domingo, 19 de setembro de 2010

Desejos Secretos

Toda garota má, com certeza, já foi uma boa garota algum dia. Eu não sou diferente de nenhuma delas. Todas nós mudamos por algum bom motivo. Ninguém deixa de ser inocente e se transforma do nada. No meu caso, bem, eu mudei por causa de coisas que certa pessoa me fez passar.
Quando nos apaixonamos pela primeira vez achamos que o cara será o nosso príncipe, escrevemos o nome dele em nossos cadernos, escrevemos o nosso nome com o sobrenome dele, escrevemos o nosso nome com o nome dele dentro de um coração, nós sonhamos com o primeiro beijo, sonhamos com ele fazendo alguma coisa hiper fofa e todo tipo de coisa romântica.
É, o primeiro amor é realmente uma coisa bonita e boa de se viver. Mas, ha, nem todas as garotas possuem a sorte de encontrarem um primeiro amor fofo o bastante pra satisfazerem seus sonhos mais românticos.
A maioria das garotas continua a sonhar mesmo depois da primeira decepção. É uma coisa boa, sabe? Não desistir de sonhar, não desisti de se obter aquilo que realmente irá te fazer feliz.
Infelizmente, como a maioria irá perceber, senão já percebeu, as coisas não funcionam normalmente desse jeito. Antes de você conhecer O CARA, pode crer que você irá passar por muito sofrimento nas mãos de caras que não te valorizam e coisas desse tipo. É normal, anormal é se você encontrar caras que logo de cara te tratem bem e que vocês se apaixonem. Aí você é realmente uma sortuda.
Eu não tive essa sorte. Eu totalmente não tive essa sorte. E como toda garota que não teve essa sorte eu me revoltei depois. Eu decidi chutar o balde e mandar tudo pra... Err, vocês entenderam e viver minha vida. Decidi que eu não seria mais de homem nenhum, que eu seria de todos, todos seriam meus.
A partir daquele momento eu não iria me apaixonar por ninguém. Eu não iria me comprometer com ninguém. Eu iria fazê-los se apaixonarem por mim e provarem do próprio veneno que destilaram em outras garotas. Eu decidi ser uma garota apaixonante, uma amante que nenhum deles colocaria defeitos.
Se deu certo? É, deu super certo.


Eu perdi meu bv com o cara que eu passei 3 anos inteirinhos gostando. Ele sabia muito bem que eu gostava dele e tudo o que ele fazia era me esnobar, me desprezar. Então eu decidi mudar e virar amiguinha dele e isso eu consegui. Virando amiguinha dele eu consegui o que eu passei tanto tempo desejando: que ele gostasse de mim! Na época foi um verdadeiro sonho realizado. Lembro como se fosse hoje.
Eu e ele sentados na escadaria do portão do colégio esperando a mãe dele vir buscá-lo e aí ele disse que queria me contar uma coisa. Disse que gostava de mim e que não agüentava mais me ter só como amiga. Eu lembro que meu coração batia tão rápido que parecia que eu iria vomitá-lo. Minhas mãos estavam geladas e eu suava muito frio. É, bons tempos...
Então eu logicamente disse que eu também gostava dele e ele me beijou. Foi um dia realmente perfeito e acho que demorou umas duas semanas até ele me pedir em namoro. Ele não foi um bom namorado, mas eu gostava realmente dele, ele me fazia feliz. Na época era o que me importava. Enfim, depois uma garota super bonita chegou na escola e virou minha melhor amiga, ele começou a dar em cima dessa garota que me contou e inclusive me mostrou as mensagens de texto que ele mandava pra ela. E ela me disse que também gostava dele.
Agora vocês entendem por que eu sou assim certo? É, eu tenho meus motivos. Não me julguem. Muita gente me julga antes de me conhecer e eu estou cansada disso. Vivem falando da minha vida. Porra! Um bando de gente sem tem o que fazer que não faz a mínima ideia de quem sou e o que eu passo ou passei.
