domingo, 22 de agosto de 2010

[Livro] Amor Celestial

Capitulo 2 – Conflitos

“Corra Ellen! Corra!” eu não reconhecia de quem era a voz, mas ao mesmo tempo ela me era familiar e calorosa. Eu não estava com um bom pressentimento, medo e pânico iam aos poucos tomando conta de mim. Tudo o que eu sabia era que eu precisava correr, não sei do que, e muito menos o porquê, eu apenas sabia que deveria correr. Era o que a voz me disse e o que eu estava fazendo.
Não fazia a mínima ideia de onde eu estava, com certeza eu não conhecia esse lugar e nem sabia como vim parar aqui, mas não importava. Era o que menos importava. Eu precisava fugir, precisava correr o mais rápido possível, o mais longe de... Quem? Não sei. Estava perto, se aproximando, eu podia sentir o perigo vindo. Não teria mais como eu escapar, tarde demais. Continuei correndo o máximo que eu podia, o mais rápido possível, mas logo fiquei cansada e parei. Apoiei minhas mãos em meus joelhos respirando pesado e arfando. Onde eu estava? Que lugar estranho era esse?
Quando levantei minha cabeça tudo o que vi foram ruazinhas estreitas, casas coloridas e... um cara, um cara de olhos vermelhos. Não vi sua cara, nem seu corpo, toda a sua imagem era como se fosse um borrão, tudo o que eu podia ver eram aqueles olhos vermelhos. Um vermelho vivo, tão vivo de dar medo, então os olhos vermelhos sumiram e a voz apareceu de novo.
“Corra Ellen! Fuja! Fuja! Agora! Sai daí! Se mexa, agora!” a voz disse e antes que eu pudesse me mexer o cara dos olhos vermelhos estava em frente a mim me olhando.
Então eu acordei. Eu estava caída no chão e todos os meus colegas em volta de mim, me olhando com curiosidade. Mais uma vez eu era a atração do circo, bela forma de começar o ano.
“Ellen! Ai meu deus. Graças a deus que você acordou, você nos deu um imenso susto” acordei com a Paulinha falando no meu ouvido, bom não exatamente, mas ela estava muito perto porque eu estava no colo dela e a voz dela estava muito alta.
“Tentando dar uma de bela adormecida pra vê se arranja alguém? Péssima ideia” esse menino é mesmo o maior idiota que eu conheço.
“Acha que preciso de truques que nem você pra arranjar alguém? Certamente que não Caduh. Consigo sem artimanhas ao contrario de você não?” rebati na mesma hora. Eu estava começando a me irritar com ele, de novo. Pra variar. Não dava pra eu arranjar mais uma briga hoje. Era o primeiro dia de aula! Nem parecia de tão agitado que foi. E ele ainda nem terminou.
“É garota, pelo visto está bem, tanto que já consegue se defender. Bom, voltem para seus lugares, por favor,” o professor nos disse enquanto me ajudava a levantar o que foi muito gentil da parte dele.
“Acha que pode assistir a aula?” ele perguntou claramente preocupado.
“Sim, posso. Estou bem, mesmo. Obrigada” dei meu melhor sorriso e fui para o meu lugar. Procurei pela aluna nova e não foi difícil achá-la. Ela havia sentado longe de todos e estava me encarando. Quando a encarei de volta ela desviou a cabeça olhando para o lado oposto, não sei se foi impressão minha, mas pude ver um sorriso em seu rosto.
“Quanto tempo fiquei desmaiada?” perguntei pra Gabi.
“Não sei ao certo, foi tudo tão rápido. Você caindo e tudo o mais, nos deu o maior susto sabia?” essa é boa, ela falando como se fosse culpa minha.
“Quanto tempo?” eu insisti. Eu sabia que ela deveria saber.
“Bom, uns 5 minutos se não estou errada. Por quê?” ela me perguntou preocupada, pela cara dela acha que eu fiquei louca.
“Nada. Eu só... Parecia estar dormindo e não desmaiada. Tive um sonho”
“Sonho? Que sonho?” a Paulinha perguntou arrastando a cadeira dela sutilmente para perto de nós.
“Bem, eu não sei ao certo. Foi muito confuso na verdade. Eu me lembro de estar correndo, eu estava com medo, assustada, confusa e não sei mais o que. Só sabia que tinha que correr” quando me dei conta a Leninha e a Talita também estavam perto de nós ouvindo o que eu falava enquanto fingiam prestar atenção no professor.
