quinta-feira, 23 de junho de 2011

Ovelha Negra

Capitulo 28

Eu não entendi ao certo porque tanto espanto. Casais conversavam né? Era assim que namoros funcionavam, não é? A base de conversa.
Era isso o que eu pensava de todos os casais, mas pelo visto eu estava errada. No mínimo errada sobre o Auguste e a Jeniffer ao menos.
“O quê que tem eles conversarem?” perguntei. Era melhor do que ficar ali fingindo estar a par de algo que eu não estava.
“Que eles não fazem isso. Sabe aquele tipo de relacionamento estranho que se baseia apenas em pegação? Eles até se gostam um pouco, mas sei lá. Juntos por conveniência, isso é só. Ou no caso da Jen, insegurança de ir atrás de quem ela gosta de verdade” a Felipa me explicou com o mesmo ar de entediada.
“Ah” que estranho.
Pelo visto o relacionamento desses dois não tinha nada de convencional. Nadinha.
A Jeniffer suspirou e seus olhos começaram a lacrimejar. Eu pisquei sem entender como de repente ela tinha começado a chorar assim.
Era um choro silencioso e seu rosto perfeito estava todo vermelho.
As três outras garotas se juntaram a mim e tocaram na mão dela também ou em qualquer parte que estivesse ao alcance.
Nenhuma delas disse nada.
A Felipa segurava a mão dela como eu. A Aline estava agora em pé atrás da Jen passando a mão em seus cabelos e a Trisha enxugando as lágrimas que caiam no rosto dela.
Eu não vou negar que eu estranhei que alguém tão má como a Trisha estivesse realmente com aquele olhar de preocupação. E outra coisa. Todas elas estavam.
Eu me senti meio mal. Que motivo levaria a Jen chorar desse jeito? Não poderia ser por causa desse pequeno conflito entre ela e seus casos amorosos não é? A conversa com o Auguste tinha sido tão ruim assim? Ela tinha ficado assim depois de mencionar a conversa.
Mas ele tinha me dito ontem e ao Daniel que estava tudo bem e resolvido entre eles. Eles tinham se falado depois daquilo? Tinha tido outra conversa?
“Não é tão f-fácil quanto pa-parece, s-sabe?”a Jen disse entre soluços. “Ser O C-CASAL. É difícil manter, é difícil aturar tudo isso. E principalmente... E principalmente... E principalmente” ela não terminou.
“Seus pais?” a Trisha perguntou olhando séria pra ela. A Jen apenas assentiu com a cabeça. “Certo. A gente entende” a Trisha pareceu que queria dizer algo, mas fechou a boca e me olhou carrancuda.
Eu não era bem-vinda por ela. Eu estava ali de intrusa. Eu não era amiga delas, eu não era parte delas. A realidade tinha me atingido com um balde de água fria.
Outsider. Era isso que eu era, não teria palavra melhor. Logicamente que seria a Trisha a me lembrar disso.
“Tem algo que a gente possa fazer?” resolvi que o melhor seria me concentrar na Jen e ignorar a Trisha.
Talvez ela fosse uma daquelas garotas que não tem jeito.
“O Auguste disse que me ama” foi a resposta da Jeniffer. As meninas ficaram ainda mais surpresas do que quando viram que eles conversaram.
“E você?” a Aline perguntou.
A Jeniffer passou a mão no rosto enxugando as lágrimas e parecia melhor quando decidiu falar.
“O que você acha? Eu respondi que o amo também. Não é mentira, sabe. Eu amo o Auguste. Só que não... Dessa forma. Ele me disse que não queria que a gente terminasse, que nós éramos O casal da escola e gostaria que continuasse assim. Que não queria que nada atrapalhasse e que estava só curioso sobre... Bem, sobre você” ela olhou pra mim.
Então era isso que o Auguste queria comigo? Nada? Tudo o que tínhamos passado não significava NADA pra ele?
“Curioso sobre mim? Por que ele faria isso?” franzi o cenho.
“Vamos lá senhora espertinha. Você é a única na escola inteira que tem um quarto próprio. Ninguém aqui tem isso, nem mesmo o líder da Aristos. Somente alguns professores possuem, os mais antigos. No entanto você tem. E você acabou de chegar. É uma NOVATA” Trisha, é claro.
