quarta-feira, 29 de junho de 2011

PeRiGoSas

Prólogo

Todo mundo mais cedo ou mais tarde terá um segredo. Um segredo do tipo que se descoberto, acaba com a vida das pessoas envolvidas nele. Esse tipo de segredo se compartilhado se torna responsável por fortalecer um relacionamento já fortalecido.
Mas até onde uma pessoa seria capaz de ir pra proteger um segredo? Será que realmente há um limite pra se proteger e proteger tudo aquilo que você ama?
Elas têm a resposta.








Capítulo 01

- Gostosas! – um grupo de rapazes entre seus 20 e poucos anos gritaram para as quatro garotas que passavam pela rua de braços dados cada uma carregando várias sacolas de loja de roupa.
Nenhuma delas virou o rosto para olhá-los. Elas já estavam mais do que acostumadas a esse tipo de coisa. E mesmo com o costume, elas não conseguiam evitar exibir um sorrisinho de gratificação e de certa forma agradecimento por tal elogio.
Há mulheres que considerariam tal palavra com ultraje e ficaria revoltada ‘como ousam?’ e esse tipo de coisa, só que certamente elas não eram esse tipo de mulher.
Elas sabiam reconhecer a um elogio e sabiam muito bem como recebê-lo. Estavam acostumadas as pessoas endeusarem elas, apenas algumas é claro, e outras as invejarem mais que tudo e outras simplesmente desejarem que elas realmente morressem.
Não que elas se importassem. Não se importavam.
Não seria errado dizer que elas até gostavam de certas inimizades porque isso agitava suas vidas. Constantemente elas eram ameaçadas de morte ou esse tipo de coisa por garotas que elas acabavam com a vida sem querer. Ou não.
Com a Perla entre elas era difícil de acreditar que elas poderiam fazer algo sem saber de todas as conseqüências ou algo impensado, impulsivo.
Perla Lavigne era a cabeça do grupo. Ela é a mais inteligente de todas elas, a aluna modelo, a CDF e também a mais equilibrada. Ela sempre calculava tudo com exatidão, bolava os planos que elas faziam, sabia todos os prós e contras e nunca estava despreparada para nada. Eu disse nada. Com ela sempre havia um plano na manga. Se não tivesse, ela acharia.
Embora não costumasse sorrir muito, tinha um sorriso perfeito. Um sorriso que cativaria muita gente se ela talvez usasse com maior freqüência. Só que no mundo dela, eles eram dispensáveis. Principalmente quando estava em casa, com seus pais.
Seus pais ao contrário dela eram dois desequilibrados obcecados por dinheiro e mais dinheiro. Ambos empresários sabe-se deus do quê extremamente bem sucedidos e ricos. Realmente muito ricos. Cada um tinha seu negocio e se já tinham muito dinheiro separados, imagine juntos. Quem ganhava mais era um constante debate entre eles dois o que fazia com que a Perla se afastasse deles cada vez mais.
Malmente ela os via e malmente queria saber deles. Eram seus pais, mas pra dizer a verdade ela não amava nenhum deles dois. Ambos eram fúteis, mesquinhos e egocêntricos e ah, egoístas também. Eles não amavam ela, isso era obvio e ela não ligava. Se fosse procurar amor, tinha suas amigas pra dar.
Tudo o que queria de seus pais e era grata por isso era o seu dinheiro ilimitado. Também era muito grata aos genes de sua mãe que lhe concedeu um corpo proporcional com curvas que ela preservava muito bem com a prática rotineira da academia. Já seu rosto era mais parecido com o de seu pai. Tinha puxado o mesmo tom de pele morena do dele, seus olhos verdes e é claro, seu cabelo liso ondulado. Sim, ela não tinha muito do que reclamar.
Até porque, graças a deus, seus pais só tinham ela de filha. Bom, ao menos sua mãe. Seu pai tinha um outro filho, um filho bastardo, fora do casamento, que ela só descobriu quando ele morreu.
As meninas continuaram a andar com sua confiança habitual olhando pras vitrines das lojas e todos que passavam por elas as olhavam. Todos as desejavam pelos mais diferentes motivos. Elas sorriam com graça e confiança, nelas mesmas e nas amigas que tinham.
É fácil deixar seu corpo cair para trás se você tiver certeza que tem algo ou alguém ali pra te segurar e você não cair.
Era assim com elas. Confiança era a palavra-chave num relacionamento e no delas era ainda mais importante.
Elas não eram quatro garotas comuns. De comuns elas não possuíam absolutamente nada. Talvez somente sua aparência bonitinha e arrumadinha. Só isso e mais nada.
Os problemas que elas tinham nada tinham a ver com adolescentes normais. Elas não tinham problemas em manter a sua aparência, seu corpo, suas roupas, nem problemas com os garotos.