“Correr do que?” a Leninha perguntou preocupada.
“Eu... Não sei, não sabia. Só sabia que tinha que correr, o mais rápido possível, eu tentei, mas... Cansei logo”.
“Tá vendo? Quando eu digo pra vocês que preparo físico é importante e que não adianta estar no peso certo, temos que estar em forma, senão acontece isso aí, nem uma corridinha básica se agüenta, mas não. Eu sou a chata, alguém escuta a Leninha? Não, ninguém me escuta”.
“Acabou seu discurso Leninha?” a Talita disse pra ela e depois se virou pra mim. “Depois aconteceu o que?”
“Bom, aí eu parei de correr, parei pra descansar um pouco, sabem? Depois quando eu levantei a cabeça vi umas ruas bem estreitas, umas casas coloridas, mas não dava pra ver muito bem porque estava de noite e estava escuro e deserto. Então eu vi um cara longe de mim, bem longe...”
“Era bonito?”
“Talita! Larga de ser superficial”
“Ah Paulinha, você sabe, são detalhes importantes” ela deu de ombros.
“Não sei se era bonito, não vi seu rosto exatamente” respondi.
“Como não? Ele estava tão longe assim?” a Gabi perguntou.
“Não, é que... o rosto dele estava embaçado, tudo nele estava assim, todo seu corpo, menos...” eu parei. Dizer isso em volta alta soava muito esquisito.
“Menos...?” todas as quatro disseram juntas em coro.
“Menos os olhos. Os olhos dele eu me lembro muito bem, a única coisa nele que deu pra ver foram os olhos, só que... Os olhos dele não eram normais, eram vermelhos” eu terminei e fiquei esperando pela reação delas.
“Nossa. Vermelhos tipo alguns são azuis e outros verdes? Ou vermelhos de quando estamos com sono, chorando ou irritados?” a Leninha perguntou. Pergunta engraçada, ao menos eu achei. Eu sorri pra ela.
“Vermelhos como alguns são azuis e outros verdes” acenei com a cabeça.
“Sonho esquisitinho esse seu hein? Ainda mais desmaiada” a Talita disse rindo.
“Não tem graça Talita, dá pra parar de rir, por favor?” a Gabi estava bastante estressada. Acho que eu sabia o por quê, resumindo: Caduh!
“Ain calma aí, estressadinha” a Tali rebateu.
“Eu sempre disse que a Ellen é louca, ninguém me escuta tá vendo? Ellen, não me leve a mal, mas você é doida! Olhos vermelhos? Aiaiaiai. Esqueça isso, foi só um sonho esquisito. Ninguém tem olhos vermelhos, a não ser que sejam lente” a Gabi falou olhando pra mim.
“Gente, qual é, não disse que era real ou algo assim, foi só um sonho, coisas estranhas ocorrem em sonho o TEMPO TODO, vocês sabem. E o cara não usava lente, era mesmo os olhos dele, vermelhos” eu disse com certeza. Como eu sabia disso, nem me pergunte.
“Como sabe?” elas perguntaram. O que eu poderia responder? Dizer que eu simplesmente sabia? Não, eu não poderia, elas me achariam mais louca ainda. Ao invés de inventar algo para mentir, disse apenas a verdade. “Por que depois ele chegou bem perto de mim”
“Quão perto?” a Tali perguntou deslumbrada e empolgada. Depois eu que sou a maluca.
“Tão perto como alguém que iremos beijar” falando nisso, eu acho que foi o que me fez acordar, a proximidade daqueles olhos horripilantes, mas que por alguma razão não me davam medo.
“Ele beijou você?”
“Não! Claro que não, Gabi. Ele só chegou muito perto. Que foi quando eu acordei” eu disse.
“Isso tudo é realmente estranho meninas. Não sei se notaram, mas a Ellen desmaiou quando a aluna nova chegou e ela acordou assim que a garota se afastou. Só eu percebi isso?” a Leninha perguntou olhando pras meninas.
“Não, não vi nada disso Leninha, não viaja. Ok? Foi simplesmente coincidência a menina chegar e depois a Ellen desmaiar e a Ellen acordar na mesma hora que ela se afastou. Coincidência apenas. Não viagem!”