Sempre Trisha.
“Certo. Eu acho. Olha, não tem nada de especial sobre mim. Sei tanto quanto vocês. Meu pai escolheu essa escola, aceitei vir pra cá. Como vocês devem saber, não se tem escolha enquanto se é menor de idade. Cheguei aqui, me deram aquele quarto. Disseram que era o único vago” dei de ombros.
“Não precisa falar assim. Acreditamos em você” a Felipa me disse sorrindo. A Trisha ia abrir a boca e provavelmente destilar mais do seu veneno, mas apenas se calou com o olhar da Felipa.
“Ótimo. Porque é a verdade. Não sei porque me deram aquele quarto” dei de ombros.
“Já achou quem roubou o seu anel?” eu pisquei duas vezes.
Elas sabiam disso? Uma pergunta melhor, era possível que elas não soubessem de algo? Aquelas meninas pareciam saber de tudo. Era meio assustador.
“Vocês sabem disso?” elas simplesmente riram, até a Jeniffer.
“Nós sabemos de tudo, Catarina. Tudo” será que sabiam sobre o que tinha rolado entre eu e o Auguste? Não. Não podiam saber.
Acho que a Jeniffer não estaria do jeito que está se tivesse.
“Não achei. Acho que alguém entrou no meu quarto e pegou” na verdade essa era a idéia do Dan, mas mesmo assim.
“Não tenha dúvida. Alguém fez isso. O anel não é pra qualquer um, parabéns por tê-lo recebido a propósito” eu decidi que delas a quem eu mais gostava era da Felipa.
Ela podia parecer entediada e alheia aos fatos, mas ela não era. Delas todas, ela parecia a mais legal, a mais simpática.
“Obrigada, eu acho” não é como se eu tivesse feito nada.
“Não fique assim, ninguém ganha ele sem muito esforço, sem merecer. Você deve ser uma excelente aluna pra ganhá-lo tão rápido assim” bom, é, eu tinha notas boas.
“Nada impossível” dei de ombros. Eu não gostava de falar das minhas notas. Isso só me tornava ainda mais esquisita aos olhos das outras pessoas. Eu era boa e entendia tudo muito rápido e minha memória fotográfica só facilitava isso, mas me impedia de uma vida social satisfatória.
Um celular começou a tocar. Era o da Felipa.
“Alarme, temos que ir. Ainda temos que trocar de roupa e pegar nossas mochilas. Nos vemos mais tarde, Catarina. Foi bom conhecer você de fato” ela disse sorrindo pra mim.
Todas as outras sorriram pra mim também, inclusive a Trisha. Elas foram se retirando, a Aline ainda do lado da Jeniffer falando algo com ela e a Felipa distraída pra variar mexendo no seu celular.
A Trisha pareceu esperar elas irem e ficou pra trás um pouco.
“Só uma coisinha: não é porque a Jeniffer é aberta sobre a vida dela e porque ela foi com a sua cara e deixamos você partilhar um momento de fraqueza dela e porque você talvez tenha nos visto, que significa que você é parte de nós. Você não é. Não sei o que você esconde, mas você esconde algo e eu vou descobrir. E faça um favor a você mesma, não fique com o Auguste Saint Clair, pro seu próprio bem” eu fiquei sem reação com a ultima frase.
ELAS SABIAM!
“Não, as meninas não sabem, não contei pra elas. Elas contariam pra Jen. Não achei saudável. Fique fora da vida dela, ok? Ela já sofre demais, não precisa de alguém que não tem o que fazer e vida própria bagunçando com a vida dela. Acredite, eu garantirei pessoalmente que nada a faça sofrer mais. Então... Fique esperta novata. Fique esperta” a Trisha sorriu com a cara mais amável do mundo.
Como ela conseguia isso? Num instante praticamente ameaça acabar com a minha raça e no segundo seguinte está me olhando e sorrindo como se eu fosse BFF dela? ASSUSTADOR! MUITO!
Agora eu entendia o que o Dan quis dizer sobre sobreviver aqui no CSP.

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