me chamou. Era o Dan.
“Oi Dan! O que faz aqui?”. Quando ele havia chegado que eu não vi? O Dan estava do meu lado. Ele estava usando a roupa do dia em que nos conhecemos. Ele estendeu a mão para mim. Não sei o porquê mais o meu sexto sentido estava me avisando que eu deveria fugir, correr o mais longe que eu pudesse dele, que não era seguro.
Sensação bastante estranha já que quando estou com o Dan é quando estou mais segura. Como demorei de pegar na sua mão, ele mesmo veio até mim e a pegou colocando em cima do seu coração e olhou para mim.
Quando olhei em seus olhos fui tomada por um choque de surpresa! Os olhos dele não estavam gentis como sempre e muito menos azuis. Seus olhos eram agora de um vermelho intenso cor-de-sangue.
Afastei-me dele para poder olhá-lo melhor. Quando olhei ao meu redor eu não estava mais no meu quarto, estava num lugar desconhecido. Tudo parecia estar em chamas. O fogo tão vermelho, tão quente quanto o olhar dele. Olhei-o de novo e vi que não era mais o Dan. Era um estranho. As chamas estavam tão intensas que eu não conseguia mais enxergar direito. O estranho estava entre as chamas e me olhava, tudo o que eu podia reparar era naqueles olhos vermelhos.
As chamas estavam chegando ao local onde eu estava e a dor de ser queimada me atingiu. O estranho que estava parado e imóvel até então, sorriu em deleite pela minha agonia. Desespero me atingiu. Não! Eu não poderia morrer. A dor foi se intensificando e comecei a chorar de desespero. Não posso morrer, não posso morrer. Não!
Levantei assustada e percebi que só tinha sido um sonho. Eu estava bem e segura em minha casa. Mas para o meu desespero eu vi que lágrimas estavam encharcando meus olhos embaçando minha visão. Senti uma pontada em minha mão e vi que tinha uma queimadura nela! Tudo tinha sido real então? Não podia ser. Mas as marcas em minha mão apontavam que o sonho teria sido real. Fiquei muito assustada. Fiz a primeira coisa que veio na minha cabeça. Ligar para o Dan! Eu sei que era bastante tarde, mas ele não necessita dormir e me disse que eu poderia ligar para ele a qualquer hora.
“Alô?” ele falou do outro lado da linha. Não parecia que eu o havia acordado.
“Oi Dan! É a Ellen!” respondi ainda chorando e fungando um pouco.
“Oi minha menina. Algum problema? Você está chorando?” ele tinha um claro tom de preocupação em sua voz. Quando ele perguntou eu comecei a chorar ainda mais no telefone, eu não sei exatamente o porquê. Um sentimento estranho me invadiu, como se algo estivesse errado. A queimadura em minha pele ardeu ainda mais me fazendo gemer.
“Ai!” eu disse no impulso.
“Elle? O que foi Elle? Por favor me responda” ele pediu preocupado. Eu queria responder. Eu queria falar. Mas não consegui achar forças para falar. Minha voz não saia. Comecei a ficar desesperada. Muda? Muda? Não, eu não estava muda.
“Estou indo pra aí” ele disse e desligou. Ótimo porque era isso que eu realmente queria, que ele viesse para cá. Ele podia entrar pela janela, meus pais nem veriam.
Eu continuei chorando bastante mesmo sem saber o motivo. Eu sabia que não estava chorando pelo sonho. Não, não era por ele. Era por algo que eu não sabia o que era. Algo que me machucava. Só em lembrar daqueles olhos vermelhos eu sentia um aperto esquisito no coração. “Algo está errado” minha mente me dizia. Mais perdida do que eu me sentia impossível estar. Olhei para a queimadura em minha mão, não tinha nem como ter sido feita por algo aqui em meu quarto. Só podia ter sido pelo sonho.
O Dan bateu na janela me fazendo pular de susto. Mas quando eu vi fui tomada por uma sensação de alivio. Tudo ficaria bem, eu sei que sim. Ele estava aqui e nada me aconteceria. Fui até a janela e abri deixando-o entrar.
Logo que ele entrou ele me abraçou e eu senti aquela felicidade que eu sempre sinto quando eu o abraço.
“Ei, ei. Está tudo bem agora. Eu estou aqui. Estou aqui” ele disse tentando me acalmar. Então finalmente eu consegui me acalmar e parar de chorar. Ele esperou pacientemente eu terminar todo o meu choro segurou meu rosto entre suas mãos exibindo um sorriso contagiante.
“O que aconteceu?” ele me perguntou enquanto limpava minhas lágrimas.