“Pode até ser Paulinha, mas Ellen... Tenha cuidado com essa menina nova, eu não confio nela e não vou com a cara dela”
“Nem eu” nós quatro, eu, a Paulinha, a Gabi e Tali fizemos coro.
“Pois é. Só tome cuidado Ellen, tem algo muito errado com aquela menina, não sei o que é, mas irei descobrir, prometo” a Leninha disse.
“É isso aí Leninha. Ninguém mexe com uma de nós e fica ilesa, aquela menina irá se ver conosco” a Tali apoiou.
“Gente! Muito obrigada mesmo, vocês sabem que eu amo vocês, mas não precisam fazer nada. Só... Fiquem de olhos abertos” eu disse tentando encerrar a questão quando então eu me lembrei de algo importante que eu não sabia. “Qual o nome dela?”
“Gabriela Monteiro, minha xará” a Gabi fez uma careta engraçada, como se pronunciar o nome da novata fosse um palavrão.
“Hum, Ok” eu disse sem saber ao certo o que dizer.
“Por quê?” a Tali perguntou estudando minha expressão.
“Nada demais, só achei que a conhecia de algum lugar, mas não conheço. Só... impressão”. Não era impressão minha, eu conhecia aquela menina. Só não me lembrava de onde.
“As meninas aí do fundo podem fazer o favor de repetir o que eu estava falando?” o professor interrompeu nossa conversa. Agora todos estavam olhando pra gente, sabendo certamente que não estávamos prestando atenção.
“Certamente que sim professor” então surpreendendo todo mundo a Leninha se levantou e foi até o quadro resolver uma questão que estava lá. Eu não entendi o porquê ela se levantou e nem as meninas, já que o professor só tinha dito para repetirmos o que ele falou e não pra alguém ir resolver o exercício.
“Prontinho professor, resolvido” ela disse sorrindo pra ele e vindo se juntar a nós.
“Bom turma, como a loirinha ali explicou...” ele continuou a aula dele como se nada tivesse acontecido e apenas decidiu ignorar o resto de nós quatro. Demos a Leninha um discreto obrigada e não falamos mais nada prestando atenção na aula.
Ao menos as meninas estavam, eu não. Algo naquela garota me perturbava. Eu sabia que a conhecia, mas de onde? Será que a Leninha estava certa sobre eu ter desmaiado por causa da garota nova? Não, claro que não, era imaginar um pouquinho demais.
“Bem turma, foi um prazer estar com vocês pela primeira vez no ano, nos vemos na próxima aula” assim que o Patrick disse isso a galera se levantou e foi embora. Todo mundo já havia arrumado a mochila menos a novata.
“Hei Ellen, vamos? O que está esperando?”. Uma das meninas me perguntou não sei qual delas, nem me dei ao trabalho de olhar quem foi. Eu simplesmente subi novamente as escadas da minha sala e quando eu entrei a aluna nova estava lá arrumando suas coisas.
“Oi” eu disse. Não fazia a mínima ideia de como começar conversas assim.
“Oi” ela respondeu sem nem olhar pra mim e continuou arrumando suas coisas. O oi dela não foi nenhum pouco caloroso ou indicador de que ela continuaria a conversa, pelo ao contrario, foi um oi que encerra conversas.
“Meu nome é Ellen” eu tentei começar pelas apresentações, mas fui interrompida por ela.
“Sei quem você é, você também sabe que eu sou. Eu não tenho tempo, tenho que ir, tchau, até mais” ela disse e saiu. Só que quando ela estava saindo se esbarrou em mim sem querer e de novo aquele arrepio passou por mim, mas ainda bem que dessa vez eu não desmaiei.
Mais uma vez com nosso esbarrão caiu algo dela, só que não fez barulho então ela nem voltou pra pegar e foi embora.
Eu fiquei a vendo sair da sala, para só então pegar o que havia caído. Era uma folha de papel reciclado, achei que não tivesse nada escrito, mas por fim eu vi o que estava escrito lá no finzinho da página, estava escrito meu nome.
Não faço a mínima ideia do porque ela escreveria meu nome assim numa pagina em branco e com uma letra tão pequena. Eu guardei o papel no bolso e desci as escadas pra encontrar com as meninas.
“Ah finalmente! Achávamos que nem viria mais. Tava fazendo o que?” alguém devia estar falando comigo, mas eu não consegui responder.
“Ellen! Acorda!” a Paulinha disse batendo palmas em frente aos meus olhos.