Mas né, eu lido com tudo isso o melhor que eu posso. Acontece que, agora eu não sou mais aquela garota que sonha com o cara perfeito, eu nem sequer acredito que esse cara exista mais. Se eu achar um homem que seja cavalheiro e respeite uma mulher eu acho uma raridade. Por que? Ué, você não vê mais caras assim. Simplesmente não vê. Nossa geração é uma total vergonha, mas Ok...
Então eu decidi isso. Depois dele me trocar pela minha melhor amiga que nem chegaram a ficar uma segunda vez depois de um beijo, bem feito pra ele, eu passei a SEMPRE olhar pros lados. E eu percebi que existem muitos garotos interessantes por aí. Cada um a sua maneira.
Uns gostam exatamente das mesmas coisas que você, outros te entendem, outros te protegem e te fazem sentir bem, outros gostam de você pelo o que é, outros te desejam, enfim, são muitas as opções. Conforme a minha necessidade eu procurava certo tipo de garoto pra satisfazer minha necessidade momentânea.
Minhas amigas reclamam comigo por eu não saber escolher somente um deles pra eu ficar, mas eu simplesmente não consigo mais. Não tem nenhum que consiga me satisfazer completamente. Eu preciso deles de maneiras diferentes. Todos eles pra mim são únicos a sua maneira, são especiais a sua maneira.
Depois do Henrique, o meu ex-namorado fdp, nunca mais consegui olhá-los daquela maneira que você realmente acredita e CONFIA no cara. Eu acho que fiquei um pouquinho traumatizada, mas e daí? O importante é que agora eu não sofro mais por um imbecil que nem sequer me dá o valor e a atenção que eu realmente mereço. Que eu SEI que mereço.
Eu obviamente já achei caras que me davam uma atenção admirável e tudo o que eu queria naquela época com o Henrique, mas... Não sei, não é mais a mesma coisa.
Eu já fiz uns aí se apaixonarem por mim, declararam seu amor, me mandaram rosas, me encheram o saco, mas eu nem... E nem me sinto culpada. Por que eu deveria sentir? Todos eles merecem! E eu não estou sendo insensível. Todo cara com o qual eu me envolvo é canalha e não presta. E eu sei que eles só se apaixonaram por mim, ou assim eles disseram, porque era interessante conquistar uma garota que estava disposta a não se apaixonar por ninguém, uma garota que não iria esperar nada deles, que não iria exigir nada e eles estavam bem certos.
Assim sendo, a garota boazinha, inocente e sonhadora virou uma garota má. E bem, a garota má passou a ser a namorada perfeita de todos os canalhas da face de Terra.
A garota má sempre está nas festas vestindo uma roupa deslumbrante e sexy, flertando com o cara mais gato da festa que fica até com medo ou receio de chegar nela. Garotinhos se assustam e ficam intimidados quando vêem uma MULHER diante deles. E garotas más, elas não são garotas e sim MULHERES. Talvez garotas em termos de experiência, idade e corpo. Mas mulheres em atitude, em desejos, em pensamentos.
E atualmente é assim que eu sou. Ou é assim que eu me sinto. As vezes eu paro pra pensar na minha vida e gostaria de voltar naquele tempo em que eu acreditava no amor, no verdadeiro amor e no príncipe encantado que apareceria. Um garoto que seria tudo o que eu sempre quis.
Felizmente esses meus desejos só aparecem de vez em quando e quando eu estou nesses dias, eu me afasto de TODOS os garotos com os quais mantenho um relacionamento amoroso. Justamente pra eu não querer e não esperar nada deles ou ficar viajando transformando tudo o que eles falam em algo “ohh que fofo”!
“Olha quem tá vindo...” a Rebeca, uma garota com a qual eu ando, falou sorrindo. Eu nem precisava me virar pra eu saber quem é.
