sábado, 21 de agosto de 2010

O GRANDE DIA

Nunca antes na historia se tinha visto Marte tão animado quanto naquela manhã. Nem mesmo o calor excessivo era suficiente pra desanimar a alegre multidão que se seguia de todos os cantos até o castelo de Hampir, sede do grande império Marciano. Próximo a um dos rios, estava organizada uma verdadeira festa, tendas coloridas enfeitavam o local e uma musica de ritmo forte embalava a dança dos homens do exercito.
Entre eles se destacava Jink,o tal famoso prometido da Grã - Princesa Endra. Atraia os olhares de todos, não só pela sua boa posição e nome, como também pelo seu físico desejável, mas ele tinha apenas sorrisos para a princesa, que se encontrava em uma das tendas, descansando do calor e observando a dança dedicada a ela.
“Em breve não terei como adiar o inevitável” pensou a princesa com certa melancolia. Ela com certeza gostava muito de seu prometido, porém se casar e ter filhos não era o que queria.
“Nem sempre podemos fazer o que queremos meu bem” sua mãe lhe disse quando tentou argumentar sobre o casamento.
“Não podem me obrigar a fazer algo que não quero. Sabem que gosto do Jink, mas...”. Ela preferiu não terminar.
“Não pode fugir de seu destino. Sabe que você nasceu pra isso Endra. Todos esperam por isso desde que vocês dois nasceram, é a esperança de nosso povo. Não pode lhes pedir que não queiram isso. Nós somos os governantes, nós temos que nos sacrificar de alguma forma pelo bem de todos”.
“Não podem me pedir que sacrifique meus desejos assim, mãe. Eu morreria numa boa para salvar a todos da guerra, mas não quero me casar ainda e muito menos ter filhos. Não quero uma família, quero ser livre. Lutarei até o fim e contra quem for preciso para manter nosso povo a salvo... mas essa historia de ter um filho não. E como dizem é somente uma profecia, não é certeza de que aconteça e muito menos que serei eu”.
“Tem razão, não é certeza. Porém é uma esperança de todos. Tenho certeza de que os deuses ouvirão nossas preces Endra. Esta guerra pode ser evitada. Está nas suas mãos não só o destino de nosso planeta, mas de todo o sistema”.
“Mãe... Não seja exagerada. A guerra nem aqui acontecerá, não irei permitir. Conversei com Jink ontem e temos exércitos suficientes para manter os Saturnianos longe daqui”.
“Você não compreende não é? Essa guerra será nossa destruição Endra. Já escapamos da extinção uma vez. Fomos descuidados com o nosso lar e a natureza reclamou pelo o que é dela. Você viu o que aconteceu com a Terra, olhe para aquele planeta hoje. Impossível voltarmos lá, completamente destruído. Felizmente éramos muito avançados e conseguimos nos estabelecer aqui, porém ainda temos dificuldades aqui e sabe disso. Teremos que esperar anos e anos até podermos voltar a Terra”.
“Eu sei. Informei-me sobre o que aconteceu. Imagino o quão terrível foi. Caos para todos os lados”.
“Sim. Sua avó estava lá e me contou. Enchentes, tsunamis, a temperatura ficou extremamente quente em alguns lugares e em outros, muito frio. Animais e pessoas morrendo, nosso oxigênio acabando. Fome, sede, doenças... Muitos ainda lembram como foi. Pouquíssimos sobraram, mas felizmente conseguimos escapar. Você sabe que é a esperança de todos nós”.
“Eu serei mamãe. Mas serei lutando na guerra, contra os Saturnianos. Eles não nos vencerão e não me importo se tiver que morrer por isso. Vencer essa guerra eles não irão. A Lua será nossa”.
“A Guerra deve ser evitada Endra, pelo amor dos deuses. Onde está seu juízo? Case-se com Jink, crie seu filho e ele nos salvará da extinção”.
“Não farei isso comigo, com Jink e nem com um possível filho mamãe. Imagine se não for ele? Ver todos esperando algo para o qual ele não nasceu? E se ele quiser pintar, tocar e não liderar exércitos? Sinto muito, não farei isso conosco”.
“Ele não terá escolha Endra. Assim como você também não tem”.
