sábado, 21 de agosto de 2010

A Guardiã

Parte 01

Normalmente as histórias romance-vampiro são sobre garotas humanas normais que se envolvem com o vampiro misterioso e novato na área. Eu irei lhe contar a minha historia e ela é um pouquinho diferente das outras.
Eu não sou nem de longe como a Elena e muito menos como a Bella. Ao menos nesse sentido da história “ser humana normal apaixonada por um vampiro”.
Eu sou uma vampira, pronto falei. Eu nunca sequer tive chance ou escolha de optar sobre essa minha “condição” e sinceramente? Eu teria feito como a Bella e escolhido virar vampira também. Antes de você poder me entender, é melhor conhecer o meio em que vivo.
A cidade em que moro, a minha cidade, não é uma cidade qualquer e muito menos “propriedade” dos humanos. Ela não pertence aos humanos e nunca pertenceu porque ela foi fundada justamente por vampiros. Cinco famílias tradicionais da Europa migraram pra cá e assim tudo começou.
Meu avô estava entre um desses de famílias tradicionais que migraram pra cá e “construíram” uma nova cidade. Todos eles tinham algo em comum, além do dinheiro e do sobrenome renomado, todos eles eram vampiros. Assim... Aos poucos nossa cidade foi crescendo e se desenvolvendo, uma cidade cheia de regras a serem seguidas, um lugar onde a lei é cumprida.
Geralmente vampiros não podem se reproduzir, isso na verdade foi um grande problema no início, mas há 400 anos atrás meu pai, um grande cientista, descobriu uma forma de dá um jeito nisso. Como? Bom, isso é um segredo só dele. Nenhum outro ser vivo, ou morto, conhece o Segredo. Devo acrescentar que muita gente já morreu por causa dele, inclusive o meu irmão mais velho, mas eu nem cheguei a conhecê-lo, já que isso aconteceu a 200 anos atrás.
Falando em anos, em idade e tudo o mais... Eu, por enquanto, tenho a idade que pareço ter, ou seja, 16 anos. Ser uma adolescente vampira não é nada demais, o problema mesmo é ser uma princesa vampira. Eu não sei o que princesas normais e humanas fazem, mas eu tenho um imenso legado de família e com ele vem muitas responsabilidades.
Não só pertenço a uma das famílias fundadoras, como também sou filha do grande Mark. Além disso, sou comandante do exército da escola. Como assim exercito? Como explicar?
Não é fácil manter uma cidade grande como a nossa sobre paz o tempo todo e não sei se isso acontecerá um dia. Temos aqui uma espécie de “guerra civil” dentro da própria cidade. A cidade é dividida em duas “norte e sul” e a escola fica bem no meio dessa divisa.
A escola na verdade é um castelo que pertenceu a um conde muito, muito rico que depois se cansou da monotonia da cidade e doou o castelo para a fundação da primeira escola. Como toda boa princesa, eu durmo no quarto mais alto, da torre mais alta e não estou brincando. Eu durmo mesmo lá.
“Selina...” alguém me chamou batendo na porta estridentemente.
“Pois não?” berrei de volta. Seria pedir demais um pouco de paz?
“Abra essa porta! Os convidados já estão todos lá embaixo e você sequer começou a se arrumar!” ela, seja lá quem fosse, gritou de volta.
“Onde está meu pai?” perguntei suspirando e abrindo as trancas da porta. Como eram muitas demorei um pouco.
“Está lá embaixo esperando ansiosamente por você, princesa” agora com a porta 100% aberta eu pude ver quem era. Eu não conhecia esta mulher direito, mas ela falava comigo como se fosse intima a mim e resolvi apenas ignorar coisas como essa. Ela usava um bonito vestido preto de renda com mangas compridas e tinha o cabelo tão reluzente quanto ouro.
“Chame-me de Selina” eu não precisava de alguém me lembrando constantemente do meu status.
“Como quiser Selina” ela sorriu assentindo e começou a tirar meu vestido para pôr o da grande festa.
***
“Senhores e senhores” meu tio Patrick começou o grande discurso da noite. Eu achava que essa responsabilidade deveria ser de meu pai. Não pude deixar de ficar profundamente magoada. Por que tio Patrick estava discursando? “Esta é uma noite pela qual muitos de nós esperamos por séculos, literalmente” ele riu com a própria piada sem graça e alguns o acompanhou. “A noite em que a Selina, filha legítima de nossa cidade, completou seus belos 16 anos. Noite em que fará O ritual e noite também que...” ele parou criando suspense. O que mais teria nessa noite? Ele disse tudo o que essa noite era. O meu aniversario e a noite do ritual de passagem.
