sábado, 28 de abril de 2012

Dionísio (angustias)

Eu olhei para ele. Desviei antes que ele pudesse fazer mais uma de suas leituras tão bem feitas sobre mim e o que estou sentindo. Ele estava ali, na minha frente, apenas a alguns centímetros de distância, tão perto que se eu estendesse minha mão eu poderia tocá-lo. E por que não? Dei um passo e beije-lhe os ombros tornando a me afastar.
Eu estava demasiadamente preocupada com os meus sentimentos para que eu fizesse uma boa leitura dele. Eu estava demasiadamente preocupada com que meus sentimentos e frustrações ficassem tão claros a ponto de... Não sei a ponto de quê. Tudo o que eu tinha plena consciência, é que eu não queria lidar com eles tão cedo.
Eu me atrevi a olhar em seus olhos e percebi que não havia neles o brilho tão conhecidamente familiar. Ele estava lá, o brilho. Eu sabia, podia sentir, mas eu não conseguia ver. Rugas de expressões tomavam todo o seu rosto. Ele parecia cansado, triste, confuso, ao mesmo tempo em que estava levemente feliz. Mas as suas preocupações, receios, desconfianças, pareciam dominar.
- Você está diferente. – ele me diz. Não foi surpresa alguma seu comentário. Eu sabia que ele perceberia, já que é sempre tão perceptivo.
- Diferente como? – perguntei cruzando os braços, já retomando uma forma defensiva.
- Nada. Deixa pra lá.
- Não. Me fala. – falei de forma totalmente exigente, o que foi péssimo, porque só reforçou o fato de que ele não iria falar.
- Não. Não vou falar isso pra você.
- Por favooor! – falei. Só que dessa vez adotando uma expressão, postura e voz completamente diferente. Se o autoritária não serviu, tudo o que me restava era usar o olhar do gatinho do Shrek.
- Faz isso não vei. Faz essa cara não. – ele me pediu já claramente cedendo. Como de fato estava funcionando, eu continuei.
- Por favor... – pedi.
- Nada. Só... A forma como você disse que não vem amanhã. Mas tudo bem, talvez seja melhor assim, talvez seja melhor pra você.
- E pra você?
- Não. – ele respondeu sem precisar pensar. – Não... – a sua voz dava o tom de reticências em sua fala, sua cabeça balançando em negação só confirmava que definitivamente ele não considerava bom as implicações do tom de voz por mim utilizado.
Eu olhei pra ele e me senti triste e feliz ao mesmo tempo. Então eu o abracei. Abracei bem forte, abracei demorado, abracei-o pra valer.  Não havia nada que pudéssemos fazer. Quer dizer, de certa forma sempre há, mas escolhas nunca são fáceis. Escolhas são renúncias. Renúncias que ele ainda não estava preparado pra fazer e eu definitivamente também não estava. Ali, naquele momento, tínhamos chegado a um impasse.
A saudade, o gostar, o cuidado, a alegria estavam ali, bem ali com a gente naquele momento, só que infelizmente eles não eram os únicos presentes.

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