sexta-feira, 20 de abril de 2012

Dionísio


Dionísio. Era assim que ele deveria se chamar. Qualquer outro nome atribuído ou designado a ele me parece demasiado... Não certo.
Olhei para ele.
Ele sorria enquanto andava entre as pessoas servindo-as com vinho, um sorriso gracioso. Eu o observei todo o tempo enquanto o murmúrio das pessoas ao meu redor me impedia de ouvi-lo ao mesmo tempo em que fazia com que me concentrar no que eu via se tornasse mais fácil.
Aguardei a minha vez.
Qual seria a sensação de olhar nos olhos daquela figura tão incrivelmente encantadora? Eu tinha a certeza, o porquê exato eu desconheço, mais eu sentia que ao ter seus olhos fixos nos meus, eu talvez pudesse ver sua alma, talvez pudesse desvendar um pouco daquele mistério magnífico que eu tinha em minha frente.
Aguardei. Se eu pudesse ter acesso a ele, valeria a pena esperar.
Uma pessoa a menos.
Duas...
Três...
Quatro...
Eu. Tinha chegado a minha vez.
- Aceita beber? – ele me perguntou sorrindo um pouco mais abertamente do que tinha para as outras pessoas.
- Eu não bebo. – respondi com um meio sorriso pretensioso.
- Calma. – ele riu. – Só perguntei se você aceita beber. Se não quiser o vinho, tem refrigerante também.
- Aah! Refrigerante eu aceito.

Ele sorriu satisfeito. Eu sorri de volta. Ele parou me encarando com o galão de vinho ainda na mão. Eu o olhei retribuindo o olhar e esqueci. Esqueci de tudo. Esqueci inclusive do desejo de conhecer sua alma. Esqueci onde eu tava, esqueci das pessoas ao meu redor, esqueci que ele era um completo estranho para mim. Esqueci de tudo.
Esqueci porque de repente nada daquilo parecia importante. Algo no olhar dele me prendeu. Era fascinante. Uma prisão. Uma prisão que eu não queria sair. Nem se ele me expulsasse. Ele tinha o mais fascinante dos olhares. Eu podia sentir sua intensidade através deles. Uma combinação de paradoxos bem ali na minha frente. O espírito poético, lírico, livre. Avassalador.
Ele continuou me olhando diretamente nos olhos parecendo totalmente imerso em seus pensamentos, o que é engraçado porque eu sequer conseguia pensar. Logo eu que sempre penso tanto...
Ele me olhou. Olhou como se eu fosse uma espécie de ET, uma estranha, algo que ele jamais tinha visto na vida. Ele parecia maravilhado, fascinado. Parecia completamente perdido em seu próprio mundo. Não sei se foi somente impressão, tudo o que sei foi que seu olhar me fascinou. Eu estava presa. Presa e submersa no brilho dos olhos do meu Dionísio.
Ele continuou me olhando.
Seu olhar foi como uma dessas drogas pesadas que temos hoje por ai, que basta apenas uma vez para que se vicie. Não demorei muito a perceber que eu já estava viciada. Bastou que ele virasse as costas por alguns instantes para que eu rapidamente sofresse de abstinência. Ali eu soube, soube que precisaria da droga diária que era aquele olhar, o do meu Dionísio.

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