“Que eu a pedirei em casamento” o Clauss completou por ele. Clauss é o cara pelo qual sempre fui apaixonada. Assim como eu, ele é descendente dos fundadores, e é um excelente partido. O Clauss sempre foi tudo pra mim. Ele nunca foi meu melhor amigo, ao menos eu nunca o enxerguei dessa forma, mas eu sempre o amei muito e ele a mim.
“Casamento?” perguntei num sussurro que eu sabia que a maioria tinha ouvido graças a nossos ouvidos apurados.
“Sim meu amor. Casamento. Você... Minha por toda a eternidade” ele sorriu brilhantemente pra mim. Não pude evitar de sentir uma enorme onda de felicidade de excitação passando por todo o meu corpo. Tudo o que sempre sonhei. Casada com ele!
“Senhores e senhores...” meu pai falou surgindo do nada. Todos se viraram para ele e fizeram um comprimento das antigas. “Obrigado por comparecerem ao aniversário de minha filha” ele olhava pra mim cheio de orgulho. Sinceramente um olhar como esse era o meu único motivo pra fazer tudo o que eu faço e não desistir.
Depois do agradecimento de meu pai todos aplaudiram e sorririam admirados com algo. Comigo? Boas chances de ser. Eu também estava maravilhada e tudo isso eu devia ao Clauss, meu vampiro. Ele conversava com meu pai empolgadamente e fazendo amplos gestos. Eles nunca se deram muito bem, meu pai nunca gostou muito dele, mas com o passar do tempo aprendeu a aceitar tendo em vista que o Clauss era de boa família e eu gostava mesmo dele.
“Como está se sentindo?” a melhor amiga da minha mãe, Sra. Annabele me perguntou de supetão.
“Bem” respondi sem muito entusiasmo. Eu ainda observava a conversa do meu pai com o Clauss. Eles não estavam falando de mim, mas eu queria ouvir mesmo assim.
“Não está nervosa com a sua primeira morte?” ela foi a primeira pessoa a tocar nesse assunto. Não posso negar que fiquei bastante surpresa pela escolha do tópico da conversa. Primeira morte? Eu ri ao pensar nisso. Essa não era a minha primeira morte como a sociedade pensava. Nem a segunda, nem a terceira, nem a quarta e muito menos a décima. Eu já tinha matado muito mais do que eles poderiam imaginar, mas nunca ninguém saberia disso. Era um segredo meu, exclusivamente meu. Não só o fato como também os motivos que levaram ao fato.
“Um pouco” tentei fingi nervosismo. Ela pareceu acreditar, pois me olhou de uma forma bondosa. Como minha mãe olharia se ela estivesse aqui...
“Não fique querida. Se sairá bem, tenho certeza” ela segurou minha mão firmemente e não gostei disso, nenhum pouco. Eu não gosto que pessoas me toquem. Somente três pessoas são permitidas à isso: meu pai, minha mãe e o Clauss. Ninguém mais.
“Você está bem?” diabos! Por que ela estava sendo tão gentil e pegajosa?
“Estou, obrigada. Vou buscar algo para eu beber...” menti e saí de perto dela antes que eu pulasse em sua garganta e a degolasse. Não seria bonito, não hoje e eu tinha que aparentar que nunca tinha matado ninguém antes.
“Ora, ora, ora...” normalmente eu amo ser o centro de atenções, mas hoje estava passando dos meus limites.
“Michael” sorri afetadamente.
“Ora Selina, não me olhe desse jeito... Cadê o pateta?” não vale a pena eu perder meu precioso tempo explicando pra você quem é o Michael, um idiota, apenas isso que precisa saber dele e o “pateta” que ele estava se referindo é ao Clauss. Ele e o Clauss se odeiam.
“Na minha frente” disse rapidamente e saí. Ou tentei.
“Aonde pensa que vai? Você vai ficar aqui e dançar comigo” ele me segurou pelo braço e estava apertando um pouco, doeu, mas não falei nada.
“Quem vai me obrigar, você?” arquei uma das sobrancelhas em desafio. Ele não ligou, ele nunca ligava.
“Vamos...” ele me conduziu até a pista onde todos pararam pra nos olhar dançando.
Eu não posso negar que ter o Michael tão perto assim tinha me deixado extremamente tensa. O pior é saber que o Clauss podia chegar a qualquer momento e me ver dançando com outro e não gostaria nenhum pouco que esse outro fosse o Michael, mas eu não tive como fugir. De dançar com o Michael, eu quero dizer.
“Pronta?” ele me perguntou encarando com aqueles olhos azuis piscina e agarrando a minha cintura.