“Hum, então vamos sair daqui. Eu realmente não quero encontrá-lo hoje” falei puxando ela pelo braço, mas ela simplesmente parecia que tinha chumbo nos pés.
“Não senhora. Nós iremos ficar!” ela disse me puxando de volta. Droga! Eu não teria como fugir dali sem ela sem parecer que eu estava fugindo DELE.
“Oi Rebeca” ele disse pra ela enquanto eu ainda estava de costas pra ele amaldiçoando a Rebeca até não poder mais. Ela iria me pagar, mais tarde.
“Oi Rê” ele falou comigo e eu não tive como evitar mais.
“Oi Henrique” falei a contragosto. Eu não gostava muito de ficar de conversinha com ele, mesmo que ele gostasse de ficar de conversinha comigo, porque afinal de contas, nós ainda éramos amigos. Só que assim, pra mim, eu não me importava de só ficar de conversinha com ele pelo MSN, mas SÓ por lá onde eu não tinha que ficar olhando pra cara dele.
“Atrapalho alguma coisa?” ele perguntou sorrindo. Por que ele tinha que ter vindo até aqui conversar com a gente? Droga! E por que logo HOJE? Como é que ele consegue escolher o pior dia, ou seja, um dia onde estou vulnerável, pra falar comigo?
“Sempre” respondi emburrada e a Rebeca me deu um beliscão.
“Ela tá só brincando” e riu como quem diz “cala a boca”. “Não estávamos conversando nada demais” o que não era exatamente mentira. Na verdade nós estávamos falando justamente dele e o quão gostoso ele ficou do ano passado pra cá, mas isso não era algo que eu gostava de ficar reparando. Sabe como é, quando é ex e a pessoa fica melhor, isso dá... Não sei, é difícil e complicado.
“Vocês vão pro cinema mais tarde? Me disseram que o último Harry Potter vai estrear hoje. Tão a fim?”
“Não vou poder, estarei estudando. Tenho prova amanhã” falei sorrindo como quem sente muito. Na verdade eu não me esforcei nem um pouco na minha atuação então devo ter soado BEM falsa.
“A prova de amanhã foi transferida, Rê” a Rebeca me olhou como quem diz “te peguei” e eu a olhei da mesma forma.
“Não é da escola não, eu tenho prova do inglês” eu sorri afetadamente pra ela.
“Ah, é uma pena” ele disse me olhando como quem quer dizer mais. Certo, agora vocês percebem o porquê eu não curto ficar perto de garotos nesses dias né?
“Pois é” eu nem me esforcei pra fingir que eu nem estava ligando. “Tenho que ir procurar... alguém. Fui” eu falei saindo dali deixando a Rebeca com ele. Se ela queria tanto conversar com ele né, quem sou eu pra impedir não é mesmo? Eu sei que EU não poderia ficar perto dele. Não quero ter recaídas.
Assim que me afastei deles o meu celular tocou e eu vi que quem estava me ligando era o Caíque, um pretendente meu. Eu resolvi atender. Ele me disse que queria me ver e que estava com saudades de mim e eu também estava com saudades dele, mas... Hoje totalmente não era um bom dia pra eu ficar com ele. Eu dei a mesma desculpa que eu dei pro Henrique e desliguei.
Eu pra dizer a verdade não estava a fim de ficar com ninguém. Eu só queria ficar a sós com os meus pensamentos. Sem amigas ou caras me enchendo o saco, sabe? Eu precisava realmente pensar.
Quer dizer, ser solteira e ser comprometida ambas tem lados bons e ruins. Eu gosto de ser livre e ter minha liberdade de ir pra rua, sair sem ter que dar satisfação a ninguém além dos meus pais, de poder olhar pros lados mesmo sem sentir culpa, de poder flertar e dar mole para caras bonitos, mas eu também sinto falta de ter alguém pra me dizer no meu ouvido um “eu te amo” e dizer que tudo vai ficar bem quando não estiver tudo Ok. É bom gostar de alguém e alguém gostar de você. Eu sinto falta disso, eu realmente sinto. Algumas vezes eu canso dessa vida, de curtição e pegação. Sei lá, é bom durante um tempo, depois você cansa. Claro que, é só aparecer um cara realmente gato que eu mudo de ideia, mas enquanto eu estou sem, eu canso. Hahahahahaha!