“Oi” eu disse por reflexo. “Eu estava... falando com a aluna nova”
“Com a Gabriela?”
“Ela mesma”
“Mas Ellen... Não vimos ninguém descer essas escadas além de você, estávamos aqui o tempo todo”
“Como assim ela não desceu?” perguntei confusa. Ela tinha descido, eu a vi descendo. Não exatamente né, mas não havia outro jeito dela ir embora. A não ser que ela tenha pulado a janela, o que eu acho bem difícil considerando que a janela deve ter uns cinco metros de altura até o chão.
“Não descendo Ellen! Pelo amor de deus! Você está perdendo o juízo, ficou impressionada demais, não escute as coisas que a Leninha diz, a Leninha acredita em qualquer coisa que disserem pra ela!”.
“Epa, epa Talita. Eu não acredito em qualquer coisa. Você que é cética, não me culpe por seu ceticismo, ok? Ellen... tem certeza que ela estava lá com você?”
“Gente claro que eu tenho. Eu até falei com ela”. Não sei como a tal da Gabriela havia escapado ou saído daqui, mas eu tenho certeza absoluta que falei com ela.
“O que ela disse?”. Estava bem claro no rosto de minhas amigas, tirando a Leninha, que elas achavam que eu era louca, ou então que eu estava imaginando coisas.
“Bem Paulinha... Eu disse “oi”, ela disse “oi”, aí eu fiquei olhando ela arrumar as coisas dela, depois eu disse “meu nome é Ellen” e ela disse que ela já sabia quem eu era e que eu também sabia quem era ela, então ela disse tchau e saiu” eu preferi omitir a parte do arrepio. Acho que elas não entenderiam, só a Leninha.
“Bom, ela não está errada né? Te falei mais cedo o nome dela, você perguntou, ela deve ter ouvido eu falando”
“É Gabi, talvez” respondi.
“Não acredito que estamos aqui até agora discutindo isso. Ellen serio me escuta, vá pra casa, relaxa, tome um belo banho, vá ler, ou escutar música nesse seu iPod como você sempre faz e esqueça essa menina, certo?” a Talita me disse, mas ela falou mais como se fosse minha mãe me dando bronca. Não gostei nenhum pouco do tom de voz dela.
“Tudo bem, tudo bem. Irei esquecer a novata, alias que novata?” eu disse sorrindo e elas riram aliviadas, todas elas, menos é claro, a Leninha.
“Nossas aulas já começaram... Mas ainda é a primeira semana, vamos aproveitar enquanto não estamos cheias de coisas pra fazer. Topam uma praia esse sábado? Depois da escola?”. Amei a sugestão da Paulinha, o que melhor pra esquecer os problemas que um banho de mar? Com certeza eu vou, até porque eu amo o sol, amo a areia, amo o mar.
“Eu to dentro” eu disse.
“Eu tambem, com certeza, estou precisando pegar um bronze, não posso ficar pálida” a Tali é sempre preocupada com sua cor, sempre atrás do tal bronze dela.
“Gabi? Você vai?” eu perguntei pra ela que ficou a calada a maior parte do tempo.
“Não sei meninas. Vocês sabem como minha mãe é, ainda mais agora que começou as aulas. Eu não sei se vai dar, se der eu vou, mas acho que ela nem vai deixar não” ela disse triste. Sabemos muito bem como a mãe da Gabi é, mal deixa a menina respirar sem ficar super em cima. A Gabi quase nunca sai com a gente porque a mãe não deixa.
“Ai gente, nem sei se vou não viu? Talvez essa semana eu conheça aquele primo da minha vizinha, lembram que falei pra vocês? Pois é, ele chega nessa sexta, aí sábado ela vai lá pra casa, já combinei tudo nos esquemas, só não marcamos a hora ainda. Então acho que nem dará pra mim, vocês sabem como a vida da Leninha aqui é ocupada né? Vocês tem que marcar na minha agenda com mais antecedência”.
“Ah cala a boca cabeçuda!” a Tali deu um tapa na cabeça da Leninha que saiu atrás dela pra pegá-la.
“Enquanto as duas crianças ali estão brincando, vamos andando. Meu primo vem me buscar hoje, meus pais vão sair juntos e eu vou ficar na casa dele”
“Seu primo Paulinha? Aquele seu primo? O Gato e maravilhoso?” perguntei.