O dinheiro que elas tinham, principalmente o que a Perla tinha, facilitava a vida delas. A Perla tinha tanto dinheiro, mais tanto dinheiro que nem sabia como gastar tudo aquilo sozinha e dividia com a maior felicidade do mundo com suas amigas fazendo um dia terapêutico de compras como esse.
Oh sim, passar o dia inteirinho na rua batendo perna entre lojas e mais lojas era o remédio preferido delas para curar qualquer coisa. E elas realmente estavam precisando.
Na noite anterior, tinham se reunido as quatro, exatamente à meia-noite no meio da floresta perto da casa da Perla para enterrar uma caixinha que tinha feito juntas.
Na caixa constava nada menos que seus piores segredos. Os segredos que poderiam acabar com a vida não só delas, como de muitas outras pessoas. Segredos que mudavam, que podiam mudar, a vida de uma pessoa.
Elas não sentiam-se no direito de acabar com aquelas provas, com aqueles segredos, mas era o trabalho delas protegê-los. Era isso que elas faziam.
Elas deveriam proteger todo e qualquer segredo que caísse em suas mãos até chegar a hora certo de usá-los. E sempre quem determinava isso era a Perla.
Geralmente quem descobria os segredos alheios era a Rina ou a Goy. A Rina por ser a mais popular delas e a Goy por ser altamente perceptiva.
- Será que a loirinha tem telefone? – um rapaz de aparência razoável perguntou olhando diretamente nos olhos da Rina.
Ela olhou para ele e sorriu. Sim, ela gostava do que ela via. Por um instante ela olhou ele de cima abaixo avaliando e sabia que suas amigas estariam fazendo o mesmo e indicariam o que acharam dele logo, logo fizessem a avaliação. Na dela, ele poderia tirar um oito.
Sim, ele era um oito.
Ele era um pouco mais alto que ela, usava um jeans sem marca, tênis Nike, uma camiseta preta regata também sem marca alguma com um casaco preto. Ele sabia se vestir e combinar, mas também dava logo pra sacar que dinheiro ele não tinha. Mas ele era bonitinho. Tinha um rostinho de bebê e seu cabelo era liso e curto, também era possível ver duas argolas penduradas na orelha dele. Usava também uma corrente que devia ser prata no pescoço combinada a um boné de pala reta com um símbolo “DC” nele.
- Ter ela tem, mas não dará pra você. Agora sai da nossa frente. – a Goy disse com sua voz fofinha de menina.
Ela tinha uma mania de fazer isso. Usar palavras duras com uma voz doce e palavras doces com uma voz dura. Isso confundia uma pessoa com as reais intenções dela.
A Goy pode-se dizer que é o olho do grupo. De todas, a mais perceptiva. Nada, absolutamente nada escapava de seu olhar. Sabia ler as pessoas extremamente bem, sabia ler nas entrelinhas. Constantemente ela flagrava as pessoas se contradizendo através da linguagem corporal. Sua aparência costumava enganar as pessoas. Possuía um rosto doce, amigável, gentil e embora ela fosse quando quisesse, poderia ser fatal. Ao contrário de suas amigas, seu cabelo era liso escorrido e quase brancos de tão loiros. Apesar dos seus incríveis olhos esmeraldas virem e perceberem tudo, ninguém sabia ao certo o que se passava com ela.
- E você é o quê, a voz dela? – o garoto perguntou em claro desafio.
Pobre homem, não sabia com quem estava se metendo, se soubesse, talvez nem tivesse olhado diretamente pra elas. Seria esperto e ignoraria a Rina por mais bonita que ele a achasse.
A Goy abriu a boca para falar algo, mas a Rina a segurou.
- Goy, não! Deixa comigo. – a Rina falou olhando pra Goy e pras outras. A mensagem era clara. Ela se soltou das outras e segurando suas sacolas caminhou até o cara estranho.
Ela andou até se afastar o suficiente de suas amigas para que elas não a escutassem. Ele a seguiu. Assim que estavam um em frente ao outro ele sorriu pra ela.
Ela não sorriu de volta.
- Você não é pra mim. – ela disse com calma. Ele franziu o cenho e esperou que ela falasse mais. – Mas eu gostei de você, não sei o porquê disso.
- Isso significa que me dará seu telefone e vamos poder marcar um lance? – ele perguntou animado.
Ela sorriu.
- Não. Nada do meu telefone, ele não é pra qualquer um, mas poderemos sair sim.
- Beleza! – ela comemorou abrindo um sorriso ainda maior.
- SE... Somente se, ninguém souber.
- Claro, claro. Onde passo pra te pegar?
- Oh não. Relaxe, eu encontro você e marco alguma coisa.
- Mas como você...? – ela o interrompeu.
- EU encontro você. Não se preocupe.
- Pode me dizer ao menos seu nome?