Eu também como sou traumatizada, acho que levaria muito tempo até eu conseguir ceder, a conseguir me envolver realmente com algum garoto. Ele teria que ter muita paciência comigo, porque se for apressar as coisas ou tentar impor, nem rola, eu fujo na MESMA hora. Fala sério! Teve um mesmo, que na segunda vez que a gente ficou ele já queria me apresentar pra FAMÍLIA dele! Deus livre! Não mesmo que eu iria querer algo com ele... Psicopata!
Pra eu me envolver desse jeito de novo teria que ser algum cara que fosse meu amigo, que conversasse comigo sobre qualquer coisa, que gostasse de ao menos algumas coisas parecidas comigo e tudo o mais. Mas não... Eu não encontrei até hoje com esse cara a não ser o fdp do meu ex. É, VDM!
Nós tínhamos no ultimo horário, horário vago porque era teste e prova e tipo, não teríamos prova, então eu fui embora mais cedo.
Como eu totalmente não estava a fim de ir pra casa cedo, eu decidi passar num barzinho que tem no centro da cidade e onde tem um ponto de ônibus perto, porque aí depois eu não teria que andar muito sozinha e no escuro.
Quando eu cheguei lá tinha apenas dois casais numa mesa como se estivessem em um encontro duplo e eles estavam rindo felizes. Eu não consegui evitar de desejar ter aquilo algum dia. Mas do jeito que as coisas estavam indo eu não teria aquilo tão cedo...
Então eu caminhei até uma mesinha para duas pessoas que ficava ao lado de uma janela e afastada de todo o resto do bar e me sentei. Puxei meu caderno de anotações, uma caneta e quando eu vi tinha feito um coração partido ao meio nele.
“O que vai querer?” um cara barrigudo com um cabelo grisalho aparentando ter uns 40 e poucos anos me perguntou. Obviamente ele era o garçom.
“Eu... Quero uma roska de morango, por favor” pedi olhando distraidamente o coração partido em meu caderno.
E aí uma coisa que eu não esperava aconteceu. Lágrimas começaram a vir aos meus olhos. Por que é que o Henrique tinha que ter sido tão idiota e ter estragado com o nosso namoro que era tão legal? Merda! Nós realmente nos entendíamos de alguma forma!
E por que eu não consigo me desligar dele? Por que diabos eu não consigo esquecê-lo? Por que eu tenho que ficar imaginando o que ele está fazendo, está pensando e coisas desse tipo? Por que meu deus? Por que tem que ser assim? Eu não quero mais nada disso. Eu odeio esses dias nos quais eu fico assim. Eu realmente odeio.
“Você está bem?” alguém perguntou sentando na cadeira a minha frente. Era um garoto. Eu estava com a cabeça abaixada chorando e não queria um garoto me assistindo chorar.
“Estou. Obrigada. Você pode ir” falei fungando ainda de cabeça abaixada.
“Você não está bem. Hei, isso não é vergonha nenhuma” ele disse tocando minha mão que ainda segurava a caneta. Com tal gesto intimo eu não consegue evitar olhar pra ele.
E nossa, eu realmente me surpreendi com o que eu vi. Não era um cara como eu esperava que fosse. Na minha frente estava um cara loirinho com o cabelo lisinho caindo sobre a testa dele, com os olhos super azuis e forte. Sim, ele era realmente forte. Ele estava com uma camisa vermelha sem manga e uma corrente de prata no pescoço.
Oh meu deus, por que hoje, só por hoje o senhor não me livra dos garotos?