“É, ele mesmo. Ele vem me buscar, acabou de comprar um carro”
“Opa! Hahahaha, adooron” eu disse rindo. Não sou Maria gasolina, nem nada, mas um cara com um carro simplifica algumas coisas.
“Qual o nome dele mesmo?” a Gabi perguntou.
“Felipe. O nome da peste é Felipe” a Paulinha olhando pra minha cara e a Gabi também.
“Ah obrigada” a Gabi respondeu agora as duas me olhando como se estivessem me lembrando de algo. Elas nem precisavam se dar ao trabalho de me lembrar algo que eu nunca esquecia, ou melhor, alguém que eu nunca esquecia.
“Por que estão me olhando assim? Eu lembro muito bem do Felipe certo? Mas posso fazer o que se ele nem quer saber de mim? Ele está afim da Bia! Vocês sabem... Não tenho o que fazer” o que era a verdade.
Eu amava o Lipe, amava mesmo. O Lipe é meu vizinho, meu colega de inglês, e o conheço praticamente desde que nasci. Quando eu era mais nova eu era apaixonada por ele e ele por mim. Quando a gente era criança costumávamos dizer que nós iríamos nos casar. Nossos pais até fizeram um vídeo disso.
O Lipe era aquele garoto gordinho da infância, que todo mundo gostava de zoar, e que quando cresceu, ou melhor, entrou na adolescência virou um gato. Como sempre teve problemas com seu peso, o Lipe começou a fazer dieta, entrou na academia e entrou pro time de futebol da escola. Ele é um ano mais velho que eu, ele está no segundo ano. Não é dos mais inteligentes, mas é super legal e eu gosto muito dele. Enfim, eu amo o Felipe, mas ele gosta de uma das minhas melhores amigas, não me sobra muito o que fazer.
“Ellen! Serio, pare de encarar as coisas assim. Poxa, você gosta desse cara há tanto tempo, não é justo isso”. Parando pra pensar realmente não é justo, mas quem disse que a vida é justa?
“Eu sei Paulinha, valeu pelo apoio meninas, mas bem, ele gosta da Bia, ele até me pediu ajuda com ela”. Nunca ouvir algo doeu tanto na minha vida, ouvir do cara que eu gostava que ele gostava da minha amiga e ainda me pedir ajuda com isso.
“Mas a Bia não tá afim do tal Miguel lá?”.
“É, eu acho. Bem, mais ou menos, ela não gosta dele, só está meio afim” eu não sabia realmente se ela gostava dele, pode ser que sim ou que não, até porque ela sempre comenta comigo sobre o quão gato o Felipe ficou.
“Cara eu não quero nunca passar por isso, tá vendo? Gostar de alguém pra que? Pra sofrer? Não valeu meninas, eu prefiro ficar só amando os meninos como amigos mesmo. To muito bem assim” não é que a Gabi talvez tenha razão?
“Me ensina como fazer isso então, porque eu realmente não consigo” como se esquece um primeiro amor? É possível?
“Paula! Hei anda logo, não tenho todo tempo do mundo e não sou seu motorista” o Felipe, primo da Paulinha, havia chegado.
“Já vou!” ela berrou de volta. “Bem meninas, tchau. Conferencia no MSN mais tarde, né? Avisem pra Leninha e a Tali que até agora não voltaram, beijos” ela disse e foi embora.
Um minuto de silêncio se estabeleceu entre eu e a Gabi, fiquei tão imersa em meus pensamentos sobre os acontecimentos de hoje e sobre a novata que nem percebi o silêncio, só fui notar quando a Gabi decidiu quebrá-lo.
“Olha El, eu sei que você ama mesmo esse cara e é desde sempre. Mas já parou pra pensar que pode está confundindo as coisas? Você pode o amarele como irmão...” antes que Gabi pudesse terminar eu a interrompi.
“Você sente vontade de beijar seu irmão?” perguntei.
“Bom, eu mesmo não. Mas você não tem laços sanguíneos com o Felipe. Escute, faça o que achar certo sobre essa historia dele e da Beatriz. Eu sei que você fará o melhor pra vocês três” ela sorriu.
“Não tenho tanta certeza. Ele...”
“Deve ser difícil abrir mão de um gato como ele. O estereotipo que quase toda menina quer não? Alto, cabelo lisinho, moreninho, malhado... Mas El, eu sei que se você ficasse mesmo com ele, você iria ver que não é o que você quer” como não? Esperei por isso minha vida toda!