“Pesadelo” consegui finalmente responder. Fiquei contente em ouvir minha voz de novo, mesmo que ela soando fraca. Ele nos levou até a cama onde sentamos.
“O que aconteceu no pesadelo?” ele perguntou novamente. Então eu contei tudo exatamente como eu lembrava. “Bem” ele começou e então pausou parecendo escolher as palavras certas. “Não foi nenhum sonho premonitório estou certo disso. Tenha certeza que meus olhos não ficam vermelhos” ele disse tentando soar divertido. Ah que ótimo! Ele deve estar me achando a maior idiota agora.
“Não, não estou. Você não é idiota e sabe disso. Sei que deve ser difícil acreditar que tenha sido somente um pesadelo, mas foi só isso mesmo” ele parecia ter certeza do que ele dizia. Mas por que algo dentro de mim dizia que não?
“Veja” eu disse mostrando o meu braço que tinha a queimadura.
“C-como?” ele não terminou deixando as palavras no ar. Um brilho de entendimento passou pelos olhos dele. Agora ele parecia preocupado. Bastante preocupado. Ao invés de dizer algo como eu esperava que ele fizesse, ele simplesmente começou a chorar. Um choro silencioso daqueles em que somente lágrimas descem e nada mais. Ele inclinou sua cabeça em direção a minha queimadura e deixou suas lagrimas caírem em cima dela. Para minha surpresa a queimadura parou de arder na hora em que as lágrimas dele tocaram meu braço.
Quando ele levantou a cabeça de novo não tinha nada no lugar. Nem uma cicatriz sequer!
“Dan... Como?”
“Melhor assim?” ele disse sorrindo.
“Sim. Muito melhor. Você tem poder de cura por suas lágrimas?” perguntei curiosa e extasiada.
“Parece que sim” ele disse dando de ombros. Modesto como sempre.
“Uau Dan! Isso é demais!” falei empolgada.
“Talvez...”
“Como talvez? Não funciona para qualquer coisa?”
“Sim. Posso curar qualquer coisa”
“Uau. Quer dizer que pode ressuscitar pessoas?”
“Não Elle. Eu disse que posso curar. A morte não é como uma doença ou uma ferida. É apenas o inicio de um novo começo” ele disse sorrindo.
“Huh. Mas mesmo assim Dan! Você poderia salvar milhares de pessoas! Isso é demais!”
“Não Elle. Certas coisas mesmo podendo ser mudadas não devem ser mudadas”
“Está dizendo que me deixaria morrer se assim eu tivesse mesmo podendo me salvar?” perguntei rebatendo. Eu estava completamente chateada com ele. Como ele poderia ter um poder tão grande e tão bom e não querer compartilhar com todos? Isso não parecia muito certo de se fazer, ainda mais levando em conta o que ele é.
“Não tem que se preocupar com isso. Isso não irá acontecer. Com você é justamente o contrario, eu tenho que te manter viva o máximo que eu puder e isso não é pouco” ele disse sorrindo.
“Hum...” mesmo assim eu ainda não gostava da idéia dele não compartilhar algo tão precioso.
“Não? Então encare desta forma. Você iria chorar todo dia se assim pudesse salvar a todos? Gostaria de chorar todos os dias?”
“Não” eu respondi. Era algo a se pensar.
“Sim, é algo a se pensar. Mas não é por isso que eu não faço o que me sugeriu. Meus motivos são outros. Acho que não irá entender, mas essa minha colocação é algo que você entenderia, então encare assim”.
“Hum...” respondi meio contrariada.
“Está tarde. Acho melhor você ir dormir. Tem que acordar cedo amanhã. Amanhã a gente se ver minha menina” ele disse se levantando.
“Espera!” eu disse rápido. Ele se virou para mim esperando eu falar. “Não vai assim” eu fui até ele e lhe dei um abraço. Ele parecia surpreso, mas retribuiu logo. Não queria que ficássemos mal. Isso nunca.
Ele me pegou no colo e me levou até minha cama. Me colocou tão delicadamente que parecia que eu era de vidro. Isso era o que eu mais amava no Dan. A forma como ele me tratava. Incrivelmente carinhoso e sempre preocupado com meu bem-estar. Ele puxou o lençol, me enrolou e me deu um beijo na testa.
“Boa noite Dan. Desculpe pelo susto e obrigada por tudo” eu disse feliz.
“Não há de quê. Boa noite minha menina. Tenha bons sonhos” ele roçou sua mão em minha bochecha e foi embora.
Depois eu sonhei que era um lindo pássaro e voava pelos céus.

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