“Pronta” eu confirmei soltando um suspiro de desabafo. Então começamos a dançar conforme a música. O que estávamos dançando? Valsa, certamente. O Michael era um exímio dançarino e me conduziu divinamente bem, não dá pra mentir. Todos no salão estavam nos olhando dançar e pelos breves momentos em que eu não estava rodopiando, eu pude ver os olhos de admiração de todos. Eu procurei pelo Clauss, mas não achei. Graças a deus.
Assim que acabamos de dançar, fizemos um cumprimento formal e todos no salão aplaudiram maravilhados.
“Doeu?” ele, o Michael, me perguntou arqueando uma das sobrancelhas.
“Na verdade doeu. Você pisou no meu pé” eu disse fingindo indignação e sugerindo que ele fosse um mau dançarino. Ele apenas sorriu balançando a cabeça e me deixou sozinha.
Voltei a olhar ao redor do salão à procura do Clauss, ou meu pai, mas nem sinal de nenhum dos dois. Nem o meu tio estava ao redor. Isso era meio estranho. Os três sumidos ao mesmo tempo? Muito, muito estranho. Enquanto eu os procurava, várias pessoas me paravam e cumprimentavam e conversavam comigo. Eu era a atração da noite, ou quase isso.
“Selina...” alguém me chamou tocando em meu ombro e eu quase pulei de susto. Estava muito distraída pra perceber que alguém tinha invadido meus limites pessoais.
“Oi?” eu virei ficando surpresa. Será possível que meus olhos estivessem me pregando uma peça? Não, esse não podia ser quem eu achava que fosse.
“Selina...” agora foi meu pai quem falava. Sua expressão era divertida por ver meu choque. Como ELE poderia estar aqui?
“Não pode ser...” falei totalmente espantada. O que diabos eles todos estavam pensando? Todos ficaram loucos? Ele NÃO deveria estar aqui!
“Eu sei, eu sei” meu pai disse colocando as duas mãos sobre meus ombros. “Mas olhe filha, talvez a hora tenha chegado” meu pai disse serio me encarando. A hora tinha chegado? Ele só podia estar brincando! Ainda era muito cedo! A hora não tinha chegado! Por que diabos ele estava aqui?
“Selina... Por favor, seja razoável e me escute. O conselho se reuniu a pouco e decidimos isso. Se recomponha, por favor, Selina” meu pai não estava mais tão paciente e compreensivo. Tentei me recuperar do choque e do meu ultraje o mais rápido possível.
“Certo. Quando?” melhor ficar logo sabendo dos detalhes, mesmo sabendo que não iria descobrir tudo.
“Não sabemos. Amanhã teremos um conselho um pouco mais aberto e você irá” ele disse serio.
“Irei?” perguntei em duvida alternando do meu pai para o... Não sei se é seguro mencionar isso aqui.
“Irá. Você e alguns outros convidados, mas você irá. Bem, não podemos mantê-lo escondido para sempre não é mesmo?” meu pai tinha razão nesse aspecto. Fico me perguntando quando foi a ultima vez que ELE teve uma vida normal.
“Então...” o cara começou falando. Até ele se referir a mim diretamente eu tinha evitado olhá-lo, porque como diz a lenda ele não gosta que olhem para ele diretamente. Digamos apenas que coisas ruins acontecem com quem faz isso sem a permissão dele. EU que não queria testá-la.
Fitei-o com expectativa. “Selina... Lembro-me de quando nasceu” ele falou isso de forma fria e extremamente impessoal. Não pude evitar de gelar. Tentei não demonstrar.
“Eu...” comecei sem saber ao certo se eu poderia perguntar o que eu queria. Bom, não custava tentar. “Qual o seu nome? Nunca... me falaram” completei me sentindo constrangida. Por que eu estava constrangida? Eu não tinha motivos!
“Hugo” ele disse quase num sussurro. Hugo? Bem, nome bonito. Pra dizer a verdade ele também era bonito. Eu nunca sequer imaginava que ele fosse tão bonito. Seu cabelo era ruivo escuro bem curtinho sabe? Quase dava pra espetar. Ele devia ser uns 20 centímetros mais alto que eu e tinha um incrível porte de elegância e poder.
“Selina” meu pai interrompeu o nosso contato visual. É estranho conhecer alguém sobre quem todos falam e ninguém, ao menos ninguém vivo, viu.
“Sim?” perguntei tentando centrar em meu pai e não em dar em mais uma espiada no tal do Hugo.
“Eu agora apresentarei o Hugo a algumas pessoas... Você sabe quem” fazia tempo que eu não via essa expressão de seriedade no rosto do meu pai.
“Contará a eles quem ele é?” perguntei a meu pai, claramente, mas foi o Hugo quem respondeu.
“Estou bem aqui, Selina” ele disse usando aquele tom frio e distante novamente.
“Oh, me desculpe” o pedido de desculpas não tinha sido nenhum pouco sincero. Que diferença fazia se ele estava ali ou não? Pra mim? Nenhuma.