“Eu... Vou pensar nisso, prometo. Olha as malucas vindo aí” então a Tali e a Leninha chegaram e quando elas iam começar a contar o porque demoraram tanto meu pai chegou vindo me buscar. Dei tchau pras meninas, o recado da Paulinha e fui embora.
Quando entrei no carro pra minha surpresa minha mãe e minha irmã mais nova, a Lara, também estavam e todos eles estavam super bem vestidos.
“Alguma festinha?” eles estavam bem arrumados até demais.
“Sim maninha! Mas você não vai, você vai ficar em casa, hahahaha!” antes que eu pudesse dizer algo minha mãe mandou a Lara ficar quieta.
“Ellen, você não vai. Mandei você arrumar seu quarto ontem e você não arrumou, portanto até que aquele quarto e principalmente seu guarda-roupa estejam arrumados, não irá sair a não ser pra escola e pro inglês. Levaremos você em casa, tem comida pra você lá” minha mãe me disse como se fosse ótimo pra mim. Todos eles vão pra uma festa e pelo visto de bacana menos eu, super maneiro.
“Festa de quem?” perguntei olhando pela janela fingindo pouco caso.
“Aniversario de uma amiga minha”
“E por que a pirralha vai?” perguntei chateada. Não era justo!
“Não fale assim da sua irmã Ellen” foi meu pai quem respondeu. “Ela vai porque ela fez o que mandamos e você não, assunto encerrado” ele disse pondo um fim na conversa, com meu pai não tinha discussão mesmo. “Chegamos. Tem comida, não esqueça de comer. Vá dormir cedo, amanhã você tem inglês não esqueça” ele disse eu abri a porta do carro e saltei e bati a porta do carro dele o mais forte que eu pude. Só deu pra ouvir meu pai reclamando comigo, mas eu nem liguei. Entrei em casa o mais rápido que eu pude, sabendo que mais tarde eu certamente iria ouvir poucas e boas dos dois. Pra piorar teria que agüentar a pirralha me enchendo o saco zoando com a minha cara.
Quando entrei a minha casa tava toda escura, eles saíram e desligaram todas as luzes, eu canso de pedir pra sempre deixar uma luz acesa, custa? Claro que custa! Esqueci que eles não são donos da Coelba. Odeio quando pergunto isso e eles respondem assim. Antes de eu ligar a luz senti um vulto atrás de mim e me virei rápido assustada, quando olhei graças a deus não era nada.
Só que quando eu virei pra frente novamente eu vi bem longe de mim o corpo de alguém parado me olhando. Não era ladrão, já teria feio alguma coisa, ladrões não iriam ficar parados do jeito que aquela pessoa estava.
Eu fiquei olhando só por uns instantes quando eu fui até o interruptor ligar a luz e a pessoa se virou pra ir embora, só deu tempo de eu ver que era uma mulher, pois os cabelos esvoaçaram com o movimento de retirada. Quando acendi a luz já não havia ninguém mais lá, havia ido embora.
Mas a pergunta que não quer calar, como havia entrado? Se tinha entrado podia muito bem voltar. Eu deveria ligar pros meus pais e avisar, mas eu sabia o que eles iriam pensar, que eu estava querendo chamar atenção, tirar ele da festa deles, não mesmo que eu iria ligar pra eles.
Resolvi ignorar isso também, eu não havia sentido medo isso que importa. A pessoa tinha ido embora, eu estava só em casa. Subi para o meu quarto e vi a bagunça que minha mãe falou. Realmente tava precisando de arrumação. Quando eu abri meu guarda-roupa pra tirar um roupa de lá varias caíram no chão.
“É Ellen, realmente você precisa arrumar seu quarto” falei comigo mesma. Então comecei a arrumar as coisas enquanto eu estava com disposição. Felizmente não demorei muito, mais ou menos uma hora até está tudo bonitinho no lugar, não duraria muito tempo assim, uma semana no máximo, mas eu ao menos conseguiria permissão pra ir a praia no sábado.
Assim que acabei toda a arrumação, fui tomar meu banho, comi e fui pro computador pra tal conferência no MSN que as meninas haviam combinado. Pra minha infelicidade a internet não estava pegando, eu cansei de ficar tentando, liguei meu iPod coloquei no aleatório e deitei, nem me lembro quando eu dormi.

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