“Você não me conhece e se me conhecesse e soubesse o motivo pelo qual eu estou chorando iria saber que é sim um motivo pra vergonha” eu falei limpando meu rosto.
“Certo eu não te conheço. Que tal... Por que você não começa me dizendo seu nome? Eu sou o Olavo, prazer” ele sorriu mostrando um sorriso branco, brilhante e perfeito.
“Amanda” assim que eu disse meu nome o garçom chegou com a minha roska. Então olhou para o Olavo e perguntou o que ele queria e ele pediu uma coca apenas.
“Nome bonito. Então Amanda, o que houve contigo?” ele perguntou e parecia realmente interessado.
“Por que isso te interessa?” eu perguntei, mas não na intenção de ser grosseira.
“Também não sei. Pra dizer a verdade essa é uma boa pergunta, mas... Não sei. Acho que, porque talvez não seja todo dia que eu encontre uma garota bonita chorando, sozinha e bebendo num bar. Ainda mais num bar onde venho todos os dias e senta na mesa onde sempre sento” ele disse rindo da minha cara porque eu tinha ficado vermelha de vergonha com a declaração dele. Ah então não foi exatamente por mim e sim porque eu estava invadindo o espaço dele sem saber.
“Oh me desculpe eu não...” eu disse sem jeito recolhendo minhas coisas.
“Pode ficar aí. Eu não ligo. É bom ter companhia de vez em quando” ele deu de ombros.
“Eu não sabia. Mesmo. Me desculpe. Eu vou pra outra mesa” eu falei saindo, mas ele me segurou e disse um “fique” tão forte que eu apenas sentei de volta no meu lugar.
“Não me enrole. Por que você estava chorando?”
“Você quer mesmo saber?” perguntei arqueando uma das sobrancelhas.
“E não estou perguntando?” ele respondeu me olhando com aqueles olhos azuis dele e eu apenas olhei pra baixo sem jeito.
“Eu estava chorando porque as vezes eu paro pra pensar na minha vida e acho tudo uma merda. Eu ainda gosto do meu ex, mas eu não consigo voltar pra ele porque eu sei que não dará certo, as coisas aconteceram de uma forma que estragou tudo de bom que poderíamos ter juntos, mas ao mesmo tempo não consigo me desligar totalmente dele. Então por causa disso eu não consigo me ligar livremente em outros caras, enfim, minha vida é uma merda mesmo” falei me lamentando. Nem coragem de olhá-lo eu tive.
“Imagino que deva ser uma situação difícil esse lance de ex-namorado é complicado mesmo, mas você vai ver que você acostuma, sabe? Isso vai passar e você não vai ficar pensando nele pra sempre” talvez ele estivesse certo, mas talvez não. Não dava pra saber.
“Eu espero que sim” eu suspirei. “Eu simplesmente... Não sei. Não sei de mais nada” suspirei mais uma vez.
“Olha, por que você não canta? Quem canta seus males espanta, não é mesmo? Faça assim. Tipo, eu sempre venho aqui pra me dedicar a minha música sabe? Quase nunca tem alguém aqui dia de semana ainda mais esse horário, então o dono gosta quando eu toco. Eu vou tocar uma música e você me acompanha cantando certo?” ele falou sorrindo e pegou um violão que estava ao lado dele e que eu nem tinha reparado.
“Que música você sabe tocar?” perguntei olhando pra ele enquanto ele tocava as cordas do violão.
“Você que manda. Diga qualquer música aí, eu vou saber tocar” ele disse piscando pra mim. Pra me mandar dizer qualquer música que ele saberia era ter realmente muita confiança e manjar muito.
“Certo. Deixa eu vê... Conhece Hey, Soul Sister?” foi a primeira música que veio na minha cabeça assim e que apesar de me lembrar o meu ex, eu curtia bastante a música.