“Seu pai não contará a ninguém quem eu realmente sou ou minha importância. Seu pai apenas fará com que eu entre na sociedade de vocês chegando por cima” ele cruzou os braços encostando na parede. Eu não sou do tipo que agüenta alguém como ele. “E nem você dirá, irá manter a boca bem fechada, entendido?” ele falou olhando duramente pra mim. Graças a meus anos de treinamento de controle de emoções consegui apenas responder com um aceno de cabeça e manter meu olhar no dele.
Meu pai sorriu pra mim aliviado e disse sussurrando bem baixinho “muito bem, estou orgulhoso de você” o que me deixou extremamente feliz.
Se tinha alguém que eu realmente amava, esse alguém era meu pai. Que minha mãe não me ouça, mas a pessoa que eu mais amo na vida é o meu pai. Desde que nasci foi meu pai quem sempre cuidou de mim. Minha mãe também é claro, mas ela eu não sei... Eu e ela nos amamos muito, mas não temos nenhuma ligação especial. Com meu pai é diferente. Nós, eu e ele, nos entendemos perfeitamente bem.
“Te vejo depois” ele disse me dando um beijo na testa e foi andando com o Hugo ao lado dele.
Por alguma razão eu não tinha gostado muito desse tal de Hugo. Sim, eu sei que, eu teria que aturá-lo durante um bom tempo agora que ele finalmente saiu da “toca”. As palavras de meu pai ainda estavam ecoando em minha mente “talvez a hora tenha chegado”. Será mesmo? Quais significados isso teria em minha vida e na de todos? De uma coisa eu sabia, boa coisa que não seria.
“Meu amor” o Clauss disse em meu ouvido e me abraçando. Eu me senti reconfortada de novo e por um breve instante esqueci-me da chegada do Hugo e de tudo o que isso implicaria. “O que houve?” ele perguntou enrugando a testa e se afastando. Essa era uma das coisas que eu mais amava nele e que eu também mais odiava, sua enorme percepção aos sentimentos.
“Nada demais, acho que só nervosismo por causa do ritual” eu disse uma enorme mentira. Eu não ligava para o ritual, sim eu ligava, mas não estava preocupada porque esperei por ele desde que me entendendo por gente.
“Você vai se sair bem, você vai ver” ele sorriu otimista. Essa era outra coisa que eu amava nele, seu eterno otimismo.
“Assim espero” falei fingindo estar preocupada. Achei minha atuação convincente até e ele não perguntou mais nada, apenas deixou pra lá.
“Vamos dançar!” ele falou me arrastando praticamente para o meio do salão e começarmos a dançar. Lógico que não fizemos nenhum show como eu e o Michael, mas eu me sentia melhor assim, nos braços do Class.
Eu não estava preocupada em dançar no ritmo da música e muito menos fazer belos passos de dançar, tudo o que eu desejava naquele momento é esquecer que estávamos no meio de uma guerra fria que provavelmente muito em breve não seria mais assim. O que isso mudaria? Muita coisa, das piores maneiras possíveis. Eu não queria pensar que a chegada do Hugo iria afetar a mim e a meu pai. Não, eu não queria nada disso. Tudo o que eu queria era descansar minha cabeça no peito do Clauss, no belo peitoral dele eu devo acrescentar, sentir seu cheiro que é como um calmante pra mim e esquecer de tudo. Eu consegui. Eu realmente quase consegui.
Até uma gritaria histérica da multidão começar. Todos correndo apressados e desesperados ao longo do salão. Bruxos! Eles estavam aqui e agora... Nos atacando...
“Corra Selina! Corra!” o Clauss disse tirando sua espada da bainha. Eu apenas o encarei.
“Não está falando sério está? Esqueceu quem sou?” perguntei agora tirando minhas adagas da meia calça que eu estava vestindo por debaixo do vestido de princesa.
“Exatamente por isso.Você é uma princesa. Vá procurar seu pai e levá-lo para bem longe daqui. Pegue seu pai e o Hugo e os proteja, Seline! Vá” ele disse pra mim e eu obedeci.
Não por ser submissa a ele ou por ele ter uma posição melhor em combate do que a minha, certamente que não. Eu obedeci porque eu sabia que meu pai não sabe se defender tão bem assim e se alguém tivesse que defendê-lo que fosse eu e eu também sabia que ele estava com o Hugo que deveria ser protegido também.
Não foi fácil achá-los. Todo mundo estava correndo de um lado pra outro, procurando fugir dos bruxos e de seu poder. Havia fogo em muitos lugares e pequenos terremotos estavam acontecendo. Lembra que eu disse antes que humanos normais não tinham chances de matar um vampiro? Pois bem, os bruxos são os únicos que conseguem. Eles possuem um poder extraordinário de controlar os cinco elementos, o que faz que, de certa forma, eles se igualem a nós.