Um silêncio caiu entre as duas, mas todos continuavam a festejar sem nada perceber, muito menos o Generalíssimo Jink. As horas foram passando e incrivelmente à alegria das pessoas era tanta que ninguém aparentava cansaço apesar de ter se passado tantas horas de folia. Essa com certeza era a maior festa que todos já viram. A maior e a melhor em todos os termos.
***
- Queria que todos sumissem para ficar só contigo. - disse o Jink abraçando a princesa por trás e surpreendendo-a.
- Seu desejo pode ser facilmente realizado. – respondeu maliciosamente a princesa.
- Não me provoque. Sabe que fazer sala é importante. Venha... Vamos dançar. – Jink a respondeu abraçando-a ainda mais forte.
A princesa nada respondeu, pois estava pensando na guerra que estava por vir. Uma guerra que provavelmente mudaria tudo e todos. Pensava na responsabilidade ao qual todos jogavam em cima de seus ombros. Sem perceber deixou seu corpo cair numa cadeira mais próxima e continuava pensativa. Isso certamente, não passou despercebido por Jink que a conhece há tantos anos, melhor que ninguém.
- O que está se passando por essa cabecinha?-Jink perguntou com uma voz amável, enquanto sentava-se ao lado dela.
- Não é nada. - ela apenas sorriu.
- Pareces preocupada Endra. Eu te conheço, vamos diga... O que está te preocupando?
Ela não falou nada por alguns minutos, apenas fitou com um olhar perdido a festa a sua volta- - Não é nada Jink, mesmo. É só que... Eu apenas estava pensando, tudo isso parece tão estranho, toda essa gente... - ela apontou para os militares que ainda dançavam - Toda essa festa e nem podemos ter certeza a respeito... Dessa... Profecia, e se não for o que todos esperam? E se não for... A gente? -ela perguntou com a voz vacilante.
Jink sorriu compreensível e a abraçou, ele a conhecia muito bem e entendia que se passassem muitas dúvidas na cabeça de sua noiva naquele momento, ele apertou um pouco o abraço e tentou reconfortá-la.
- Não precisa pensar nisso agora querida, esqueça essa profecia por pelo menos um instante, você não precisa de mais este peso nas suas costas, está bem? Sei que você ama seu povo, mas não precisa se preocupar tanto, você não vai desapontá-los, confie em mim. Se há alguém que mereça ser princesa e futura rainha de Marte, é você, só você, vamos relaxe, olha só que festa linda.
-Mas... -Endra soltou um pequeno suspiro.
Jink ao perceber as hesitações dela, virou seu rosto delicadamente para que pudesse olhar em seus olhos e perguntou.
-Não é só a profecia não é? Você está em dúvida sobre nós?
-Não. Não é isso, é que...
-Escute Endra, eu não quero que se sinta obrigada a seguir com isto, a se casar amanhã comigo. Eu não posso negar que estou muito feliz por tê-la como minha noiva, mas não quero que isso seja uma obrigação para você. Pode desistir querida, tanto eu como seu povo iremos entender.
Ela abaixou a cabeça por alguns instantes, seus longos cabelos foram mudando suavemente de um azul para um azul escuro mais forte, então finalmente ela levantou a cabeça, olhou decidida para o noivo a sua frente e respondeu.
- Eu não vou desistir Jink, fiz minha escolha, não desistirei nem agora, nem depois.
Ele não conseguiu conter um sorriso aberto e alegre, parecia até mais disposto agora ao ouvir aquelas palavras.
- Endra, te prometo que serei o melhor marido possível, querida. - A princesa deixou-se cair nos braços dele e logo batida forte foi substituída por uma musica suave e contagiante. - Me concede a honra desta dança, pequena?
-Eu vou lhe dizer quem é a pequena. - Ela respondeu brincalhona. Os dois seguiram de mãos dadas até o centro da dança. Era de longe o casal mais belo da festa, dançava em perfeita sintonia, ele se destacava pela beleza incomum e ela por sua extrema elegância e movimentos delicados, parecia até mesmo flutuar sobre o chão quente. A platéia acompanhava sorridente, até que se fez ouvir um estrondo.
Era um aviso: o mensageiro tinha chegado. A atmosfera estava tão alegre e leve que parecia quase impossível de ser mudada. Quase. Pois aquele mensageiro não traria tão boas notícias.

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