“Claro” ele respondeu sorrindo e começou a tocar a música e na hora pra eu começar a cantar ele deu um sinal com a cabeça. Então eu comecei a cantar a música ele me acompanhando de vez em quando e um pouco antes de chegar no refrão eu comecei a chorar de novo.
“Who's one of my kind” ele continuou cantando enquanto eu parava pra chorar. Aí ele incrivelmente parou de tocar e tocou minha mão de novo. “É, eu bem que pensei que não fosse uma boa ideia cantarmos essa música” ele apertou minha mão de devagar.
“É, acho que não foi mesmo uma boa ideia” falei concordando. Eu odeio quando eu fico super sensível assim.
“É normal. Relaxe. Todos nós temos um dia que ficamos assim” ele deu de ombros e colocou o violão em cima de mesa.
“Sua coca” o garçom chegou colocando a coca dele em cima da mesa. Ele pegou e bebeu de um gole só a coca que tinha no copo e eu decidi dar uns goles na minha roska que eu tinha esquecido até então.
“Vem cá” ele disse se levantando e pegando na minha mão.
“Ir aonde?” perguntei enquanto ele colocava o violão dele de volta na capa.
“Ali” ele respondeu vagamente e então foi até o balcão e pagou a coca dele e a minha roska.
“Obrigada” falei quando saímos do bar.
“Não tem de quê” e então ele me conduziu até o mirante que ficava ali perto, porque bem, o barzinho era perto da praia. E como era umas seis, sete horas da noite não tinha muita gente por ali e a vista era incrível.
Ele tirou o violão das costas, encostou na parede e parou pra me olhar. Eu sorri sem graça e desviei pra olhar a vista novamente. Ele era um cara legal. Um estranho que me tratava bem logo de cara. Isso era meio raro comigo.
“Quantos anos você tem?”
“17, quase 18. E você?” ele parecia ser mais velho. Parecia ser um daqueles garotos de faculdade.
“Tenho 21. Acabei de fazer na verdade. Foi ontem meu aniversário” ele sorriu de novo. Só que dessa vez seu sorriso parecia querer dizer mais.
“Sério? Legal! Quer dizer, parabéns atrasado” eu disse e então ficamos num silêncio constrangedor. Tudo o que eu conseguia pensar era “o que vamos fazer agora? O que ele quer comigo? O que eu falo? Eu tenho que ir pra casa antes que meus pais me matem”.
“É, obrigado. Até atrasado eu ganho presentes” ele deu uma piscadinha de leve pra mim e então fez uma coisa que eu não esperava.
Ele veio e colocou as mãos dele em minha cintura e ficou me olhando. Eu não me mexi, apenas... Esperei pra ver o que ele iria fazer. Ele colocou sua mão direita em cima da minha bochecha esquerda e eu senti minha respiração parando aos poucos.
“Posso?” ele perguntou inclinando seus lábios sobre os meus e eu pude sentir seu hálito quente perto de mim. Ele tinha um cheiro diferente de alguma forma. Era forte, mas ao mesmo tempo era suave. Eu não sei com o que posso comparar o cheiro dele e descrever pra vocês. Só sei que eu curti muito.
Eu não consegui falar nada pra responder a pergunta dele, somente... Assenti com a cabeça sentindo os lábios dele no meu. Eles eram melhores de sentir do que aparentavam. Eram carnudos, então eles eram bastante macios de sentir.
Ele me puxou mais pra perto dele e eu pude sentir que a temperatura dele era bem elevada. Ele era realmente quente. Literalmente muito quente. Eu o abracei ainda mais e pude sentir a língua dele na minha e a sensação foi boa. O beijo dele era calmo, mas ardente. Era profundo. Era como se ele estivesse explorando e saboreando cada momento daquele beijo. Era como se ele estivesse ME beijando e não beijando somente o meu corpo, a minha boca. É difícil explicar a sensação de um beijo, no mais, tudo o que eu posso dizer é que eu curti bastante.