Se nós, vampiros, somos rápidos e eficientes em combate corpo a corpo, os bruxos eram bons em combates a distância. Bruxos normalmente conseguiam manipular somente dois elementos, isso era a cota normal deles. Mas é claro que, existem aqueles que conseguem três elementos e esses são bruxos medianos, os que conseguem quatro são muito bons e os que conseguem os cincos são verdadeiros mestres. Nunca enfrentei um bruxo que dominasse os cinco elementos. Isso está se tornando cada vez mais raro entre eles o que os preocupa muito.
Dizem que bruxos de nível cinco, aqueles que controlam os cinco elementos, conseguem derrotar vampiros com uma incrível facilidade e rapidez. A não ser que, o vampiro seja realmente bom em luta. Como não existem muitos bruxos com tal capacidade, nós nem nos preocupamos muito. Esqueci de mencionar que também existem aquelas anomalias incapazes que só conseguem somente um elemento ou nenhum. Esses são quase inexistentes também.
Essa guerra entre bruxos e vampiros, começou nos primórdios da construção de nossa cidade. Ninguém realmente sabe o que aconteceu ou qual o motivo real da luta entre as duas raças, já que, até onde se sabe, elas já conviveram em perfeita harmonia. E o motivo hoje de nada mais vale, porque pessoas já morreram e pessoas ainda morrerão pela disputa de poder e de sobrevivência.
Quando eu já estava praticamente desacreditada que não encontraria meu pai e muito menos o Hugo, eu consegui observar de longe um tufo de cabelos vermelhos que se destacava na multidão de cabelos castanhos. Ao lado dele estava meu pai olhando atentamente toda a situação do caos instalada. O salão era grande o suficiente para que os bruxos lançassem seu fogo até 20 metros de distância e os vampiros conseguirem fugir. Na mesma hora em que localizei meu pai e o Hugo pude observar dois bruxos de nível três indo em direção a eles. Eu estava longe demais e certamente os bruxos chegariam muito antes de mim.
Eles não poderiam chegar em meu pai.
“Hey, idiotas!” os chamei lançando uma das minhas adagas.
“Do que você me chamou sanguessuga?” uma bruxa baixinha dos olhos verdes e cabelo loiro me perguntou. Sua raiva parecia profunda.
“Por que não pega alguém do seu tamanho?” provoquei-a. O outro bruxo continuava andando e jogando “feitiços” em direção ao Hugo. Agora eu conseguia notar com clareza que eles não queriam meu pai. Eles queriam o Hugo.
“Pense rápido!” eu gritei no salão o mais alto que pude fazendo minha voz ecoar pela sala e minha adaga atingir diretamente ao estômago do bruxo.
“Merda, sua sanguessuga de uma figa! O que você fez com ele?!” ela gritava histericamente pra mim.
“Vocês procuraram” eu disse agora, que meu pai e o Hugo estavam a salvos, calmamente. “O que queria com meu pai afinal?”
“Com o Mark? Nada. Ele não é útil sem o Segredo. Nem queremos o Segredo, você sabe” ela deu de ombros e voltou a olhar seu companheiro morto. Eu deveria respeitá-la e deixá-la em seu luto, mas ela era uma bruxa e eu uma vampira, não existe “parceria” entre inimigos.
Simplesmente aproveitei que ela havia baixado a guarda e lancei minha estaca em sua direção e pra minha surpresa a estaca tinha parado no ar e depois pegou fogo. Uma usuária de ar e fogo? Combinação perigosa.
“Acha mesmo que eu seria tão descuidada garota?” ela riu com desdém. Ok, essa cadela realmente conseguiu me irritar. Comecei a correr em sua direção pra atacá-la rápido, assim o seu escudo de ar não teria efeito se eu fosse veloz. Infelizmente eu não esperava por um anel de fogo que ela lançou ao redor dela e do seu parceiro cadáver.
O fogo atingiu o meu belo vestido e começou a subir rapidamente e como era um daqueles vestidos de época eu não conseguia tirar de jeito nenhum. Sabe como é, eles são bem, bem apertados e sufocantes. O fogo começou a corroer todo o vestido e eu comecei a ficar desesperada, enquanto aquela cadela ria descontroladamente de mim.
“Selina!” ouvi a voz do Clauss me chamando, mas eu não conseguia enxergar mais nada. O fogo começou a me consumir por inteira e tudo ficou preto de repente. Ou quase.
“Selina!” senti alguém me carregando no colo.
“Clauss?” tentei falar, mas minha voz saiu muito fraca.