- Rina.
- Rina? Você quer dizer, Rina Bass? – ele parecia surpreso.
- Olha, você me conhece. – ela sorriu.
- Sim, eu trabalho pro seu pai! Meu nome é Murilo, Murilo Nogueira. – sua voz era de pura animação.
- Hum, legal Murilo, pegando a filha do chefe, huh? Que sortudo. Mas esquece, eu não vou namorar com você. Agora eu tenho que ir, minhas amigas estão me esperando. Quando EU quiser, eu te procuro. – sua voz demonstrava o quanto ela se importava com tudo isso. E suas palavras também. Ela deu uma piscadinha em flerte pra ele e voltou pras garotas que estavam em frente a uma loja de acessórios.
- Você demorou, decidiu sair com o senhor pobretão foi? – a Sabrina disse rindo.
De todas as quatro talvez a Sabrina fosse quem ligava menos pra dinheiro e status. Incrivelmente ela é quem mais tinha dinheiro delas. Talvez fosse por isso que não ligava. O engraçado é que por um acaso sempre que se interessava por algum cara, ele tinha dinheiro. Sempre.
A Sabrina era o espírito do grupo. De todas ela era a mais alegre, a mais otimista e sua visão de mundo e das coisas era sempre além. Sempre tinha alguma idéia mirabolante e progressiva, ousada e que por mais maluca que fosse, tinha sentido, tinha fundamento, dava certo. Era assim que as coisas eram pra ela. Nada nunca dava errado. O grupo em si não tinha uma líder, mas quem via de fora, poderia dizer que ela era. Ela sempre unia as outras sejam em situações boas, seja em situações ruins. Seja lá o que fosse, era ela que as metia.
A Sabrina parecia mais velha do que realmente era. Seu bom humor e seus sorrisos, além é claro, do seu corpo muito bem provido de curvas, fazia os homens correrem e muito atrás dela. Ela chamava mais atenção do que as outras de certa forma. Sem querer ofender, tinha um corpo típico de mulheres que apareciam em filmes pornôs e revistas do tipo. Sua pele era clara, seu cabelo e seus olhos eram castanhos escuros, um pouco abaixo da cintura e ondulados. Seus olhos escuros sempre carregados de uma maquiagem escura só realçava o seu olhar forte.
- Não sei, vou pensar. Talvez quando eu quiser me misturar eu o procure. Pode ser útil. – todas deram risada e ela deu de ombros.
A verdade era que tinha sim se interessado pelo Murilo. Ele era ligeiramente diferente do que estava habituada e ela gostava de variar.
- Tá ficando tarde, essa vai ser nossa ultima loja, então? Meus pais querem que eu volte cedo hoje. – a Goy disse com um suspiro profundo. Era a única delas que se sentia em alguma espécie de responsabilidade com a família.
Não porque ela quisesse e porque gostasse deles, ela também não gostava, nenhuma delas tinha uma relação muito boa com seus parentes, só que a Goy se não respondesse e obedecesse a eles, teria que lidar com grandes conseqüências nada agradáveis.
- Seus pais? Sério? – elas falaram em uníssono. Nenhuma delas gostava da forma restrita com que se viam fora da escola por causa dos pais da Goy.
Elas não gostavam de sair em dupla, ou em trio, somente quando extremamente necessário. E essa dependência que a Goy tinha dos pais empatava em muita coisa. Era por isso que recentemente elas pensavam seriamente na idéia de morarem juntas. Todas elas já tinha 18 anos, menos a Goy. Que faria em breve.
- Desculpe meninas, eu terei mesmo que ir. – o celular dela deu um bip. Ela olhou pro visor e fez uma cara de chateada. – Deixa pra lá, não dá nem pra essa ultima loja. Minha mãe me quer em casa agora. Disse que vai sair, tenho que ir tomar conta do meu irmão.
- Então também iremos pra casa. Não sairemos sem você. – a Sabrina disse e é obvio que todas as outras concordaram mesmo que não quisessem. Era assim que as coisas eram entre elas. Solidariedade sempre. União? Definitivamente sempre.
- Sinto muito. – a Goy disse incomodada. Ela não gostava dessa dependência que tinha dos pais e como eles a tratavam. Pra dizer a verdade ela não via a hora de terminar a escola, fazer seus 18 anos e ir pra faculdade.
- Não esquenta. Temos o suficiente pra nos divertirmos mais tarde. Combinado na minha casa então né? – a Sabrina perguntou sorrindo.
Não era preciso. Nenhuma delas faltaria a noite do pijama que elas faziam todos os sábados numa espécie de rodízio. Tirando a casa da Goy, os pais dela sabiam mesmo encher o saco.
- Claro! – todas as outras responderam em uníssono.
Mal sabiam elas que os planos não sairiam exatamente como elas queriam.

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