Eu estava me envolvendo demais com o beijo dele então decidi me afastar. Hoje era o dia onde eu supostamente deveria não ter ficado com ninguém e ficado bem longe de garotos.
“Isso não... Não é uma boa ideia” falei virando de costas pra ele.
“Desculpe. Minha culpa, é que você tava tão perto que não resisti. Eu não irei mais... Desculpe de novo” pela sua voz eu pude perceber que ele estava meio sem graça o que foi fofo da parte dele.
Viu? Nossa, eu totalmente PRECISO ficar longe de garotos. E parar com isso de achar tudo fofo e romântico. Garotos não são assim. Eles não são, ponto final.
“Não é isso. É que... É como eu te falei mais cedo. Eu ainda estou envolvida emocionalmente com o meu ex, mesmo que ele não saiba e espero que nem venha a saber. Sei lá, eu queria mesmo me envolver com outro cara, conseguir me entregar que nem da primeira vez, sabe? Mas não sei, eu não consigo mais. Eu creio que tenha ficado totalmente traumatizada. E bem, nem sei porque estou te contando isso, você não tem nada a vê com meus problemas e acabamos de nos conhecer. Você é lindo, provavelmente está na faculdade e só queria curtir sua noite de quinta em paz sem uma garota problemática. Desculpe por ter estragado sua noite, é que... eu acho que precisava mesmo desabafar, sabe? Eu nunca faço isso e com meus amigos que sabem de toda a história é mais difícil ainda conversar. Eu... Acho que estou cansada dessa minha vida de pegação. Eu queria ser que nem as outras garotas e consegui ficar e gostar de um cara só, mas não acho um que preste e ainda sou traumatizada. Enfim, ai meu deus, eu falo demais” eu terminei por fim pensando que eu realmente falo demais e que minha língua parece não caber na minha boca.
Eu ainda estava de costas pra ele quando falei tudo isso e então eu não fazia a mínima ideia do que ele devia estar pensando de mim e muito menos se ele ainda estava atrás de mim. Talvez ele tivesse ido apenas embora. Eu esperei um dois minutos antes de ouvir a voz dele de novo. Eu realmente achava que ele tinha ido embora.
“Eu sei como é isso. Comigo meio que aconteceu a mesma coisa. Eu nunca encontro uma garota que preste e quando encontrei... Nós namoramos durante um bom tempo, só que ela me tratava como se eu fosse o cachorrinho de estimação dela. Então aí eu cansei” logo depois que ele terminou de falar ele veio e me abraçou pro trás e eu encostei minha cabeça no ombro dele. Ficamos nós dois assim abraçados em silêncio não sei por quanto tempo. Abraçados e olhando a vista.
Mesmo se eu não estivesse num desses “dias” eu teria achado isso romântico, porque realmente foi.
Talvez eu tenha finalmente achado a luz no fim do túnel que eu tanto procurei e tenho esperado. Ou talvez não. Tudo o que eu sei é que esse cara me mostrou e me fez sentir coisas que eu não acreditava mais que fosse possível. Talvez eu tenha finalmente achado minha chance de um novo recomeço. Uma nova vida.
“Eu acho que... Nós dois achamos o que procurávamos não?” ele disse em meu ouvido e eu sorri ao ouvir aquilo.
“Eu sinceramente espero que sim” concordei. Então ele me carregou de modo que eu ficasse sentada em cima do muro e pegou o violão de novo.
“O que vai tocar agora?”
“Undisclosed Desires, do Muse. Conhece?” então ele começou a tocar e ficou tocando para nós dois. Ao menos por hoje eu me permitiria sentir aquela garotinha inocente e cheia de esperanças que todas nós já fomos algum dia.

Um comentário:

  1. Nossa, adorei! Sua história resume a maioria das histórias das garotas de hoje em dia. Muito boa!

    Por Malena.

    ResponderExcluir