“Sou eu” ele disse claramente preocupado. O fogo tinha passado. Pude sentir meu corpo se recuperando das queimaduras. Cinco minutos depois eu já estava de pé e perfeitamente saudável.
“Como?” perguntei olhando o caos ao meu redor. Ninguém estava ferido é claro, nós vampiros temos alto poder de recuperação. Mas o medo ainda estava ali.
“Filha...” meu pai disse me abraçando aliviado. Eu sorri, também estava preocupada com ele.
“Estou bem, você?”
“Tudo certo. Não quero que lute com alguém nível quatro Selina! Por favor, deixe isso para vampiros de calão mais baixo! Você pode ser uma guerreira, mas continua sendo uma princesa e minha filha” ele disse isso como se fosse uma bronca. Ele estava realmente chateado, não posso culpá-lo, mas também não podia ficar parada assistindo o caos se instalar sabendo que eu poderia ajudar a contê-lo.
“Nível quatro?” era melhor mudar o rumo da conversa. “Achei que fosse nível dois! Ela só usou ar e fogo em mim” falei com convicção.
“Nem sempre eles usam tudo o que podem, mas dá pra perceber pela intensidade dos elementos. Elementos que nos atingem com facilidade é porque o bruxo tem um nível maior, mais cuidado da próxima vez” ele me abraçou de novo.
“Terei. O que eles queriam afinal?”
“A mim” o Hugo respondeu e eu não tinha notado a presença dele.
“Como poderiam saber que você está aqui?” sei que alguém como ele não passaria despercebido ainda mais para os bruxos, mas acontece que ele se manteve longe por muito tempo.
“Eles devem ter seus espiões”
“O conselho já sabe?”
“Só o alto conselho” dessa vez foi meu pai quem respondeu. O alto conselho era composto pelos primogênitos das cinco famílias fundadoras. “E você” ele acrescentou com um olhar de advertência.
“Mas não era para saber” o Hugo disse com a testa enrugada. Não consegui deixar de notar o quão sexy ele ficou fazendo isso.
“Por que não era?” arquei uma das sobrancelhas. Eu não era do alto conselho ainda. Fato. Só um membro de uma família por vez faz parte do alto conselho. Enquanto meu pai estiver vivo serei apenas do conselho. Não tenho pressa e muito menos interesse de chegar ao alto conselho. Segredos deles permanecem apenas entre eles, essa era a primeira vez que um segredo vazava.
“Porque... Há anos eu estou afastado dessa cidade. Há muito mais tempo do que possa imaginar, Selina. No entanto, você só de olhar pra mim soube quem eu era. A pergunta é, como?” sua voz já não estava mais tão fria ou distante. Eu sorri com prepotência. Gostei dessa situação de saber algo que eles dois não sabiam.
“Sua pulseira” eu disse sorrindo. Assim que eu o vi, logo localizei o símbolo que de certo me indicou quem ele era.
“Ah, mas é claro!” o rosto dele e de meu pai atingiram a compreensão.
“Eu tinha me esquecido disso” ambos disseram ao meu tempo. Eu ri.
O Hugo olhou para o seu braço e a pulseira não estava mais lá. Eu ri de novo.
“Nem adianta procurar, porque não irá achar” falei sorrindo afetadamente. Ele era muito facilmente irritável. Eu também sempre adorei irritar as pessoas, menos meu pai é claro.
“Como pode saber? Sei procurar muito bem” ele estava claramente irritado com meus sorrisos e olhares prepotentes. Eu não podia evitar. Ele merecia.
“Irá olhar dentro de minhas vestes, senhor?” falei formalmente rindo. Ele arregalou os olhos e depois olhou maliciosamente para o meu decote. Eu não tinha percebido, ou melhor, lembrado que eu estava altamente descomposta.
“Se for preciso...” ele olhou-me ainda mais atrevido! Fiquei ultrajada! Como ele ousava falar comigo desse jeito em frente a meu pai? Em frente a meu pai! Meu pai ao contrario do que eu esperava, só olhou para o Hugo balançando a cabeça e sorriu.
O Clauss não foi tão compreensivo e não gostou da situação. “Faça isso e você acordará com uma espada enfiada em seu peito, Hugo” o Clauss falou o nome dele com claro nojo.
“Mesmo?” o mal-humor do Hugo tinha totalmente ido embora. Agora ele parecia estar se divertindo juntamente com meu pai e o Clauss estava ficando estressado e eu também.
“Experimente. Não me importo com quem você seja e que lugar ocupe. Nem que você fosse o comandante da nossa cidade!”
“Clauss... Eu sei me defender. Tome sua estúpida pulseira” eu disse tirando a pulseira do Hugo do meu pulso. “Deveria prestar mais atenção. Consegui tirá-la facilmente de você e esconda-a. Se não todos, assim como eu, irão saber quem você é, todos que sabem da história” eu falei pra ele retirando o Clauss de perto do meu pai e dele.
“Que história?” o Clauss perguntou assim que nos afastamos o suficiente deles para não nos escutarem.
“Nada demais” dei de ombros. “Coisas do conselho”
“Você está sempre por dentro dos assuntos do conselho huh?” o Clauss nunca foi do tipo que gostava de política. O que é totalmente ao contrario de mim. Sempre estou envolvida com a política. Seja da escola, seja a da cidade. Acho que é de família.
“Tenho que estar por dentro do que algum dia será minha responsabilidade não acha?” eu ri. Ele não concordava com isso, ele esperava que meu pai ainda tivesse outro filho homem que pudesse assumir o conselho em meu lugar, ele na entendia já que era o filho do meio.
“Bom, você sabe que eu vou te apoiar no que você decidir, irei mesmo, mas não sei Selina. Nunca acaba bem pra quem fica envolvido com isso. Eu preferiria que seus planos fossem como será o nosso casamento, o nome dos nossos filhos e coisas como essa e não... O futuro da nossa cidade e como nos livrar dos bruxos” eu não podia deixar de me sentir meio triste por ele. Lógico que eu queria todas essas coisas e pensava nessas coisas também, mas não eram nem de longe excitantes como uma boa batalha.
“Não se preocupe, meu amor. Irei fazer os dois. E quanto ao nosso casamento...” só em falar essa palavra em voz alta eu me sentia em pleno êxtase. “Tenho ele quase pronto em minha mente. Pode deixar” pisquei pra ele tentando tranqüilizá-lo, mas eu conhecia bem demais pra saber que não funcionaria. Depois de muito caminhar agora estávamos do lado de fora do castelo em meio ao jardim muito bem cuidado. Nunca fui muito ligada em plantas ou em flores, mas em nosso jardim tinha das mais variadas espécies incluindo as raras que eram as prediletas do nosso jardineiro.
Agora olhando pelo lado de fora não parecia que há meia hora estava acontecendo batalhas lá dentro. Eu sempre ficava encantada ao observar o castelo de noite. Ele parecia ainda maior do que era e tinha certa aura de poder emanando dele.
“Você realmente ama esse lugar né?”
“Mais do que posso expressar” essa era a minha casa. Nasci, cresci e vivi aqui toda a minha vida.
“Imagino. O ritual foi adiado, eles farão uma nova festa. Uma em que tenha mais segurança pra todos” ele deu de ombros. Estava claro que ele não acreditava nenhum pouco nessa segurança.
“Melhor assim” suspirei. Tanta coisa tinha acontecido que eu até esqueci-me do meu ritual. O ritual que me permitiria caçar meus próprios humanos. Todos os vampiros têm que passar por esse ritual se quiserem caçar seu próprio alimento, senão... Bem, terão que se contentar com o banco de sangue o que não nos agrada nenhum pouco. O que nós realmente gostamos é de sentir nossa presa com medo e termos que caçá-la. Isso sim é legal.
E o que garante que um vampiro tenha direito a esse ritual é sempre ter freqüentado a escola, ter notas boas, o que desagrada a maioria, mas assim temos bons vampiros em potencial. Sendo a obrigatoriedade de ir a escola a todos os vampiros, todos eles aprendem a se defender dos bruxos na escola. Ao menos defesa pessoal básica todos os vampiros sabem. Depois há aqueles que se especializam em defesa da massa para proteger a todos. Eu fui um desses, ou serei.
“Não gostei desse Hugo” ele disse depois de um momento de silêncio. Ele parecia tenso com o assunto.
“Também não gostei, mas fazer o que?” dei de ombros. O Hugo é de vital importância pra o funcionamento da nossa cidade, mesmo que ela ainda não saiba disso.
“Que tal ficar longe dele?” ele sugeriu parecendo bem contente com a ideia. Pobre Clauss, eu queria mesmo poder fazer suas vontades, mas essa não era possível.
“Não posso Clauss. O Hugo é... Ele é apenas importante certo? Não posso ficar longe dele tão quanto eu queria, talvez eu até tenha que fazer sua guarda” não queria magoá-lo dizendo que já estava quase certo que eu seria a guardiã dele.
“Você não pode! Você é uma princesa. Princesas não fazem guarda de meros cargos do conselho, só o do...” ele não terminou a frase. De repente compreensão passou em seus olhos. Ele agora parecia mais infeliz que antes. “Então é isso? Ele é o...?” eu o interrompi. Ótimo que ele tinha compreendido e ótimo que ele agora sabia o segredo, mas não era seguro que mais gente soubesse.
“É, é ele” eu disse acenando.
“Como pode saber? Eu pensei que quando isso fosse acontecer somente o alto conselho saberia”
“E você está certo. Só o alto conselho sabe de fato, eu... descobri” ele não precisava saber como, porque isso implicaria em muita coisa.
“Uau. Isso não é nenhum espanto. Você sempre consegue fazer o que quer. Mas... Então você será a guardiã dele?” sua voz atingiu um tom tão miserável que me deu calafrios.
“Não sei Clauss, não sei mesmo. Mas pode ficar tranqüilo. Eu não gosto dele” eu podia entender porque ele estava assim. Não é incomum os guardiões se envolverem demais com os seus protegidos, mas isso não aconteceria comigo.
“Será que você não poderia pegar alguém mais perigoso pra proteger?” ele disse balançando a cabeça triste. O que eu poderia fazer? Ele não esperava mesmo que eu fizesse que nem as outras princesas daqui, certo? Acho que ao menos um pouco ele deveria me conhecer.
“Acho que não” falei sem olhar pra ele. Ele ainda estava cabisbaixo e claramente preocupado. Acho que além do ciúme ele estava preocupado com minha segurança. Como ele mesmo disse, quem mais perigoso de se proteger do que o líder de um grupo que está em guerra?
“Imaginei. Seu pai está Ok com isso?” como falar pra ele que esse sempre foi o sonho do meu pai? Minha mãe pelo ao contrario nunca quis que eu me envolvesse com nada disso. Ela sempre quis que eu aproveitasse mais coisas como os bailes, artes e coisas do tipo.
“Ele está... Como qualquer pai ficaria” o que não era mentira. Apesar de estar orgulhoso, meu pai também estava preocupado com a imensa possibilidade de eu ser resignada para o Hugo. Não seria uma tarefa fácil.
“Princesa...” um dos soldados se aproximou com cautela. Os soldados do castelo sempre respeitavam a nossa privacidade o que era muito conveniente.
“Pois não?”
“Seu pai está chamando. Ele quer conversar com você em seu quarto” eu assenti despachando-o.
“Então... Eu tenho que ir” dei um beijo dele na bochecha antes de deixá-lo a sós no jardim.
Fui caminhando sem pressa em direção ao castelo. O saguão da entrada estava lotado ainda com os convidados que se serviam de comida, bebiam, conversavam e dançavam alegremente. Definitivamente não parecia que havia tido batalhas a poucos instantes. Todos pareciam despreocupados e alegres com a festa. Ninguém mais me parou pra me cumprimentar ou falar algo sobre eu, o Clauss, ou o meu pai. Ninguém. Fiquei grata por isso. Não queria mesmo falar com ninguém, pra falar a verdade nem com o meu pai, mas eu teria que falar.
Subi as escadas o mais rápido que pude e hesitei ao entrar no quarto. As luzes estavam ligadas e eu pude ouvir que meu pai estava falando com mais alguém. A conversa não seria particular então? Por essa eu não esperava!
“Entre logo Selina, não temos todo tempo do mundo!” ele disse bravo. Lógico que ele sabia que eu estava lá há bastante tempo graças a nossos ouvidos apurados.
“Sim, papai” respondi murmurando. Quando entrei no quarto para a minha enorme surpresa, e não deveria ter sido, estava sentado em minha cama ninguém menos que o Hugo.
“O que ele faz aqui?” falei fechando a cara e indo em direção a ele arrancar minha espada de sua mão. Se tem uma coisa que eu odeio é quando mexem nas minhas coisas. “Isso é meu”
“Eu sei e isso não me importa. Sente-se criança” ele falou me indicando a cadeira. Eu não podia acreditar nos meus olhos e ouvidos! Ele tinha mesmo me chamado de criança? E outra, eu estava no meu quarto! “Não faça essa cara e sente-se logo, evite o drama de adolescente, por favor” ele disse me dando as costas e pegando a espada para olhá-la de novo.
Quando eu fui arrancá-la das mãos dele meu pai interveio segurando-me pelo braço.
“Sente-se filha, por favor” seu olhar era de cansaço. Eu decidi obedecer e evitar stress para o meu pai. Também não queria dar uma de “adolescente rebelde” e mostrar para o Hugo que eu NÃO sou uma criança.
“Por que vocês estão me olhando assim?” ambos estavam muito sérios.
“Poderia me deixar a sós com ela, Mark? Por favor, sabe que não lhe farei nenhum mal” o Hugo disse a meu pai que olhava para mim extremamente sério depois apenas assentiu com a cabeça saindo do quarto e me deixando a sós com o Hugo.
“Bom, agora somos só nós dois” ele disse sorrindo.

Um comentário:

  1. Você realmente adora vampiros, hm?
    Eu também gosto, mas nunca escrevi nenhuma estória com eles...hm
    =D

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